Se a consciência individual existisse independentemente da consciência universal, a religião então não teria significado e o misticismo estaria sem uma premissa viável. A consciência no homem é um estado de percepção, uma compreensão de vários fenômenos. Por ela, o homem passa a perceber aspectos da exterioridade como o mundo exterior. De igual modo, ele torna-se sabedor de sua própria existência, isto é, consciente de si mesmo. Todas as religiões, mesmo as chamadas pagãs, tem um sistema teológico pelo qual ensina-se o homem a comungar com seu conceito de Deus. Qualquer religião digna do homem tem recurso à oração. Esta oração é uma tentativa de comunicação entre o homem e seu Deus, ou deuses.
Por conseguinte, há o corolário de que o homem pode tornar-se cônscio daquele poder transcendental ao qual apela. Tal compreensão, obviamente, requer uma consciência. Há, portanto, uma mescla, um estado de unidade entre a consciência humana e aquele tipo de consciência que o homem atribui ao Ser Divino.
Examinemos agora a questão estritamente do ponto de vista místico. Em poucas palavras, o místico é aquele que aspira a uma união pessoal, ou unidade, com o Absoluto. Este Absoluto ele pode chamar de Deus, Cósmico, Mente Universal, Ser Supremo, etc. O auge da realização mística é a Consciência Cósmica. Se transpusermos as duas palavras para consciência do Cósmico, teremos então uma compreensão melhor do termo. Simplesmente, ele consiste de o homem ter uma consciência do Cósmico, o UM de que toda realidade consiste.
Não é como se um estado ou condição, separado, estivesse entrando em contato com outro de natureza diferente. Não é uma sincrasia, uma mistura de coisas diferentes. A consciência no homem, embora seja de um estágio de apreensão inferior é parte da consciência existente por toda parte. Mas as freqüências ou faixas diferentes de manifestação tem de ser postas em harmonia entre si. A consciência humana evolui para o alto de modo a ser capaz de perceber o UM, que é igualmente uma consciência. O místico afirma que todo o cosmo tem um estado de consciência de sua própria natureza. Para o homem, perceber que existe tal relação com ele é o mais alto senso de perfeição que o ser humano pode experimentar.
É bastante compreensível que o homem acredite, com mais freqüência, que sua consciência é um estado separado e independente. Ele não consegue perceber o fator unificador que existe por toda a vida e, na verdade, por todo o cosmo. Toda célula viva, seja de uma planta ou animal, tem consciência. Esta consciência é apenas separada na maneira particular como se expressa através do organismo ou através da própria planta. Mas, basicamente, as células num corpo humano tem funções semelhantes às das que existem nas outras formas.
Falamos, hoje em dia, de diferentes estados conscientes dentro do homem, tais como o objetivo, subjetivo e subconsciente, com as variações teóricas do ultimo. Contudo, não pensamos nesses estados de consciência como sendo separados dentro de nós, porém, mais propriamente, como sendo níveis ou oitavas do mesmo fluxo de consciência que nos percorre.
Como é exatamente a consciência universal? Ela não tem qualidades determinativas definidas. Como todas as coisas são manifestação da consciência universal, então, como disse o filósofo holandês Spinoza sobre o Absoluto, “está em todas as coisas mas não está em nenhuma delas”. Ademais, todas as coisas não são a totalidade da consciência universal porque ela tem o potencial de infinitas outras manifestações.
Ignoramos por completo outros mundos que existem no numero infinito de galáxias ou outros universos do cosmo, que podem ter manifestações da consciência universal, as quais não podemos sequer conceber. Por conseguinte, a consciência universal é amorfa ou, como disse Heráclito, ‘está sempre vindo a ser’.
A ciência pode rejeitar a hipótese de que todas as coisas tem consciência; em outras palavras, que a consciência está em toda realidade. Mas isto, porém, depende das limitações que damos às características de consciência. A física e a química, por exemplo, nos mostraram que a estrutura da matéria obedece ao que em geral se declara ser uma espécie de ordem natural. Esta ordem é tão precisa que a consideramos universal. Na verdade, a exploração espacial desta época descobriu que existem elementos químicos em mundos distantes, conforme revelados pelo espectrógrafo, que tem as mesmas características de comprimento de onda dos encontrados na Terra. Também temos amostras do solo da Lua e de Marte. Não poderemos dizer que essa ordem, essa precisão persistente, é uma espécie de consciência? Reconhecidamente, ela difere em suas manifestações da consciência humana. Mas, por outro lado, também temos diferentes estados de consciência.
Lembramo-nos da filosofia dos antigos Estóicos, fundada por Zeno 340-265 a.C]. Os estóicos sustentavam que nem matéria, lama ou homem eram coisas separadas, e sim parte de um todo unificado que pode ser chamado de Deus ou Natureza. Uma alma universal ou principio racional, ou seja, mente, está presente por toda parte. No momento, é o que chamamos alma, diziam os Estóicos. Na matéria, são as leis naturais pelas quais ela se manifesta.
Isto, é claro, é tecnicamente chamado de panteísmo místico ou, nomeadamente, Deus, ou a Mente Cósmica, que tudo penetra. O teísta ortodoxo e o chamado fundamentalista bíblico, naturalmente, rejeitarão esta idéia. Ele deseja, como acontece com muitos dos que chama de pagãos, personalizar seu Deus, fazer Dele um ser de forma. Ele acha que encarnar a existência de Deus em todas as coisas, como o panteísta faz, é uma espécie de idolatria. Mas, ao supor isto, ele revela sua incompreensão do panteísmo místico. O verdadeiro panteísta neste sentido nem adora nem venera qualquer objeto como deidade. Mais propriamente, ele sabe que o principio cósmico é infinito em essência e subsistente e, portanto, nenhuma coisa ou todas as coisas poderiam ser ele. Mas ele afirma que nada do que existe poderia existir sem a ordem inerente de Deus ou Mente Cósmica.
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R.M.L._F.R.C