Uma coisa é viver; outra é ter algo para que viver. Lutamos instintivamente para viver, como o faz o mais simples ser vivo. Mas no caso de seres inteligentes viver é mais do que a preservação da entidade física. Não honra a inteligência humana o fato de o homem ser apenas um ser animado, consciente. Vida, no sentido biológico, é ação. E uma coisa dinâmica. Um ser humano sadio, uma pessoa normal, gera uma energia física e mental que precisa ser de algum modo dissipada. A função dessa energia cinética resulta na produção de algum tipo de trabalho. Fisicamente, isso pode resultar na locomoção do corpo ou na aquisição de alimento, ou nas outras coisas ou condições necessárias à satisfação sensual.
A mente e o ego também têm seus objetivos, seus fins a alcançar. Uma mente inteligente manifesta energia mental; abomina um estado passivo. A consciência objetiva está continuamente alerta para todas as impressões oriundas do seu ambiente. Em conseqüência, o indivíduo inteligente é observador, analítico, inquiridor. Se sua consciência não pode ser focalizada em alguma coisa que a ocupe, dá-se uma inquietação mental que produz irritabilidade e aborrecimento. Se é uma tortura negar atividade ao corpo e restringir suas funções, também é torturada a mente que é confinada ou inibida por falta de um meio de exteriorização.
A mente é satisfeita pela consecução de ideais. Um estado ou uma coisa concebida como essencial para a satisfação intelectual é um desejo mental. Tais desejos têm tanta energia quanto os desejos físicos. Se a mente não consegue realizar seus desejos, pelo menos em parte, vem a irritação que constitui psicologicamente infelicidade na vida do indivíduo. E foram esses impulsos subjacentes à natureza humana que fizeram a humanidade progredir. O fato de que essa auto-afirmação pode às vezes ser mal direcionada não diminui sua importância para o progresso humano.
O ego, como o todo da personalidade humana, física mental e moralmente, tem seus objetivos. E também não pode permanecer estático sem provocar desarmonia e várias perturbações para toda a personalidade. O intelecto interpreta como ideais os fins a que o ego aspira. O ímpeto do ego ocorre sob forma de impulsos emocionais e psíquicos que se originam nas profundezas do subconsciente. Esses impulsos são uma conseqüência da ‘memória das células’ e das mutações dos genes efetivadas como o ajuste da vida a inúmeras gerações. Tais impulsos do ego são também a resposta da consciência e da própria força vital às forças universais de que elas fazem parte. São como um eco fraco, não perfeitamente distinto, embora suficientemente persistente para penetrar e influenciar a formulação dos nossos pensamentos. Esses impulsos constituem a ‘vontade moral’. Fazem com que adaptemos nosso comportamento a eles, a fim de dirigirmos nossa vida, física e mentalmente, de modo a satisfazermos o ego. Nossa filosofia de vida, seja ou não expressa por nós em palavras, manifesta-se não obstante em nossas ações. Nossos ideais e nossas ações correspondem aos ditames do ego.
UMA VIDA MAIS PLENA
As coisas para as quais vivemos têm de ser ‘íntimas’. Têm de se originar nos elementos de nossa própria natureza; do contrário, a vida se torna estranha para nós, um vazio. O fato de seguirmos os costumes e as convenções da sociedade, ou as práticas de outrem, proporciona apenas um prazer passageiro e superficial, se na realidade não corresponde aos ideais relacionados com os elementos de nossa própria personalidade. É irrelevante se os outros concordam com o que perseguimos na vida. O importante é que isso representa o valor da vida para nós. Aquilo que constitui o nosso objetivo na vida deve consumir a atividade do nosso corpo e da nossa mente, além de satisfazer as características do nosso ego. VIVER É FAZER. O sr animado precisa realizar alguma coisa, ou terá fracassado. Biologicamente, produzir um ser da mesma espécie é uma forma de realização na vida. Mas isso deixa a mente e o ego sem realização. Devemos estar constantemente conscientes de nossa própria natureza trina. Um objetivo sensual na vida, de desfrutar somente prazeres físicos, com prejuízo de despertar talentos e cultivar a mente, implica em limitar as possibilidades de uma vida mais plena.
AVALIAÇÃO DA PERSONALIDADE
A auto-avaliação é fundamentalmente necessária para tornar a vida verdadeiramente valiosa. Pergunte a si mesmo: por que você quer viver? A resposta pode ser chocante para você mesmo. Aliás, você pode ter dificuldade para dar uma resposta para esta pergunta. Quando você pensa na vida como um meio para um fim, que representa esse fim para você? Como uma atividade em que a vida possa ser aplicada, o que é que lhe traria a maior felicidade? Talvez não seja nada do que você já tenha conhecido, mas algo que você espera finalmente realizar. Depois, pergunte a si mesmo se aquilo que “você está buscando” está dentro das suas potencialidades. Você tem a compleição, a saúde, a inteligência, a vontade, para conseguir isso? Além disso, aquilo por que você está lutando é uma coisa, um estado ou uma condição? Se é uma coisa, o prazer a ser obtido dela estará apenas em saber que a ‘tem’, pelo amor à posse? Uma coisa que proporciona satisfação somente por se saber que ela foi adquirida é fugaz, é momentânea. O prazer vai deixando de existir e a pessoa é forçada a perseguir um outro objeto, freqüentemente quimérico.
Se as coisas ou objetos específicos devem ser buscados, deve ser somente como instrumentos para criar um prazer mais permanente entre aqueles que os busquem. Uma coisa cujo meio de proporcionar prazer está limitado a suas próprias propriedades, ou qualidades, logo perde seu atrativo. Cedo aprendemos que prazeres não podem ser um único tipo de estímulo; eles precisam variar, ou sua monotonia se torna cansativa. Portanto,a coisa específica que buscamos tem de ser um meio de produzir uma cadeia de satisfações em nosso interior, ou seu atrativo tem vida curta. Os mesmos princípios psicológicos e filosóficos se aplicam a objetivos na vida que se relacionam com eventos ou acontecimentos isolados. Estes não devem ser momentâneos em seus efeitos, e sim causas também de futuras satisfações.
O objetivo que uma pessoa persegue na vida precisa ser freqüentemente ajustado a mudanças nas circunstâncias, ou não tem condição de cumprir sua finalidade. O sentido da vida para um jovem, uma pessoa de meia-idade, ou para um idoso, é bastante diferente. Isto é particularmente verdadeiro se os objetivos estão associados a prazeres físicos. A intensa energia de um jovem sadio requer uma aplicação física, como nos esportes e tudo aquilo que possa se tornar externamente o foco de suas faculdades. O jovem não tem experiência suficiente para formar ideais fundamentais que possam se tornar um estímulo interno. Assim, tanto o corpo como a mente literalmente mudam a todo instante de uma atividade para outra; isto consome energia vital, alivia tensões e proporciona prazer. Aplicar os objetivos do jovem a pessoas de meia-idade, só pode causar futuros desapontamentos na vida. Na maturidade, a pessoa não conta com a abundância de energia a ser descarregada, quer em atividade física, quer numa concentração alternada em inúmeras coisas. Esse esforço traz insatisfação à pessoa de meia-idade, e não felicidade.
Embora o jovem possa encontrar maior satisfação nos esportes e em experiências exteriores que estejam sempre mudando, o jovem inteligente vai procurar também determinar o que constitui um interesse secundário nesse período de sua vida. Esse interesse secundário pode muito bem consistir em prazeres mentais que reforcem a vontade e estimulem a imaginação, e que requeiram pensamento e habilidade. O desenvolvimento de passatempos intelectuais e que exijam habilidade deve ser estimulado. Que o jovem pense [como ele provavelmente vai pensar]que uma das coisas importantes para se viver é o esporte e a dedicação a atrativos externos. Essa atividade é a qualidade essencial desse período de sua vida. Mas que ele reconheça em seu próprio interior certas outras predisposições de sua mente, ou seja, tendências e talentos mentais. Estes devem ser estimulados sempre que possível. Assim ele acaba percebendo que essas predisposições proporcionam prazer, ainda que pareçam subordinadas aos interesses mais estreitamente relacionados com a fase que ele está vivendo. Isso resulta, então, num ajuste natural à vida, na fase em que os interesses maiores da juventude não mais sejam satisfatórios. Muitos homens e mulheres, quando ultrapassam a juventude, apegam-se pateticamente a objetivos na vida que não são mais capazes de perseguir ou realizar. Em conseqüência, a vida perde para eles o seu prazer e o seu sentido. Se eles tivessem cultivado desejos secundários em sua juventude, tais desejos viriam à tona como um novo ideal a ser alcançado e com novas satisfações.
PRIVILÉGIOS DE ESCOLHA
Não se preocupe com as metas habituais que as pessoas tendem a estabelecer para si mesmas, ou que pareçam ser a coisa costumeira ou mesmo ética a fazer. Decida-se, você mesmo, por algo que seja a realização da sua vida. Mas não desperdice a si mesmo. Não aplique a toa sua possibilidade de felicidade. Faça com que o seu objetivo seja expansivo, isto é, um objetivo que cresça com você ao invés de diminuir com o passar dos anos. Além disso, tome consciência de que não somente as coisas mudam, mas ‘você também muda’. Pense para além de cada momento. Será que você colheria ou poderia colher a mesma felicidade, daqui a vinte ou trinta anos, das coisas que hoje parecem proporcioná-la? Escolha um canal para a felicidade na vida, que possa ser desenvolvido ao longo dos anos e constituir uma inesgotável fonte de satisfação.
Quais são algumas das coisas para as quais vivemos? Só podemos sugeri-las no sentido mais amplo. Quanto aos detalhes em cada categoria, cabe ao indivíduo escolher, com base em suas tendências pessoais. As belas artes constituem uma dessas categorias. Pintar, desenhar, tocar um instrumento musical ou cantar, podem proporcionar continuado prazer para a pessoa cuja sensibilidade ou cujos talentos tendam para essa direção. A menos que a pessoa seja aconselhada por uma autoridade no sentido de que ela seja especialmente proficiente, não deve procurar ganhar seu sustento com uma dessas artes. O esforço da prática intensiva prejudicaria o prazer que esse empenho poderia proporcionar. É preciso que a pessoa demonstre excepcional qualificação e um intenso desejo de se dedicar a uma das artes, bem como treinar para alcançar perfeição na mesma e, ao mesmo tempo, continue a gostar de praticá-la. Se, por exemplo, a música lhe proporciona a maior satisfação emocional, então faça com que todos, os outros interesses sejam dirigidos exclusivamente para as necessidades e os compromissos da vida. Que a música seja ’aquilo para que você esteja vivendo’.
O mesmo se pode dizer àqueles que sentem que têm um profundo amor ao conhecimento, um anseio que só é satisfeito com a leitura de bons livros ou o estudo de alguma ciência. Por outro lado, se o seu amor está centralizado em realizações criativas, mentais ou físicas, faça disso o seu objetivo na vida. Invente, construa, experimente, ou escreva. S você adora pessoas e sente fascínio pelas consecuções humanas, como em história, exploração e viagens, então faça disso o seu objetivo. Tudo isso pode e há de proporcionar felicidade contínua, porque se desenvolve proporcionalmente com o tempo e o esforço que você emprega.
Parece tudo isso um empenho egoístico? Será que faz a vida nos servir somente como indivíduos? Como objetivos na vida, somente as coisas que têm natureza material, satisfazendo exclusivamente desejos sensuais, podem ser chamadas de egoísticas. A pessoa cujo objetivo se concentra em música, arte, literatura, viagens, ciência, ou qualquer empenho criativo, como pesquisa, escrever, etc., não pode ser considerada egoísta. Aquilo que ela faz, o que ela aprende e cria, não só proporciona prazer a ela, mas alimenta um fonte de que outras pessoas podem colher felicidade. Por exemplo, a pessoa que se dedica ao passatempo criativo da fotografia, não só cultiva seu próprio senso estético, pelo qual sente simetria na forma e harmonia na cor, mas projeta seus interesses para outras que estão em afinidade com ela. Seu ego, também, encontra satisfação no reconhecimento de suas realizações e no evidente prazer que outras pessoas colhem das mesmas.
Uma vida sem algo para que viver é como um barco sem leme. Seu rumo está sempre sendo alterado pelas condições a que é exposto.
_
[Texto de Ralph M. Lewis].
A mente e o ego também têm seus objetivos, seus fins a alcançar. Uma mente inteligente manifesta energia mental; abomina um estado passivo. A consciência objetiva está continuamente alerta para todas as impressões oriundas do seu ambiente. Em conseqüência, o indivíduo inteligente é observador, analítico, inquiridor. Se sua consciência não pode ser focalizada em alguma coisa que a ocupe, dá-se uma inquietação mental que produz irritabilidade e aborrecimento. Se é uma tortura negar atividade ao corpo e restringir suas funções, também é torturada a mente que é confinada ou inibida por falta de um meio de exteriorização.
A mente é satisfeita pela consecução de ideais. Um estado ou uma coisa concebida como essencial para a satisfação intelectual é um desejo mental. Tais desejos têm tanta energia quanto os desejos físicos. Se a mente não consegue realizar seus desejos, pelo menos em parte, vem a irritação que constitui psicologicamente infelicidade na vida do indivíduo. E foram esses impulsos subjacentes à natureza humana que fizeram a humanidade progredir. O fato de que essa auto-afirmação pode às vezes ser mal direcionada não diminui sua importância para o progresso humano.
O ego, como o todo da personalidade humana, física mental e moralmente, tem seus objetivos. E também não pode permanecer estático sem provocar desarmonia e várias perturbações para toda a personalidade. O intelecto interpreta como ideais os fins a que o ego aspira. O ímpeto do ego ocorre sob forma de impulsos emocionais e psíquicos que se originam nas profundezas do subconsciente. Esses impulsos são uma conseqüência da ‘memória das células’ e das mutações dos genes efetivadas como o ajuste da vida a inúmeras gerações. Tais impulsos do ego são também a resposta da consciência e da própria força vital às forças universais de que elas fazem parte. São como um eco fraco, não perfeitamente distinto, embora suficientemente persistente para penetrar e influenciar a formulação dos nossos pensamentos. Esses impulsos constituem a ‘vontade moral’. Fazem com que adaptemos nosso comportamento a eles, a fim de dirigirmos nossa vida, física e mentalmente, de modo a satisfazermos o ego. Nossa filosofia de vida, seja ou não expressa por nós em palavras, manifesta-se não obstante em nossas ações. Nossos ideais e nossas ações correspondem aos ditames do ego.
UMA VIDA MAIS PLENA
As coisas para as quais vivemos têm de ser ‘íntimas’. Têm de se originar nos elementos de nossa própria natureza; do contrário, a vida se torna estranha para nós, um vazio. O fato de seguirmos os costumes e as convenções da sociedade, ou as práticas de outrem, proporciona apenas um prazer passageiro e superficial, se na realidade não corresponde aos ideais relacionados com os elementos de nossa própria personalidade. É irrelevante se os outros concordam com o que perseguimos na vida. O importante é que isso representa o valor da vida para nós. Aquilo que constitui o nosso objetivo na vida deve consumir a atividade do nosso corpo e da nossa mente, além de satisfazer as características do nosso ego. VIVER É FAZER. O sr animado precisa realizar alguma coisa, ou terá fracassado. Biologicamente, produzir um ser da mesma espécie é uma forma de realização na vida. Mas isso deixa a mente e o ego sem realização. Devemos estar constantemente conscientes de nossa própria natureza trina. Um objetivo sensual na vida, de desfrutar somente prazeres físicos, com prejuízo de despertar talentos e cultivar a mente, implica em limitar as possibilidades de uma vida mais plena.
AVALIAÇÃO DA PERSONALIDADE
A auto-avaliação é fundamentalmente necessária para tornar a vida verdadeiramente valiosa. Pergunte a si mesmo: por que você quer viver? A resposta pode ser chocante para você mesmo. Aliás, você pode ter dificuldade para dar uma resposta para esta pergunta. Quando você pensa na vida como um meio para um fim, que representa esse fim para você? Como uma atividade em que a vida possa ser aplicada, o que é que lhe traria a maior felicidade? Talvez não seja nada do que você já tenha conhecido, mas algo que você espera finalmente realizar. Depois, pergunte a si mesmo se aquilo que “você está buscando” está dentro das suas potencialidades. Você tem a compleição, a saúde, a inteligência, a vontade, para conseguir isso? Além disso, aquilo por que você está lutando é uma coisa, um estado ou uma condição? Se é uma coisa, o prazer a ser obtido dela estará apenas em saber que a ‘tem’, pelo amor à posse? Uma coisa que proporciona satisfação somente por se saber que ela foi adquirida é fugaz, é momentânea. O prazer vai deixando de existir e a pessoa é forçada a perseguir um outro objeto, freqüentemente quimérico.
Se as coisas ou objetos específicos devem ser buscados, deve ser somente como instrumentos para criar um prazer mais permanente entre aqueles que os busquem. Uma coisa cujo meio de proporcionar prazer está limitado a suas próprias propriedades, ou qualidades, logo perde seu atrativo. Cedo aprendemos que prazeres não podem ser um único tipo de estímulo; eles precisam variar, ou sua monotonia se torna cansativa. Portanto,a coisa específica que buscamos tem de ser um meio de produzir uma cadeia de satisfações em nosso interior, ou seu atrativo tem vida curta. Os mesmos princípios psicológicos e filosóficos se aplicam a objetivos na vida que se relacionam com eventos ou acontecimentos isolados. Estes não devem ser momentâneos em seus efeitos, e sim causas também de futuras satisfações.
O objetivo que uma pessoa persegue na vida precisa ser freqüentemente ajustado a mudanças nas circunstâncias, ou não tem condição de cumprir sua finalidade. O sentido da vida para um jovem, uma pessoa de meia-idade, ou para um idoso, é bastante diferente. Isto é particularmente verdadeiro se os objetivos estão associados a prazeres físicos. A intensa energia de um jovem sadio requer uma aplicação física, como nos esportes e tudo aquilo que possa se tornar externamente o foco de suas faculdades. O jovem não tem experiência suficiente para formar ideais fundamentais que possam se tornar um estímulo interno. Assim, tanto o corpo como a mente literalmente mudam a todo instante de uma atividade para outra; isto consome energia vital, alivia tensões e proporciona prazer. Aplicar os objetivos do jovem a pessoas de meia-idade, só pode causar futuros desapontamentos na vida. Na maturidade, a pessoa não conta com a abundância de energia a ser descarregada, quer em atividade física, quer numa concentração alternada em inúmeras coisas. Esse esforço traz insatisfação à pessoa de meia-idade, e não felicidade.
Embora o jovem possa encontrar maior satisfação nos esportes e em experiências exteriores que estejam sempre mudando, o jovem inteligente vai procurar também determinar o que constitui um interesse secundário nesse período de sua vida. Esse interesse secundário pode muito bem consistir em prazeres mentais que reforcem a vontade e estimulem a imaginação, e que requeiram pensamento e habilidade. O desenvolvimento de passatempos intelectuais e que exijam habilidade deve ser estimulado. Que o jovem pense [como ele provavelmente vai pensar]que uma das coisas importantes para se viver é o esporte e a dedicação a atrativos externos. Essa atividade é a qualidade essencial desse período de sua vida. Mas que ele reconheça em seu próprio interior certas outras predisposições de sua mente, ou seja, tendências e talentos mentais. Estes devem ser estimulados sempre que possível. Assim ele acaba percebendo que essas predisposições proporcionam prazer, ainda que pareçam subordinadas aos interesses mais estreitamente relacionados com a fase que ele está vivendo. Isso resulta, então, num ajuste natural à vida, na fase em que os interesses maiores da juventude não mais sejam satisfatórios. Muitos homens e mulheres, quando ultrapassam a juventude, apegam-se pateticamente a objetivos na vida que não são mais capazes de perseguir ou realizar. Em conseqüência, a vida perde para eles o seu prazer e o seu sentido. Se eles tivessem cultivado desejos secundários em sua juventude, tais desejos viriam à tona como um novo ideal a ser alcançado e com novas satisfações.
PRIVILÉGIOS DE ESCOLHA
Não se preocupe com as metas habituais que as pessoas tendem a estabelecer para si mesmas, ou que pareçam ser a coisa costumeira ou mesmo ética a fazer. Decida-se, você mesmo, por algo que seja a realização da sua vida. Mas não desperdice a si mesmo. Não aplique a toa sua possibilidade de felicidade. Faça com que o seu objetivo seja expansivo, isto é, um objetivo que cresça com você ao invés de diminuir com o passar dos anos. Além disso, tome consciência de que não somente as coisas mudam, mas ‘você também muda’. Pense para além de cada momento. Será que você colheria ou poderia colher a mesma felicidade, daqui a vinte ou trinta anos, das coisas que hoje parecem proporcioná-la? Escolha um canal para a felicidade na vida, que possa ser desenvolvido ao longo dos anos e constituir uma inesgotável fonte de satisfação.
Quais são algumas das coisas para as quais vivemos? Só podemos sugeri-las no sentido mais amplo. Quanto aos detalhes em cada categoria, cabe ao indivíduo escolher, com base em suas tendências pessoais. As belas artes constituem uma dessas categorias. Pintar, desenhar, tocar um instrumento musical ou cantar, podem proporcionar continuado prazer para a pessoa cuja sensibilidade ou cujos talentos tendam para essa direção. A menos que a pessoa seja aconselhada por uma autoridade no sentido de que ela seja especialmente proficiente, não deve procurar ganhar seu sustento com uma dessas artes. O esforço da prática intensiva prejudicaria o prazer que esse empenho poderia proporcionar. É preciso que a pessoa demonstre excepcional qualificação e um intenso desejo de se dedicar a uma das artes, bem como treinar para alcançar perfeição na mesma e, ao mesmo tempo, continue a gostar de praticá-la. Se, por exemplo, a música lhe proporciona a maior satisfação emocional, então faça com que todos, os outros interesses sejam dirigidos exclusivamente para as necessidades e os compromissos da vida. Que a música seja ’aquilo para que você esteja vivendo’.
O mesmo se pode dizer àqueles que sentem que têm um profundo amor ao conhecimento, um anseio que só é satisfeito com a leitura de bons livros ou o estudo de alguma ciência. Por outro lado, se o seu amor está centralizado em realizações criativas, mentais ou físicas, faça disso o seu objetivo na vida. Invente, construa, experimente, ou escreva. S você adora pessoas e sente fascínio pelas consecuções humanas, como em história, exploração e viagens, então faça disso o seu objetivo. Tudo isso pode e há de proporcionar felicidade contínua, porque se desenvolve proporcionalmente com o tempo e o esforço que você emprega.
Parece tudo isso um empenho egoístico? Será que faz a vida nos servir somente como indivíduos? Como objetivos na vida, somente as coisas que têm natureza material, satisfazendo exclusivamente desejos sensuais, podem ser chamadas de egoísticas. A pessoa cujo objetivo se concentra em música, arte, literatura, viagens, ciência, ou qualquer empenho criativo, como pesquisa, escrever, etc., não pode ser considerada egoísta. Aquilo que ela faz, o que ela aprende e cria, não só proporciona prazer a ela, mas alimenta um fonte de que outras pessoas podem colher felicidade. Por exemplo, a pessoa que se dedica ao passatempo criativo da fotografia, não só cultiva seu próprio senso estético, pelo qual sente simetria na forma e harmonia na cor, mas projeta seus interesses para outras que estão em afinidade com ela. Seu ego, também, encontra satisfação no reconhecimento de suas realizações e no evidente prazer que outras pessoas colhem das mesmas.
Uma vida sem algo para que viver é como um barco sem leme. Seu rumo está sempre sendo alterado pelas condições a que é exposto.
_
[Texto de Ralph M. Lewis].