Presenciar a morte de uma pessoa é sempre uma experiência difícil, chocante. O homem que aprende a lidar com a vida também se vê diante da inexorabilidade da morte. No entanto, forçoso é admitir que, para qualquer ser humano, se trata de um desafio pisar no limiar que separa esses dois momentos. Cada religião conduz essa questão a seu modo, de acordo com sua crença e suas tradições. No judaísmo, não é diferente.
Amy Eilberg, a primeira rabina a ordenar-se no Seminário Teológico de Nova York, destaca três diferentes posturas judaicas em relação à morte. A primeira vê a morte como uma inimiga, a segunda como uma etapa natural da vida e a última como uma “professora”.
Pela primeira visão, a morte é uma inimiga que precisa ser derrotada a qualquer custo. Ela significa sempre uma derrota, independentemente das circunstâncias em que ocorra.
A segunda postura do judaísmo considera a morte uma etapa natural da vida. Assim nos ensina uma passagem da sabedoria rabínica: “Quando um navio deixa o porto, ninguém sabe qual tempestade encontrará, quais obstáculos impedirão sua jornada. É quando o navio retorna em segurança, no final de sua jornada, que devemos celebrar. Da mesma forma deve acontecer justamente no final da jornada da vida, quando sabemos que ela foi bem vivida e que é chegado o momento de satisfação, paz e até celebração.”
Finalmente, a terceira e última atitude é de humildade. Afinal, a morte é, também, uma oportunidade de aprendizado sobre a vida. Tal fato ocorre porque existem lições que são aprendidas apenas diante da morte de pessoas queridas ou do próprio temor da morte. É comum observarmos pessoas que mudaram suas atitudes em relação à vida depois da morte de um ente querido ou depois de ter estado próximo à própria morte.
O reconhecimento dessas maneiras de se enxergar a morte é essencial. Quando percebemos que o judaísmo nos possibilita lidar com o final da vida de formas distintas, somos fortalecidos e passamos a aproveitar as oportunidades que os últimos dias de uma pessoa querida podem trazer, sem, no entanto, menosprezar a dor da despedida.
De acordo com o judaísmo, a luta pela vida não deve acontecer a qualquer preço. Existem sofrimentos que podem ser evitados. Mais além, o reconhecimento da aproximação da morte e sua aceitação trazem a oportunidade de reconciliação com Deus, com outras pessoas e consigo mesmo. Nos casos de saúde, decisões complexas podem ser tomadas ainda na presença da pessoa enferma, desde que o futuro não seja um assunto proibido, um tabu. Quando podemos aceitar a morte como uma etapa da vida, nos valemos de sua proximidade para cicatrizar antigas feridas e deixar um legado moral para as próximas gerações.
As religiões, de maneira geral, tentam responder à pergunta do que existirá no final dos dias. Para o judaísmo, a visão universal prevê uma harmonia entre os povos e o reconhecimento de um único Deus. Já a visão nacional enxerga todos os judeus se dirigindo a Jerusalém e à construção do Terceiro Templo. E a visão particular? O que acontece com o indivíduo depois da morte?
A Torá – o livro sagrado dos judeus – silencia sobre o assunto. Não existe referência expressa alguma no Pentateuco sobre o que acontece com a pessoa depois que ela morre. Apenas existe vida na Terra. Depois da morte, não existe contato com Deus ou qualquer relato de continuidade.
Aos poucos, porém, se desenvolvem duas teorias em certa medida contraditórias: a da imortalidade da alma e a ressurreição dos mortos. Durante a Idade Média, filósofos como Maimônides preferiram a idéia da imortalidade da alma.
Em nossos dias, é possível identificar duas diferentes linhas teológicas. Uma delas, ortodoxa, que entende os relatos bíblicos e talmúdicos de forma literal. A outra, liberal, acredita que todas as descrições do mundo vindouro são poéticas e teóricas. Mesmo assim, teorias da vida após a morte têm um papel essencial. Isso porque elas ajudam a agregar significado à nossa existência nesta vida.
Rabino Michel Schlesinger, da Congregação Israelita Paulista (CIP)
Amy Eilberg, a primeira rabina a ordenar-se no Seminário Teológico de Nova York, destaca três diferentes posturas judaicas em relação à morte. A primeira vê a morte como uma inimiga, a segunda como uma etapa natural da vida e a última como uma “professora”.
Pela primeira visão, a morte é uma inimiga que precisa ser derrotada a qualquer custo. Ela significa sempre uma derrota, independentemente das circunstâncias em que ocorra.
A segunda postura do judaísmo considera a morte uma etapa natural da vida. Assim nos ensina uma passagem da sabedoria rabínica: “Quando um navio deixa o porto, ninguém sabe qual tempestade encontrará, quais obstáculos impedirão sua jornada. É quando o navio retorna em segurança, no final de sua jornada, que devemos celebrar. Da mesma forma deve acontecer justamente no final da jornada da vida, quando sabemos que ela foi bem vivida e que é chegado o momento de satisfação, paz e até celebração.”
Finalmente, a terceira e última atitude é de humildade. Afinal, a morte é, também, uma oportunidade de aprendizado sobre a vida. Tal fato ocorre porque existem lições que são aprendidas apenas diante da morte de pessoas queridas ou do próprio temor da morte. É comum observarmos pessoas que mudaram suas atitudes em relação à vida depois da morte de um ente querido ou depois de ter estado próximo à própria morte.
O reconhecimento dessas maneiras de se enxergar a morte é essencial. Quando percebemos que o judaísmo nos possibilita lidar com o final da vida de formas distintas, somos fortalecidos e passamos a aproveitar as oportunidades que os últimos dias de uma pessoa querida podem trazer, sem, no entanto, menosprezar a dor da despedida.
De acordo com o judaísmo, a luta pela vida não deve acontecer a qualquer preço. Existem sofrimentos que podem ser evitados. Mais além, o reconhecimento da aproximação da morte e sua aceitação trazem a oportunidade de reconciliação com Deus, com outras pessoas e consigo mesmo. Nos casos de saúde, decisões complexas podem ser tomadas ainda na presença da pessoa enferma, desde que o futuro não seja um assunto proibido, um tabu. Quando podemos aceitar a morte como uma etapa da vida, nos valemos de sua proximidade para cicatrizar antigas feridas e deixar um legado moral para as próximas gerações.
As religiões, de maneira geral, tentam responder à pergunta do que existirá no final dos dias. Para o judaísmo, a visão universal prevê uma harmonia entre os povos e o reconhecimento de um único Deus. Já a visão nacional enxerga todos os judeus se dirigindo a Jerusalém e à construção do Terceiro Templo. E a visão particular? O que acontece com o indivíduo depois da morte?
A Torá – o livro sagrado dos judeus – silencia sobre o assunto. Não existe referência expressa alguma no Pentateuco sobre o que acontece com a pessoa depois que ela morre. Apenas existe vida na Terra. Depois da morte, não existe contato com Deus ou qualquer relato de continuidade.
Aos poucos, porém, se desenvolvem duas teorias em certa medida contraditórias: a da imortalidade da alma e a ressurreição dos mortos. Durante a Idade Média, filósofos como Maimônides preferiram a idéia da imortalidade da alma.
Em nossos dias, é possível identificar duas diferentes linhas teológicas. Uma delas, ortodoxa, que entende os relatos bíblicos e talmúdicos de forma literal. A outra, liberal, acredita que todas as descrições do mundo vindouro são poéticas e teóricas. Mesmo assim, teorias da vida após a morte têm um papel essencial. Isso porque elas ajudam a agregar significado à nossa existência nesta vida.
Rabino Michel Schlesinger, da Congregação Israelita Paulista (CIP)