Conseqüentemente, o caminho para o super-homem jaz na aristocracia. Democracia – “esta mania de contar narizes” – deve ser erradicada enquanto é tempo. O primeiro passo será a destruição do cristianismo nos homens mais altos. O êxito de Cristo foi o começo da democracia: “o primeiro cristão era, dentro dos seus instintos mais profundos, um revoltado contra tudo que era privilegiado; vivia e lutava irremitentemente por “direitos iguais” e nos tempos modernos seria enviado para a Sibéria. “Aquele que é o maior dentro vós – fazei dele vosso servo” – isto é a inversão de toda sabedoria política e de toda sanidade; realmente, quem lê o Evangelho sente uma atmosfera de romance russo; uma espécie de plágio de Dostoievski. Unicamente entre os humildes tais noções poderiam enraizar; e só em uma idade em que os imperantes haviam degenerado e cessado de imperar. “Quando Nero e Caracala subiram ao trono deu-se o paradoxo de que os mais baixos homens valiam mais que os ocupantes da curul suprema”.
Como a conquista da Europa pelo cristianismo foi o termo da antiga aristocracia, assim o derrame pela Europa dos belicosos barões teutonicos trouxe o renascimento das velhas virtudes másculas, plantando as raízes das modernas aristocracias. Esses homens não estavam sobrecarregados com ‘morais’; eram “livres de qualquer estrição social; no ingênuo da sua consciência de selvagens saiam exultantes de uma horrível congerie de matanças, incêndios, rapina, tortura, e com arrogância e alegria, como se apenas se tratasse de brincadeiras de estudantes”. Foram esses homens que abasteceram as classes dirigentes da Alemanha, Escandinávia, França, Itália e Russia.
*Manadas de louros animais de presa, raça de conquistadores e senhores com organização militar, com poder de organizar sem nenhum escrúpulo, colocando as patas terríveis sobre populações muito superiores em numero...essas manadas fundaram o Estado. Dissipa-se o sonho de que o Estado se formou por um contrato. Que tem a fazer com contratos quem pode dominar, quem é senhor por natureza, quem entra em cena com violência nos feitos e nas idéias?
Esta esplendida raça dirigente foi logo corrompida, primeiro pelo louvor das virtudes femininas; segundo, pelos ideais plebeus da reforma puritana; e terceiro, pelo inter-casamento com raças inferiores. Logo que o catolicismo começou a amadurecer na aristocracia e amoral cultura da Renascença, a Reforma esmagou-o com a revivescencia do rigor e da solenidade judaicas. “Já compreendeu alguém, quer alguém compreender o que era a Renascença? A transmutação de valores cristãos, tentativa empreendida em todos os meios, todos os instintos e todos os gênios para criar valores opostos, para criar o triunfo dos valores nobres...Vejo diante de mim uma possibilidade perfeitamente mágica no entanto da sua cor gloriosa...Cesar Borgia papa...Compreende-me?
O protestantismo e a cerveja haviam enevoado o pensamento alemão; acrescente-se agora a musica de Wagner. Como resultado, “a Prússia de hoje é uma das mais perigosas inimigas da cultura”. “A presença de um alemão retarda a minha digestão”. “Se, como diz Gibbon, nada a não ser tempo e muito tempo é necessário para que um mundo pereça; assim nada senão tempo, embora ainda mais tempo, é necessário para que uma idéia falsa seja destruída na Alemanha. Quando a Alemanha derrotou Napoleão isso foi tão desastroso para a cultura como quando Lutero derrotou a Igreja; desde esse momento a Alemanha começa a afastar seus Goethes e Schopenhauers e Beethovens para adorar “patriotas”; o Deutschland über Alles foi o fim da filosofia alemã”. Havia, entretanto, uma natural seriedade e profundidade nos alemães que esperavam redimir a Europa; tinham mais virtudes masculinas que os franceses e ingleses; tinham perseverança, paciência, industriosidade – daí sua erudição, sua ciência e sua disciplina militar; é deleitoso ver como toda a Europa se incomoda com o exercito alemão. Se o poder de organização germânica pudesse operar com os recursos potenciais da Rússia, a Alemanha atingiria o apogeu da grande política.
*Precisamos de uma inter-mistura com os eslavos e precisamos dos mais hábeis banqueiros, os judeus, para nos tornarmos os donos do mundo...Precisamos de uma incondicional união com a Rússia”. A alternativa é cerceio e estrangulação.
O mal com a Alemanha é uma certa estolidez de espírito, conseqüência da solidez de caráter; a Alemanha perde a longa tradição de cultura que fez da França o mais refinado e sutil povo da Europa. “E creio unicamente na cultura francesa e olho tudo mais que na Europa tem nome de cultura como equivoco”.
Quando uma pessoa lê Montaigne, La Rochefoucauld, Vauvenargues e Chamfort sente-se mais perto da antiguidade do que lendo qualquer outro grupo de autores de qualquer outra nação. “Voltaire é um grão senhor do espírito”; e Taine, “o primeiro dos historiadores vivos”. Ainda os novos escritores franceses, Flaubert, Bourget, Anatole, etc., estão infinitamente acima dos outros europeus, em clareza e pensamento e língua – “que clareza e delicada precisão, a destes franceses!” A nobreza do gosto, do sentimento e das maneiras da Europa é obra da França. Mas da velha França dos séculos dezesseis e dezessete; a revolução, destruindo a Aristocracia, destruiu o veiculo e o canteiro da cultura, e agora a alma da França está delgada e pálida em comparação do que já foi. Não obstante subsistem algumas finas qualidades; “ na França quase todas as questões artísticas e psicológicas são consideradas com muito cuidado e sutileza do que na Alemanha...No próprio momento em que a Alemanha se erguia como grande potencia na política, a França ganhava nova importância no mundo da cultura.
A Rússia é o animal louro da Europa. Seu povo tem um “teimoso e resignado fatalismo que lhe dá ainda hoje vantagem sobre nós ocidentais”.
A Russia possui governo forte, sem “imbecilidade parlamentar”. Força de vontade vem de longe se acumulando lá, e agora ameaça de explodir; não seria surpreendente que se tornasse a dominadora da Europa. “Um pensador que tenha em vista o futuro da Europa levará em conta, em todas as suas perspectivas, os judeus e os russos, como os mais seguros e sólidos fatores na grande peça do choque das forças”. Mas de todos os povos é o italiano o mais fino e vigoroso; o homem-planta cresce fortíssimo na Itália, como basofiou Alfieri. Existe uma atitude varonil, um orgulhoso aristocrático ainda no mais baixo italiano; “um pobre gondoleiro de Veneza faz sempre melhor figura do que um geheimrath de Berlim, e no fundo é um melhor homem”.