11 de jan. de 2010

A IMORTALIDADE EM JÚLIO VERNE_


Poucos dentre os pósteros, sabem que o célebre autor da novela “Vinte Mil Léguas Submarinas” e outras primorosas obras literárias que fizeram e fazem o encanto de jovens e adolescentes no mundo todo, era em verdade um “Iniciado” nos Mistérios da Existência: apaixonado pela Simbologia, pela Numerologia, pelo Tarô, Júlio Verne previu a própria morte, e o seu túmulo, na cidade francesa de Amiens, é uma espécie de “leitura iniciática”, onde o símbolo da Rosa e da Cruz também está presente...

Na extensa galeria dos homens geniais que sentiram, meninos ainda, o chamamento para aquela escuta interior transcendental, a humanidade nunca poderá esquecer a fulgurância da inteligência e sensibilidade de Júlio Verne, o escritor que se firmou como sendo mais do que “um simples divulgador da ciência e da técnica do século XIX,e, muitíssimo menos, um mero novelista para jovens adolescentes”.

Júlio Verne, o consagrado autor de obras como “Viagem ao Centro da Terra”, “Vinte Mil Léguas Submarinas”, “Da Terra à Lua”, “Cinco Semanas em um Balão”, “A Volta ao Mundo em Oitenta Dias”, conquistou várias gerações de leitores.

Para o estudioso J.J.Benitez, autor de “Eu, Júlio Verne[Ed. Mercuryo, SP, 1990], Verne foi “um louco maravilhoso”, profundamente enraizado no mundo do esoterismo e da simbologia, fanático dos enigmas e criptogramas, sendo freqüentes em seus livros trocadilhos, jogos de palavras, números secretos, uma permanente contradição e um espírito em constante luta consigo mesmo”. Relata Benitez que o sepulcro de Júlio Verne, no cemitério de La Madeleine, na cidade francesa de Amiens ao norte de Paris, “é todo um cântico à simbologia esotérica. Casualmente, e para começar, a face leste do túmulo esta fechada e protegida por sete altos abetos [1],que formam um semicírculo perfeito. Sete árvores – os sete dias do trabalho do homem – plantadas exatamente em 1907...Sete abetos orientados em direção ao Leste e que, da mesma forma que as rosáceas das catedrais, falam do principio do caminho da iniciação e do conhecimento...” “E esse homem – Verne, possuidor da sabedoria e da iluminação, ressuscita para a imortalidade e eterna juventude. Sua mão esquerda na terra, e a direita erguida [O Mago do Tarô], a cabeça semi-coberta pelo sudário de uma morte vencida e a pedra sepulcral [casualmente pentagonal, símbolo do homem cósmico] descansando sobre as costas, constituem algo mais que uma poética recordação funerária. E, no máximo da precisão esotérica, o rosto e a palma da mão direita diretamente orientados ao Oeste, em direção ao Sol poente, ao vermelho alquímico, à quinta-essência ou perfeição final... É assombroso. Tudo neste sepulcro expressa a ressurreição. No fórnice, uma misteriosa estrela de seis pontas paira sobre um ramo de palmeira que cobre o nome de Verne. Qual o significado critico da estrela de Davi? Entre outros, o de um velho e familiar conhecido: o algarismo 6. o 6 que ao mesmo tempo simboliza o homem. Temos, pois, um homem – Júlio Verne – sob o ramo de palmeira: a vida eterna.”

E para os estudantes de Mistérios vem a constatação especialmente reveladora, conforme o relato do pesquisador e escritor espanhol J.J.Benitez:”E por cima da estrela, no frontispício do muro funerário, outros ‘sinais’ aguardam o iniciado: uma cruz com uma rosa no centro, fechada em um círculo, um ramo de oliveira, duas lâmpadas de óleo [a que foi esculpida à esquerda da ‘rosa-cruz’ está sem tampa] e os pilares do rigor [à esquerda] e da misericórdia [à direita]”...

O prolífico Benitez, de início alerta: “Pode ser que o leitor considere o livro um jogo ou uma ilusão. Acertará e se enganará em partes iguais. Mas será que existe algo mais real que os sonhos?”

Queremos aqui enfocar algo do livro Eu, Júlio Verne, como elaborado por Benitez, um diário em que o célebre escritor confessa que alquimia, tarô e Cabala foram os seus vôos intelectuais, revelando que sempre foi um extremista no trabalho, e ao mesmo tempo, confessando ter-lhe faltado coragem para revelar ao mundo os seus conhecimentos místicos. Confessa mesmo haver sepultado a sua “iluminação iniciática” sob a aparência de aventura, escrevendo então seus magníficos relatos de viagens, como “Vinte Mil Léguas Submarinas”, “A Volta ao Mundo em Oitenta Dias”, “Viagem ao Centro da Terra” e tantas obras lidas e relidas com avidez por várias gerações de leitores.

Quando amigos intelectuais o incentivaram “empreender a grande aventura de ‘romancear’ a ciência,” Verne contou que os relatos, experiências e teorias daqueles ‘sábios’ foram decisivos:”E um maravilhoso projeto germinou em meu coração:aquele era meu caminho! Por que não tentar? Por que não criar um novo estilo literário? Por que não aproximar a natureza, as descobertas, as viagens, as explorações e o ‘futuro’ já esboçado pelos físicos, ao homem da rua? Deus, misericordioso, acabava de abrir minha alma e minha inteligência para o meu verdadeiro e nobre destino!”

No seu estremunhado diário, Júlio Verne revela o encontro com um ser superior, que o marcou para toda a vida:”Droga de memória! Nunca foi boa e agora, no final da travessia muito menos. Custa-me rememorar. É como se uma espessa névoa encobrisse meus anos de adolescência. E acho que sei porquê. Contarei o pouco que posso intuir. Foi ao cair da tarde, quando saí da sala de aula da senhora Sambain. Este urso velho devia ter seis ou sete anos. Meu irmão Paul, que estava doente, não pôde me acompanhar. E no caminho de volta ao cais Jean-Bart aconteceu algo singular e premonitório. Anos mais tarde, ao entrar no mundo da iniciação, soube que aquele Superior Desconhecido seria meu guia e protetor até o final dos meus dias. Diante de mim surgiu um ser de luz, altíssimo e corpulento, com um cabelo longo albino e o rosto entalhado em pedra, que falou comigo sem dizer uma palavra. Sua roupa não era como a nossa, mas usava botas altas e douradas. Seus olhos asiáticos me impressionaram e todo meu corpo tremeu de pavor. Jamais consegui lembrar o que falou e nem o seu estranho nome, ainda que saiba que tem algo a ver com “Axiel”, “Axal”, ou “Oxal”. Mas isso não interessa. E tão furtivamente como se apresentou diante de mim, desapareceu... Mas guardei segredo e, com o tempo, o assunto caiu num granítico esquecimento. Talvez minha própria mente, assustada, tenha rejeitado o misterioso encontro. Desde então, apesar da névoa que encobre o incidente, soube que não seria como os outros homens. O destino possuía planos diferentes para mim. E assim foi...”.

Em 1863, aos 35 anos de idade, quando acontecia o sucesso estonteante de sua primeira novela – “Cinco Semanas em um Balão” -, relata Júlio Verne a sua ligação com o poeta Edgar Poe e os amigos Nadar e Jules Hetzel, à luz da Numerologia: ”Curioso! Eu mesmo me surpreendo. Urso Velho, não és aceitável a esta altura da vida...pois é verdade, quanto mais o percebo mais isso me desconcerta. E bem sabe Deus que não foi premeditado...Observa, pé-de-chumbo, que te encontras no capítulo 15. E que dizem os sagrados algarismos? Um mais cinco é igual a seis. 06! O número da criação conforme o Hexameron bíblico, o ‘mediador’ entre o ‘princípio’ e a ‘manifestação’. E que acontece se os mágicos nomes de Poe, Nadar e Hetzel são convertidos em seus equivalentes numéricos? A soma de tais números dá novamente o 6! Não é maravilhoso? E mais Hetzel, que soma seis – coincida com a da minha primeira e autêntica ‘criação’ e, muito em especial, com a descobertas de Hetzel, meu editor e pai espiritual? O seis, mediador entre o ‘princípio’ de Julio Verne e a ‘manifestação’ de Júlio Verne...”Sei que alguém atribuirá o fato ao acaso. Já o disse: blasfema palavra. O acaso jamais poderia repetir a excelsa geometria verde de um cacto, nem a matemática perfeita de uma estrela de neve, nem o regular fluxo das marés, nem a arquitetura da colméia, nem sequer o periódico e sinistro rito da morte...Muitos sábios cansaram-se de repeti-lo: a causalidade não existe. O homem, seu temor à Verdade Suprema, prefere evitar essa palavra. Não sabe ou não deseja saber que o acaso também está regido por uma ordem, tal como apregoava Novalis. O acaso não é outra coisa, se me permites a liberdade, do que a mão esquerda de Deus. Com a direita nos cria; com a esquerda nos conduz”.

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[Texto por Ney Teles de Paula, extraído do livro: “A escada de Jacó e outros escritos”, Asa Editora Gráfica]

[Nota: [1] Abeto: planta da família da pináceas, planta perene, alta. Sua madeira é importante para o fabrico do papel]

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A FORÇA DO PODER INTERIOR_


Embora, dinheiro, informação, conhecimento e beleza física sejam armas potentes no ambiente de trabalho, nenhum desses ingredientes é tão significativo como o poder que vem do nosso mundo interior.

Você sabe lidar com o poder?
Se sabe, então você é uma pessoa rara. A maioria das pessoas tem dificuldade com o poder. O ditado do lorde Acton sobre o poder – “ O poder tende a corromper, e o poder absoluto corrompe absolutamente” – é tão citado que se tornou um clichê. Quando essas palavras foram escritas, reis e imperadores ainda detinham o poder absoluto. Isso não é tão freqüente hoje, mas o poder ainda corrompe, e, no local de trabalho, o poder, como o dinheiro, sempre é um problema. Muitos poucos locais de trabalho funcionam como democracias. Mesmo os que afirmam sê-lo não são tão democráticos quanto parecem. Eu trabalhei tanto para organizações idealistas, sem fins lucrativos, quanto para corporações que visavam lucro, e a principal diferença que vi é que, no setor dos lucros, os relacionamentos de poder são mais visíveis e mais diretos.

À primeira vista, o poder parece ser um estado de intensa energia. O diretor que grita e bate com o punho na mesa para que tudo seja feito a seu modo parece estar demonstrando poder. O policial que apita para você quando o impede de atravessar a rua está demonstrando poder. Mas, se você já passou algum tempo com alguém que tem poder [real], a energia em geral é serena e sutil. Certa vez fiz uma apresentação numa companhia de dois bilhões de dólares. Nomeio da apresentação, o diretor-executivo entrou e sentou-se no fundo da sala. Não disse nada, mas o sentimento de cada um no aposento mudou notoriamente. Estávamos na presença do poder. O diretor que grita não está exercendo poder; ele está frustrado porque não tem poder. O poder real é silencioso. E o poder interior é o mais silencioso de todos. Ele é quase invisível,mas pode mover montanhas.

TIPOS DE PODER_ Há muitos tipos de poder, muitos modos de uma pessoa dobrar outra à sua vontade. Naturalmente, o poder máximo é uma força mortal. Embora esse poder ainda seja exercido no mundo todo por nações contra nações e por governantes opressivos contra seus cidadãos, temos de ser gratos porque no trabalho nossos supervisores não seguram um chicote na mão nem apontam armas de fogo para nós. A escravidão e a servidão são relíquias de um passado mais cruel. Os tipos de poder que encontramos no trabalho são mais sutis do que isso.

Preeminente num sistema capitalista é o poder de propriedade. Os proprietários, ou acionistas, governam com supremacia. Certa vez perdi meu emprego porque a firma para qual eu trabalhava pertencia a um conglomerado do Japão. Os executivos japoneses nunca tinham me encontrado e pouco sabiam sobre a companhia para a qual eu trabalhava, exceto por algumas folhas de papel que resumiam nossos ganhos desapontadores. No entanto, eles tinham o poder de acabar com meu ganha-pão, mesmo estando do outro lado do oceano.

Na maioria das firmas de qualquer tamanho, o poder da hierarquia vem em seguida. O presidente, diretor-executivo ou chefe é investido com considerável poder sobre os outros – de contratar e despedir, de promover ou rebaixar, de ofender ou vetar um bônus ou um aumento. Se é gerente ou chefe, você exerce esse poder. Você pode ser a pessoa mais amável do mundo, e seus subordinados podem lhe dizer que gostam de você e o respeitam, mas, em certa medida, eles são cautelosos com você. Você tem poder.

Existem outros tipos de poder no local de trabalho. O conhecimento é poder, particularmente em nosso mundo altamente tecnológico. Quando os computadores saem fora do ar, tudo pára, até que os administradores do sistema, cujos conhecimentos especializados mantêm o resto da companhia como refém, podem fazer o sistema voltar a funcionar outra vez.

Dinheiro é poder. Alguns pensam que ele é o poder supremo. Conheci certa vez um membro de uma família aristocrática da Europa, uma senhora distinta na casa dos 60 anos. Certo dia, quando estávamos falando sobre suas experiências durante a Segunda Guerra Mundial, ela disse:
“Deixe-me contar um segredo. Não importa o que qualquer pessoa lhe disser, as guerras sempre acontecem por causa do dinheiro!”

Não sei se isso_ é sempre verdade, mas durante muito tempo lembrei do comentário dela. Pode ser mais verdadeiro do que gostaríamos de acreditar.

A beleza física confere poder. Para uma estrela de cinema ou modelo, a beleza pode valer milhões e deslanchar toda uma carreira. Nossa aparência física e presença muitas vezes podem ser um ingrediente importante na nossa capacidade de influenciar os outros. Certa vez li um estudo que analisava a altura física dos executivos do sexo masculino e concluiu que em média eles eram de sete a dez centímetros mais altos que o adulto médio comum. Esse foi apenas um estudo. Com a crescente diversidade de executivos em cargos de liderança [muitos dos quais do sexo feminino], essa estatística é menos importante do que já foi um dia. Mas a presença física e a aparência contam mais do que gostaríamos de admitir.

A informação é, cada vez mais, uma profunda fonte de poder. Uma participante dos meus ‘workshops’ disse que já trabalhara como especialista em compensação para a companhia Fortune 500. Ela tinha acesso à informação sobre o salário de cada funcionário – quem recebia bônus e qual seu valor, quem obteve aumento e quem não, bem como os planos de opção acionária dos altos executivos. Ela nos disse que andava por uma sala imaginando qual seria o efeito se ela contasse e duas pessoas que se sentavam lado a lado, e faziam o mesmo trabalho, que uma ganhava anualmente 20 mil dólares a mais do que a outra.
“Alguém lhe ofereceu um suborno para você abrir o jogo?” – alguém perguntou.
Ela concordou vigorosamente com a cabeça.
“Vocês não acreditariam nas coisas que as pessoas me diziam.”
Esse é o poder da informação.

POR QUE O PODER CORROMPE_ O que há no poder que tende a trazer à tona o pior que existe em nós? Por que, quando tiramos o melhor funcionário de uma equipe e o transformamos num supervisor, quase sempre ele se transforma num tirano mesquinho do dia para a noite? Trata-se da mesma pessoa, com as mesmas qualidades que lhe garantiram a promoção. Mas, no exercício do poder recém-descoberto, emerge uma sombra, um lado escuro da nossa natureza. Qual o sentido disso tudo?

Todos temos um profundo desejo de estar no controle, seguros e salvo, livres da preocupação e da ansiedade. Essa necessidade é uma das mais profundas forças que estão por trás de todos os nossos pensamentos e ações. Mesmo que sejamos adultos responsáveis e maduros, e saibamos que não viveremos para sempre, que não poderemos ter tudo o que queremos, que não poderemos ser felizes o tempo todo e saibamos que sofreremos dores, teremos azar e desapontamentos no curso de nossa vida, isso não nos impede de querer ficar livres de tudo isso.

Em outras palavras, a criança dentro de cada um de nós quer ser a estrela de um conto de fadas em que todos os desejos sejam realizados. Querer isso, mesmo que intelectualmente saibamos que não poderemos tê-lo, é o que os budistas chamam de apego. Não precisamos nos envergonhar de admitir que nos sentimos assim. Isso acontece com todo mundo. Trata-se da condição humana.

É por isso que o poder nos corrompe. O poder nos dá a ilusão de que chegamos a um pouco mais perto desse sonho de conto de fadas, de que podemos controlar as circunstancias da nossa vida, de impedir que aconteçam coisas desagradáveis e de evitar a dificuldade e o sofrimento. E não se trata inteiramente de uma ilusão. Se você for rico, tem o poder de evitar muitos dos inconvenientes da vida comum. Você nunca terá de enfrentar a agitação da hora do rush – poderá contratar uma limusine. E, se as avenidas estiverem realmente lotadas, poderá contratar um helicóptero. Ou talvez ter um helicóptero!

Já sucumbi a algumas dessas tentações. Quando eu era um monge budista, enfrentava o inverno sem aquecimento central. Eu andava mais a pé do que de carro. Minha alimentação era frugal, simples. Eu via dificuldades modestas como parte do meu treinamento espiritual, portanto, elas não me incomodavam. Agora, durante minhas viagens de negócios, fico irritado se o hotel onde estou é barulhento, se meu assento, no avião, fica na fila do meio, ou se o serviço do restaurante é lento. Porque vivo uma vida de mais riqueza e mais controle aparente, meu estado mental é menos flexível e menos receptivo que na época em que eu era monge. Pelo fato de eu ter mais poder externo, sou tentado a usá-lo para tornar minha vida mais protegida e tranqüila. Mas isso tem o efeito inverso. Pelo contrário, eu tenho menos poder interior. Sou mais vulnerável e fraco.

O poder é uma ilusão, mas uma ilusão muito convincente. Construímos toda uma sociedade ao redor da premissa de que o poder, particularmente o poder do dinheiro, é uma coisa boa. Segundo as imagens que nos bombardeiam de cada tela de televisão, não existe nada mais excitante e glamouroso do que uma vida repleta de dinheiro e poder.

BOM PATRÃO, MAU PATRÃO_ Uma grande amiga que estava lendo o manuscrito deste livro comentou:
“Você não parece retratar uma imagem muito boa dos patrões.”
Considerei o comentário dela e concluí que provavelmente ela estava certa. Existem bons e maus patrões, mas acho que a maioria das pessoas já teve dificuldade com o patrão em alguma época da vida.

Além da corrupção intrínseca do poder, a maioria das pessoas que tem cargos de liderança recebe pouco treinamento, se algum, sobre como administrar o poder e suas corrupções. Signifique o que significar, treinadas ou não, as pessoas ascendem ao poder, exercem poder e, em muitos casos, abusam do poder. Se os patrões não fazem bem seu trabalho, não é porque eles sejam pessoas ruins, mas porque as organizações não os treinam para saber como lidar com o poder, ou não lhes proporcionam um sistema de valores que coloque o poder na perspectiva correta.

O PODER DA INTEGRIDADE_ James Hillman estudou o poder em seu livro “Kinds of Power”. Em acréscimo aos tipos que já mencionei, ele analisa mais um, que ele chama purismo. O purismo, exemplificado pelos líderes como Martin Luther King e Gandhi, é bastante diferente dos outros tipos de poder. O poder do purismo, que eu chamaria de integridade, não está baseado numa categoria exterior ou na riqueza, no conhecimento ou na beleza, mas no caráter, num firme senso interior de valores que permite que você seja fiel aos seus princípios independentemente do que esteja fazendo ou de onde esteja.

Gandhi é um bom exemplo. O momento culminante da luta da Índia pela independência aconteceu quando Gandhi chegou, sozinho, ao palácio do vice-rei para negociar a independência com o Império Britânico. Na versão cinematográfica desse momento [com Bem Kingsley no papel principal], Gandhi subiu lentamente as escadarias, despido a não ser pelo pano cingindo os rins, enquanto o vice-rei e seus criados espiavam por trás das cortinas.

“Eis que ele está chegando!” – sussurrou o vice-rei, temeroso com o incorruptível poder desse velho esquelético descalço.
Esse é o poder da integridade. Ele é, segundo o dr. Hillman, uma força mais potente do que qualquer outro tipo de poder, porque ele é incondicional e provém totalmente de dentro.É por isso que tantos heróis espirituais, como Gandhi, morrem assassinados. A morte é a única maneira de detê-los.

PODER EXTERIOR E PODER INTERIOR_ Todos os tipos de poder que mencionei, exceto o poder da integridade, pertencem à categoria de poder exterior. O poder exterior é relativo. Para que funcione, algumas pessoas têm de ter mais do que as outras. O presidente da sua companhia tem mais poder do que você. Você tem mais poder do que o faxineiro que varre o chão. Este tem mais poder do que o indigente que vive na rua. O indigente tem mais poder do que um cão de rua.

A hierarquia do poder exterior é mutável. Você é uma estrela em ascensão num dia e uma notícia velha no outro. Uma nova direção entra com seus rostos bem barbeados e idéias brilhantes. Um ano depois o preço das ações despenca e todos eles são despedidos. Este ano o valor da sua opção de compra de ações sobe e você pena em se aposentar mais cedo. No ano seguinte a companhia está com a corda no pescoço e você fica preocupado em manter o emprego.

Os jogos de poder que as pessoas fazem no local de trabalho podem ser os aspectos menos agradáveis do trabalho. Muitas pessoas que vêm aos meus cursos deixam grandes firmas ou estão pensando em fazer isso. Quando pergunto qual é a parte mais difícil da sua vida profissional, elas muitas vezes dizem: “A política.”

Essa busca por poder e a influência dentro de uma companhia certamente não é um exemplo de seres humanos fazendo o melhor que podem, mas reflete a realidade da vida organizacional. A sabedoria convencional diz que a competição no local de trabalho traz à tona o melhor das pessoas. Conquanto a competição interna possa ser boa para as companhias, cobra um preço alto dos relacionamentos humanos.

É por isso que acho tão importante cultivar não apenas o poder exterior, que leva ao sucesso convencional no local de trabalho, mas também o poder interior, que leva à verdadeira realização e à satisfação espiritual.

As pessoas costumam pensar que existe alguma relação entre o poder interior e o poder exterior, que se trabalharem muito, forem leais à companhia, honestas e justas ao lidar com as pessoas, então serão recompensadas com estabilidade no emprego, promoções, status e reconhecimento. Uma das grandes mudanças dos últimos dez anos foi o colapso desse sistema. Nossa economia agora é global. Até mesmo os diretores das companhias não são donos do próprio destino. Não é apenas o nosso país que está passando por uma mudança avassaladora, mas todo o mundo, e os velhos tempos de emprego estável e do futuro seguro provavelmente acabaram para sempre. Diante de uma mudança tão rápida como essa, o que o trabalhador que luta para manter a previsibilidade e a segurança da sua vida deve fazer? Hoje as pessoas têm de assumir responsabilidade pelo próprio futuro em vez de confiar em que o empregador o faça por elas. Isso significa que precisam tornar-se mais independentes, mais capazes de se firmar por si mesmas, tanto no sentido material quanto no espiritual.

CARÁTER E TENTAÇÃO_ Quanto mais pudermos confiar no caráter, tanto mais nós o tornamos a pedra de toque de como vivemos nossa vida, e tanto menos ficamos à mercê dos acontecimentos e forças exteriores. Quanto mais o modo como nos sentimos com relação a nós mesmos e à situação em que estamos se achar enraizado em algo interno em vez de externo, tanto melhor será o trabalho da nossa vida, e menos nos sentiremos vitimas das circunstâncias.

Ter poder interior significa que, independentemente do caos das circunstancias mutáveis ao seu redor, você tem algo sólido em que se basear. Você sabe quem é. A integridade pessoal tem sofrido um bom golpe nos últimos anos, não só no mundo dos negócios mas em toda a parte. Uma grande porcentagem dos alunos de faculdade conta que trapaceia regularmente. Funcionários que não têm do patrão o devido reconhecimento dão o troco fazendo seu trabalho de qualquer jeito.

Pode parecer fora de moda enfatizar a volta dos valores espirituais como um modo de lidar com o local de trabalho, mas é o único recurso que ninguém pode nos tirar. Além disso, a quantidade de experiências negativas que temos no trabalho, mesmo aquelas que não são faltas nossas – o estresse, a raiva e a preocupação, o medo, o tédio e o desânimo – são exacerbadas com a falta de poder interior. Quando podemos ser fiéis aos nossos princípios, a raiva e o medo não assomam tanto, e as ações dos outros, mesmo dos nossos superiores, não são tão ameaçadoras. Quanto mais pudermos recorrer ao nosso interior para obter consolo e apoio, menos as irritações do local de trabalho nos incomodarão. Quanto mais pudermos retornar aos fundamentos da nossa vida espiritual, menos as tentações do sucesso no local de trabalho nos corromperão.

É por isso que as histórias sobre a vida de grandes mestres espirituais incluem um momento de grande tentação, um momento em que o engodo do poder exterior parece prestes a prevalecer. Quando Satã tentou Jesus no deserto, oferecendo-lhe o mundo inteiro em troca da sua aliança, Jesus ficou tentado. Mas, no final, ele foi aos seus princípios, e quem perdeu foi Satã.

Gandhi usou o mesmo poder interior contra os ingleses. Ele não tinha armas, exércitos, nenhuma riqueza do império. Tudo que tinha eram suas convicções e a confiança de que seus milhões de seguidores leais não se moveriam diante de porretes, chicotes e armas de fogo.

E, por último, o poder interior lhe dará força para superar as incertezas do local de trabalho. Em situações de verdadeira adversidade, isso pode significar a diferença entre o triunfo e a derrota. E, se você está por cima, se o trabalho de sua vida é plenamente satisfatório e você não imagina como poderia torná-lo ainda melhor, nesse caso o poder interior lhe dará a perspectiva para não ser vaidoso, arrogante ou excessivamente orgulhoso.

Embora o ambiente de trabalho dos tempos modernos seja uma invenção recente e continue a crescer e a mudar, os valores espirituais sobre os quais estive falando são tão antigos quanto à própria humanidade. Na história da antiga Índia ou Judéia, da antiga Grécia ou de Roma, os dramas humanos são parecidos com os de hoje. A raiva, a cobiça, a tentação, a arrogância e a ambição co-existiram em desequilíbrio com a generosidade, a integridade, a honestidade, a compaixão e o perdão.

O poder exterior vai e vem. O poder interior, uma vez conquistado, fica com você durante toda a vida. Você talvez pense que no local de trabalho moderna não existe lugar para valores espirituais, que ele os varre para o lado como coisas irrelevantes para os objetivos da eficiência e do lucro. Pode parecer assim, mas na realidade isso não acontece. O poder interior é mais forte.
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[O Texto aqui apresentado é um excerto do capítulo 18 do livro O Trabalho Como Prática Espiritual, de Lewis Richmond, lançado pela Editora Cultrix. Tradução: Zilda Hutchinson Schild Silva]