Um segundo advento do Cristo é um assunto de interesse especial e de muita especulação entre os estudantes de misticismo. A especulação é relativa a duas diferentes escolas de pensamento.
ð Uma delas é uma escola ocidental que afirma que o Cristo não aparecerá novamente no plano físico, mas que descerá somente até o plano etérico ou psíquicos.
ð Uma afirmação contrária parece ser a de uma escola de pensamento oriental que sustenta que o Cristo aparecerá novamente entre os homens no plano físico numa época propícia, que no momento é indeterminável.
Obviamente, declarações dessa natureza sobre uma questão tão grandiosa deveria interessar aos estudantes místicos, especialmente quando duas escolas de visão e autoridade ocultista se opõem quanto à maneira da vinda. Qual deveria ser nossa atitude em relação a declarações dessa espécie, quando possivelmente não podemos ter nenhuma prova da verdade sobre isso? Não uma atitude de criticismo, creio eu, pois elas pertencem ao intangível, estão para além da investigação pessoal e claramente apontam para um evento sem dúvida muito distante no futuro.
Todos nós estamos familiarizados com as muitas descobertas e previsões da ciência sobe várias questões relativas à vida no plano matéria. Já vimos e constantemente vemos a realização objetiva dessas previsões. Muitas delas pareceram espantosas e quase inacreditáveis quando foram feitas, há uns poucos anos. Então, de repente, quando havíamos nos esquecido delas, uma descoberta prometida foi feita, um novo poder surgiu, uma altitude foi alcançada e se tornou um fato de uso em nossa vida cotidiana.
Mas pisamos num terreno diferente quando são feitas declarações do tipo mencionado. Isso está longe de ter a mesma natureza de um procedimento científico. Não somos profundamente proficientes no conhecimento da futuridade. Não há nas mãos do homem nenhum instrumento por meio do qual ele possa prever e garantir um acontecimento, numa futura evolução da humanidade, como a vinda de um exaltado ser dos níveis cósmicos superiores da existência espiritual. Mas à medida que a ciência pode prefigurar a evolução de poderes e processos excepcionais e desconhecidos, através da cooperação com as leis da natureza – e estamos hoje tão acostumados a vê-la acontecendo dentro do limite de uns poucos anos que já nem questionamos tais previsões - parece-me então que não deveríamos descartar as declarações ocultistas, numa atitude crítica ou com enfática descrença, mas olhar a possibilidade com mente aberta, ainda que elas sejam divergentes quanto à maneira do seu aparecimento.
Ora, o teor dessas declarações sobre a ‘segunda vinda’ é que ela acontecerá em algum momento futuro inespecífico e desconhecido. Porém, aqueles que são versados em literatura mística podem apontar exemplos, de veracidade inquestionável, de que a presença do CRISTO tem sido uma questão de experiência pessoal de caráter psíquico. Quem estudar a vida de SANTA TERESA D’ÁVILA, por exemplo, encontrará ali diversas visões, reconhecidas como autenticas, que ela teve da presença atual do CRISTO com ela. Ela disse que, em várias ocasiões, teve a graça de uma visão do CRISTO. Em suas próprias palavras: “Pois se o que vejo é uma imagem, então é uma imagem viva; não um homem morto, mas o Cristo vivente.” E ela descreve, com as melhores palavras que pôde encontrar, a radiância que acompanhava as visões. “Não é uma radiância que ofusca, mas uma brandura suave e uma radiância infusa que, sem cansar os olhos, provoca-lhes o maior dos deleites. Nem são eles cansados pelo brilho que vêem, ao serem essa beleza divina”.
Ou dando um outro exemplo mais próximo dos nossos tempos, uma escritora cujas obras muitos de nós conhecemos; refiro-me a M.C., que escreveu “LUZ NO CAMINHO” sob a orientação de um Mestre, além de outros escritos inspiradores. Em um de seus livros, ela se refere a um massacre de judeus na Rússia em 1905, quando, numa visão da ‘Sala da Aprendizagem’, onde havia um grande altar, o Cristo estava num de seus degraus, uma magnífica figura de luz e Radiância, as mãos erguidas abençoando a multidão de almas que passavam. De vez em quando, puxava uma delas para junto de si e a apertava num forte abraço, retirando dela, através desse contato, toda memória da agonia de seu martírio.
Esses são testemunhos de valor e não podem ser futilmente descartados. Eles apontam para um fato de experiência psíquica, outorgados, no primeiro caso, a uma santa mulher cuja vida foi uma longa devoção a viver a vida do Cristo e a manter um diálogo interno com Ele; e no segundo caso, a uma mulher de reconhecidas aspirações ocultistas e que, no devido tempo, foi usada por um Mestre para dar ao mundo um de seus mais notáveis livros devocionais, ‘LUZ NO CAMINHO’.
Não há nenhum motivo para se duvidar desses testemunhos. Eles são conhecidos por todas as classes de aspirantes e aceitos com reverência, e há mais testemunhos dessa natureza que poderiam ser citados de outras fontes, de modo que as duas declarações que citei não são as duas escolas de pensamento que, embora de interesse considerável, apontam para uma possível vinda num tempo futuro, o que parece ser de uma categoria totalmente diferentes desses testemunhos. Porque nesses testemunhos temos uma espécie de certeza de que a vinda do CRISTO não é um distante acontecimento divino, que pode ocorrer neste ou em algum outro século futuro, dependendo de certas condições de evolução da humanidade como um todo, mas, sim de que o Cristo está aqui e agora, uma presença divina, guiadora e auxiliadora, e esperando tão-somente ser reconhecida.
Lembro-me que no passado houve algumas criticas, aqui e ali, a respeito dos nossos ensinamentos fazerem pouca menção ao Cristo. Mas que é a ciência rosa-cruz senão um sistema de preparação para o contato com os mais elevados níveis cósmicos de consciência, que pode a qualquer momento, em alguns casos particulares, levar à própria presença do Cristo no plano etérico ou psíquico. Para onde nossos Graus de estudo apontam e gradualmente conduzem senão para uma crescente percepção interior e um contato psíquico com os mais elevados níveis vibratórios da existência cósmica?
Os Graus superiores buscam culminar os estudos, com uma técnica especial por meio da qual o iniciado, restrito como sempre à permissão de seu carma individual, pode levar-se à esfera da influencia dos Mestres da Compaixão. E lembremo-nos que os próprios Mestres são discípulos do Cristo e compartilham Sua vida. Portanto,se servirmos ao máximo com nosso conhecimento à finalidade de tornarmo-nos dignos da orientação especial e individual e da inspiração desses Mestres que servem, eles próprios ao Cristo, qualquer crítica sobre essa questão pode ser descartada, pois revela uma falta de compreensão e entendimento de nossa meta.
Se, conforme afirma uma dessas escolas, muita coisa tem necessariamente de acontecer na direção e qualidade da evolução humana, uma preparação rumo a uma consciência mais ampla e mais elevada, antes que o Cristo possa aparecer e efetivar sua missão no mundo, então creio que é óbvio que essa preparação será de longa duração. Há, em toda parte, sinais muito escassos de sua presença. Hoje, após o lapso de quase meio século, durante o qual os Mestres tem escrito e falado em círculos ocultistas e místicos, o assunto ainda está muito longe de ser algo para divulgação pública geral, mesmo entre os intelectuais. Mística e espiritualmente, estamos numa escala bem baixa de evolução.
Por outro lado, se, como sustenta a outra escola, a vinda do Cristo será, não no plano físico, mas no nível de consciência etérica, há ainda uma outra opinião que pode ser considerada de peso e valor. É a seguinte: que a vinda bem pode ser dar, de certo modo, no plano físico, mas por meio de discípulos de Cristo, altamente desenvolvidos, que executarão SUA missão entre os homens sob SUA inspiração. Não falo com autoridade sobre esse assunto, mas se afirmações contrárias são feitas sobre essa questão em termos muito enfáticos, temos o direito de considerar ambos os pontos de vista e expressar uma opinião sobre eles. É claro que não podem ser aceitos ambos. Um, que o Cristo virá novamente entre os homens no plano físico; o outro, que Ele nunca mais tornará a forma humana ou descerá abaixo do nível etérico de consciência.
Não consigo ver como que qualquer um de nós, aspirando um contato com os Mestres, possa não ter constantemente em mente o maior dos Mestres Cósmicos, que labora no mais alto ponto de evolução e cuja influência é portanto transmitida do lugar secreto do mais elevado para baixo, a fim de purificar uma humanidade sofredora. Além disso, há dois notáveis livros escritos pelo Dr. H.Spencer Lewis sobre o Mestre dos Mestres e Seus ensinamentos. Se Cristo caminhou até o fim da Senda, que abarca toda a Sabedoria Cósmica, e nós estamos dando os primeiros passos sérios na Senda, nós é que podemos perguntar o que sabem esses críticos sobre a Senda e se já deram sequer um passo nela.
O propósito do primeiro advento do Cristo foi expressamente o de libertar o espírito do homem através da autodisciplina para ele entrar na verdade do caminho. E creio que um segundo advento do Cristo se mostraria ainda mais dinâmico e abalador que o primeiro. Pois atingimos um ponto critico na evolução geral durante os últimos cem anos, e poderes tão incomuns estão sendo cientificamente desenvolvidos através de experiências mentais, e aplicados totalmente para fins materialistas, que a descida de uma energia estimuladora sem precedentes faria em pedaços os ídolos e as imagens que o homem adora, e demonstraria plenamente a supremacia da vida espiritual.
Uma vinda hoje poderia significar exílio e morte, mas não no futuro, pois é razoável pensar que o Cristo teria então à sua disposição a potencia dinâmica de uma multidão de discípulos que teriam se adiantado m alguns estágios da Senda, que “O” reconheciam e teriam prazer em realizar sua missão, e nada seria capaz de os impedir. Esse é um pensamento encorajador e estimulante. Ele nos dá razões suficientes para persistirmos na Senda que conhecemos, pois chegará o tempo em que seremos chamados a uma cooperação direta com a intenção cósmica. E tudo o que tivermos suportado e sofrido sra esquecido na maestria que seremos então capazes de oferecer no cumprimento dessa intenção.
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[Texto de Raymundo Andréa].