26 de jul. de 2010

Aureum Seculum Redivivum [Idade de Ouro Restaurada]


A Antiqüíssima Idade Áurea que já se Passou.
A qual tem ressurgido novamente, florida em encantos, produzindo fragrantes sementes douradas. Esta preciosa e nobre semente é indicada e revelada a todos os verdadeiros ‘sapientiae e doctrinae filis’ por Henricus Madathanus, Theosophus, Medicus et tandem. Dei gratia áurea crucis Frater. [Datum in Monte Abiegno, die 25. Martii Anno 1621].


Epistola de Tiago. 1:5: Se algum de vós carece de sabedoria, peça-a a Deus, que a todos dá liberalmente e o não lança em roso, e ser-lhe-á dada.

Prefácio
Ao Leitor Cristão e Virtuoso


Leitor Bondoso e Amante de Deus, e especialmente tu ‘sapientiae e doctrinae filii’, há alguns anos o Deus Todo-Poderoso abriu meus olhos com a iluminação de Seu santo Espírito [do qual recebemos toda a sabedoria e que nos foi enviado através de Cristo por seu Pai], pois tendo orado fervorosa, incessante e constantemente, e O tenho chamado por muitas vezes. E assim contemplei o verdadeiro Centrum in Trigono centri, como a única e verdadeira substancia da Nobre Pedra Filosofal, e embora eu a tivesse em minhas próprias mãos pelo tempo de cinco anos, não sabia como usá-la devida, apropriada e convenientemente, como extrair dele o rubro sangue do leão e o branco glúten da águia, muito menos ainda como misturar, fechar e selar o mesmo de acordo com o proporcional peso da Natureza, ou como submetê-lo ao fogo oculto e proceder com o mesmo, tudo devendo ser feito com conhecimento e cuidado. E, embora tenha eu pesquisado nos ‘scripts, parabolis e variis Philosophorum figuris’ com especial cuidado e entendimento, e com labor diligente tentando descobrir suas múltiplas e estranhas ‘aenigmata’, que existiam em parte somente em suas próprias mentes, descobri ‘reipsa’ que isso foi plena fantasia e insensatez, como também o testemunha o ‘Aurora Philosophorum’. Elas todas são tolices, como todas as ‘praeparationes’, mesmo as de Geber e Albertus Magnus, com suas ‘purgationes, sublimationes, cementationes, distillationes, rectificationes, circulationes, putrefactiones, conjunctiones, solutiones, assensiones, coagulationes, calcinationes, incinerationes, mortificationes, revificationes, etc’. Da mesma maneira são seus tripés, ‘Alanthor’, fornos refletores, fornalhas de fundição, putrescências, esterco de cavalo, cinza, areia, copos de ventosa, frascos de alambique, retortas, fixatórios, etc., coisas sofisticadas, fúteis e inúteis. Pessoalmente, tenho em verdade que admitir isso: especialmente desde que a nobre Natureza, eu se deixa facilmente encontrar em sua própria substancia inata, não conhece nenhuma dessas coisas. Há aqueles que procuram pela ‘materiam lapidis’ no vinho, no corpo imperfeito, no sangue, na marcassita, no mercúrio, no enxofre, na urina, no esterco, no auripigmento, e nas ervas tais como a quélidônia, a pulmonária, o teixo, o hissopo, etc. Theophrastus, em seu ‘Secreto Mágico de Lapide Philosophorum, acertadamente diz sobre elas: tudo isso é vilania e roubo com que descaminham outras pessoas, tomam-lhe dinheiro, gastam e desperdiçam seu tempo inutilmente, seguem apenas suas próprias tolices, mas que não sabem imaginar de antemão os requerimentos da Natureza. Antes, diz-me: O que pensas tu daqueles que queimam a água nas minas da terra, ou estão, também, entre eles pessoas que elevam o valor do vinho ou queimam a urina das criancinhas para fazer com eles seus metais? Ou pensas que tu que entre elas há algum boticário que tem para vender algo com que possas fazer metais? Estúpido, não entendes que estás em erro, que nenhuma dessas coisas pertence à Natureza?Ou queres estar acima de Deus, tu que queres fazer metais usando o sangue? Poderias mesmo tentar fazer um homem de um cavalo, ou uma vaca de um rato, dando bom leite de quebra. Isso, também, seria uma ‘multiplicação’, mas tais coisas não podem acontecer, e assim como não acontecem, tampouco poderás produzir metais com tais ingredientes, pois essa não é uma arte dada pela Natureza. E o que a Natureza produziu, nenhuma arte pode afetar: pois se uma mulher deu à luz um menino, nenhuma arte pode tornar o menino em águia, seja qual for o meio empregado. Após este breve discurso, deverá ser fácil para qualquer pessoa ver como, e sob qual forma, a natureza benedicta deve ser procurada e encontrada. E ninguém deve imaginar, muito menos ser persuadido por nenhum bufão, que ele tenha realmente em suas mãos a ‘veram materiam’, seja por meio de revelação secreta de Deus ou por meio daqueles que pretendem conhecê-Lo., e ninguém deve imaginar que então será capaz de desintegrar a dita ‘veram materiam’ proporcionalmente, para separar o ‘purum ab impuro’ nas mais altas coisas, que ele saiba como purificar tal e entendê-lo completamente. Não, meus caros analistas, de nenhuma forma isso é assim: nisso está a dificuldade. Para tais coisas fazem-se necessárias arte e mente capacitada. Olhem-me, por exemplo: como tender ouvido de mim no inicio, por cinco anos estive familiarizado com a ‘veram materiam lapidis’, mas em todo esse tempo não sabia como proceder com ela, e só no sexto ano foi a chave de sua força confiada a mim, através da secreta revelação de Deus Todo-Poderoso. E os antigos Patriarcas, Profetas e Philosophi’ tem em todos os tempos guardado esta chave no oculto e em segredo, pois o Monarcha in loco dicto diz: Seria um grande roubo, e não mais um segredo, tivessem eles revelado em seus escritos tal assunto, de modo que qualquer remendão ou boticário pudesse entendê-lo, e muito mal poderia ser feito desta maneira, o que seria contra o desejo do Senhor etc. Agora, há muitas razões pelas quais devo escrever este tratado: algumas são mencionadas aqui, outras no Epílogo, e outra razão é que eu não desejo apresentar-me como se tivesse para meu exclusivo uso o ‘talentum a Deo nihi redivivo’ tudo quanto Deus e a Natureza me permitiriam, sobre o grande segredo dos Filósofos, como meus olhos o testemunharam e minhas mãos o tomaram, e como isto foi revelado pela misericórdia de Deus, no tempo certo e em grande poder e glória: e possa o pio leitor, amante de Deus, tomar tudo isso de boa fé e aceitá-lo, examiná-lo habilmente, e não se perturbar se às vezes há palavras misturadas com meus dizeres que aparentam ser contrárias ao texto. Não podia escrever de outra maneira ‘per Theoriam ad praxim’, pois é proibido escrever mais exata e claramente sobre isso ‘in republica chymica’. Mas, sem duvida alguma, todos aqueles que lerem este tratado em verdadeira fé com o olho interno de suas mentes, e que são capazes de enxergá-lo de modo certo, e estudá-lo diligentemente, e que orem em todas as coisas internamente e de todo o coração, desfrutarão, como eu, a maravilhosamente doce fruta filosofal nele oculta e partilhar dele, de acordo com os desejos de Deus. E então eles serão e permanecerão verdadeiros Irmãos da Áurea Cruz, e em eterna aliança, membros escolhidos da Comunidade Filosofal.

Finalmente, serei tão Candido que revelarei meu verdadeiro nome e sobrenome pela seguinte maneira ao leitor inteligente, honrado e Cristão, para que ninguém tenha o direito de elevar a voz contra mim. Então, agora seja sabido a todos que o numero de meu nome é M.DCXII, no qual meu nome inteiro foi inscrito no livro da Natureza por 11 mortos e 7 vivos. Ademais, a letra 5 é a quinta parte do 8, e o 15 é também a quinta parte do 12, e que isso te seja suficiente.

EPIGRAMMA
Ad Sapientiae and doctrinae filios.


Quae sivi: inveni: purgavi saepius: atque Conjunxi: maturavi: Tinctura secuta est Áurea, Naturae centrum dicitur: inde Tot sensus, tot scripta virum, variaeque figurae Omnibus, ingenue fateor, Medicina meetallis: Infirmisque simul: punctum divinitus ortum. Harmanndus Datichus: Auth, famulus.

[O que eu avidamente desejei, tenho encontrado; tenho purificado mais vezes; e Eu tenho unido;tenho levado a amadurecer; a Essência resultante é Dourada, a qual é chamada de centro da Natureza; daí Tantas sensações, tantos escritos dos homens,e múltiplas formas. Em tudo, eu francamente admito, a Medicina em metais; E na debilidade também; o ponto que se eleva dos céus].

Enquanto estive meditando sobre as maravilhas do Altíssimo e sobre os segredos da Natureza oculta e sobre o fogoso e ardente amor do meu próximo, recordei-me da branca ceifa onde Rubem, o filho de Lia, encontrou nos campos e deu as mandrágoras que Raquel recebeu de lia por ter dormido com o patriarca Jacó. Mas meus pensamentos se aprofundaram muito mais e me levaram mais adiante, ate Moisés, e lembrei-me de como ele fez uma beberagem do bezerro do sol, fundido por Aarão, e como ele o queimou com fogo; o moeu até o pó, espalhando este sobre as águas, e deu-o de beber aos Filhos de Israel. E eu me maravilhei muito sobre esta pronta e hábil destruição, que a mão de Deus obrou. Mas, após ponderar sobre isso durante algum tempo, meus olhos foram abertos, assim como acontecera com os dois discípulos em Emaús, que conheceram o Senhor na Partição do Pão, e um coração se inflamou em meu peito. Mas eu me deitei e entrei no sono. E eis que em meu sonho o Rei Salomão me apareceu em todo o seu poder, riqueza e glória, levando consigo todas as mulheres de seu harém: havia três vintenas de rainhas e quatro de concubinas, e virgens inúmeras, porem uma delas era seu meigo amor, mais linda e cara a seu coração, e de acordo com o costume Católico, ela montou uma magnífica procissão, na qual o Centrum era altamente honrado e jubilado, e seu nome era como um supremo ungüento cuja fragrância ultrapassava a de todas as essências. E seu fogoso espírito era uma chave que abria o templo, para entrar no Sagrado Recinto e para empunhar os cornos do altar.

Quando a procissão terminou, Salomão mostrou a mim o unificado ‘Centrum in Itrigoni centri’ e me abriu a compreensão, e me dei conta de que atrás de mim estava uma mulher despida, com uma ferida sangrenta em seu seio, da qual jorrava sangue e água, mas as juntas de suas coxas eram como jóias, produto das mãos de um destro artesão, seu umbigo era como um cálice bem formado de que transbordava o licor, seu ventre era como um monte de trigo ornado com lírios, seus seios eram como duas jovens corças gêmeas, o pescoço era uma torre de marfim, seus olhos como os tanques de peixes em Heshbon, junto ao pórtico de Bath-rabbim: seu nariz era como a torre do Líbano que está voltada para Damasco. Sua cabeça era como o monte Carmelo, mas seu cabelo estava enlaçado em muitas dobras, como a púrpura de um rei. Mas seus vestidos, os quais despira, estavam a seus pés e eram desagradáveis à vista, fétidos e venenosos. E ela começou a falar: Tirei minhas vestes. Como posso eu vesti-las outra vez? Lavei meus pés, devo novamente sujá-los? Os vigias que estavam na cidade encontraram-me, golpearam-me, feriram-me e me tiraram todos os véus. Então estive dominado pelo medo e, inconsciente, cai sobre o solo; mas Salomão me pôs de pé e disse: não temas quando vires a Natureza nua, e o mais oculto que está sob os céus e sobre a terra. Ela é tão linda quanto Tirzã, tão graciosa quanto Jerusalém, tão terrível quanto um exercito sob armas, mas mesmo assim ela é a pura e casta virgem da qual Adão foi feito e criado. Selada e oculta, está a entrada de sua casa, pois ela habita no jardim e dorme nas duplas cavernas de Abraão, nos campos de Efrom, e seu palácio está nas profundezas do Mar Vermelho, e nos profundos e transparentes abismos, o ar lhe deu seu alento e o fogo a criou, sendo por isso a rainha dos campos, leite e mel tem ela em seus seios. Sim, seus lábios como um farto favo, mel e leite estão sob sua língua e o cheiro de seus vestidos é como a fragrância do Líbano para os Sábios, porém uma abominação para os ignorantes. E Salomão ainda disse: Levanta-te, olha todas as minhas mulheres e vê se podes encontrar uma igual a ela. E, em seguida, a mulher tirou de si as vestes e olhei para ela, porém minha mente perdeu a força de julgamento, e meus olhos foram ofuscados: assim não pude reconhecê-la.

Porém, como Salomão observou minha fraqueza, ele separou suas mulheres desta mulher desnuda e disse: Teus pensamentos são vãos e o sol queimou tua mente e tua memória é tão negra como o carvão, assim, tu não podes mais julgar acertadamente, e então, se não quiseres privar teu interesse e aproveitar a presente oportunidade, que te possam novamente refrescar o suor sangrento e as lagrimas brancas como a neve desta virgem nua, limpar teu entendimento e memória e restaurá-la integralmente, para que teus olhos possam perceber os milagres do Altíssimo, a elevação do mais superior, e então poderá sondar as profundezas dos fundamentos de toda a Natureza, o poder e operação de todos os Elementos, e teu entendimento será como a fina prata, e tua memória como o ouro, as cores de todas as pedras preciosas aparecerão diante de teus olhos e conhecerás sua produção, e saberás como separar o bem do mal, o joio do trigo. Tua vida será muito mais pacifica, mas os címbalos de Aarão te acordarão de teus sonhos, e a harpa de Davi, meu pai, de teu sono. Após Salomão assim ter falado, estive muito mais amedrontado, e aterrorizado, em parte por causa de suas palavras, que partiam o coração, e por outra parte, também, pelo grande esplendor desta régia mulher, e Salomão tomou-me pela mão e me guiou, por uma adega de vinhos, para um átrio secreto porém muito majestoso, onde me refrescou com flores e maças, e as janelas eram feitas de cristais transparentes e eu via através deles. E ele disse: Que vês tu? Eu, repliquei, apenas posso ver deste salão o salão do qual acabamos de sair. Á esquerda está tua régia mulher e à direita a virgem nua, e seus olhos estão mais vermelhos que o vinho, seus dentes, mais alvos que o leite, mas suas vestes, a seus pés, estão ainda mais desagradáveis à vista, mais negras e mais sujas que o córrego de Cedron. De todas elas, escolhe uma, disse Salomão, para ser a tua amada. Eu a estimo tanto quanto à minha rainha; agradado como estou com a formosura de minhas esposas, pouco me importo com a abominação das vestes desta virgem. E tão logo o rei terminou de falar, ele virou-se e conversou em tom muito amável com uma de suas rainhas. Entre elas estava uma criada centenária, com um manto cinzentos, uma capa negra sobre a cabeça, incrustada com incontáveis perolas brancas como a neve e forrada com veludo vermelho, e bordada e costurada de maneira artística, com seda azul e amarela, e seu manto era adornado com diversas cores turcas e figuras da Índia; esta velha acenou para mim secretamente e proferiu um sagrado juramento; que era a mãe da virgem nua, que ela fora nascida de seu ventre, que era uma casta, pura e reclusa virgem, que até então jamais sofrera os olhares de um homem sobre si, e apesar de ter ela se deixado usar em todos os lugares, entre as muitas pessoas nas ruas, jamais alguém a vira nua antes daquele momento, e ninguém a tocara, pois ela era a virgem da qual o Profeta disse: Vede, temos aqui um filho nascido entre nós em segredo, que é diferente de todos os outros; vede, a virgem que o gerou, virgem que é chamada ‘Apdorossa’, o que significa: secretamente, a que não pode suportar outros. Porém, enquanto esta sua filha estava ainda por casar, tinha que ter seu dote sob os pés, por causa do presente perigo de guerra, pois poderia ser roubada dele pela soldadesca errante e ser desnudada de sua formosa riqueza. Entretanto, eu não deveria ficar amedrontado por causa de suas repugnantes vestes, mas devia escolher sua filha, antes de qualquer outra, para delicia de minha vida e amor. Então, ela me revelaria uma lixívia para limpar suas vestes, e eu obteria um sal liquido e um óleo não combustível para uso em minha casa, e um tesouro imensurável, e sua mão direita sempre me acariciaria e sua mão esquerda estaria sob minha cabeça. E quando então ia declarar-me categoricamente sobre esse assunto, Salomão voltou-se novamente, viu-me e disse: eu sou o homem mais sábio da Terra; lindas e agradáveis são minhas esposas e o encanto de minhas rainhas ultrapassa o do ouro de Ofir; os adornos de minhas concubinas ofuscam os raios do sol, e a beleza de minhas virgens sobrepuja os raios da lua, assim como de celestial beleza são minhas mulheres, profunda é minha sabedoria e meu conhecimento é inexplicável. No que eu respondi, e meio receoso, eu me inclinei: Vede, tenho encontrando graça diante de teus olhos, e sendo eu pobre, dá-me esta virgem nua. Eu a escolhi entre todas as outras, para toda a minha vida,e apesar de estarem suas vestes sujas e amassadas, eu as limparei e amarei de todo o coração, e ela será como minha irmã e minha noiva, pois ela arrebatou meu coração com um só de seus olhos, com uma corrente de seu pescoço. Quando assim falei, Salomão deu-ma, e havia uma grande comoção no salão entre as mulheres, o que me despertou, e não soube o que me acontecera, acreditando ter sido apenas um sonho, e tive muitos pensamentos sutis sobre meu sonho até à manha. Mas, após haver-me levantado e dito minhas orações, vede! Eu vi as vestes da virgem nua em frente à cama, porém nenhum traço dela. E comecei a amedrontar-me. Todo o meu cabelo eriçou-se sobre minha cabeça e meu corpo inteiro estava banhado de suor frio; porém, tomei coragem, lembrando-me de meu sonho, e pensei novamente sobre ele, receoso do Senhor. Mas meus pensamentos não o explicaram e por essa razão não me atrevi a examinar as vestes, muito menos a reconhecer algo nelas. Então, sai de meu quarto e deixei nele as vestes por algum tempo ‘ex mera tamen ignorantia’, na crença de que, se as tocasse ou as revirasse, algo peculiar me pudesse acontecer, mas em meu sono o odor das vestes envenenou-me e inflamou-me violentamente, de modo que meus olhos não podiam ver o tempo da misericórdia, e não podia meu coração reconhecer a grande sabedoria de Salomão.

Depois que essas vestes estiveram por cinco anos em meu quarto sem que eu soubesse para que serviam, finalmente pensei em queimá-las, para que pudesse limpar o lugar. E passei o dia inteiro a pensar sobre isso. Porém, durante a noite apareceu-me em sonho a centenária mulher e assim me falou bruscamente: Homem ingrato! Por cinco anos te confiei as vestes de minha filha; entre eles estão suas mais preciosas jóias, e durante todo este tempo nem as limpaste nem tiraste delas os insetos e os vermes, e agora, finalmente, queres queimar estas roupas, como se não fosse bastante teres sido a razão da morte e da extinção de minha filha? No que me exaltei e respondi: Como devo entender-te, tu que me acusas de ser um assassino? Por cinco anos meus olhos não contemplaram tua filhas, e nada ouvi dela, como, então, posso ser a causa de sua morte? Ela porem, não me deixou terminar, e disse: É, verdade, as tu pecaste contra Deus, por isso não pudeste obter minha filha? No que me exaltei e respondi: Como devo entender-te, tu que me acusas de ser um assassino? Por cinco anos meus olhos não contemplaram tua filha, e nada ouvi dela, como, então posso ser a causa de sua morte? Ela, porém, não me deixou terminar, e disse: É verdade, mas tu pecaste contra Deus, por isso não pudeste obter minha filha, nem o filosófico ‘Lixivoium’ que te prometi para lavar e limpar suas vestes; pois no inicio, quando Salomão, de boa vontade, te deu minha filha, desprezaste suas vestes, o que enfureceu o Planeta Saturno, que é seu avô, e tão cheio de ira estava ele, que novamente a transformou no que era antes de seu nascimento; e como enfureceste Saturno com tua repulsa, causaste a sua morte, a putrefação e sua final destruição, pois dela o ‘Senior’ disse: Ah, desgraça! Trazer uma mulher desnuda perante mim, quando meu primeiro corpo não era bom d se olhar, e nunca fui mãe até que renasci, quando então ganhei a força das raízes de todas as ervas, e em meu ser mais intimo fui vitoriosa. Tais e outras tantas palavras confrangedoras me eram muito estranhas, mas contive a indignação até o humanamente possível, ao mesmo tempo protestando ‘solemniter’ contra seus doestos: Eu não sabia sobre sua filha, e muito menos sobre sua morte e putrefação, e apesar de ter guardado suas vestes por cinco anos em meu quarto, eu não as conheci, por causa de minha grande cegueira, nem descobri seus usos,e, portanto, era inocente perante Deus e os homens. Esta minha honesta e bem fundada desculpa deve ter agradado bastante à velha, pois ela olhou-me e disse: Sinto e observo em tua mente honesta que és inocente, e tua inocência será retribuída em abundância, pois te revelarei, secretamente e por um bom coração, que minha filha, por muito amor e afeição por ti, deixou-te uma caixa de mármore cinzento como herança, entre suas vestes, a qual sta encoberta por um envoltório áspero, negro e sujo [enquanto isso, ela me deu um copo cheio de lixívia, e continuou falando], esta mesma caixa tu deves limpar do mau cheiro sujidade que recebeu das vestes. Não tens necessidade de uma chave, pois ela se abrirá por si mesma, e encontrarás duas coisas nela: uma alva caixa prateada, cheia de magníficos diamantes polidos, e outra obra de arte em ouro, adornada com valiosos rubis solares. Este é o tesouro e integral legado de minha falecida filha, que ela deixou para que o herdes antes da transformação dela. Se tu somente transferires este tesouro e purificá-lo ao máximo em silencio e fechá-lo, com grande paciência, num porão quente, oculto, fumegante, transparente e úmido, e protegê-lo do entregelamento, da geada, dos raios, dos quentes trovões, e outras destruições, até à colheita do trigo, então perceberás primeiro a inteira glória de tua herança e tomarás parte dela. Então, acordei por uma segunda vez e orei a Deus, cheio de temor, para que Ele me abrisse os olhos a fim de que pudesse encontrar a caixa que me fora prometida no sonho. E, após haver terminado a oração, procurei com grande diligência entre as vestes e encontrei a caixa, porém o envoltório estava firmemente preso a ela, parecendo ter penetrado nela pela natureza, e não fui capaz de retirá-lo. Não podia, pois, limpá-la com a ´lixívia’, nem forçá-la com ferro, aço ou qualquer outro metal. Deixei a caixa mais uma vez, sem saber o que fazer com ela, e a tive por ser de bruxaria, pensando nos dizeres do profeta: “Pois mesmo que laves com ‘lixívia’ e uses bastante sabão, tua iniqüidade ainda te marca perante mim, diz o Senhor Deus.”

E após um ano haver passado, novamente, sem que eu soubesse, após especulações e industriosas deliberações, como retirar o envoltório, finalmente fui passear no jardim, para livrar-me de meus pensamentos melancólicos, e após longo passeio, sentei-me numa pedra áspera e caí em pesado sono. Dormi, mas meu coração permaneceu acordado: apareceu diante de mim a centenária criada e disse: recebeste a herança de minha filha? Em voz triste, respondi-lhe que não, apesar Em voz triste, respondi-lhe que não, apesar de ter encontrado a caixa. Que para mim ainda era impossível retirar dela o envoltório, e a lixívia que me havia dado não fazia efeito em seu envoltório. Após esta exposição, a velha sorriu e disse: Querias, por acaso, comer ostras com as cascas? Não tem elas de ser separadas da casca e preparadas pelo antiqüíssimo planeta e cozinheiro Vulcano? Eu t disse que deves limpar a caixa cinzenta, perfeitamente, com a lixívia que te dei, a qual se originou inteiramente da caixa, que não foi refinada da áspera envoltura externa. Isso tens que especialmente queimar no fogo dos filósofos, então tudo dará certo. E então ela me deu carvões incandescentes, envolvidos em tafetá leve e branco, e instruiu-me ainda e observou que deveria deles fazer um fogo filosófico e bastante habilidosamente queimar nele o envoltório, que logo encontraria a caixa cinzenta. E imediatamente, a cada hora ventos do norte e do sul sopravam ambos varrendo o mesmo tempo através do jardim, e assim acordei, esfreguei então o sono de meus olhos, e notei que os carvões incandescentes envolvidos no branco tafetá estavam aos meus pés; com rapidez e alegria, peguei-os, orei diligentemente, invoquei a Deus, estudei e elaborei dia e noite, e pensei durante isso sobre os grandes e excelentes ditos dos Filósofos, que dizem: ‘Ignis et azoth tibi sufficiunt’. Sobre isso, Esdras diz em seu quarto livro: e ele deu a mim um copo repleto de fogo, e sua forma era como de um fogo, e quando bebi dele, meu coração revelou entendimento, e sabedoria cresceu em meu peito, pois meu espírito reteve sua memória: e minha boca foi aberta e não mais se fechou. O Altíssimo deu o entendimento aos cinco homens, e eles escreveram pelo curso da vida as coisas que lhes foram ditas, em caracteres que não conheciam. Assim, em quarenta dias foram escritos 204 livros, 70 somente para os mais sábios, que eram verdadeiramente dignos disso, e todos foram escritos em madeira de buxo. Procedi então ‘in silentio et spe’, como a velha me revelou em sonho, até que de acordo com a predição de Salomão, após longo tempo, meu conhecimento se tornou prata e minha memória se tornou ouro. Porém, de acordo com as instruções e os ensinamentos da velha criada, eu coloquei e tranquei de maneira apropriada e bastante hábil o tesouro de sua filha, a saber: os esplendidos e luminosos diamantes lunares e os rubis solares, ambos os quais provieram e foram encontrados na caixa e na paisagem. Ouvi a voz de Salomão, que disse: Meu amado é alvo e rosado, o mais distinto entre dez mil. Sua cabeça é como o mais fino ouro, seu cabelo é basto e negro como o corvo. Seus olhos são como os pombos junto às águas, lavados em leite e bem engastdos. Suas faces são como um canteiro de bálsamos, como doces flores. Seus lábios são como lírios, derramando mirra d doce olor. Suas mãos são como anéis de ouro encrustados como berílios. Seu vente é como o brilhante marfim trabalhado com safiras. Suas pernas são como colunas de mármore, colocadas sobre pedestais de fino ouro. Seu semblante é como o Líbano, excelente como os cedros. Sua boa é dulcíssima: sim, ele é todo encantador. Este é meu amado, e este é meu amigo; Ó filhas de Jerusalém. Por isso, deveis retê-lo e não deixá-lo ir, até que o leveis para a casa de sua mãe e para a câmara de sua mãe. E quando Salomão falou estas palavras, eu, não sabendo o que responder-lhe, silenciei, porém queria, mesmo assim, abrir novamente o tesouro fechado, como o qual eu pudesse permanecer sem ser perturbado. Então ouvi uma outra voz: Eu vos concito, ó filhas de Jerusalém, pelas gazelas e corças do campo, que não aticeis nem desperteis meu amor, até que ela o queira, pois ela é um jardim fechado, uma fonte vedada, uma nascente selada, o vinhedo em Baal-hamon, o vinhedo em Engeddi, o jardim de frutas e especiarias, a montanha de mirra, a coluna de incenso, a cama, o leito, a coroa, a palmeira e a macieira, a flor de Sarom, a safira, a turquesa, a parede, a torre, a elevação, o jardim das alegrias, o poço do jardim, a nascente da água viva, a filha do rei, e o amor de Salomão em sua concupiscência: ela é a mais cara à sua mãe, e a escolhida pela sua mãe, mas sua cabeça é cheia de orvalho, e suas madeixas, pontilhadas de gostas da noite.

Por meio deste discurso e revelação, fiquei tão bem informado, que conheci o propósito dos Sábios e não toquei no tesouro trancado até que pela permissão da misericórdia divina, pelo trabalho da nobre natureza, e pela operação de minhas próprias mãos, a obra foi felizmente completada.

Logo após esse tempo, justamente no dia em que a lua estava cheia, ocorreu um eclipse do sol, mostrando-se em toda a sua apavorante força, no inicio verde-escuro e com algumas cores misturadas, até, finalmente, tornar-se negro como o carvão, e escureceu o céu e a terra, e muitas pessoas se aterrorizaram, mas eu me rejubilei, pensando na grande misericórdia de Deus e no novo nascimento. Como Cristo nos tem indicado, um grão de trigo deve ser lançado ao solo, para que não apodreça e deixe de dar fruto. E então sucedeu que a escuridão foi encoberta por nuvens, e o sol começou a brilhar através delas, porém, ao mesmo tempo, três quartas partes dele ainda estavam pesadamente obscurecidas: e vede! Um braço irrompeu através das nuvens, e meu corpo tremia à sua vista, e sua mão segurava uma carta, com quatro selos pendentes, na qual estava escrito: Eu sou morena e formosa. Ó filhas de Jerusalém, como as tendas de Quedar, como as cortinas de Salomão: não considerem que eu seja morena, pois o sol me queimou etc. Mas tão logo o ‘fixum’ agiu no ‘humidum’, um arco-íris se estendeu e eu pensei sobre a Aliança do Altíssimo, e sobre a fidelidade de meu “Ductoris”, e sobre o que tenho aprendido, e vede, com a ajuda do planeta e das estrelas fixas, o sol sobrepujou a escuridão, e sobre cada montanha e vale surgiu um claro e aprazível dia; então todo o medo e terror tiveram fim, e todos contemplaram este dia e se rejubilaram, honraram ao Senhor e disseram: O inverno passou, a chuva terminou e se foi; as flores apareceram na terra; o tempo do cantar dos pássaros chegou, e o arrulho das rolinhas é ouvido em nossa terra; a figueira produz seus verdes figos, e as vinhas, com seus macios cachos, dão um bom odor. Por isso, apressemo-nos para apanhar as raposas, as raposinhas que estragam as vinhas, para que possamos colher as uvas em tempo e com elas fazer e tomar vinho, e para que sejamos alimentados no tempo certo com leite e favor de mel – para que possamos comer e saciar-nos. Após o dia haver terminado e caído a noite, o céu inteiro empalideceu, e as setes estrelas surgiram com raios amarelos e seguiram seus cursos naturais através da noite, até que de manhã foram vencidas pela aurora purpúrea do raiar do sol. E vede! Os Sábios que habitavam na terra ergueram-se de seu sono, olharam para os céus e disseram: Quem é esta que parece com a madrugada, é bela como a lua, clara como o sol, e não há nela uma mancha, pois seu ardor é fogoso e não difere da chama do Senhor. Assim, nenhuma água poderá extinguir o amor, nenhum rio o afogará; por isso, nós não a deixaremos, pois ela é nossa irmã e apesar de ser ainda pequena, e não ter seios formados, nós a levaremos de volta à casa de sua mãe, para um átrio brilhante, onde ela esteve antes, para sugar ao seio d sua mãe. Então ela ressurgir como a torre de Davi, construída de baluartes nos quais estão pendurados mil escudos, e as muitas armas de homens poderosos; e enquanto ela prosseguiu, a filha e a louvou abertamente, e as rainhas e as concubinas a louvaram. Porém, eu cai sobre meu rosto, agradeci a Deus e a louvei Seu sagrado nome.

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EPILOGUS
E assim é trazido a um final, meus amados e verdadeiros ‘Sapientae et doctrinae filii’, em todo o seu poder e sua glória, o grande segredo dos Sábios, e a revelação do espírito, sobre o qual o Príncipe e o Monarca ‘Theoph in Apocalypsi Hermetis’, diz: é um único ‘Numen’, um divino, maravilhoso e sagrado ofício, pois que incorpora o mundo inteiro nele, e se tornará verdade com tudo o mais, e verdadeiramente sobrepuja os elementos e as cinco substancias. Olhos não viram, nem ouvidos escutaram, nem entrou no coração de nenhum homem, como o céu tem naturalmente incorporado a verdade deste Espírito; nele a verdade não está só, e por isso é chamado a Isaque e Jacó, deveram sua saúde física, suas longas vidas, e finalmente prosperaram em grande riqueza por meio desse poder. Com a ajuda deste Espírito, os ‘Philosophi’ fundaram as sete artes livres e adquiriram suas fortunas assim. Como ele Noé construiu a Arca, Moises o Tabernáculo, e Salomão o Templo e através dele obteve os vasos de puro ouro para o Templo, e pra a glória de Deus.

Salomão também obrou com ele muitos finos lavores e praticou outros grandes feitos. Com este Espírito, Esdras novamente estabeleceu o Mandamento; e com ele, Miriam, a irmã de Moises, foi hospitaleira. E este Espírito foi muito usado e muito comum entre os profetas do ‘Antigo Testamento’. Da mesma forma, ele é o remédio e a cura de todas as coisas, e a final revelação, o último e mais alto segredo da Natureza. É o Espírito do Senhor que encheu a esfera do reino terrestre, e se movia sobre as águas no início. O mundo não poderia entender e nem torná-lo sem a secreta e graciosa inspiração do Santo Espírito, ou sm ensinamentos secretos. Pois o mundo inteiro espera por ele, por causa de seus poderes, os quais não podem ser bastante apreciados pelos homens, e pelo qual os santos estiveram buscando desde o inicio da criação do mundo e tem ardorosamente desejado ver. Pois este Espírito penetra os sete planetas, levanta as nuvens e enxota as névoas, dá luz a todas as coisas, transforma tudo em ouro e prata, dá saúde abundancia, tesouros, limpa a lepra, curra a hidropsia e a gota, clareia as faces, prolonga a vida, fortalece os tristes, cura os doentes e todos os aflitos, sim, é o segredo de todos os segredos, uma coisa oculta entre todas as coisas ocultas, e é cura e medicina para tudo.

Da mesma maneira, ele é e continua insondável ‘in nature’ e infinito poder e invencível glória, que é uma apaixonada invocação pelo conhecimento, e uma linda coisa entre todas as que estão sob o circulo da lua, como o qual a Natureza é fortificada e o coração e todos os membros são renovados e mantidos em florida juventude, a idade é afastada, a fraqueza destruída, e o mundo inteiro refrescado.

Da mesma maneira, este Espírito é um espírito escolhido entre todos os outros espíritos ou coisas celestiais, que dá saúde, sorte, felicidade, alegria, paz, amor, expelindo todo o mal, destruindo a pobreza e a miséria, fazendo também que ninguém possa nem falar nem pensar em algo mal; ele dá ao homem o que ele deseja das profundezas de seus corações, honras mundanas e longa vida aos que amam a Deus, mas punição eternas aos fazedores do mal, que o usam inapropriadamente.

Ao Altíssimo Deus Todo-Poderoso, que criou esta arte e ao qual apraz revelar este conhecimento a mim, um miserável pecaminoso, através de uma promessa e juramento, a Ele, louvor, honra, glória e agradecimentos, com uma prece verdadeiramente humilde e fervorosa para que Ele dirija meu coração, mente e sentidos por intermédio do Seu Santo Espírito, determinando que eu a ninguém fale sobre este segredo, e que muitos comunique a alguém que não seja temeroso de Deus, nem o revele a nenhuma criatura, para que eu não quebre meu voto e juramento, e rompa os selos celestiais, e assim me torne um perjuro ‘Irmão Áurea Crucis’, e ofenda a Divina Majestade, cometendo grave, imperdoável pecado contra o Espírito santo. Portanto, possam Deus Pai, Filho e Espírito Santo, a Santíssima Trindade, misericordiosamente preservar-me e proteger-me constantemente. Amen, Amen, Amen.
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FINIS