Os místicos que conhecem a Teoria ontológica das Vibrações e o conceito de Nous sentirão um surpreendente acordo com as tentativas do Dr. Carl Gustav Jung de desenvolver um sistema unificado de ‘psicologia’ que correlacionasse a ciência da metafísica com os avanços da ciência material.
O mais importante conceito inicial de Jung foi a TEORIA DOS TIPOS; mas a tentativa de descobrir a relatividade de qualquer ponto de vista psicológico automaticamente provoca a necessidade da unidade como compensação, e foi isto que despertou o interesse de Jung pelo conceito chinês do ‘Tao’. Como foi que Jung agiu para explicar a diversidade na unidade? O que Jung fez pela psicologia foi chegar a uma teoria lógica e completa de ‘energia’. Jung via os impulsos instintivos do homem, como sexo, poder, fome, e assim por diante, como manifestações ‘qualitativas’ de uma energia psíquica ‘quantitativa’, assim como as manifestações variáveis da energia eletromagnética, comprimento de onda e freqüência são qualidades da energia física, que por si só foge a uma definição absoluta.
Jung achava que não só nossos ‘grandes’ sonhos, mas também nossas fantasias ou ‘visões’ especiais podem nos dirigir ao que ele chamou de ‘complexos sincronizados com sentimentos’ que, em linguagem mais simples, resultam de forças que se tornam ‘bloqueadas’ dentro de padrões perceptíveis ou imagens representativas simbólicas no subconsciente. Estes padrões subconscientes, quando percebidos e interpretados pela nossa consciência subjetiva, por assim dizer, parecem ser uma compensação para nosso estado de percepção, quando em vigília.
SÍMBOLOS
Esses símbolos especiais do subconsciente surgem espontaneamente quando conseguimos diminuir a intensidade dos cinco sentidos objetivos e dos processos de pensamento, como ocorre, por exemplo, no estado de meditação. Em outras palavras, não podemos ‘forçar’ esses símbolos ‘numinosos’ [sagrados ou inspiradores de reverencia] a se manifestarem. Em vez disso, eles começam aparecendo automaticamente no espelho temporariamente vazio de nossa mente subjetiva. Estas imagens também são freqüentemente experimentadas por nós como astromitológicas ou alquímicas em natureza. Além disso, um contato ‘direto’ com qualquer um desses símbolos numinosos, inspiradores de reverência, produz efeitos emocionais automáticos em nós.
Necessitamos de linhas diretivas firmes que nos ajudem a manter nosso controle objetivo. Esse autocontrole é necessário para desfrutarmos de uma participação harmoniosa nos processos cósmicos de transformação interior gradual. Sabemos que as escolas místicas tradicionais têm essas diretrizes, mas como é que Jung agiu para provê-las?
O Dr. Jung descobriu que o subconsciente é ‘submetido a mudanças e produz mudanças’. Só depois de familiarizar-se com a alquimia ele compreendeu plenamente que o subconsciente ‘é um processo’, e que a ‘psique’[reino subjetivo] é mais prontamente transformada ou desenvolvida pelo relacionamento harmonioso entre a objetividade de nosso ser ‘exterior’ e o ser subconsciente ‘interior’. Na vida coletiva da humanidade, este processo deixou sua marca, principalmente nas diversas mitologias e sistemas religiosos com seus símbolos mutáveis. Através de um estudo desses processos coletivos de transformação, e pela análise do simbolismo alquímico, Jung chegou ao conceito central da sua psicologia: ‘o processo da individuação’, conhecido pelos místicos como ‘autodominio’.
Mas que é que leva as forças arquetípicas da energia do subconsciente a se formarem nesses padrões de símbolos ou imagens perceptíveis? Se há uma energia criativa primal, como podemos conhecer ou suspeitar de sua existência?
Agora podemos presumir, com segurança, que os fenômenos sincronísticos dos experimentos de PES* de Rhine são um fato estabelecido. Mas também estamos numa posição de TEORIZAR logicamente que além das ligações verificáveis entre causa e efeito, psíquicas e físicas, existe um fator inexplicável e sempre inesperado, na natureza, que se expressa no ‘significado’ que se encontra além da coincidência ou equivalência de um estado psíquico ou ocorrência sem relação causal entre si. Jung deu a esta ‘coincidência’ o nome de ‘SINCRONICIDADE’.
Como ilustração, suponhamos que eu tenha um sonho extraordinário sobre um escaravelho egípcio de ouro. Ao contar este sonho espantoso a um amigo, um escaravelho dourado, voando pela janela, entra no quarto onde estávamos sentados. Imagine o efeito ‘eletrizante’ que sentimos quando ocorre uma dessas estranhas coincidências de sonho e realidade!
É óbvio que não podemos explicar esta coincidência através da tríade usual da ‘Física’, ou seja, ‘espaço, tempo e causalidade’. Também é óbvio para o sujeito que o escaravelho visto no sonho tinha um equivalente físico. Mas a coincidência psíquica por si só não explica [nem tampouco a lei da física] o que realmente seja a ‘SINCRONICIDADE’ ou coincidência que causou a ‘equivalência’. Assim como duas pessoas que vêem o mesmo acidente tenderão a interpretar o que viram de um modo individual, todos nós igualmente experimentamos a ‘sincronicidade’ ou o significado do fenômeno sincronístico de um modo diferente.
EXPERIÊNCIA INDIVIDUAL
De todas as TEORIAS de Jung até a presente data, somente aquelas que se referem aos ‘tipos’ e certos fenômenos sincronísticos, como os de PES, parecem se prestar a qualquer possibilidade de confirmação cientifica. Mas mesmo levando em conta a apresentação magnificante concisa de Jung, sua TEORIA DA ALMA-ARQUÉTIPO ainda permanece nos domínios da metáfora e da filosofia pessoal que parece ser experimentada de forma diferente por cada indivíduo. A idéia de Jung de que a energia psíquica poderia ser ‘qualitativamente’ diferente, e assim mesmo igual em importância à energia física que forma os átomos, apesar de já ser conhecida por certas escolas de mistério, ainda é uma idéia comparativamente nova na moderna medicina conservadora. Até o momento, muitos médicos consideram nosso temperamento psicológico e os fenômenos psíquicos como quase exclusivamente dependentes dos delicados hormônios do corpo.
Alguns poucos ‘Jungianos de terceira geração’ apontam o fato de que Jung e seus seguidores mais próximos tentaram ‘assentar’ o conceito arquétipo da alma por demais firmemente em ‘esquemas científicos’ ou diagramas que na verdade desafiam a confirmação. Mas os mais modernos metafísicos e psicólogos igualmente elaboraram sua maior compreensão do processo subconsciente com base em premissas semelhantes encontradas nos ensinamentos das antigas escolas de mistérios e no trabalho de pioneiros empíricos mais recentes, como Jung.
Todos os pioneiros, inclusive místicos e médicos psicólogos, devem se opor radicalmente contra um ponto de vista consagrado. Jung não foi exceção. Ele esperou ansiosamente pelo dia em que outros não só fossem capazes de provar suas TEORIAS mas também estabelecer um ponto de vista mais ‘holístico’, que viesse a sanar a antiga brecha entre as ciências da metafísica e do materialismo.
Foi preciso um auto-sacrifício e uma grande experiência pessoal da ‘qualidade vital da alma’ para alguém tão famoso como o Dr. Jung admitir que aquilo que ele pensava ser suas próprias idéias empiricamente desenvolvidas tinha, afinal de contas, sido descoberto por aqueles que vieram antes dele!
Um interessante casão ilustrativo é o conceito arquétipo de Jung de ‘anima e animus’ que são as personificações da natureza feminina do subconsciente do homem e da natureza masculina no subconsciente da mulher. Numa carta em resposta a um colega que lhe perguntara se ele tinha ‘tomado emprestado’ suas imagens da alma-arquétipo da novela de ‘Laurence Sterne’, Tristam Shandy, Jung observou com humor e humildade:”...nos últimos cinco anos, isto se tornou cada vez mais assombroso, porque descobri traços muito suspeitos da mesma idéia também entre os antigos alquimistas, e agora a confusão parece estar completa pois eu tinha sido descoberto já no século dezoito. Só posso concluir que Laurence Sterne recorreu aos ensinamentos secretos – presumivelmente Rosacruzes – de seu tempo. Eles contêm o Real Segredo do Rei e da Rainha, que não eram outros senão o ‘animus e anima’, ou Deus e Dea [deusa].
O TAO
O antigo conceito Hermético das ‘correspondências’ também intrigou o Dr. Jung e ele foi grandemente influenciado, segundo declarações suas, pelos escritos de Paracelso, o médico medieval que também tinha a reputação de ser místico. A qualidade vital que os alquimistas viam, não só no homem mas também na natureza inorgânica, é uma expressão do espírito da vida, o antropo [‘anthropos’] que anima todo o cosmos, assim como o divino arquiteto que ‘pensa’ o universo, trazendo-o ao estado de ser, existir. Há realidades duais ou complementares que são parte da estrutura energética do mundo físico e psíquico; uma não pode existir sem a outra, e vice-versa. Podemos ver que tanto o YIN como o YANG contêm a semente do oposto, mas é o ‘significado’ que estabelece um símbolo de totalidade como o todo-abrangente Tão ou Nous.
Porque usava símbolos universais, Jung ‘falou’ em mil idiomas. Seu espírito havia se tornado humilde, um espírito que admirava as maravilhosas e surpreendentes atividades de uma natureza terrível e ao mesmo tempo bela, e embora ele formulasse muitas teorias, foi incapaz de chegar a quaisquer conclusões duradouras que não fossem paradoxais. Ele chegou ao fim de sua vida exatamente como a começa, cheio de reverência e deslumbramento.
Embora em sua idade avançada Jung tivesse concordado com a declaração de Lao-Tzu:”Tudo está claro, só eu estou nublado”, mas incerto Jung se sentia a respeito de si mesmo, e mais crescia dentro dele um sentimento de harmonia com todas as coisas, como plantas, animais, nuvens, o dia e a noite, e o eterno no homem. Ele viera a concordar com um místico desconhecido, que ‘Gradualmente a vida que você está vivendo revela a Vida que está vivendo você’.
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[Texto de June Schaa]
Notas* J.B.Rhine, psicólogo americano, muito conhecido por suas investigações clinicamente controladas sobre parapsicologia e fenômenos de percepção extra-sensorial.