21 de mai. de 2010

Ciência x Religião _ O Hiato cada vez maior


Qual é o objetivo da sociedade atual?
As variedades dos interesses humanos, hoje em dia, são consideráveis. No entanto, para as chamadas nações adiantadas, o interesse principal parece ser um crescente ‘materialismo’. Este pode ser definido em termos de posses e prazer sensual. Em outras palavras, o objetivo da vida parece ser o ‘prazer e a aquisição de coisas’ que contribuam primordialmente para a satisfação dos ‘desejos físicos’.


Tais desejos físicos são naturais para um organismo autoconsciente. Constituem aquilo que pode proporcionar e assegurar sua vida com um mínimo de irritabilidade. Esses desejos, porém, embora biologicamente necessários, se não são disciplinados intensificam a agressividade na medida em que inibem os sentimentos e emoções mais elevados. Simplesmente, nossos desejos acabam se tornando o ideal da vida a ser obtido sem consideração para com os interesses alheios.

O instinto de autopreservação é compulsivo em suas exigências para manter o EU Físico. Mas essas compulsões podem acabar resultando na destruição do indivíduo, especialmente se ele é um membro da sociedade. O Eu maior do homem, no sentido ‘físico,é a sociedade’.Não mais podemos existir como pequenos grupos de indivíduos ou como tribos, ou mesmo como uma sociedade maior ‘isolada’. Nossa sobrevivência depende de sermos membros integrantes e cooperativos da sociedade. Podemos ser competitivos, mas não ao ponto de prejudicarmos outros membros do conjunto social de que nós mesmos participamos. Não podemos restringir outras pessoas ao ponto de que elas não tenham a mesma oportunidade de se valer das vantagens da vida coletiva.

Figuradamente falando, se há um tal declínio de moral e ética que a vantagem pessoal se torna o direito supremo, então os homens estão impiedosamente entrincheirados uns contra os outros.

Não basta que se tenha somente compreensão intelectual desta necessidade. É preciso que haja também uma ‘compaixão emocional maior’, um mais firme senso de retidão. Sempre que esse tipo de emoção está adormecido ou é inibido, o homem se torna impiedoso [querer, para esse individuo, é ter direito].

Hoje em dia, sentimos que um crescente ‘materialismo’ parece estar tomando conta do mundo. Mesmo nações subdesenvolvidas e em depressão econômica parecem avaliar o sucesso e a felicidade exclusivamente em termos de riqueza e cupidez – [isto é, o amor às posses é o sonho de muitos]. É compreensível que uma pessoa subnutrida anseie e trabalhe pelas necessidades de sobrevivência.

Mas o sonho de muitos indivíduos, assim como de nações ricas, é um estado ‘máximo de luxo’.

DA CIÊNCIA
Grande parte das mentes da sociedade se vê entre dois fortes pólos opostos. Um desses pólos é a exagerada ênfase posta na ‘ciência’. Para as massas, a ciência parece uma espécie de ‘gênio’ moderno; isto é, uma espécie de ser que, figuradamente, agitando a varinha mágica de sua tecnologia, pode criar uma vida maravilhosa de abundância e conforto material para toda a humanidade. Isto, naturalmente, é mais evidente no extraordinário desenvolvimento das ciências físicas e sua ‘aplicação’ para transporte, comunicação e comodidade. É claro que esta interpretação é grosseiramente injusta para com a ciência.

Existem dois aspectos gerais da ‘ciência’. Um é a ‘pesquisa pura’, a busca de ‘conhecimento’ para compreender as leis da natureza. Trata-se de transformar o desconhecido em conhecido, e com isto erradicar a superstição e sua perigosa influencia sobre a mente humana. Esta é uma das maiores contribuições à ‘verdadeira liberdade’ do homem.

O outro pólo ou sentido da ciência é sua ‘aplicação’, seu valor utilitário. ‘Conhecimento é poder’. As leis naturais que são reveladas pela ciência tornam-se ferramentas para ‘uso’ do homem. Essas ferramentas podem ser e são aplicadas pelo homem, tanto em prol da sociedade como contra ela. Em outras palavras, elas podem ser empregadas de maneira a beneficiarem não somente aqueles que as estejam usando, mas outras pessoas também. Inversamente, podem ser usadas em beneficio de alguns e em detrimento de outros.

A dificuldade está na ‘motivação moral’ da ciência aplicada. Se a avareza, a cobiça, predominam, então um materialismo empedernido se espalha pela sociedade. As descobertas, as revelações da ciência, são então pervertidas. A resultante produtividade da ciência é por conseguinte entendida como vantagem material exclusiva do individuo. E essa vantagem é encarada como diminuição de trabalho, mais lazer e recursos financeiros suficientes para satisfazerem qualquer prazer desejado.

Grande ênfase é posta em modernos recursos para diminuição de trabalho, nesta explosão da era cibernética. Promete-se que os homens terão mais tempo livre de trabalho para suas variadas maneiras de viver. Em que irão eles investir esse tempo? Significará isso que eles estarão procurando novos meios de intensificar a satisfação de seus sentidos mais grosseiros?

DA RELIGIÃO
Numa consideração superficial do assunto, dir-se-ia que a influencia mediadora deveria ser a ‘religião’. Presume-se que isso, por inspiração, despertaria os sentimentos e emoções mais nobres, que se acredita constituir a cultura avançada da sociedade.

Mas a religião tornou-se extremamente ‘polarizada’. Ela tem sentido fortemente que está em perigo devido a Ciência; simplesmente, que a ciência está se apresentando como a futura ‘salvação’ da humanidade há de proporcionar alívio de muitas pressões que o homem sofre hoje em dia. Além disso, a religião muitas vezes interpreta o desenvolvimento e progresso da ciência como uma tentadora utopia aqui na Terra. Por contraste, então, a atual ortodoxia teológica pareceria apenas uma ‘vaga promessa’ de uma sublime vida póstuma.

PROBLEMAS ATUAIS POR RESOLVER
Para combater o que considera uma influencia destrutiva da ciência, a religião insiste na aceitação literal das escrituras. Este ‘fundamentalismo’ se recusa a reconhecer que a Bíblia é principalmente uma composição de ‘fatos’ históricos, uma antologia e uma matriz de simbolismo. Ela encerra valores morais, porém muitos de seus relatos são lendários e grande parte do seu conteúdo foi reescrita por ‘concílios de teólogos’. Não é portanto racional, nesta época de cultura moderna, impor crença absoluta na Bíblia tal como existe, como se ela fosse o ‘fiat’ final de Deus.

O resultado do fundamentalismo religioso, portanto, é uma transferência da geração jovem de cultura mais moderna para o campo da ciência. O simples fato de que certos grupos fundamentalistas tentam repudiar aquilo que a ciência pode apresentar como evidências comprovadas indica sua intolerância. Esta atitude contribui para diminuir o apoio geral à atual ortodoxia religiosa ‘extremada’.

Tais condições causam um hiato, um vácuo, entre os dois pólos: de um lado o progresso da ciência, com sua busca de conhecimento e a aplicação do mesmo; e, de outro lado, a inflexibilidade da ortodoxia religiosa radical. Os indivíduos que desejam satisfazer suas impressões psíquicas de retidão, ou que desejam ampliar seu sentimento de ‘unidade’ com a realidade, o Cósmico, são aparentemente isolados. Seu problema parece ser o seguinte: deverão todos os sentimentos superiores do u, que eles sentem, ser primeiro submetidos a explicação cientifica, isto é, como resultados exclusivamente de fenômenos físico? Ou, por outro lado, se o que eles sentem é chamado de espiritual, deverá isso então ser explicado somente por limitadas ou restritas doutrinas religiosas, que não satisfazem?

O hiato entre os dois extremos, esses pólos de diferença, está aumentando. A ciência pura não é a responsável. Mas aqueles que a ‘comercializam’ exclusivamente em termos d materialismo e conforto material, são uma das principais causas do estado de coisas reinantes.

A outra causa é o aspecto da religião que insiste em restringir a “Consciência Pessoal”; que persiste em impor sua interpretação de ‘idealismo espiritual’, declarando que ela detém o único critério verdadeiro para o estado supremo de consciência.

O individuo que tende a se dedicar ao estudo do misticismo, metafísica e assuntos correlatos, é com freqüência encarado, por muitos daqueles que são devotos estritos do valor utilitário da ciência, como excêntrico e dado a fantasias. Por outro lado, ele pode ser considerado, pelos fundamentalistas religiosos, como carente de espiritualidade, se não como ateu!

Não podemos ver nesse estado de coisas um fator de criminalidade? Por um lado, parece a muitos que o ‘hedonismo’ [isto é, o materialismo e seus prazeres] constitui a plenitude da vida, a ser alcançada a qualquer preço. Por outro lado, a espiritualidade parece estar aprisionada pelo dogmatismo ortodoxo. Este problema básico terá de ser resolvido ao avançarmos mais na era da tecnologia.
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[Texto do Imperator]