Uma observação circunstancial da História Contemporânea revela-nos com bastante nitidez o perfil da Educação, notadamente a que se dispensa aos jovens, como uma profunda dissociação cultural.
As questões básicas de sobrevivência e de participação indispensável no complexo processo de evolução social perderam a característica de naturalidade e transformaram-se em duros desafios para as novas gerações, por força da incontrolável generalização de interesses, resultantes da expansão cientifica e tecnológica.
Nesse contexto, a Educação orientou-se para ‘fora’, preparando o caminho para múltiplas especializações.
Todas as formas de conhecimentos, insuficientes por si próprias para assegurarem aos jovens uma posição social economicamente orientada, foram progressivamente abandonadas.
A juventude, sentindo, ainda que de forma nebulosa, a perda de sua identidade, lançou-se numa busca quase desesperada de novos valores.
Essa reação desamparada de uma filosofia, que pudesse definir o verdadeiro sentido da liberdade, redundou, como é facilmente compreensível, em comportamentos distorcidos e, conseqüentemente, não logrou de imediato a compreensão da sociedade.
Instalou-se, dessa forma, uma crise de proporções imprevisíveis.
Em algum momento, entretanto, o senso comum foi mobilizado e surgiu aquilo que presentemente constitui opinião unânime daqueles que se ocupam com a tarefa da Educação: ‘a conscientização da necessidade de reformulação dos métodos e da qualidade do ensino’.
Toda a crise é fruto de extremismo. Afortunadamente, qualquer tipo de extremismo conduz o germe de sua própria regeneração.
A História é testemunha de que toda a crise de grande estrutura decorre do enfraquecimento do sentido de humanidade e da inversão de valores, que sustentam a sociedade humana. A restauração desses valores está em íntima relação com o desenvolvimento de uma cultura humanística.
A inversão cultural é um fenômeno sem fronteiras, que entretanto parece mais evidente no mundo ocidental. No ocidente o primeiro movimento humanista, que mudou o rumo de toda a civilização, caracterizado pela verdadeira descoberta do Homem, foi o Renascimento ou Renascença. A importância desse movimento cultural, que marcou o inicio da Idade Moderna, está longe de ser completamente avaliada.
Através dos canais das artes, do pensamento filosófico, das ciências e das letras, o Renascimento recriou o Homem,revestindo-o de interesses e aspirações temporais sem estimular o materialismo, mas objetivando libertá-lo da religião no que esta tinha de escravizante e punitivo.
A reação moderadora do Humanismo Renascentista e o seu indestrutível poder residual consagraram-no como um padrão, até o momento insuperável, restaurador dos mais profundos anseios da humanidade.
Podemos alimentar essa ‘convicção’ ao admirarmos as criações da arte e da literatura barroca, especialmente a estatuária e a escultura, nas quais as combinações salientes do corpo harmonizam-se com o toque de espiritualidade consentida dos anjos, que sustentam, simbolicamente, pilares e colunas das naves a altares de velhas igrejas.
Toda a ação moderadora de comportamento social está sujeita à lei do ritmo, o que a torna, em conseqüência, incapaz de conter indefinidamente o impulso de radicalização.
Contudo, o Humanismo refreou a ‘religiosidade’, mas aplainou o caminho para a eclosão do cientismo. A fé simplória foi envolvida pela ânsia de comprovação.
A ciência conquistou o estágio experimental e se tranqüilizou com a convicção de que havia encontrado o instrumento único para a revelação da verdade.
Esse posicionamento é uma dentre as muitas evidências de radicalização e está proporcionando o desabrochar de um Novo Humanismo, que reúne,além do material histórico do Renascimento, as conquistas da própria ciência.
Com a mesma intensidade que o extremismo cientifico a vinha oprimindo, a cultura humanística estava sendo revitalizado no seu embrião.
Na medida em que este cresce para o seu destino de restaurar a realidade antiga, mas sempre nova, dos valores humanos, delineia-se o início de uma nova época.
A cultura humanística que deverá reviver em sua plenitude não deverá desfazer-se de quaisquer modalidades de conhecimentos. Deverá com certeza, ordená-las dentro de um critério anti-radical, buscando extrair de cada uma delas o que concorrer essencialmente para a melhoria do individuo e da coletividade no sentido mais amplo.
A valorização do Homem, integralmente considerado, como objetivo da cultura humanística, é o ponto de partida para qualquer reforma.
Nesse passo, com a identificação das disciplinas que integram a cultura humanística, cabe a narração de alguns incidentes, que despertaram na consciência coletiva a necessidade de uma reformulação cultural com uma previsível repercussão na educação da juventude.
A reformulação deverá enfatizar o valor das disciplinas definidas como Humanidades, que deverão ser integradas na programação educativa dos jovens, tais como a Filosofia, a Literatura, a História, a Sociologia, a Biografia, a Musica e as Artes.
Algumas dessas disciplinas, notadamente a História e a Filosofia, são frutos amadurecidos da sabedoria, pois ligam-se ao conhecimento do passado. Esse conhecimento é o grande reservatório de experiências que coloca a mente do estudante predisposta à reflexão e estimula o auto-conhecimento.
Um fenômeno que exemplifica bem a perda de contato com o passado cultural é a massificação de informações. A massificação estimula a memória, mas atrofia a capacidade de reflexão e inibe a criatividade.
O rápido crescimento da Informática, ciência e tecnologia a serviço da massificação de informações, é a prova mais evidente da congestão a que vem sendo submetida a memória do Homem.
Os veículos de divulgação interferem sutilmente no convívio das pessoas e conquistam o tempo que deveria ser dedicado ao estudo sistematizado e à reflexão.
O volume indiscriminado de informações lembra os hormônios ativadores do crescimento vegetal, nutrientes artificiais, que aceleram o metabolismo, produzindo espécimes avantajados e belos, mas que não possuem em equilíbrio os elementos indispensáveis à nutrição do organismo animal.
Outro fato que com freqüência se observa é o da existência de pessoas bem preparadas tecnicamente, mas que são incompetentes ao extremo em conhecimento de linguagem falada ou escrita. Isso denota, evidentemente, uma deficiente preparação em Humanidades e uma cultura anômala.
Essa condição é ainda de alguma maneira pouco estimulante para o processo de interiorização do individuo, e os prejuízos que acarreta não podem ser medidos em termos econômicos, mas em crescimento pessoal.
Nessa linha de raciocínio é possível entender-se facilmente que a sabedoria decorre de uma vivência global só possível com a generalização sistematizada do conhecimento.
Nesse quadro, o Misticismo, que promove o encontro do Homem com o seu Deus Interior e a consecução dos mais sublimes objetivos da existência, tem o poder de harmonizar ciência e humanismo, influindo positivamente numa educação substancial da juventude, responsável por seu destino e participante indispensável no plano evolutivo do Cósmico.
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[Texto de Eduardo Teixeira]