As verdades profundas são-nos transmitidas por meio de símbolos que, sob a capa de fatos corriqueiros, atuam como intermediários entre o intelecto e o inconsciente superior, onde se alojam as mais elevadas aspirações humanas.
Os símbolos estão presentes nos sonhos, na poesia, nas artes e, sobretudo na mitologia e nos textos sagrados.
No salmo 23, sempre recitado nos rituais cristãos, a idéia de proteção divina em qualquer circunstancia é facilmente percebida mesmo pelo leitor pouco afeito a temas espirituais. Mas, se se analisar cada símbolo que o Salmo contêm, a mensagem se revela em toda a sua magnitude. Já no primeiro versículo, aparece um símbolo de grande significado, sobretudo entre os hebreus antigos, que eram agricultores nômades: o pastor. Este representa o zelo e a diligencia de quem cuida profissionalmente de um rebanho e, por isso, é perito – sabe qual alimento convém aos animais sob os seus cuidados e distingue ruídos de perigo com a chegada do lobo, além de perceber com prontidão alguma necessidade de socorro como o balido da ovelha perdida. Em contato diário com os vales, os montes e a vegetação, o pastor reconhece a natureza e tem condições sobejas de escolher o melhor lugar para o rebanho. Assim, o salmista serviu-se de uma figura conhecida, já incorporada ao inconsciente coletivo da humanidade, para dizer que Deus cuida bem de seus filhos e não permite nada que lhes falte. Séculos depois, Cristo tomará o mesmo símbolo para exprimir seu devotamente para com seus seguidores:”Eu Sou o Bom Pastor. O bom pastor dá a sua vida pelas ovelhas” [João, 10,11].
No segundo versículo, há referencia a ‘pastos verdejantes’ [ ou verdes pastos, conforme algumas traduções]. Ora, pastos verdejantes são locais aprazíveis cheios de vida e viço. Na linguagem mística, simbolizam o paraíso, a realização espiritual suprema. Com esta imagem, o autor do Salmo quer dizer que Deus, o Pastor, traz bem-aventurança ou plenitude aos Seus Filhos e é o único Ser que lhes pode dar a plena realização. Em seguida, reforça a idéia com o símbolo da água [“Conduz-me junto às águas de descanso”]. A água é elemento básico na constituição do ser humano, fonte de vida e liquido de purificação, conotando, também, a idéia de alegria, sabedoria e contentamento. A água casa-se bem com os pastos verdejantes, uma vez que não há vegetação que subsista sem ela. Em Deus, o homem encontra não só deleite como também unção para viver e produzir frutos proveitosos.
No ‘refrigério da alma” [“Refrigera-me a alma”,v.3], está a noção central do Salmo - A UNIÃO MÍSTICA EM QUE O HOMEM NÃO PRECISA DE MAIS NADA, POR QUE ESTÁ UNIDO AO ABSOLUTO.
Outro símbolo que aparece no texto é o “vale da sombra da morte” [ou vale escuro]. É provável que esse vale tenha existido de fato, mas o que interessa no poema é a simbologia do vale: um lugar estreito por onde se tem de passar necessariamente. O vale escuro, cheio de incertezas, evoca a vida na Terra com suas vicissitudes, seus reveses, dissabores e perigos. Quem está unido a Deus – diz o salmista - não teme os percalços, mas passa com coragem e galhardia pelo vale da vida terrena na certeza de chegar incólume ao seu destino.
O Salmo menciona, também, o ‘báculo e o cajado’, instrumentos usados pelos pastores na antiguidade para defender o rebanho e empurrá-lo para frente. Tanto o báculo [m forma de gancho]como o cajado ou bastão, logo se transformaram em símbolos de magia e poder celestial. O que o poeta quer dizer com essas figuras é que Deus, autoridade máxima, tem o poder transformador que afasta todo o mal. Daí, o crente nada tem a temer, mesmo quando tem de atravessar o vale escuro da materialidade e do ego, pois encontra forças para enfrentar as dificuldades do cotidiano.
A seguir, encontramos no Salmo a referencia à ‘mesa’, que representa a fartura, o regozijo, a celebração, o banquete celestial, portanto a beatitude máxima. Na Bíblia, em mais de uma passagem, o estado de bem-aventurança é comparado a um banquete. Muitos são os convidados para o ágape, mas nem todos aceitam o convite [Lucas, 14,16]. É preciso estar preparado para desfrutar de uma grande alegria.
Continuando a explorar o tema da bem-aventurança, o salmista emprega dois outros símbolos: “ o óleo e a taça”. O óleo, ou azeite, representa a luz, a pureza, a prosperidade e a benção. Usado na ordenação sacerdotal e na consagração dos reis, o óleo confere autoridade, poder e glória, introduzindo o ungido na esfera divina. A idéia central clarifica-se e reforça-se neste passo, quem se une a Deus, transforma-se pela unção que lhe é conferida. Por sua vez, a taça, ou cálice, simboliza o recipiente da imortalidade, sendo pó isso empregada tanto para as libações rituais como nas festividades profanas, sempre denotando a abundancia e o júbilo. No Salmo, a taça é o coração ou a alma do adepto. A imagem do cálice transbordante significa o coração satisfeito que não necessita de mais nada e está propício a doar amor, compreensão e compaixão. Note-se que o texto abre-se no segundo versículo com a afirmação – “Nada me faltará” e diz quase no fim do poema – “meu cálice transborda”. Nada falta a quem está com Deus, ainda que passe por dificuldades.
O Salmo encerra-se com o bonito símbolo Casa do Senhor. Com seus pavimentos, o porão e o sótão, a casa significa os vários estados da alma ou da consciência. Habitar na Casa do Senhor para todo o sempre é TOMAR CONSCIÊNCIA DEFINITIVA DA PRÓPRIA DIVINDADE e converter-se radicalmente, passando do ser material[psíquico, mental, emocional] limitado e transitório para o ser espiritual infinito e eterno.
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Os símbolos estão presentes nos sonhos, na poesia, nas artes e, sobretudo na mitologia e nos textos sagrados.
No salmo 23, sempre recitado nos rituais cristãos, a idéia de proteção divina em qualquer circunstancia é facilmente percebida mesmo pelo leitor pouco afeito a temas espirituais. Mas, se se analisar cada símbolo que o Salmo contêm, a mensagem se revela em toda a sua magnitude. Já no primeiro versículo, aparece um símbolo de grande significado, sobretudo entre os hebreus antigos, que eram agricultores nômades: o pastor. Este representa o zelo e a diligencia de quem cuida profissionalmente de um rebanho e, por isso, é perito – sabe qual alimento convém aos animais sob os seus cuidados e distingue ruídos de perigo com a chegada do lobo, além de perceber com prontidão alguma necessidade de socorro como o balido da ovelha perdida. Em contato diário com os vales, os montes e a vegetação, o pastor reconhece a natureza e tem condições sobejas de escolher o melhor lugar para o rebanho. Assim, o salmista serviu-se de uma figura conhecida, já incorporada ao inconsciente coletivo da humanidade, para dizer que Deus cuida bem de seus filhos e não permite nada que lhes falte. Séculos depois, Cristo tomará o mesmo símbolo para exprimir seu devotamente para com seus seguidores:”Eu Sou o Bom Pastor. O bom pastor dá a sua vida pelas ovelhas” [João, 10,11].
No segundo versículo, há referencia a ‘pastos verdejantes’ [ ou verdes pastos, conforme algumas traduções]. Ora, pastos verdejantes são locais aprazíveis cheios de vida e viço. Na linguagem mística, simbolizam o paraíso, a realização espiritual suprema. Com esta imagem, o autor do Salmo quer dizer que Deus, o Pastor, traz bem-aventurança ou plenitude aos Seus Filhos e é o único Ser que lhes pode dar a plena realização. Em seguida, reforça a idéia com o símbolo da água [“Conduz-me junto às águas de descanso”]. A água é elemento básico na constituição do ser humano, fonte de vida e liquido de purificação, conotando, também, a idéia de alegria, sabedoria e contentamento. A água casa-se bem com os pastos verdejantes, uma vez que não há vegetação que subsista sem ela. Em Deus, o homem encontra não só deleite como também unção para viver e produzir frutos proveitosos.
No ‘refrigério da alma” [“Refrigera-me a alma”,v.3], está a noção central do Salmo - A UNIÃO MÍSTICA EM QUE O HOMEM NÃO PRECISA DE MAIS NADA, POR QUE ESTÁ UNIDO AO ABSOLUTO.
Outro símbolo que aparece no texto é o “vale da sombra da morte” [ou vale escuro]. É provável que esse vale tenha existido de fato, mas o que interessa no poema é a simbologia do vale: um lugar estreito por onde se tem de passar necessariamente. O vale escuro, cheio de incertezas, evoca a vida na Terra com suas vicissitudes, seus reveses, dissabores e perigos. Quem está unido a Deus – diz o salmista - não teme os percalços, mas passa com coragem e galhardia pelo vale da vida terrena na certeza de chegar incólume ao seu destino.
O Salmo menciona, também, o ‘báculo e o cajado’, instrumentos usados pelos pastores na antiguidade para defender o rebanho e empurrá-lo para frente. Tanto o báculo [m forma de gancho]como o cajado ou bastão, logo se transformaram em símbolos de magia e poder celestial. O que o poeta quer dizer com essas figuras é que Deus, autoridade máxima, tem o poder transformador que afasta todo o mal. Daí, o crente nada tem a temer, mesmo quando tem de atravessar o vale escuro da materialidade e do ego, pois encontra forças para enfrentar as dificuldades do cotidiano.
A seguir, encontramos no Salmo a referencia à ‘mesa’, que representa a fartura, o regozijo, a celebração, o banquete celestial, portanto a beatitude máxima. Na Bíblia, em mais de uma passagem, o estado de bem-aventurança é comparado a um banquete. Muitos são os convidados para o ágape, mas nem todos aceitam o convite [Lucas, 14,16]. É preciso estar preparado para desfrutar de uma grande alegria.
Continuando a explorar o tema da bem-aventurança, o salmista emprega dois outros símbolos: “ o óleo e a taça”. O óleo, ou azeite, representa a luz, a pureza, a prosperidade e a benção. Usado na ordenação sacerdotal e na consagração dos reis, o óleo confere autoridade, poder e glória, introduzindo o ungido na esfera divina. A idéia central clarifica-se e reforça-se neste passo, quem se une a Deus, transforma-se pela unção que lhe é conferida. Por sua vez, a taça, ou cálice, simboliza o recipiente da imortalidade, sendo pó isso empregada tanto para as libações rituais como nas festividades profanas, sempre denotando a abundancia e o júbilo. No Salmo, a taça é o coração ou a alma do adepto. A imagem do cálice transbordante significa o coração satisfeito que não necessita de mais nada e está propício a doar amor, compreensão e compaixão. Note-se que o texto abre-se no segundo versículo com a afirmação – “Nada me faltará” e diz quase no fim do poema – “meu cálice transborda”. Nada falta a quem está com Deus, ainda que passe por dificuldades.
O Salmo encerra-se com o bonito símbolo Casa do Senhor. Com seus pavimentos, o porão e o sótão, a casa significa os vários estados da alma ou da consciência. Habitar na Casa do Senhor para todo o sempre é TOMAR CONSCIÊNCIA DEFINITIVA DA PRÓPRIA DIVINDADE e converter-se radicalmente, passando do ser material[psíquico, mental, emocional] limitado e transitório para o ser espiritual infinito e eterno.
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SALMO 23
O Senhor é o meu pastor; nada me faltará.
Ele me faz repousar em pastos verdejantes.
Leva-me para junto das águas de descanso; refrigera-me a alma.
Guia-me pelas veredas da justiça por amor do Seu nome.
Ainda que eu ande pelo vale da sombra da morte, não temerei mal algum, porque Tu estás comigo; o Teu bordão e o Teu cajado me consolam.
Preparas-me uma mesa na presença dos meus adversários, unges-me a cabeça com óleo;o meu cálice transborda.
Bondade e misericórdia certamente me seguirão todos os dias da minha vida; e habitarei na Casa do Senhor para todo o sempre.
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[Por Sérgio Carlos Covello]