Queimar o Alcorão e a suposta autoria do governo americano nos atentados de 2001 são algumas das ideias controversas.
Além de desatar o pânico, as guerras no Afeganistão e no Iraque, e de prejudicar a convivência entre os mundos muçulmano e Ocidental, o 11 de Setembro produziu extremismos e teorias controversas, especialmente dentro dos Estados Unidos.
O pastor da Flórida Terry Jones, que chamou a atenção ao propor a queima do Alcorão para marcar o novo aniversário do 11 de Setembro, é o mais recente de uma lista de personagens com ideias polêmicas relacionadas aos ataques. Além dele, há grupos cristãos de extrema direita e intelectuais que contestam até hoje a autoria dos atentados de 2001, que deixaram quase 3 mil mortos em Nova York, Washington e Pensilvânia. Para alguns, o governo americano - então liderado pelo presidente George W. Bush (2001-2009) - não foi apenas cúmplice como participou ativamente do planejamento dos ataques que chocaram o mundo e configuraram um novo xadrez na geopolítica mundial.
A seguir, algumas das principais vozes polêmicas em torno do 11 de Setembro.
Terry Jones – O pastor da Flórida conseguiu ser o centro das atenções nas últimas semanas. Líder da Igreja Dove World Outreach Center, Jones - que tem antecedentes complicados com a seita Comunidade Cristã de Colônia, que chefiava na Alemanha nos anos 80 – foi alvo de polêmicas por lançar a campanha de queimar 200 exemplares do Alcorão no nono aniversário do 11 de Setembro. A Dove World comporta um grupo cristão de 50 membros em Gainesville, apresenta-se como encarregada de levar aos fieis a palavra de Deus do Novo Testamento e vende produtos (de livros a camisetas e bonés) pregando o Islã como “diabólico”. A campanha do pastor radical levou a secretária de Estado Hillary Clinton e o presidente Barack Obama a condenar o plano.
Right Wing Extreme – A organização, formada por cristãos conservadores em sua maioria, inicialmente apoiou a iniciativa do pastor Terry Jones. O grupo defende que Obama é um muçulmano que está destruindo a economia e a Constituição dos Estados Unidos e tem uma agenda socialista voltada para uma Nova Ordem Mundial. O recente apoio dado por Obama à construção de um centro islâmico perto do Marco Zero de Nova York - onde ficavam as Torres Gêmeas atacadas em 2001 - é visto pelo grupo como insulto e motivo para despertar o ódio entre os americanos. Para eles, a mídia “esquerdista” satura os leitores com esse assunto em uma tentativa de incitar violência, racismo, intolerância e extremismo.
Kevin Barret – O acadêmico de Wisconsin se viu em meio a polêmicas depois de defender a teoria de que o 11 de Setembro teria sido planejado pelo próprio governo americano. Em seu blog, ele diz que “assumir que os EUA foram atacados por muçulmanos em 11/09 alimenta a percepção de que o Islã é uma religião violenta e os muçulmanos são culpados, antes mesmo de provarem inocência”. Membro do Painel Científico sobre o 11/09, ele é visto por parte dos americanos como ameaça dentro das salas de aula. Recentemente, Barret escreveu uma carta para Obama em favor da construção do centro islâmico em Nova York para “reparar o trabalho interno do 11 de Setembro”.
Morgan Reynolds – Ex-economista chefe do Departamento do Trabalho na administração de George W. Bush, o texano ganhou atenção pública quando se mostrou como o primeiro oficial do governo a culpar as próprias autoridades pelo suposto planejamento dos ataques do 11 de Setembro. É um dos membros da organização Scholars for 9/11 Truth, que questiona a autoria dos atentados. Em sua argumentação, Reynolds ressalta que, em menos de 72 horas após os atentados, Bush fez um discurso sobre a necessidade da união nacional e a coragem que deveriam ter os americanos frente à ameaça que se apresentava: “O conflito começou na hora e nos termos de outros. E terminará da maneira e na hora em que escolhermos.” Além disso, diz não haver nomes árabes na lista de passageiros dos aviões que colidiram com as Torres Gêmeas ou mesmo um vídeo dos suspeitos, dizendo que o FBI não apresentou provas suficientes na época dos ataques.
James Fetzer – O filósofo e acadêmico californiano é uma das vozes que se opõem à versão dada pelo governo americano de que o 11 de Setembro teve autoria de muçulmanos extremistas. Em sua investigação, Fetzer argumenta que o 11 de Setembro serviu para dar sustentação à onda neoconservadora que apoia intervenções e guerras envolvendo os EUA. Também levanta alguns pontos que colocam em xeque a natureza dos ataques, como a temperatura necessária para derreter o aço usado na construção das Torres Gêmeas (1.538 graus), que seria bem superior à temperatura desencadeada pela explosão por combustível de um avião (982 graus).
Gore Vidal – Para o historiador e escritor nascido em West Point (Nova York), o 11 de Setembro é um golpe de Estado liderado pela “Junta Bush-Cheney" (em referência ao presidente George W. Bush - e seu vice, Dick Cheney). No livro O Inimigo Interno (2002), Vidal considera a administração cúmplice dos terroristas. Ele questiona também por que o presidente Bush, também comandante-em-chefe, ficou paralisado em uma sala de aula na Flórida quando soube que os ataques estavam ocorrendo. Em seu ataque ao ex-presidente, ele garante: a principal razão que levaram os Estados Unidos a darem início à guerra no Afeganistão foi o desejo de controlar a passagem de riquezas energéticas para a Eurásia e a Ásia Central.
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[Texto de Marsílea Gombata, iG São Paulo ]