21 de fev. de 2012

Passividade Dinâmica

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O conhecedor quer conhecer sempre mais.
Quem se une a Tao,
Conhece cada vez menos,
E não deseja nada,
E acaba não fazendo nada.
E, graças a esse não-fazer-nada,
Tudo é feito através dele.
Destarte, também um reino se constrói,
Pelo não-fazer-nada,
Mas é destruído pelo fazer muito.

Explicação: Mais uma vez, Lao –tse canta a apoteose de wu-wei, do fazer pelo não-fazer. Os atos externos não tem valor por esses atos, mas sim pela atitude interna. Somente o real pode realizar. “As obras que eu faço não sou eu que as faço, mas é o Pai em mim que faz as obras; de mim mesmo eu nada posso fazer” [Jesus, o Cristo].
Para ser benfeitor da humanidade, é necessário e suficiente ser bom. O homem não atua pelo que faz e diz, mas sim pelo que é. O verdadeiro ser é a consciente harmonia com o Infinito [Tao].

Por um intenso Ser é realizado o mais extenso Fazer.
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Lao-Tse_Tao Te King

A Sabedoria Interna

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Para conhecer o mundo,
Não é necessário viajar pelo mundo.
Posso conhecer os segredos do mundo
Sem olhar pela janela do meu quarto,
Quanto mais longe alguém divaga,
Menor é seu saber.
O sábio atinge a sabedoria
Sem erudição;
Alcança a sua meta
Sem esforço;
Termina a sua jornada
Sem viajar.

Explicação: Toda a fonte da sabedoria está no interior do homem. O mundo externo pode apenas servir de estimulo para despertar a realidade interna do homem: mas não é fonte e causa de sabedoria. O intimo Ser do homem é infinitamente maior do que o externo ver, ouvir, sentir e ter. Por isto, deve o homem concentrar-se no seu interno ser – e conhecerá todos os mundos externos. Sem essa interiorização, pode o homem ver todas as coisas externas sem compreender nada – assim como um analfabeto pode folhear os maiores livros da humanidade sem entender nada.
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Lao-Tse_Tao Te King

A Suficiência Garante a Paz

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Quando a humanidade vive em ordem,
Os cavalos puxam o arado;
Quando ela renega sua lei interna,
Os cavalos se preparam para a guerra.
Não há pecado maior
Do que o excesso da ganância.
Não há mal maior
Do que querer sempre mais.
Não há maior calamidade
Do que a mania do sucesso.
Quem se contenta com o necessário,
Tem sempre o suficiente.


Explicação: Desde os tempos de Lao-Tse até hoje, a grande epidemia é a mania de sucesso. O homem profano é um caçador de sucessos no mundo objetivo – nada sabe da realização do seu mundo subjetivo. Só se interessa pelo ter, e não pelo ser. As alto-realizações lhe são tudo – a auto-realização não lhe vale nada.

Mas, como o homem não é dono das circunstâncias, quando estas falham, ele é totalmente infeliz, frustrado, porque não tem base na sua substancia. Esse homem coleciona zeros: 0000000, e se esquece do “1”, que poderia valorizar os zeros:10000000.
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Lao-Tse_Tao Te King

Os Paradoxos da Verdade

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Quem demanda a perfeição
Parece ser imperfeito.
Embora a sua oculta plenitude
Plenifique todas as vacuidades.
Quem possui verdadeira plenitude
É inesgotável,
Por mais que se esgote.
Quem anda direito,
Parece torto.
Grande habilidade
Parece inabilidade.
Arte Genuína
Parece mediocridade.
Movimento supera o frio.
Quietação vence o calor.
O que é puro e reto
Sempre orienta o mundo.

Explicação: Tudo o que é do mundo da qualidade é ignorado pelo mundo das quantidades. A qualidade não está sujeita a tempo e espaço, porque é do eterno e do infinito. E, por isso mesmo, o que não pertence ao mundo da qualidade é tachado pelos cultores das quantidades como irreal e ilusório.

O cego acha normal a escuridão – e anormal a luz.
O surdo acha normal o mundo sem som – e anormal o mundo do som.
O doente que nunca conheceu saúde pode achar normal a doença – e anormal a saúde.

Por isto disse alguém: “A loucura de Deus é mais sábia que a sabedoria dos homens – e a fraqueza de Deus é mais forte que a força dos homens”.

As grandes verdades quase sempre aparecem em forma de paradoxos – que não devem ser explicados – mas aplicados.
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Lao-Tse_Tao Te King

A Riqueza do Ser e a Pobreza do Ter

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Que vale mais:
Meu nome de família ou meu Ser?
Que é mais meu:
Minhas posses externas ou meu intimo Ser?
Que me é mais importante:
Meus lucros ou minhas perdas?
Quem prende seu coração a algo
Está preso.
Quem deseja possuir tesouros
É um pobre possesso.
Quem vive satisfeito
É feliz com os satisfeitos.
Quem respeita os seus limites
Não corre perigo.
Isto gera verdadeira serenidade.
De dentro vem o que por fora se revela.

Explicação: Lao-Tse joga com os conceitos “algo ou alguém”. O homem-ego dá imensa importância aos algos, às coisas, aos fatos, porque vive coisificado pelo mundo das facticidades fictícias, que ele confunde com a própria Realidade. O homem profano é governado pelo espírito gregário do rebanho, da tribo, da família, do grupo, da sociedade, que são coisas engedradas pelo ego. O homem profano não descobriu ainda a sua individualidade indivisa e indivisível, o seu átomo, como diriam os gregos. Conhece, quando muito, a sua personalidade, a sua “máscara”, que ele confunde com o Eu da sua individualidade. Conhece as coisas impersonais [objetos, dinheiro, divertimento], ou então a coisa personal [seu ego] – conhece algos, os teres, os fazeres do seu ego, mas ignora o alguém do seu ser real. O homem profano é essencialmente um idólatra que adora falsos deuses: os algos impersonais, ou o algo personal, mas nada sabe do alguém supra-personal do seu Eu. Conhece e adora o que ele tem, ignora o que ele é. A realização interna não produz necessariamente as realizações externas. O homem espiritual não é necessariamente rico, como ensina um superficial pragmatismo. Mas é sempre feliz.

Como para um sábio é difícil ser rico – assim para um rico é difícil ser sábio.
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Lao-Tse_Tao Te King

Do Poder do Inconspícuo

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O mole vence o duro.
O vácuo penetra o pleno.
Nisto se revela a poderosa atuação
Do não-agir.
Entretanto:
Poucos homens, aqui na terra, sabem
Do segredo do ensinamento sem palavras
E do poder do agir
Pelo não-agir.

Explicação: Ensinar sem palavras, agir sem atividade – são, certamente, flagrantes absurdidades para qualquer profano, sobretudo para os profanos eruditos, como se falássemos de um circulo quadrado, de uma trava luminosa, de uma vacuidade plena. Os iniciados, porém, sabem, em silenciosa sapiência, que ensinar sem palavras e agir sem atividade representa a maior potencia do Universo; é o falar e o agir da própria Divindade.

É o wu-wei de toda a filosofia chinesa. Trata-se de uma poderosa atitude sem atos, duma vacuidade-plenitude, dum silêncio sonoro, dum tudo-nada, que não é objeto de análise, mas de profunda intuição.

O valor de qualquer ato externo depende essencialmente da intensidade da atitude interna.
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Lao-Tse_Tao Te King