No berço, a ciência, nascida que foi da filosofia, tinha no seu acervo bastante conhecimento intuitivo, e os contatos objetivos não eram mais do que os necessários à comprovação da lei natural intuída. Mas cresceu, ganhou corpo e desligou-se de sua mãe, chegando até a impedir que ela tivesse ingresso no seu santuário. Pois ciência era resultado d observações metódicas, medidas precisas e equações matemáticas; não havia lugar para medições filosóficas ou verdades intuídas.
Com o advento da TEORIA DA RELATIVIDADE, de Einstein, e as descobertas de partículas duais no domínio do átomo, sta posição foi abalada. O espírito especulativo não é estranho à ciência de hoje. Admitimos que grande parte do trabalho prospectivo requer simplesmente medidas cuidadosas e pensamento lógico. No entanto, os avanços mais importantes têm surgido invariavelmente de intuição súbita, e, nestes casos, o trabalho do cientista não difere do de um escritor, pintor ou compositor.
A ciência atual não constitui a verdade última, mas responde a um número muito maior de fatos experimentais e, embora possa ter limites, ainda não vislumbramos. O seu relacionamento com a verdade, como entendida pela filosofia, não é essencial, pois uma dada lei natural atua independentemente da exatidão ou precisão do modelo cientifico que a descreve. A partir do momento que colocamos os estímulo corretos na ordem certa, conscientemente ou não, a lei atua, não porque o modelo cientifico está correto, mas sim porque a lei natural age independente de nossa vontade e conhecimento. Isso acontece por entendermos que ciência é um conjunto, organizado de forma metódica e sistemática, de descrições da natureza de acordo com modelos criados pelo homem.
Em que ponto estamos? Será lítico pensar que passou o tempo das surpresas e das descobertas? Temos certeza que não, pois nunca sabemos o que omitimos, até que se torne de fato evidente.
Ainda existem questões não respondidas de forma totalmente convincente. Por exemplo, levantamos um lápis, o mesmo adquire energia denominada potencial. Onde está armazenada essa energia? Nas moléculas do lápis, no campo gravitacional entre o lápis e a Terra? Não sabemos, podemos apenas especular. Outra: o principio da conservação da carga elétrica estabelece que estas não podem ser criadas ou destruídas, embora iguais quantidades de carga positiva e negativa possam ser simultaneamente criadas por separação! Separadas de onde? Quanta energia é necessária para reunir duas meias cargas criando uma? Podemos intuir – surgem do Um, que é positivo e negativo, e no ato da criação surgem ambas as polaridades. Mas isto é intuição, ou melhor, verdade mística. Introduzimos na ciência conhecimento místico! Este, no nosso entender, é o caminho.
Como vemos, não conhecemos nem compreendemos realmente o Universo em que vivemos. Hoje duas TEORIAS se salientam – a da Relatividade e a Quântica.
Ambas se mantêm incólumes, mas governam domínios diferentes. A matéria, como um todo, a descrevemos com Gravidade e a Teoria Geral da Relatividade de Einstein, as quais têm-se mostrado bem convincentes. O mundo atômico é descrito pela Tória Quântica da matéria e radiação. Uma teoria para o macro e outra para o micro! Até quando irá permanecer esta separação? Têm-se realizado muitas tentativas para unificar estas duas teorias, mas as dificuldades são enormes, por serem diferentes em espírito. A teoria exposta por Einstein acrescentou o tempo às três dimensões físicas do espaço e relacionou-as com a velocidade, e a matéria passou a ser uma perturbação no ‘continuum’ espaço-tempo. A Teoria Quântica aboliu o termo ‘é’ e recusa-se a descrever a realidade, oferecendo simplesmente a previsão dos resultados de nossos experimentos, ou seja, vivemos no mundo do ‘é provável’.
Para o físico moderno a sua realidade é diferente de sua percepção, sendo esta função do espaço-tempo, que por sua vez depende da velocidade; além dessa dualidade existe a do campo-matéria. Podemos citar a opinião de James Jean, astrônomo e matemático, como exemplo desta nova posição: “A tendência da Física moderna é reduzir o Universo inteiro a ondas e exclusivamente a ondas. Essas ondas são de duas espécies: ondas cativas, que chamamos matéria, e ondas livres, que denominamos irradiação, ou luz. Estes conceitos reduzem o Universo inteiro a um mundo de luz potencial ou real”.
Releiam esta citação, substituindo o termo onda por vibração.
Esta sempre foi a posição mística. Portanto, os próximos passos da Física a levam de volta a sua origem – a filosofia – ou, como achamos melhor, ela nunca esteve fora de sua origem, pois o conhecimento é um, as separações e rótulos são arbitrários e impostos por nós na nossa limitada visão do mundo.
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[Texto de Jorge Monteiro Fernandes].