O filósofo místico do século dezessete, Jacob Boehme, é uma das figuras mais extraordinárias das idéias. Tendo nascido em 1575, numa vila perto de Görlitz, no que hoje é a Alemanha Oriental, Boehme tornou-se sapateiro. Embora tenha tido escolaridade apenas elementar e a despeito de sua origem humilde, Boehme exerceu enorme influencia em alguns dos mais profundos pensadores do período moderno. O filósofo alemão, Schelling, por exemplo, chamou Boehme de “um fenômeno miraculoso na história da humanidade”, e o poeta inglês, Coleridge, declarou que ele foi um “estupendo ser humano”. A maneira como Boehme sondou a natureza da existência, seu espantoso discernimento das leis que regem o universo, é realmente irresistível. No entanto, ele continua a ser um personagem obscuro. Poucas pessoas tem paciência ou tempo para acompanhar penosamente sua obscura e difícil prosa alemã, a fim de apreender o esplendor de sua visão. Mas o esforço, uma vez feito, é compensador.
Grande parte do conhecimento de Boehme veio numa série de notáveis momentos de iluminação que, na época, surpreenderam-no tanto quanto mais tarde espantaram seus leitores. Boehme escreveu sobre essas experiências [a primeira das quais ocorreu em 1600, quando ele tinha vinte e cinco anos], dizendo que aprendera mais num quarto de hora do que teria aprendido se tivesse estudado durante anos numa universidade.
Foi a partir dessas experiências que ele elaborou, numa série de pesados volumes, sua descrição da “natureza eterna”, termo que escolheu para o que pensava ser a estrutura mesma da própria realidade em seu estado mais fundamenta, unificado e poderoso. Ele descreveu isso como algo feito do conflito dinâmico entre sete propriedades fundamentais de que tudo o que existe se origina. E concebeu essas propriedades em termos de opostos de fogo e luz, ódio e amor, declarando que cada propriedade era necessária para a existência de outras, porque ele estava convencido de que nada no universo poderia conhecer a si mesmo exceto por interação dinâmica com seu próprio oposto.
UM ESTADO DINÂMICO DE TENSÃO CRIATIVA_
Por toda parte ao seu redor Boehme via esse embate de opostos, de luz e trevas, tocando o universo para a frente. Mas na natureza eterna ele via essa luta elevada a um plano superior em que todas as energias em oposição eram mantidas num estado dinâmico de tensão criativa ou equilíbrio. Ele chamou isso de “jubilosidade triunfante” – a mente universal regozijando-se em si mesma numa ‘coincidência oppositorum ‘ de empolgante poder e majestade.
Essa inspirada visão de uma harmonia dinâmica de fogo e luz no próprio âmago da existência é uma das contribuições mais profundas de Boehme para a história das idéias. Ela dominava sua mente, de modo que ele escreveu a seu respeito repetidas vezes, extensamente e com força compulsiva. Ele estava absolutamente seguro de que havia penetrado no centro criador da própria vida. O misticismo cristão nunca vira nada parecido [embora não haja dúvida de que Boehme foi influenciado pela árvore sefirótica da cabala].
Uma das principais contribuições de Boehme consistiu em reabilitar as energias “negras” da criação. Elas se tornaram o fogo ardente de que a luz da vida emerge e sem o qual não haveria existência. Na natureza eterna, essas energias negras ou obscuras não são más. No universo de Boehme, nada é em si mesmo mau; cada coisa assume o seu caráter em função da posição que ocupa em relação a tudo o mais. Portanto, ele não precisava de um dualismo cristão. Nada devia ser excluído, mas simplesmente transformado, realinhado, colocado novamente em harmonia; ele procurou unificar a realidade sem destruir sua polaridade essencial. E foi uma realização brilhante.
Boehme era um homem prático, interessado no conhecimento metafísico somente como um meio de despertar a humanidade para a compreensão de seu próprio status como “filha da eternidade”. Ele achava que a natureza eterna tinha vital importância neste particular, porque compunha a parte superior da própria constituição do homem. Antes da queda, diz ele, o homem tinha conhecido suas origens, e sua vida tinha incorporado a bem-aventurança da natureza eterna. O ser humano havia gozado de perfeita saúde e felicidade, e teria continuado a viver assim se sua visão não se tivesse tornado nublada pela ignorância. Doença e saúde surgiram somente quando ele escolheu focalizar sua mente na natureza fragmentar do mundo material, em lugar da integralidade da eternidade. Isso perturbou o balanço das “propriedades” em sua própria constituição. Sua queda foi uma conseqüência dessa perda de equilíbrio eterno e resultou num estreitamento de sua capacidade perceptiva.
MICROCOSMO E MACROCOSMO_
No entanto o homem retém sua capacidade de tornar-se novamente o senhor de suas circunstâncias. Seu conhecimento está adormecido e não perdido. Isto pode ser melhor compreendido atentando-se para o tratamento especial que Boehme dá à antiga idéia, enfatizada no hermetismo, da correspondência entre microcosmo e macrocosmo. Assim como em cima, é embaixo. Como tal, isso é um lugar comum do pensamento renascentista, mas Boehme dá a essa afirmação a vida vibrante e a significação direta de um filósofo que tem profundo discernimento intuitivo das leis da natureza. Ela assenta, primeiro, no que Boehme chama de “assinatura”, ou seja,em que, na emanação da energia criadora que dá origem ao mundo material, a natureza eterna “assina” a si mesma em cada aspecto e detalhe da Criação. Entender a “assinatura” de um objeto é penetrar suas qualidades essenciais, é vê-lo como manifestação de sua origem na natureza eterna. Ligar todas as assinaturas numa só percepção iluminada é ver tudo acontecendo num padrão ordenado de influências e relações que compõem a sutil estrutura da Criação.
Com isso relaciona-se a idéia hermética de Boehme de que “tudo está em tudo”; cada parte da Criação contém a totalidade. É esta visão que o leva a perceber, como o poeta inglês Blake, “um mundo num grão de areia”. Este conceito é especialmente importante para o homem, que, diz Boehme, contém o Universo em si mesmo. A mente do homem permanece sempre ligada à sua fonte transcendente, na qual está contida a totalidade do conhecimento, de modo que, conhecendo a si mesmo, ele pode conhecer tudo o que existe no universo. Boehme quer dizer isso literalmente. Ele concebe um modo de conhecer mediante cognição direta, que chama de “VERSTAND” [literalmente, compreensão]. Verstand apreende a totalidade do que existe e pode intuir tanto as leis fundamentais como os detalhes específicos que estruturam o mundo físico. Isto está em contraste com “VERNUNFT” [razão], que só percebe parcialmente e não pode penetrar as camadas mais profundas da Criação.
Isso, em suma, é uma pequena parte da contribuição do sapateiro de Görlitz para o esclarecimento do ser humano. Boehme era um pensador profundo e um vidente maiúsculo. E isso nem sempre foi fácil para ele, que muitas vezes sofreu agressões, que suportou pacientemente, por parte dos defensores da religião ortodoxa. Por exemplo, quando ele foi forçado a sair da cidade, disse tranqüilamente: “como vejo que não pode ser diferente, estou contente”. Às vezes ele dava uma resposta mais forte. Quando um de seus oponentes escarneceu dizendo, “que é que há com esse tolo, quando é que ele vai parar de sonhar?”, Boehme replicou em tom de desafio, “ora, ora, veremos que espécie de sonho isso acaba sendo”! Ele achava que sua obras seriam negligenciadas após sua morte, mas dizia que elas floresceriam novamente na “estação do lírio” [ o lírio era seu freqüente símbolo de pureza espiritual].
O IMPACTO ATUAL DA FILOSOFIA DE BOEHME_
O tempo de Jacob Boehme pode afinal ter chegado. Hoje há sinais de que estamos novamente nos afastando do que o poeta irlandês Yeats descreveu como “três séculos provincianos” de racionalismo cientifico, rumo à redescoberta de uma filosofia holística que enfatiza o potencial infinito da própria consciência do homem. Boehme é um guia e modelo inspirador para essa transição.
Talvez essa tendência possa ser mais claramente percebida em Física, na qual distinções antes absolutas entre sujeito e objeto, conhecedor e conhecido, desmoronaram, e a consciência humana é entendida como intimamente envolvida em moldar a maneira como vemos o mundo. Particularmente interessante é o impulso inexorável para a realização do sonho de Einstein, de uma teoria do campo unificado. A recente descoberta de um estado denominado “supersimetria”, no qual elementos opostos da Criação, como campos de força e matéria, coexistem num “supercampo” de inimaginável energia e dinamismo, representa um grande passo nessa busca.
Alguns físicos sugerem que esse supercampo é o campo da própria consciência humana, em seu estado mais simples e poderoso, o que o torna extraordinariamente paralelo à descrição de Boehme da coexistência de todos os opostos na “natureza eterna”. Ambas as perspectivas dão à consciência humana um formidável poder criador. Boehme insiste em que criamos nossa própria realidade conforme nossos impulsos, pensamentos e desejos. E aquilo que temos poder para criar, temos poder para mudar. Talvez o próximo passo evolutivo para o ser humano consista em desviar o foco de sua consciência, da “natureza temporal”, composta como ela é de contradições e limitações inconciliáveis, para a perfeição da “natureza eterna”, na qual o mundo é vivenciado em seu pleno valor como uma miríade de “assinaturas” [uma verdadeira “jublosidade triunfante”]. Esse salto, em que o homem atinge a plenitude de sua estatura e poder, representaria a realização da inspirada visão de Boehme. [Texto de Bryan Aubrey]
ENSINAMENTOS DE JACOB BOEHME_
Um dos seguidores de Jacob Boehme, sobre as obras deste, afirmou: “Suas obras são uma fonte de felicidade e conhecimento espiritual, da qual podemos beber sem perturbarmos a ordem da vida exterior”.
Jacob Boehme, nasceu em 1575, em Altseidenberg, Alemanha. Jovem ainda, cuidava de rebanhos. Um dia, numa colina, teve uma estranha visão, que lhe proporcionou um vislumbre do que o aguardava. Mais tarde, trabalhou numa sapataria. Em certa ocasião, um personagem estranho e misterioso entrou na loja e chamou o jovem Jacob de lado.
“Você sofrerá grande pobreza, problemas e perseguições”, disse-lhe, “mas não tema. Seja firme, pois Deus o ama e lhe é bondoso.”
O jovem Boehme resolveu deixar-se dirigir por seu EU SUPERIOR. Praticou a bondade, a humildade e a paciência. Aos dezenove, casou-se. Aos vinte e cinco, uma segunda iluminação lhe ocorreu. Foi então que ele aprendeu a penetrar com os “olhos da alma” os segredos da natureza. Aos trinta e seis [idade muito propícia à iluminação], adveio-lhe uma terceira iluminação. Embora permanecesse nesse estado por vários dias, realizou seu trabalho diário normalmente se que os outros percebessem o que o seu verdadeiro EU Interior estava vivenciando.
De um modo psíquico, que todos os verdadeiros místicos compreendem, recebeu Boehme a ordem de escrever o que ele tinha visto e vivido durante essa última iluminação, e foi o que ele fez.
O TESTE DA VERDADE_
Em épocas passadas, aqueles que tentaram revelar os segredos do universo aos homens foram condenados como pessoas perigosas, que tinham pacto com o demônio. Os atenienses, de cultura refinada, baniram Protágoras e queimaram suas grandes obras. Condenaram também Anaxágoras à morte simplesmente porque com sabedoria afirmara que existia uma Inteligência Divina! O monge e alquimista medieval Roger Bacon e Paracelso sofreram muita perseguição por compartilharem suas maravilhosas descobertas com a humanidade.
Naturalmente, como fora predito, Boehme sofreu inimizades e perseguições por causa de seus ensinamentos; pois, em sua época, a nenhum homem era permitido proclamar seus próprios pensamentos ou tentar esclarecer as massas com os grandes ensinamentos conhecidos por uns poucos somente. A Igreja condenava todas as obras que não fosse por ela sancionadas. Embora os cruéis ataques, Boehme granjeou muitos seguidores. Certa vez foi ele chamado a um debate com os mais destacados teólogos. Ao invés de ser intimidado, seu imenso conhecimento e a clareza de suas explicações deixaram-nos perplexos; e a maioria desses juízes tornaram-se seus amigos e admiradores mais ardentes. Mesmo o filho de Richter, seu maior inimigo, tornou-se seu amigo.
Apesar do ódio e das implacáveis perseguições que Richter fez cair sobre ele, Boehme sempre tratou seus inimigos com a mais ampla comiseração e jamais disse ou fez qualquer coisa que viesse de algum modo refletir-se contra ele. Respondeu a alguns dos causticantes ataques de Richter na mais cordial e compreensiva das maneiras.
Como em épocas passadas, e certamente em épocas futuras, a VERDADE e a LUZ jamais poderão ser suprimidas pela falsidade e as trevas. Hoje, a despeito das perseguições por ele sofridas e da condenação de seus escritos, as Obras de Boehme destacam-se como os ensinamentos mais lúcidos da filosofia mística. Por exemplo, seu “MYSTERIUM MAGNUM”, se lido cuidadosamente, revela ao buscador muitas das “chaves” dos mistérios das antigas fraternidades místico/filosóficas e iniciáticas.
“Aquele que lê estes escritos”, escreveu ele, “e não pode compreendê-los, não deve colocá-los de lado, imaginando que jamais poderá compreendê-los. Deve ele procurar mudar sua vontade, e elevar sua Alma a Deus, pedindo-Lhe graça e compreensão, e, depois, lê-los novamente. Perceberá então mais verdade que antes.”
É preciso que nos lembremos de que se passaram quase quatrocentos anos desde que Boehme escreveu seus ensinamentos. Muita de sua fraseologia parece confusa, e sua constante menção ao demônio e ao inferno pode levar os leitores a acreditar que ele considerava o inferno um lugar real. Este era, porém, o único modo em que ele podia aludir aos instintos inferiores do homem.
CELESTIAL E TERRENO_
De acordo com Boehme, enquanto a Alma está encerrada no seu corpo terreno, o homem é como uma reprodução microscópica do universo. Seu corpo corresponde ao mundo, e também aos astros que governam todas as coisas terrenas; sua alma, a parte de Deus em seu interior, corresponde à Fonte de todas as coisas. Desenvolvendo sua divindade interior, pode o homem governar todas as coisas terrenas, do mesmo modo que a Bondade e o Sublime Amor de Deus mantêm total harmonia no movimento dos planetas. Shakespeare explica esta verdade em sua profunda afirmação: “A falta não reside em nossos astros, mas em nós mesmos, que somos lacaios.” Podemos ou governar nós mesmos, por meio de nosso Eu interior, ou nos deixar governar pelos astros através do nosso corpo material, disse Boehme.
“No homem tudo está contido – Deus, o Cristo, os anjos, os reinos celestial e terreno, e as potências do inferno. Fora dele nada há que ele possa conceber; nada pode conhecer além do que existe em sua mente. Nenhum deus ou demônio, nenhum espírito ou potência pode agir dentro do homem a menos que penetre em sua constituição. Só aquilo que existe dentro dele tem existência para ele.”
Disse ainda: “Você é um pequeno mundo criado de um mundo maior, e sua luz externa é um caos do sol e da constelação das estrelas. Se assim não fosse, você não seria capaz de enxergar por meio da luz do Sol.”
Sucintamente, o que não está em nós jamais podemos perceber, ou compreender, no exterior.
“Se deixarmos remoer desejos terrenos, nossa mente será cativada por eles; mas se nos elevarmos espiritualmente acima do mundo de sensações e desejos terrenos, o mundo da luz cativará nossa vontade, o mundo terreno perderá seu poder de atrair nossa consciência e ingressaremos no sublime estado de Deus.”
“Quando a eterna luz divina penetra a alma, acende um fogo que ilumina toda a essência da alma, de modo que esta torna-se luminosa, como um espelho, ou olho, em que se reflete a luz de Deus.”
O OLHO DA MENTE_
Esse “espelho” ou “olho” mencionado por Boehme, é o que os adeptos vem a conhecer como “o olho da alma”, ou o terceiro olho do homem, o olho da mente, pelo qual todas as coisas podem ser vistas. A concentração diligente pode desenvolver essa visão interior do homem; então, pela meditação, as coisas ocultas do universo são refletidas, como num espelho, conforme afirma Boehme.
EM LEMÚRIA _ O CONTINENTE PERDIDO DO PACÍFICO_ livro muito fascinante, o autor afirma que os lemurianos eram harmonizados psiquicamente com o Cósmico, e seu “olho da mente” era muito desenvolvido. O homem, por sua própria culpa, perdeu o uso dessa faculdade de visão. Essa visão, porém, pode voltar a funcionar normalmente nas pessoas que o queiram. Aliás, muitas faculdades adormecidas podem voltar ao normal colocando-se em prática certas leis naturais conhecidas e ensinadas por todos os místicos de épocas passadas. Conhecendo a nós mesmos, progredimos; desenvolvendo nosso Eu Interior, alcançamos os cumes da sabedoria.
“Ninguém conhece seu próprio EU até que perceba seu verdadeiro EU na Unidade do Todo.”
Este é o segredo de todos os ensinamentos do mundo, e explica a máxima de Parmênides de que “Todas as coisas são uma só”. Para saber isto, o estudante deve aprender a conhecer a si mesmo, pois “quanto mais fundo penetramos em nosso interior”, como escreveu Boehme, “mais alto atingimos a Divindade.”
“Quando o homem encontra-se a si mesmo em seu próprio interior, penetrando no abismo ilimitado do seu próprio interior, encontra, então, na auto-consciência de sua própria condição de ser humano, o poder e a fortaleza por cuja ‘expansão’ sua vontade e seu pensamento tornam-se poderosos para atuar mesmo a distancias imensuráveis.”
Isto explica a projeção de consciência e a manifestação de mensagens mentais.
CONTEMPLAÇÃO E HARMONIZAÇÃO_
Boehme pôs grande ênfase na auto-contemplação do homem. Por ela estamos sempre tomando consciência de nossos atos e invariavelmente descobrimos novas maravilhas em nós mesmos. Em tudo o que o homem faz, vê um reflexo de si mesmo.
“O mundo”, disse Plotino, “provém de uma Força Original que se divide em Mente...numa dualidade de Pensamento e Ser. A natureza é o resultado dos pensamentos que contemplam-se a si mesmos e os fatos da Natureza são suas autocontemplações.”
É somente ao nos deixarmos orientar pela “Divina Auto-Consciência”,como a chamava Boehme, que alcançamos o objetivo que desejamos. É somente pela humildade e pela paciência – as qualidades mais difíceis de o ser humano desenvolver – que advém o poder espiritual.
Como escreveu Boehme: “Poucos adquirem sabedoria sem momentaneamente desejarem utilizá-la para fins egocêntricos.” Para alcançar algum estado de paz, devemos procurá-lo com a esperança de ajudarmos os outros e nós próprios. Com a harmonização advém a paz que Boehme chamava de “GELASSENHEIT”. Nesse momento, quando a Trindade se revela à alma purificada do homem, o esplendor da majestade de Deus também é revelado.
“O desejo oprime a alma. Contrai trevas densas e tristes. Desejos não realizados entristecem a alma.”
O homem tem desejos. Se seus desejos forem para o bem e a necessidade dos outros, eles se materializarão, pois o homem estará motivado por puro amor. Mas se seus desejos forem por demais egocêntricos e ele não puder realizá-los, não conseguirá qualquer ajuda do Cósmico. Será, pois, atirado ao desalento pelas trevas que seus desejos irrealizados criaram para ele.
Ao penetrarmos em nosso interior, e alcançarmos nosso Ser Interior, devemos, necessariamente, entrar em íntimo contato com a Fonte de que tudo procede. Fazendo isto, harmonizamo-nos com o Cosmos e percebemos que “tudo é um”. Em outras palavras, descobrimos que, pela Contemplação Divina, o microcosmo é uma reprodução completa, ou reflexo, do macrocosmo. Por conseguinte, tudo o que é conhecido no macrocosmo pode também ser conhecido no microcosmo.
SABEDORIA ETERNA_
“Deus é a vontade da sabedoria eterna”, disse Boehme, “e a sabedoria eternamente d’Ele gerada é Sua revelação. Essa revelação ocorre através de um espírito tríplice. Primeiro, através da Vontade eterna, e como tal e em seus aspectos, como o Pai; depois, através da Vontade eterna no sentido do amor divino, o centro do coração do Pai; finalmente, através do espírito, o poder que emana da Vontade e do Amor.”
Ao deixarmos que o nosso ser seja utilizado pelo Cósmico, ao fazermos tudo com amor e altruísmo, e ao colocarmos essas resoluções em prática em nossa vida diária, alcançamos elevado grau de iluminação.
Ninguém seguiu esse preceitos com tão estrita adesão quanto Jacob Boehme. Como todos os grandes místicos, ele conhecia todas as coisas, e previu o dia e a hora de sua transição.
Em época posterior, Louis Claude de Saint Martin, o grande místico Rosacruz, traduziu as obras de Boehme para o francês. Goethe e Schlegel reverenciavam também sua memória.
A vida e os ensinamentos de Boehme foram exemplos genuínos de Verdade e Luz. Sua personalidade nessa encarnação é ‘ainda’ amada e reverenciada, apesar do ódio de seus inimigos que procuraram suprimir e destruir seus escritos.
Seus escritos continuam a espargir Verdade e Luz ao mundo num círculo de Glória cada vez mais amplo. [Texto de William H. Mckegg]