8 de dez. de 2009

O PRIMEIRO TRIÂNGULO DA PAZ


“Eles constroem muros porque sentem temor
Mas o diabo ri, pois encontra a brecha
E o muro desmorona ao sopro do tentador.
Se não houvesse muro, não haveria brecha.
Nenhuma fortaleza é intransponível.
A união é o remédio contra o espírito temível”.



TERRA -
Quanto mais avançamos na história da humanidade, menos a Terra é dividida por fronteiras, embora pareça que os homens se unem para melhor se odiarem. Mas se o movimento natural tende para a união dos Estados, ele é muito lento e os sentimentos nacionalistas e de independência estão exacerbados pelo peso das alianças que, ao produzirem um aumento da tensão internacional, causam a negligencia das particularidades internacionais. Antigamente as tribos compartilhavam a terra, hoje são as nações que o fazem. Mas na realidade, após o desaparecimento da cisão Oriente-Ocidente, damo-nos conta de que a oposição é bem diferente daquela do “capitalismo-comunismo” e que são a democracia e a ditadura que se defrontam, tendo esta última um terreno privilegiado: a crise econômica. E sempre o pobre é o mau e o rico, o bom. Entretanto, se pensarmos na união do mundo, veremos que o mau pode ser englobado pelo bom.

Alguns países se recusam a fazer parte de qualquer aliança, alegando o desejo de preservar sua neutralidade. É uma idéia: a agressividade é decuplicada pelo grupo. As guerras mundiais estão muito longe dos pequenos combates tribais como os que aconteciam, por exemplo, entre os índios da América. Quanto menos a Terra é dividida, mais as guerras são destrutivas. Contudo, não é necessário voltarmos à Idade da Pedra, e a neutralidade pode ser uma mostra de egoísmo. Um bom método de lutar contra a agressão consiste em desativar o impacto territorial, permitindo a cada um a liberdade de acesso total e a escolha de seu local de residência. Como? Suprimindo as fronteiras pela criação de uma só nacionalidade, uma supra-nacionalidade, a do Homem. Nosso tempo está contado; o novo tempo tem urgência de chegar.

Isto pode ser feito já. Não obstante, mesmo que a união seja completada, será necessário impedir a repetição de qualquer guerra. Como? Sublimando os conflitos, desfazendo as diferenças e os diferentes. Para evitar que a agressividade humana se dirija para a guerra sangrenta e assassina, existem duas medidas possíveis. A principal é o desarmamento total do Globo. A segunda medida é a utilização de práticas lúdicas e esportivas por meio de ‘despressionar’. Certamente será o caso de inventar outros esportes, outros jogos, que reúnam muitas pessoas, por exemplo, e que se pareçam com uma guerra, onde o número de participantes será muito importante, mas que se diferenciará pelo fato de não envolver nenhuma matança. O esporte, os jogos em geral, são a chave da felicidade. Poderão ser organizados encontros entre os diversos departamentos do mundo, que hoje são as nações. Que todos joguem, dancem, tornem-se crianças.

A idéia, na verdade, é focalizar os instintos humanos de rejeição, que realmente existem e que não podem ser sufocados sem que as conseqüências sejam nefastas; e essa focalização deve se operar pela ritualização lúdica: o jogo constitui um ritual de agressividade. É um prazer participar de jogos porque nos fazem sentir que dominamos o mal: matamos sem matar. O homem tem meios de transformar sua agressividade em horror, pelos modernos armamentos, mas também em felicidade, pelo jogo. A escolha entre o bem e o mal é sempre do ser humano. Ou ele se deixar enredar ou faz agir seu poder de controle. A maldade humana é igualmente o “berço da alegria”. Não há ódio que não possa transformar-se em amor. O mal não existe, porque tudo é Deus. O veneno pode tornar-se antídoto. É uma questão de transformação, uma questão de medida, um problema para o homem, o mais cruel dos animais, sendo contudo aquele que mais se assemelha ao seu criador.

Entretanto, existem outras condições para a completa união das nações. Essas condições podem ser resumidas em uma só palavra: intercâmbio – lingüístico, étnico, religioso, político, econômico, social. Em resumo, a unificação territorial é mantida pela troca, e o jogo é uma delas. É através dos encontros que os grupos se deformam - já sabemos que a aliança e o grupo aumentam a agressividade ao exaltarem o sentimento de ‘pertencer’, ou seja, a possessividade, nem mais nem menos. O grupo é o sectarismo, o dogmatismo: além do simples fato do indivíduo se inscrever num conjunto de homens, ele se apega ao mesmo e assume obrigações, ou, se não é ele que as assume, é o grupo que as impõe. Chega um momento em que o indivíduo perde a sua essência, que se dissolve na massa, sendo substituída pela personalidade constituída pelos hábitos do grupo. O homem nasce homem, mas torna-se um autômato. A divisão da humanidade pela compartimentalização provocou seu aprisionamento. O ser humano é prisioneiro de si mesmo;ele suprime seus apegos naturais porque não quer mais ser dependente da Mãe Natureza, e então os substitui por hábitos artificiais, falsos. O problema é bem este: o natural não é elevado, é simplesmente substituído, o homem passou do estado de animal ao de máquina. Os costumes selvagens são trocados por costumes estereotipados, tolos e disciplinados.

Como todo planeta, a Terra tem forma esférica; ora, a esfera é uma forma unidade, sem ‘propensões’, então nada nem pessoa alguma, por conseguinte, tem o direito de apropriar-se de uma parte dela. Também a hóstia tem a mesma imagem na religião cristã:símbolo de doação, um meio de ultrapassar o estado de criatura. Não, a Terra não existe para ser repartida - inteira ela nos foi dada, inteira deve permanecer, e não ser dividida por uma tantas idéias ultrapassadas. Cada grupo se apodera de uma parte do globo, sem se dar conta por um só momento de que essa atitude priva e restringe os outros. Disso decorrem comportamentos racistas e nacionalistas, e é então que ouvimos propostas que soam mal:querem que os estrangeiros voltem para o lugar de onde vieram e dizem:”cada um em sua casa...”mas não estão todos os homens em seu lar aqui na Terra?

Imaginemos o que encontraria um extraterrestre que tivesse descoberto nosso planeta: um mundo desunido, com povos que se detestam e discutem como jovens adolescentes.

Isto não é mais segredo – a posse da Terra é o fermento de todas as guerras e divisões entre os homens. Verificamos isso cada vez que uma nação se torna independente: a religião ou etnia serve de pretexto para uma aquisição territorial. E a motivação principal é o medo: o medo de errar, o medo do vazio, o medo de não ter nenhum apoio. No entanto, Deus é o apoio mais seguro, não em baixo mas em cima. É nessa mudança de registro que a humanidade pode encontrar o remédio contra todas as guerras.

“O Universo é um mundo bem mais vasto que a Terra, e está cheio de vida!”.

LÍNGUAS –
As diferenças lingüísticas são as cores da palavra. Conhecer esse arco-íris constitui a ponte lingüística.

Precisamos admitir que o aprendizado das línguas estrangeiras mantêm a amizade entre os povos. Não se trata de rejeitas a diversidade de palavras. As pessoas são bastante inteligentes para compreenderem mais do que sua língua materna, e isso pode ser feito através, da escola e, melhor ainda, através de viagens.

Ademais, o progresso das técnicas de comunicação encurta as distancias, dando ao globo terrestre uma maior acessibilidade, tornando o mundo familiar. Só que esse tipo de contato é artificial, indireto.

Vemos que viajar é para a palavra o que os jogos são para a Terra, a sublimação do contato. Ninguém deve se sentir estrangeiro. É preciso ir além do impacto das diferenças da palavra pela integração dessas diferenças no individuo, enriquecendo-o, pois dividir a palavra é dividir o ser humano – eis que o homem é verbo. O verbo é o liame entre o sujeito e o complemento do objeto, o homem é o liame entre Deus e a Matéria. As línguas do mundo são riquezas que permitem compreendê-lo, cada um a seu modo, cada uma delineando melhor certos domínios que outras, sendo o todo maravilhoso.

Na ausência da medida que acabamos de preconizar, a Terra nunca ficará unida. Lembremo-nos da história bíblica da torre de Babel, onde os seres humanos foram divididos pela diferenciação de sua linguagem em muitos idiomas. É preciso fazer voltar o homem ao estágio em que podia falar com todos os seus congêneres, onde todos podiam se entender e se ouvir, se compreender, e com isso não precisavam se altercar com quem quer que fosse. O que torna o ser humano superior aos animais é que ele foi dotado de uma alternativa de confrontação.

Dividir a palavra é,portanto, dividir os homens. Podemos contar com a forte natureza social do ser humano: ele ama se comunicar, trocar idéias. Isso fatalmente levará todo mundo a se auto-ensinar, tal como uma criança aprende escutando os adultos. Portanto, não será esse um aprendizado forçado, e sim vivo. Seria inútil tentar aprender todas as línguas faladas no mundo, o essencial é ter o desejo de aprender a palavra do outro a fim de compreendê-lo. Esse impulso é suficiente para transpor o abismo lingüístico.

É o múltiplo no UM que caracteriza o homem evoluído, e é esse o propósito de minhas idéias. Constatamos que, definitivamente, a palavra não é dividida e sim multiplicada, contudo os homens isolaram as múltiplas línguas, isolando-se uns dos outros, o que provocou o inverso do efeito que se poderia prever: em vez de UM MÚLTIPLO, a divisão. Não é uma adição, mas uma multiplicação que faz a união das línguas. A divisão preserva as diferenças, mas é uma preservação arriscada, pois uma diferença pode ser anulada por outra, já que a divisão cria o conflito, enquanto que a multiplicação preserva as diferenças sem risco, e as enriquece.

=> O lobo não teme o rebanho de carneiros, porque estes são egoístas, sendo unidos só em aparência e não em realidade.

O que conta não é o número de homens, mas a força do laço que os une para formar, por exemplo, um bom exército.

Um homem que fale muitas línguas não pode ser impedir de entrever e sentir a universalidade de seu ser, a multiplicidade de sua individualidade. É tão simples obedecer os instintos de casta, os impulsos primários e territoriais, mas o novo ser humano deverá colocar-se acima dessa animalidade, e por isso será necessário que ele seja sadio de espírito para poder suportar a imensidade de seu aspecto universal. É preciso que ele não tenha problemas de identidade como, por exemplo, os que encontramos entre tantos jovens de hoje, tão preocupados em manter seu ‘look’ mas negligenciando sua centelha interior. É preciso acabar com as mentiras publicitárias que aviltam a imagem do homem. O novo homem, indignado com as infames imagens do passado, varrerá as imbecilidades materialistas. È tempo de revolução.

Não esqueçamos que a harmonia perfeita está além das palavras. É um lugar sem palavras. Uma palavra é um espaço, um quadro dentro da realidade que não engloba; assim, valem mais muitos espaços [quadros] do que um só. O poliglota tem a tendência de expressar certas coisas numa língua mais que em outra [o espaço ou quadro está mais bem centrado]. A comunicação é o atributo de todos os homens e o sorriso é sua prova irrecusável.

Cada um de nós nasce, não com a palavra, mas com o dom da palavra. Cada um de nós aprende a falar; a fala é algo que se adquire como se fosse uma roupa; as diferenças são apenas diferenças exteriores.

O ser humano tem por característica identificar-se com o seu ambiente; a psicologia denomina isso de “introjeção”. Ele tem uma faculdade enorme de transformação, acomodação, adaptação. Aprender outras línguas, conhecer outras culturas, viajar, tudo isso traça o caminho para o homem universal.

POVOS _

Palavras de um índio Yaqui:

“ Prometi ao meu pai que viveria para destruir seus assassinos. Durante anos essa promessa permaneceu em mim. Agora ela mudou. Não estou mais interessado em destruir quem quer que seja. Não sinto mais ódio pelos mexicanos. Não odeio ninguém. Aprendi que os incontáveis caminhos que cada um percorre na vida são todos iguais. No fim, opressores e oprimidos se encontram, e a única coisa importante que resta é que a vida foi curta demais, tanto para uns como para outros. Hoje estou triste, não por causa da maneira como meu pai e minha mãe foram mortos. Sinto-me triste porque eles foram índios. Viveram como índios e morreram como índios. Nunca souberam que acima de tudo eles eram SERES HUMANOS”.

Desde o nascimento da humanidade, os grupos étnicos se aproximaram, dessa forma assegurando ao grupo um potencial cultural e genético. Esse contato étnico se desenvolveu continuamente no decurso do tempo e até os nossos dias, quando as mudanças econômicas proporcionaram a abertura de fronteiras às pessoas [mas sobretudo aos bens]; os países não se isolam mais. Isso conduziu ao aumento do turismo, o que provocou uma ligeira familiarização entre os povos. Mas o caleidoscópio étnico é intenso nos Estados de união: os povos se unem e o progresso não tarda em chegar. Podemos tomar como exemplo o caso dos Estados Unidos, onde o “melting pot”[1] se mostra muito benéfico, na medida em que traz para o país as qualidades de cada nação do Globo. Ainda falta deixar que as diferenças se expressem.

Trata-se de perceber o Homem acima da raça, algo que, aliás, já deixou de existir há muito tempo, exceto, talvez, entre algumas tribos isoladas. O mito da raça pura é uma aberração e se a mescla tiver de ocorrer, ocorrerá a despeito de tudo. Mistura genética ...bastardização, dirão alguns. Ora, isso não é uma perda das diferenças individuais, muito pelo contrário, seja o que for que os geneticistas queiram provar. É assim que se obtém mais diferenças, que são menos marcantes. Em suma, grandes diferenças são eliminadas, e no fim das contas os indivíduos continuam diferentes, apenas suas diferenças lhes são próprias, individuais. Não haverá mais diferenças entre grupos, as quais são causadoras de problemas. Todos serão iguais porque todos serão diferentes.

Nada temos a temer quanto às raças humanas ficarem mais divididas ainda, porque poderemos considerar melhor a espécie humana antes da questão da raça, e a ideologia hitleriana será completamente varrida pela ideologia contrária.

De qualquer forma, é essencial que os povos mantenham o contato entre si, não se isolem mais uns dos outros e se habituem às suas diferenças.

No final, perceberemos que não pode haver verdadeiramente uma uniformização racial e sim uma ‘desracialização’; conseqüentemente, o fim racismo. É preciso desarraigar completamente o ódio racial.

O fenômeno inverso do intercâmbio genético é a união consangüínea, e será supérfluo voltar a demonstrar seu aspecto negativo. Os faraós, por exemplo, pagaram caro por esse costume.

Desde os primórdios da humanidade os grupos se misturaram, e há muito tempo que praticamente não existem mais raças puras; o que, aliás, é uma felicidade, pois longe de serem superiores como pretendem alguns, elas são na realidade as menos adaptadas. Por isso os povos que se isolam estão sendo arrasados por aqueles que se intercomunicam com os demais.

Assim, cada povo tem sua cultura e o intercâmbio entre os povos não significa a perda das diferenças culturais, pois num clima de troca não pode haver predominância, sendo que só num clima de competitividade é que esse termo adquire realidade, e só nesse tipo de clima podemos qualificar esta ou aquela cultura como ‘imperialista’. Não tenhamos receio, o relacionamento com o outro não causa uma confusão na individualidade, pois é no jogo das interações que o indivíduo se descobre. Mas as relações sem fronteiras, sem discriminação racial, destroem o sentimento de ‘pertencer contra’ e formam um sentimento de ‘pertencer a favor’: a união dos povos para a glória de Deus. Sabemos que um bom meio de unir os indivíduos é fazê-los lutar contra um inimigo comum – seria o caso do ‘pertencer contra’, voltado para a destruição. Mas a aliança voltada para a construção, o laço positivo, embora necessitando mais elaboração, é sempre mais durável.

 “Se és diferente de mim, longe de me prejudicares, me enriqueces”. [Antoine de Sainda-Exupéry].

O ódio,o medo do estrangeiro, o racismo, a xenofobia, não tam mais peso num mundo de viajantes – Saint-Exupéry era aviador.

Como é seguro ficarmos fechados no enclave das particularidades nacionais ou raciais, enquanto a grande aventura do Homem nos chama! O nacionalista vive envolvido pelo medo do esquecimento, o medo do fim da história de seu povo, o medo da mistura [ o gene jamais se mistura, ele sobrevive], o medo do outro - contudo a morte o chama assim mesmo.

 A larva tem medo de se tornar borboleta.

Não é a mão que nos distingue do macaco, não é o cérebro que nos distingue do golfinho, nem é a conjunção de duas pessoas que distingue os povos abertos das tribos fechadas, mas a heterogeneidade – é esta que permite ao homem evoluir, pela conjunção das diferenças, pela troca. Um individuo heterogêneo, está mais apto a responder à heterogeneidade do meio ambiente.

O racista encerra o outro em sua pele. Não se nasce preto nem branco, os outros nos tornam assim. Pois é preciso que todos tomem consciência de que o homem é, acima de tudo, INDEPENDÊNCIA. No entanto, é errado dizer que quanto maior a diferença maior o ódio. Os acontecimentos da atualidade mostram o contrário: guerras civis ou étnicas, fratricidas. Para que haja ódio é preciso sobretudo que haja um centro de interesse, e para isso é necessário que haja semelhança. Ninguém odeias as plantas!

Em psicologia, encontramos o mesmo fenômeno. O amor nasce ao mesmo tempo da semelhança e da dessemelhança, é preciso que o outro contribua com a surpresa e a confirmação de si mesmo, é preciso que no outro nos encontremos parcialmente, a fim de evitar a estranheza e a alienação.

Num outro domínio, a psicologia de grupo, notamos o papel do bode expiatório, o laço de ódio que une os outros membros do grupo. Esse tipo de comportamento vergonhoso e covarde não pode ser encontrando num mundo unido, numa esfera que dele só tem o nome..

Esquematicamente:sejam 2 entidades [grupos ou indivíduos]


1_[a] [b] = indiferentes.

2_[]a => & b = uniformizados, só existe um grupo.

3_ a<= [[]] => b = detestam-se.

4_ [a[b]] = amam-se.


Eis por que é preciso criar laços na humanidade sem uniformizar, sem querer eliminar as diferenças, e sem separar;pois sempre haverá diferenças e, não obstante, todo homem se parecerá com outro homem.

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Notas
[1] Melting Pot: termo americano que caracteriza a mistura, a fusão de diferentes raças e nacionalidades nos Estados Unidos.

[*] Texto de:Joseph Choukroun
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CONSCIÊNCIA CÓSMICA E HIPNOTISMO


Quais são as possibilidades do hipnotismo? Poderia uma pessoa ser levada à maestria por contínuas sugestões em estado hipnótico, duas ou três vezes por dia, ou isso criaria uma ‘planta de estufa’ que não suportaria o teste da vida real? Poderia o hipnotismo ser usado como um atalho para a maestria? Estas perguntas são comuns.

O hipnotismo tem passado por toda uma gama mista de opiniões técnicas e populares, ao longo de séculos. Durante muito tempo esteve relacionado com o sobrenaturalismo e há toda indicação de que seus praticantes não tinham plena consciência de sua natureza. Mesmo quando devida e inteligentemente usado por uma minoria, foi injustificadamente condenado como um grosseiro charlatanismo, a despeito de quanto tenha sido bem aplicado.

Como e quando os primeiros princípios do hipnotismo foram aplicados é, naturalmente, desconhecido. Foi encontrado um papiro egípcio de 3.000 A.C., contendo um procedimento semelhante ao que é usado no moderno hipnotismo. Escritos antigos fazem referencia ao “sono no templo” induzido pelos ‘kherihebs’, ou sumos sacerdotes do Egito. Com toda probabilidade, os sacerdotes induziam o sono hipnótico.

Outros povos antigos, se interpretarmos corretamente seus escritos, estavam bastante familiarizados com o hipnotismo e as vantagens que ele oferecia. A razão de o hipnotismo ter tido má reputação por tanto tempo está no medo que ele causa. O fato de que um hipnotizador parece assumir o controle da mente de uma outra pessoa, combinado com a falta geral de conhecimento sobre as causas fisiológicas e psicológicas do hipnotismo, levou a esse medo.

Médicos responsáveis, que não estavam preocupados com as leis físicas em jogo, e que encaravam o hipnotismo como um mistério, satisfizeram-se em declarar toda essa prática fraudulenta. Foi somente no tempo de FRANZ MESMER [1734-1815] que foi feita uma pesquisa séria do hipnotismo e que seus princípios começaram a ser compreendidos. As declarações de MESMER de que o ser humano podia emanar um ‘magnetismo animal’ atraíram considerável atenção, especialmente à luz de muitas de suas espantosas demonstrações de natureza hipnótica. Cientistas da medicina deram início a estudos destinados a denunciar MESMER como uma fraude, bem como amainar o interesse e a pressão do público. Naquela época o hipnotismo, como um campo de fenômenos e estudo, estava na mesma posição, no tocante a pesquisa acadêmica, da telepatia hoje em dia. Muitos livros foram subseqüentemente escritos, contendo muitos casos típicos de experimentos com hipnotismo. Mas é de se admitir que ele ainda se encontra num estágio experimental no que tange a uma explicação cabal das causas do fenômeno.

A apresentação dos seguintes pontos altos é necessária a uma correta consideração do hipnotismo e de como ele se relaciona com outras práticas. A pessoa que nunca foi hipnotizada precisa primeiro ser levada a reagir ou responder a sugestões no estado de vigília. A pessoa que se ressente, ou que deliberadamente se opõe a sugestões diretas de uma outra pessoa, seria difícil de hipnotizar. Por exemplo, suponhamos que disséssemos a alguém:...”É melhor você beber um pouco de água; você deve estar com sede”. Se a pessoa reagisse ou respondesse positivamente a este estímulo auditivo [desde que estivesse com sede], iria beber água. Diríamos então que ela seria um tipo suscetível a sugestões diretas. Por outro lado, se a sugestão tivesse de ser muito sutil,por exemplo, “como está quente nesta sala!E como a gente fica seca nesta temperatura!”, diríamos então que a pessoa seria difícil de hipnotizar.


SUGESTÃO _ A sugestão é fator essencial no hipnotismo. Se uma pessoa se oferece como voluntária para ser hipnotizada, as experiências e os processos de ideação do passado determinam nesse momento se as sugestões vão ser aceitas. A sugestão tem de conter algo relacionado com elementos de experiências passadas. Obviamente, uma pessoa não pode aceitar alguma coisa que é incompreensível para ela. Suponhamos que sugeríssemos, em termos rigorosamente técnicos de Química, que o paciente produzisse um composto seguindo uma fórmula, embora ele não soubesse nada de Química. Por mais que ele desejasse ser hipnotizado, não poderia seguir essa sugestão.

A ideação exige que o tema seja de tal natureza que esteja contido no âmbito da capacidade intelectual do indivíduo. As idéias da sugestão precisam ter significados correspondentes para o paciente; devem sugerir alguma coisa a ele. Além disso, a ideação [opiniões ou conclusões bem implantadas na mente subjetiva do paciente] se oporá à sugestão do hipnotizador, se essa sugestão não estiver de acordo com ela. Por exemplo, mulheres em estado hipnótico não responderam positivamente em testes de sugestão de conduta imoral.

INDUZINDO O SONO HIPNÓTICO _ A estimulação visual é talvez um dos mais antigos métodos de induzir hipnose. O uso de um estímulo em movimento, para atrair e prender a atenção, é o principal meio de fazer uma sugestão em estado desperto para induzir o sono. Note-se que foi usada a expressão “sugestão em estado desperto”. A sugestão ao paciente enquanto ele ainda está desperto e normalmente consciente é uma parte tão essencial do processo quanto quaisquer sugestões depois que ele é hipnotizado. Esse estimulo móvel pode ser o lampejar de uma luz forte, ou a rotação de um vidro cortado de maneira que reflita luz nos olhos do paciente. A grande vantagem de um estímulo móvel é bem conhecida em publicidade. Isso é usado em várias mídias, como em letreiros elétricos com luzes que mudam e formas que se movem.

Ao contrário de um estímulo móvel, têm-se a fixação do olhar numa luz forte ou numa superfície altamente polida que reflete luz. Quando são usados tais estímulos, é recomendável que eles se originem num ponto ligeiramente acima do nível dos olhos do paciente; isso obriga os olhos a se voltarem para cima. Esta posição dos olhos é uma posição natural durante o sono.

Um estímulo visual não é suficiente por si mesmo para induzir o sono. Uma ideação adequada deve acompanhá-lo. Os estímulos visuais precisam ser reforçados por idéias que sugiram sono. As palavras, “você está se sentindo sonolento;suas pálpebras estão ficando cansadas; será muito confortável fechar os olhos e mergulhar num sono profundo!”, são muito eficazes quando acompanham estímulos visuais. Em termos simples, os estímulos visuais devem ser acompanhados de estímulos auditivos.

O leigo em geral acha que sons monótonos serão suficientes para induzir o sono hipnóticos. Estímulos auditivos como o tic-tac de um relógio, ou de água pingando, ou uma batida rítmica com uma vara, são também ineficazes a menos que sejam acompanhados de ideação. Se for dito ao paciente voluntário que estiver escutando esse som monótono, “este som vai fazer você se sentir muito cansado;você vai pouco a pouco fechar os olhos e adormecer”, então o estimulo auditivo dos sons monótonos poderá, por sugestão, induzir o sono hipnótico.

Há um terceiro topo de estímulo que pode ajudar a induzir o sono hipnótico: sensações táteis. Bater na testa leve e regularmente, ou nas pálpebras fechadas, induz relaxação. Com o apoio de estimulação auditiva, da sugestão de que o paciente está descansando confortavelmente, de que ele vai dormir, e assim por diante, isso provocará um estado de sono hipnótico.

A mente responde muito facilmente a sugestões que estão em consonância com suas experiências e sua ideação do passado. Tais sugestões são aceitas como reais. Numerosos testes psicológicos foram feitos para demonstrar a resposta visual e auditiva de adultos e crianças e sugestões totalmente ilusórias. Um brinquedo com uma manivela foi mostrado a um grande numero de crianças de escola. Foi sugerido que, girando-se a manivela, far-se-ia um animal de brinquedo se mover ligeiramente. Setenta e cinco por cento das crianças que fizeram o experimento pensaram que o animal de brinquedo se movia quando a manivela era girada – o que não era verdade!Analogamente, foi dito a um grupo de estudantes que vários aromas seriam borrifados numa sala com um ‘spray’. Mas cada vez, nada além de água pura foi realmente borrifado. No entanto, sessenta e cinco por cento sentiu vários odores, que, naturalmente, não existiam de fato.

SUSCETIBILIDADE AO HIPNOTISMO_ A suscetibilidade ao hipnotismo depende de três fatores importantes:

ð 1] a experiência passada;
ð 2]o hipnotizador;
ð 3]o método de indução hipnótica.

O paciente tem de submeter sua vontade. Ele precisa aceitar deliberadamente as sugestões do hipnotizador. Foi constatado que o excesso de ansiedade em se ajustar bloqueia freqüentemente o processo. Isso pode ser devido a imaginar a resposta que se seguirá, e essa ideação de fato interfere nas idéias que o hipnotizador tenta implantar na consciência do paciente.

As mudanças físicas que ocorrem durante o sono hipnótico são principalmente uma ligeira aceleração do pulso e um aumento da pressão sanguínea. Este último, porém, pode ser causado pela excitação,que causa uma considerável constrição dos vasos sanguíneos periféricos. A menos que as sugestões provoquem algum excepcional esforço físico e mental, os registros cardíacos não diferem dos registros do sono normal.

Tudo o que se realiza no sono hipnótico é uma substituição de um conjunto de estímulos por um outro. Usando sugestão, o hipnotizador substitui os estímulos visuais ou auditivos os estímulos que o paciente recebe normalmente de seus próprios sentidos objetivos, ou que resultam de seus próprios processos de raciocínio objetivo. Em lugar de o paciente reagir a sensações que tem, por exemplo, através dos olhos, ele responde às sugestões do hipnotizador, que podem estar relacionadas com ouvir ou sentir. Quando o paciente é receptivo à sugestão hipnótica, a vontade do hipnotizador suplanta a do paciente.

Houve época em que se acreditava que o sono hipnótico era uma espécie de anestesia. Agora sustenta-se em geral que, durante o sono hipnóticos, os nervos transmitem os mesmos impulsos que transmitem no estado de vigília. Mas o paciente suprimiu todas as percepções e todas as respostas a sensações, exceto a percepção suscitada pelas sugestões do hipnotizador.

Sonhos podem ser induzidos num estado hipnótico por uma leve estimulação sensória, do mesmo modo como são induzidos no sono normal. Ao voltar a si, o paciente pode muitas vezes se lembrar de um sonho que foi induzido pela estimulação feita durante o estado hipnótico.

Atos pós-hipnóticos consistem em sugestões ao paciente enquanto ele está em sono hipnótico, para serem realizados depois que ele volta a si. Pode-se dizer ao paciente ainda hipnotizado que a visão de certo objeto vai lhe provocar fortes náuseas. Quando o paciente volta à consciência normal, não se lembra da sugestão em si mesma. Mas, quando aquele objeto lhe é mostrado, o estímulo visual causa náuseas intensas.


PODE O HIPNOTISMO INDUZIR CONSCIÊNCIA CÓSMICA?_ Conforme dissemos, não se sabe completamente como ocorre o hipnotismo. Acredita-se que a hipótese é uma neurose artificialmente induzida, isto é, um colapso na sintetização da consciência. Normalmente, todos os aspectos da consciência de uma pessoa são sintetizados, relacionados entre si. Somos mais ou menos igualmente receptivos a estímulos visuais, auditivos, olfativos, e outros, que recebemos através dos sentidos objetivos. No estado hipnótico, só funcionam os aspectos da consciência que respondem aos sentidos físicos que estão sendo estimulados pelas sugestões do hipnotizador.

A Consciência Cósmica é uma reação ou resposta da consciência ao EU divino, àquele EU que está em harmonização com todo o Cósmico. É um estado em que a consciência transcende todas as impressões exceto as impressões mais sutis do Cósmico que vêm através dos sentidos superiores, tais como os centros psíquicos e o sistema nervoso simpático. A consecução deste estado requer muita prática.

O aspecto mais difícil da Consciência Cósmica é a eliminação da consciência do mundo exterior e da consciência do organismo físico [corpo]. O individuo precisa continuamente se determinar, sugerir fortemente a si mesmo a supressão das faculdades objetivas. Precisa resolutamente sintonizar sua consciência somente a impressões provindas das profundezas do seu próprio ser. Finalmente, a consciência se torna orientada de tal modo, a tal ponto introvertida, que responde por breves períodos aos impulsos interiores. Tais estados não podem ser sustentados por mais de alguns minutos, no máximo.

Poderia o hipnotismo ajudar a induzir a Consciência Cósmica, desde que o individuo desejasse ser hipnotizado? Dentro de certo conjunto de circunstâncias,provavelmente sim. Primeiro, seria necessário que a consciência do individuo, sua estrutura moral, estivesse em acordo com aquilo que estivesse sendo tentado. Já vimos que as experiências e a ideação do passado desempenham um papel importante na hipnose. Portanto, se o indivíduo não soubesse nada sobre a Consciência Cósmica[isto é, não tivesse nenhuma compreensão do que se quisesse dizer com essa expressão]; não tivesse nenhuma confiança ou crença nesses estados especiais; e não tivesse por sua experiência passada nenhuma tendência espiritual ou mística e de idealismo elevado, então nenhuma quantidade de sugestões hipnóticas poderia ajudá-lo.

Em outras palavras, se uma pessoa tivesse reverência pelo misticismo e sinceramente desejasse alcançar a Consciência Cósmica, pela beleza da experiência devido ao que isso significaria para ela, então não se colocaria contra ou faria oposição à sugestão do hipnotizador enquanto estivesse em estado hipnótico. Na verdade, obedeceria à sugestão. Psicologicamente, faria todo esforço para elevar sua consciência a um nível de harmonização com o Cósmico. Mas poderia falhar por certa deficiência em sua natureza interior. Por outro lado, porém, em igualdade de condições, o sono hipnótico a libertaria dos embaraços costumeiros que ela sentiria ao tentar objetivamente alcançar a Consciência Cósmica.

Há bastante duvida, na falta de real experimentação para provar o contrário, de que o paciente lembraria de qualquer uma de suas experiências extáticas. Quando afinal voltasse a si, talvez não retivesse a experiência da Consciência Cósmica que tivesse vivido. No caso desse paciente, um relato pós-hipnótico da experiência vivida durante o estado hipnótico seria um experimento interessante. Isso poderia ser feito sugerindo ao paciente em sono hipnótico que escrevesse os resultados de sua experiência posteriormente, no estado pós-hipnótico. A hora em que isso deveria ser feito teria de ser também sugerida ao paciente. Então ele seria acordado. Quando chegasse a hora determinada, o paciente, agora sob pós-hipnóse, entraria novamente em sono hipnótico. Durante esse breve intervalo, ele escreveria sobre suas experiências anteriores. Uma análise dessas experiências poderia determinar se ele teria vivido um verdadeiro estado de Consciência Cósmica.

Se a Consciência Cósmica pudesse ser alcançada dessa maneira, não seria muito benéfica, pois o individuo não seria capaz de induzir à vontade aquele estado, pelo controle do seu próprio ser físico. Ele não seria representativo de uma consecução pessoal. Além disso, é possível que, através de sugestão em sono hipnótico, o individuo simplesmente reagisse ou respondesse a idéias passadas, ao resultado de sua imaginação quanto ao que seria um estado de Consciência Cósmica.

Por exemplo, uma pessoa que nunca teve a experiência de se afogar vai simular um afogamento quando hipnotizada, respondendo à sugestão do hipnotizador no sentido de que ela está se afogando. Tal simulação é apenas aquilo que o paciente imaginou que fosse um afogamento. Conseqüentemente, a reação de um paciente a uma sugestão para alcançar a Consciência Cósmica, feita sob sono hipnótico, poderia analogamente ser um mero estado imaginativo.
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[Texto de R.M.Lewis]