20 de fev. de 2012

A Auto-Realização do Ser

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De Tao veio o Um.
Do Um veio o Dois.
Do Dois veio o Três.
E o Três gerou os Muitos.
Toda a vida surgiu das Trevas
E demanda a Luz.
A essência da vida engedra
A harmonia das duas forças.
Nenhum homem quer ser solitário
Abandonado e insignificante.
Reis e príncipes se dizem ser assim
Porque sabem do mistério:
Que o inconspícuo será exaltado
E o importante decairá.
Por isto, ensino também eu
O que outros ensinavam:
Quem age egoicamente
Está morto
Antes de morrer.
É este o ponto de partida da minha filosofia.

Explicação: A Realidade é Una, que se revela sempre como Dualidade, como causa e efeito, como Uno e Verso, como Ser e Existir. E dessa bipolaridade complementar nascem todas as pluralidades – assim como da Luz Incolor nascem todas as cores. A trindade do prisma triangular revela em pluralidade a unidade da luz única. Os nossos sentidos percebem apenas sete cores das infinitas eu a Luz Incolor produz através da trindade do prisma.

Para compreender realmente esta sabedoria de Lao-Tse deve o iniciado mergulhar num profundo silencio de uma interioridade solitária de longa duração; os iniciados se isolam 30 a 40 dias contínuos nesse silêncio-presença, nesse silêncio-plenitude.
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Lao-Tse_Tao Te King

A Sabedoria Parece Estultície

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O verdadeiro sábio,
Quando conhece Tao,
Procura realizá-lo em si.
Quem ainda vacila, incerto,
Na sabedoria, só de vez em quando
Segue o caminho certo.
Quem apenas fala em sabedoria,
Não a toma a sério.
Se Tao não lhe parecesse absurdo,
Não seria Tao.
Por isto disse o poeta:
“Quem é iluminado por dentro,
Parece escuro aos olhos do mundo.
Quem progride interiormente,
Parece um retrógrado.
Quem é auto-realizado,
Parece um homem imprestável.
Quem segue a luz interna,
Parece uma negação para o mundo.
Quem se conserva puro,
Parece um bobo e simplório.
Quem é paciente e tolerante,
Parece um sujeito sem caráter.
Quem vive de acordo com seu Eu espiritual,
Passa por um homem enigmático”.
Tao se parece com m quadrado infinito
Sem ângulos.
Com um vaso de tamanho ilimitado
Sem conteúdo algum.
Parece-se com um som de infinita vibração
Que não se ouve.
Com uma imagem infinitamente grande
Que ninguém pode ver.
Mas, embora Tao não seja cognoscível,
Nem nominável,
Ele é tudo e realiza tudo.

Explicação: Neste capitulo, de imensa profundeza e sublimidade, Lao-Tse faz ver que ninguém sabe o que é Tao, a infinita Realidade, sem o ter vivido e vivenciado diretamente. Saber é saborear. Saber é ser. Quem não se identifica pela vivencia concreta com a existência abstrata, não tem noção exata do Tao. Saber é identificar-se totalmente com o sabido. Ninguém podem saber como é uma comida sem a ter saboreado, sem a ter sentido pelo sabor. Assim, só sabe o que é Tao quem o vive e vivencia com toda a sua alma, com toda a sua mente, com todo o seu coração e com todas as suas forças.

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Lao-Tse_Tao Te King

O Ciclo do Ser e do Existir

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Tudo que Existe egressa do Ser
E regressa ao Ser.
O Ser é o Insondável Tao.
Das profundezas do Ser
Nascem todos os seres que existem
O Ser, porém,
É o abismo do Não-existir.

Explicação: O Ser é eterno, sem principio nem fim. É Brahman, a Divindade, o Infinito, o Uno. Mas é da intima natureza do Ser manifestar-se sempre de novo em existir, assim como o Uno se revela no Verso, o Infinito no  Finito.

Quando o Finito egride do Infinito, falamos em ‘nascer’ – quando ele regride à sua origem, falamos em ‘morrer’.

Nascer e morrer não são princípios nem fins, são apenas etapas evolutivas na base do eterno Ser. São como ondas que se erguem e recaem no seio do mar.
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Lao-Tse_Tao Te King

Toda a Diversidade se Baseia na Unidade

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Toda a pluralidade radica na unidade,
E esses dois são um em si.
O céu é puro porque é Uno
A terra é firme porque é Una.
As potencias espirituais são ativas,
Porque são unidade.
Tudo que é poderoso assim é,
Porque é unidade.
Tudo que é vivo assim é,
Graças à sua unidade.
Os soberanos são modelos,
Somente quando preservam sua unidade.
Tudo se realiza pela unidade.
Sem ela, os céus se partiriam,
E a firmeza da terra pereceria.
Sem a atuação da unidade,
Falhariam as potencias espirituais.
Sem a sua plenitude,
Acabaria tudo em vacuidade.
A fecundidade acabaria
Em total esterilidade.
Sem o poder da unidade,
Pereceria tudo que é vivo.
E os soberanos ruiriam no pó.
Os sábios sabem que toda a sabedoria
Radica na simplicidade;
Que tudo que é alto
Se apóia no que é baixo.
Por isso também os reis e príncipes
Se consideram servos do povo.
Sabendo que toda a sua grandeza
Tem por alicerce o Uno e simples.
Quem dissolve uma carruagem
Não tem mais carruagem.
Quem quer brilhar como pedra preciosa,
E se dissolve, cai por terra.
Como uma poeira sem valor.

Explicação: Neste capitulo celebra Lao-Tse a apoteose da Unidade na Diversidade, que é característico do Universo sideral, e que deve ser o apanágio do Universo hominal. Onde não há perfeito equilíbrio entre o Uno e o Verso, não há harmonia cósmica nem hominal.

Esta verdade básica do Uno que se revela no Verso, formando o UniVerso, é o alicerce e o ápice da “Filosofia Univérsica”, cuja eclosão aconteceu no Brasil, mas cuja incubação existia há milênios e subjaz, consciente ou inconscientemente, a todas as grandes filosofias da humanidade.

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Lao-Tse_Tao Te King

Moralidade ou Ética?

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Quem vive nas profundezas do seu ser
Nada sabe de virtuosidade
Dele brotam espontaneamente
As intimas forças da vida.
Quem vive na superfície do seu agir
Não pode fazer brotar as forças profundas.
Quem vive nos abismos da sua alma
Ignora a moralidade do seu agir.
Desconhece o que seja ego-agência.
Quem vive na superfície da sua alma
Age egoicamente, visando fins externos.
O amor impele ao agir,
Mas não quer nada para si.
A justiça impele ao agir,
Ms não age por ambição.
A moral também impele ao agir,
E, se não consegue o que quer,
Recorre à violência.
Por isto, ó homem, reconhece:
Quem não tem a visão do Tao,
Age por virtuosidade.
Quem não tem virtuosidade
Age pela caridade.
Quem nem disto é capaz,
Obedece a ritos e tradições.
Mas a dependência de ritualismos
É o ínfimo grau da moralidade.
É mesmo o inicio da decadência.
Quem julga poder substituir pela inteligência
A cultura do coração,
Esse é um tolo.
Pelo que, atende a isto:
O homem correto
Age por uma lei interna,
E não por mandamentos externos.
Bebe as águas da Fonte,
E não dos canais.
Transcende estes
E vai sempre à origem daquela.

Explicação: Através destas palavras se verifica que Lao-Tse, 6 séculos antes da era cristã, já atingira a sabedoria do Cristo, que a maioria dos cristão não atingiu 21 séculos depois da proclamação do Evangelho.

Confundir moralidade com ética, civilização com cultura, convenções sociais com convicção individual – tudo isto equivale a soletrar o ‘abc’ da verdade na escola primária do ego, mas não é ingressar na Universidade Cósmica do Eu.

A verdadeira cultura sapiencial, como se vê, não obedece a nenhuma tabela evolutiva dependente de tempo e espaço; a verdadeira sabedoria nada tem que ver com circunstancias externas; ela age pela própria substancia interna, cuja atuação pode, certamente, ser facilitada ou dificultada pelo ambiente, favorável ou desfavorável, mas não é causada nem impossibilitada pelas circunstancias.

Há sublimes verticalidades no meio de vastas horizontalidades.

Existem blocos erráticos em planícies sem nenhuma afinidade.

A tendência de certas sociedades espiritualistas em quererem subordinar toda a evolução do homem ao ambiente externo, não merece o nome de filosofia, no sentido de consciência da realidade; não passa de arranjos oportunistas para o uso de principiantes.

Lao-Tse disse verdades que hoje, em 27 séculos mais tarde, não foram atingidas pelo grosso da humanidade.
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Lao-Tse_Tao Te King

Harmonia pelo Não-Agir

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Tao não age,
E por esse não-agir tudo é agido.
Se reis e príncipes assim fizessem,
Todas as coisas do mundo prosperariam por si mesmas
E se, mesmo assim, os homens tivessem desejos,
Tao os satisfaria pela simplicidade
Do seu intimo ser.
Quem se une ao Uno,
Não tem desejos,
Onde não há desejos há paz.
E onde há paz,
Tudo é harmonia e felicidade.

Explicação: Este agir pelo não-agir é o famoso wu-wei, dos chineses, o misterioso ‘não-fazer’ ou ‘não-interferir’, que tudo realiza e resolve.

O homem superficial vive na ilusão de que os eu ruidoso fazer e dizer sejam a causa de grandes efeitos; mas o homem de interioridade profunda sabe que o seu silencioso ser é fonte das grandes realizações e a solução de todos os problemas, embora esta fonte-Eu se sirva dos canais-ego.
O Eu invisível é a causa, o ego visível é o canal.
O profano só conhece canais sem fonte.
O místico quer uma fonte sem canais.
O homem cósmico faz fluir as águas da fonte-Eu pelos canais-ego.
O Uno do seu Ser unifica o Verso do seu Agir, realizando o homem univérsico.

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Lao-Tse_Tao Te King

Dominar sem Violência

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Para diminuir alguém,
Deve-se primeiro engrandecê-lo.
Para enfraquecer alguém,
Deve-se primeiro fortalecê-lo.
Para fazer cair alguém,
Deve-se primeiro exaltá-lo.
Para receber algo,
Deve-se primeiro dá-lo.
Esse deixar amadurecer
É um profundo mistério.
O fraco e flexível
É mais forte que o forte e rígido.
Assim como o peixe
Só pode viver em suas águas,
Assim, só pode o chefe de Estado
Dominar sem violência.

Explicação: As grandes verdades aparecem sempre em forma paradoxal. Já o Cristo afirmava: “Quem quiser ganhar a sua vida perdê-la-á – mas quem perder a sua vida por causa de mim e do Evangelho, ganhá-la-á”.

E Paulo de Tarso dizia: “Eu morro todos os dias – e é por isso que eu vivo”.

Nos primórdios do cristianismo escreveu Tertuliano: “Eu creio no mundo espiritual – porque é absurdo”.

Estas alternativas paradoxais se referem sempre, uma à dimensão quantitativa ilusória do ego – a outra à dimensão qualitativa e verdadeira do Eu. A vacuidade daquela é a plenitude desta. A ausência daquela é a presença desta. O Universo inteiro funciona sobre a base desta bipolaridade positivo-negativa, sem excetuar o próprio homem. Conhecer e viver isto é sabedoria.
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Lao-Tse_Tao Te King

O Profano, O Iniciado, O Realizado

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Quem desperta em si
As forças criadoras da vida,
Realiza a sua intima essência.
E nela permanece, intangível,
Criando paz e silenciosa maturidade.
Musicas e peças teatrais
Aliciam os transeuntes profanos,
Mas quem se interessa por Tao?...
Não basta ver para enxergá-lo.
Não basta ouvir para compreendê-lo.
Mas quem sabe auscultá-lo,
Esse descobre a plenitude de Tao.
 
Explicação: O homem profano vive nas periferias – é ego-vivente, mas não cosmo-vivido. Vê, ouve, tange as coisas que existem lá fora – mas não sabe o que ele mesmo é por dentro. O profano se identifica com algos ou alguéns – e esta coisificação ou algo-personificação o impede de sentir a sua auto-individualidade, que é o Tao nele, o Eu central, a Realidade Univérsica, o Uno, circundado de Verso.

O profano é um homem versificado, mas não unificado. A infeliz-felicidade que ele goza, graças à sua total estupidez, o impede de sofrer a feliz infelicidade dos iniciandos, e por isto não chega às alturas da feliz felicidade do homem iniciado e realizado.
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Lao-Tse_Tao Te King

A Grandeza está no Serviço Espontâneo

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Ó Tao!
Tu, que tudo superas!
Em ti está o Todo.
Em ti, a vida de todos os seres!
Tu não te negas a ninguém,
Tu, que tudo realizas,
Tudo nutres,
Tudo fazes prosperar!
Tu, o eterno servidor da vida,
Jamais te vanglorias de nada.
Pequenino pareces aos que ignoram
A tua grandeza.
Grande, porém, és
Tu,de que tudo vem
E a quem tudo volta.
Nunca te arvoras em dominador.
...
Assim também o sábio sempre serve,
Realizando grandes coisas,
Sem se ufanar da sua grandeza.

Explicação: Esta apoteose da Divindade lembra as palavras de Santo Agostinho:

Ó Deus!
Formosura sempre antiga e sempre nova –
Que tão tarde amei!
Tu estavas em meu coração –
E eu te buscava lá fora
Tu estavas comigo,
mas eu não estavas contigo
E então tu me chamaste em altas vozes
Rompeste a minha surdez
Relampejaste e afugentaste a minha cegueira
Rescendestes suaves perfumes em torno de mim,
E eu os sorvia –
E agora vivo a suspirar por ti
Saboreei-te, e agora tenho fome e sede de ti
Tocaste-me de leve –
E eu me abrasei em tua paz.
Quanto mais te possuo,
Tanto mais te procuro
Que eu conheça a mim para que te conheça a ti.

Lembra também as palavras de Jesus a seus discípulos: “Os reis e príncipes deste mundo são chamados grandes, porque são servidos por seus súditos. Entre vós, porém, não há de ser assim; aquele que dentre vós quiser ser grande seja o servidor de todos”.
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Lao-Tse_Tao Te King