Quando fazemos um estudo da personalidade, descobrimos muitos fatos interessantes que normalmente não são percebidos ou que são mal entendidos. Hoje em dia é comum o costume de dar nome a uma criança, nome esse que a criança portará durante toda sua vida, exceto se o mesmo for mudado pelo casamento ou se for mudado voluntariamente por permissão legal. A história deste costume mostra que já no alvorecer da civilização os homens procuravam distinguir a sua personalidade e a personalidade de suas relações por certos sons destinados a identificá-los.
A principio esses nomes consistiam de uma ou duas sílabas, e durante muitos séculos cada pessoa geralmente possuía um único nome, isto é, um prenome. Finalmente, devido à multiplicidade de tais prenomes e às muitas semelhanças, acrescentaram-se aos prenomes certos adjetivos de modo que se pudesse distingui-los.No começo esses adjetivos denotavam a aparência da pessoa, sua procedência, sua casa, seu castelo, sua ocupação e, finalmente adotou-se o nome da família ou do clã. Assim, a principio, muitos nomes de família eram nomes de castelos, propriedades, províncias, ou ocupações do patriarca ou do chefe da família.
Contudo, nossos nomes, que cumprem a finalidade de nos distinguir dos outros, não distinguem nossa personalidade mas, sim, nossa individualidade. O que nos distingue de modo mais claro, mais definido, e certamente de modo mais satisfatório, é o retrato de nossa própria personalidade.
Para ilustrar o que estou pretendendo dizer, conto aqui um incidente. Uma grande organização social de nossa cidade precisava selecionar dentre suas afiliadas um comitê de quinze mulheres para comparecer a um importante evento cívico como representante das mulheres da região central do Estado. Eu estava presente no momento em que as duas monitoras responsáveis estavam selecionando as integrante do comitê. Quando começaram a seleção, notei que elas levavam em muita conta certas características proeminentes da personalidade dos indivíduos.
A Sra. Smith não fora escolhida porque se chamava Sra Smith, ou porque este nome a distinguia das outras, mas por causa de algum traço encantador, agradável ou marcante de sua personalidade, ou devido, a algum talento intelectual que ela desenvolvera e manifestara de modo eficiente e em ações úteis. Em outras palavras, as monitoras estavam selecionando quinze ‘personalidades’ e não quinze indivíduos ou quinze nomes.
Isto tornou-se evidente quando uma das monitoras sugeria a escolha de alguma senhora cujo nome desconhecida: “Há aquela senhora, aquela que sempre sorri quando cumprimenta as outras; que é conservadora no vestir; que nunca faz criticas mas tem sempre uma sugestão construtiva a oferecer. É aquela que sempre chega cedo às reuniões perguntando se pode ajudar em alguma coisa”.
Como vemos, elas não descreveram sua aparência física muito definidamente, nem descreveram a aparência do seu marido, sua posição social, a casa em que ela morava, sua idade, nem quaisquer outros pontos que a distinguissem a não ser alguns que de forma limitada tivessem algo a ver com sua personalidade. Foi a sua ‘personalidade’ que causou impressão nas duas monitoras, e não o fato de que ela era esposa de um dos maiores banqueiros da cidade, ou que ela tinha uma casa magnífica, que era muito rica, que tinha viajado algumas vezes à Europa, ou que tinha três filhos muito conhecidos no mundo dos negócios.
Nos contatos com executivos bem sucedidos de grandes corporações e instituições, tenho notado que, ao selecionarem empregados ou associados para posições importantes, levam eles em consideração, acima de tudo, a personalidade daqueles a serem escolhidos. Todo executivo importante dirá que ele está mais familiarizado com as ‘personalidades’ do que com os nomes dos funcionários de sua organização. Facilmente admitirão que há muitas pessoas com as quais ocasionalmente entram em contato e cujos nomes jamais souberam, mas que ficaram gravadas quase inconscientemente em sua mente devido a alguma característica marcante de sua personalidade.
Às vezes tais características são negativas , por este motivo, a pessoa fica registrada em sua mente de modo desfavorável, sendo talvez a primeira a ser demitida se qualquer redução no número de funcionários se fizer necessária. Por outro lado, outras pessoas serão promovidas, e receberão oportunidades de utilizarem suas capacidades devido a pontos marcantes favoráveis de sua personalidade.
Nossa personalidade é algo que nós construímos e criamos, mais do que podemos imaginar. É verdade que herdamos alguns traços de nossos antepassados, mas mesmo estes podem ser modificados, como de fato o são, por traços que adotamos voluntariamente. Não quero, porém, deixar de mencionar o fato de que a saúde exerce alguma influencia sobre nossa personalidade. Uma pessoa cuja saúde esteja abaixo do normal, e que esteja sofrendo a algum grau, ou que tenha sua condição de harmonia perturbada por alguma forma de doença, cedo ou tarde terá refletido em sua personalidade o estado de espírito interior. É fato sabido que uma pessoa de saúde fraca nem sempre pode manifestar de modo natural uma personalidade agradável, ou mesmo a verdadeira personalidade que manifesta se tivesse saúde normal.
Sob certas condições, sempre é possível nos vestirmos com o manto de uma personalidade fictícia, mas esta apresentação hipócrita de nós mesmos não enganará ninguém por muito tempo. Um manto pode encobrir nossa verdadeira personalidade, ocasionalmente, por algumas horas, entre estranhos, mas há uma razão por que um manto assim, se usado por muito tempo, malogra sua finalidade; quem o está usando deve mantê-lo constantemente novo e atuante. Por isso o indivíduo está permanentemente pouco à vontade, não é natural, e logo cria na mente das pessoas a impressão de que ele ou ela está sempre ‘representando’. O charme, o poder e o bem de nossa personalidade devem ser revelados a outrem de modo o mais natural possível para que ela conquiste seu lugar ao sol.
Se compreendemos que nossa aparência física e nossa individualidade mudam ano após ano devido ao amadurecimento, à experiência e aos testes e tribulações da vida, devemos igualmente compreender que a personalidade também está constantemente mudando, e que cada experiência da vida, cada tribulação, sofrimento, cada teste de nossas capacidades e poderes contribuem muito e mais definitivamente para a modelação de nossa personalidade que o fazem para com a aparência física de nosso corpo. A pessoa que teve uma vida longa, com o passar dos anos tornou-se mais velha, ganhou mais rugas e tornou-se mais curvada, mas também adquiriu uma personalidade mais amadurecida.
Felizmente, para o gênero humano e o avanço da civilização, bem como para o desabrochar de nossa evolução, as tribulações da vida, século após século, modificaram construtivamente a personalidade do comum dos indivíduos.
Os cientistas nos lembram que, na evolução da espécie humana através das idades, o homem tornou-se mais ereto, suavizou sua aparência física e adquiriu movimentos mais graciosos. Ele perdeu uma série de características físicas que se tornaram desnecessárias e que tornavam sua aparência primitiva e embrutecida. Contudo estes grandes aperfeiçoamentos em nossa aparência são muito menos importantes para o progresso da civilização do que os aperfeiçoamentos ocorridos na personalidade do homem.
Como dissemos, o homem é o criador de sua personalidade, e pode torná-la praticamente o que ele queira. Assim mesmo, porém, não podemos nos esquecer do fato de que as experiências da vida acrescentam à personalidade do individuo, às vezes involuntária e inconscientemente, certos traços de caráter. Mas estes aperfeiçoamentos involuntários não se comparam aos traços de caráter que o homem desenvolve consciente e deliberadamente.
Um dos traços mais marcantes da personalidade humana talvez seja a tendência de sorrir alegremente. Tem-se que o homem é o único membro vivo do reino animal que pode sorrir e através disto revelar alegria e felicidade. O homem desenvolveu ao máximo esta sua capacidade, tanto deliberada quanto inconscientemente. Os seres humanos que parecem não ter capacidade de sorrir, e nenhuma facilidade de exprimir alegria ou a felicidade que possa haver em seu coração, certamente constituem uma minoria.
Esta é uma característica da personalidade que, quando deliberadamente desenvolvida, torna-se um traço marcante e visível. Logo descobrimos que gostamos da companhia das pessoas que sorriem fácil e sinceramente. Elas ajudam a contribuir para a nossa felicidade e experiências agradáveis do dia, fazendo-nos sentir que são felizes interiormente, que encontraram a verdadeira chave para alguma felicidade.
Há pessoas que, conscientemente ou não, procuram o lado sórdido e infeliz da vida. Tais pessoas são mentalmente desequilibradas, mentalmente deficientes, ou carecem de desenvolvimento psíquico. Mesmo entre pessoas de índole criminosa, cuja tendência é ligarem-se ao deplorável, destrutivo, infeliz ou anormal, há certo grau de desequilíbrio mental e psíquico, não sendo, portanto, seres humanos normais. Mesmo quando psicanalistas afirmam que algumas dessas pessoas deliberadamente se ligam ao lado sórdido e infeliz da vida, nos casos em que isto não se deva a algum impulso incontrolável de seu interior, devemos admitir que tais pessoas são mentalmente anormais ou deficientes e que, por isso, sua deliberação neste particular não é sinal de forte mentalidade mas, sim, sinal de uma condição que deveria despertar em nós compaixão e piedade. Por este motivo, a maioria dos criminosos e daqueles que sentem satisfação em pertencer ao submundo deveriam ser encarados como pessoas que necessitam de tratamento psiquiátrico ao invés de punição desumana.
Quando apresentamos nossa personalidade a nossos amigos e conhecidos, apresentando um retrato de nossa verdadeira personalidade interior. Nas horas de trabalho, quando estamos exercendo alguma função importante e sentimos que devemos usar um manto de dignidade e autoridade para exigir o respeito dos subordinados, podemos vestir esse manto e assumir uma postura artificial que não corresponde à nossa verdadeira personalidade.
Mas nos momentos de lazer, nos contatos em que não estejamos conscientes do fato, nossa verdadeira personalidade encoberta revelar-se-á. Produzirá impressão mais compreensível e duradoura que a que possamos ter assumido. Subordinados de certos executivos francamente admitirão que relevam o rigor de suas atitudes porque notam que em momentos de descontração e sob o manto exterior há uma personalidade gentil, justa e feliz. Entretanto, da mesma forma, um manto artificial de bondade, sinceridade e justiça também é logo detectado devido à sua falsidade.
Não há nada que mais tenda a desenvolver uma personalidade agradável [que de modo muito sutil e misterioso causa boa impressão e inspira confiança nas pessoas com quem entramos em contato] que a adoção de uma atitude tolerante em todas as questões que envolvam distinções de personalidade. Em outras palavras, se adotamos um ponto de vista humano e universal com relação à distinção dos indivíduos e suas experiências da vida, tornamo-nos personalidades amáveis e gentis. Se, e enquanto, acharmos que algum povo raça ou nação, é melhor ou pior que outro, ou enquanto estivermos convencido de que pessoas de certa cor ou classe social são inferiores, tenderemos a manter certas características indesejáveis em nossa personalidade. Cedo ou tarde essas características negativas manifestar-se-ão de modo desfavorável para nós.
A inexistência de qualquer forma de sentimento religioso em nosso ser é uma característica negativa da personalidade, e que certamente se refletirá de modo desfavorável. A pessoa que não ama a Deus, ou um Ser Supremo que de alguma forma representa a onipotência do universo, está carecendo d um dos primeiros componentes de uma personalidade agradável. A pessoa incapaz de amar os seres humanos como seus semelhantes, livre de quaisquer distinções que menosprezem alguns, carece de outro componente importante que constitui a personalidade agradável. A pessoa que não possa sentir verdadeira alegria na vida e pela própria vida, está carecendo de um componente verdadeiramente essencial.
A pessoa que não pode ver que no mundo existe muito mais bem do que mal, muito mais alegria, felicidade, beleza e coisas que correspondem ao mundo ideal, está condenada a ter uma personalidade extremamente desagradável. A pessoa que sempre está disposta a ouvir comentários depreciativos e observações criticas sobre outrem, e que se interessa por isto, está fadada a ter obscurecida a sua personalidade, e certamente deixará que outros percebam essa nuvem sombria que a envolve.
Vemos assim que nossa personalidade é algo que podemos regular e controlar. Deve ser algo que é composto de um código de vida que podemos adotar a principio e desenvolver e torná-lo parte integrante de nós mesmos. Devemos nos interessar pelo desenvolvimento dessa personalidade na mesma medida que nos interessamos pelo desenvolvimento do cérebro, da mente e suas faculdades.
Esta instrução deveria começar cedo na vida. Gradualmente, à medida que ensinamos a criança a falar e a andar, a ler e a compreender, deveríamos também ensinar-lhe os fundamentos de uma personalidade agradável e feliz. Ao mesmo tempo que ela aprende a lavar o rosto e as mãos, a remover a sujeira que esconde suas feições reais, deveria também ser ensinada a remover de sua consciência tudo aquilo que encobre o verdadeiro encanto de sua personalidade. Um exemplo deveria sr estabelecido pelo desenvolvimento das personalidades dos pais, e as coisas que lemos ou de que nos permitimos participar são fatores que muito contribuem, e dos quais geralmente não temos consciência.
O homem ou a mulher que com relativa freqüência lê apenas os jornais ou periódicos que tratam das divergências entre capital e trabalho, dos diversos fatores conflitantes das condições econômicas e sociais, e os ataques recíprocos dos diversos partidos políticos, pode ter certeza de que desenvolverá uma personalidade excessivamente critica e tendente ao conflito. Por outro lado, aqueles que lêem literatura e especialmente jornais que apresentam o lado melhor e mais refinado da vida, que deixam de lado como coisas insignificantes as coisas sórdidas e infelizes, desenvolverão uma tendência para se harmonizarem com o lado feliz do mundo.
Certos jornais se deliciam em enfatizar excessivamente coisas sórdidas como se estas constituíssem as noticias mais importantes. Há outras publicações, porém, que enfatizam as coisas boas e belas da vida diária.
Não é possível, por exemplo, que alguém leia cuidadosamente um livro de astronomia sem convencer-se de que há no universo leis maravilhosas que constantemente agem para o bem do homem. Ao olharmos para o céu à noite, podemos sentir novo júbilo ao notar a disposição das estrelas, descobrindo coisas que antes não havíamos enxergado. Lendo semelhante livro, que nos torna familiarizados com outra parte do universo, descobrimos um novo campo de contemplação que nos traz prazer e felicidade. Aqueles que só lêem livros que tratam de crimes, guerras, ou contendas econômicas de nossos sistemas terrenos, tenderão a olhar para tudo com uma atitude algo crítica e cínica. Estas coisas afetam nossa personalidade, do mesmo modo que o fazem nossos pensamentos secretos e nossas convicções pessoais, que são sutilmente criados e moldados pelo que lemos e ouvimos, observamos e compreendemos.
A criação da personalidade é infindável e eterna, do nascimento à transição, e além; a personalidade é imortal. Conforme a modelemos e criemos hoje e amanhã, agirá, re agirá e se expressará no eterno futuro. A personalidade é a real parte de nós que sobrevive à nossa existência terrena e se torna nossa herança espiritual no reino de Deus.
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[Texto de Spencer Lewis]