16 de abr. de 2010

Sucesso pela Imaginação


A imaginação há muito tem sido a Cinderela dos nossos poderes mentais. As pessoas tem negligenciado a imaginação, considerando-a como prerrogativa de escritores e artistas. A força de vontade, a concentração e a memória, por outro lado, tem sido reverenciadas há séculos.

Não obstante, a imaginação faz parte do equipamento mental de todos e pode ser desenvolvida de modo a trazer grandes benefícios. Podemos dar um grande passo no desenvolvimento da personalidade estimulando a imaginação. Pense no que a imaginação já fez por todos nós: porque alguns homens pré-históricos usaram sua imaginação, gerações subseqüentes usufruíram a benção do controle do fogo, a roda, a agulha e a faca. Pensadores criativos posteriores inventaram a roldana, a bomba d’água, a engrenagem, a imprensa, o motor à combustão, a lâmpada elétrica, o rádio, a televisão, o motor a jato, aos foguetes, as cápsulas espaciais, e assim por diante.

O poeta e romancista John Masefield exprimiu isto muito bem: “O corpo do homem é imperfeito, sua mente indigna de confiança, porém, sua imaginação o tornou um ser extraordinário”. Empregar a imaginação de modo positivo e útil é desencadear o pensamento criativo – pensar com um propósito, ao contrário de sonhar acórdão ou construir castelos no ar.

Aqui estão algumas formas de desenvolver a capacidade de utilizar a imaginação criativamente:

1_ Comece a ler uma história e dê-lhe um final ao seu próprio modo;

2_ Observe crianças brincando e analise-as atentamente;

3_ Conte histórias a crianças; mas lembre-se, ‘tudo’ pode acontecer na história que você criar;

4_ Sempre que ler, procure visualizar os personagens e acontecimentos;

5_ Pegue um objeto comum [uma caixa de fósforos, por exemplo] e pergunte-se como ele poderia ser melhorado;

6_ Decida o que aconteceria se algum de seus pertences se tornasse menor, maior, mais estreito ou mesmo mais fino. Poderia ele ser separado de uma outra coisa ou a ela associado?

Perguntas deste tipo certamente acenderão a imaginação criadora. Se empregada com freqüência, a imaginação pode fazer alguém transbordar de estupendas idéias. Lembre-se de que a imaginação aumenta com o exercício, e que, contrariamente à crença comum, é mais poderosa no homem maduro do que no jovem.

PREOCUPAÇÕES DIÁRIAS
Tente aplicar sua imaginação a estas questões corriqueiras:

_Pense na localização da sua casa – você tem de viver onde está vivendo agora?

_ Poderia você viver num ambiente mais saudável ou prazeroso?

Se você persistentemente se imaginar vivendo em condições mais desejáveis, acabará dando passos para materializar o que tiver imaginado. A mesma técnica pode ser aplicada ao interior de sua casa, que pode vir a ser mais claro, limpo e atraente. Com entusiasmo, esforço e desembolso de pouco dinheiro, você pode facilmente transformar sua casa. Deixe sua imaginação brincar com estas sugestões, e depois ‘trabalhe’ para transformar o lugar em que vive.

Podemos encontrar muitas oportunidades de pensar criativamente ao prepararmos alimentos, escolhermos nossa roupa, mobiliarmos nossa casa, cuidarmos do jardim, decorarmos nosso escritório, e organizarmos nossa oficina.

Se você tem filhos, poderá usar sua imaginação para fazê-los mais felizes e autoconfiantes. Como lhes poderá proporcionar uma experiência mais diversificada? Como poderá evitar brigar com eles? Pense nos equívocos de seus pais e então procure evitar a repetição dos erros deles. Mesmo que o relacionamento com seus filhos seja bom, pensar criativamente poderá torná-lo melhor.

Você pode usar a imaginação em seu trabalho. Será que você tem de fazer o seu trabalho como vem fazendo há anos? Não poderá mudar proveitosamente os procedimentos, as condições ou os materiais? Tem certeza que está fazendo as coisa do melhor modo possível? Pergunte-se como poderá ser mais útil ao seu empregador, quanto tempo trabalho e material podem ser economizados?

Se você é um empregador, como poderá tornar seus funcionários mais felizes e mais produtivos? De que maneira poderá granjear-lhes pleno apoio e cooperação? E quanto às condições do ambiente de trabalho? Podem elas ser melhoradas? Podem os empregados ser encorajados a trabalhar com autêntico entusiasmo? Você, o empregador, trabalharia bem se estivesse no lugar deles? Será que eles sentem que você nutre algum interesse pessoal por eles? Se não, como você poderia demonstrar maior interesse?

Vimos que a imaginação pode enriquecer qualquer relacionamento humano. Só usando a imaginação podemos nos colocar no lugar dos outros e, assim, agir sem causar atrito. O uso da imaginação nos ajudará a refrear uma palavra isultuosa, uma ato descortês, e uma conclusão precipitada. Empregada positivamente, a imaginação suscitará a manifestação de bondade, encorajamento e solidariedade, em palavras e atos. É difícil imaginar qualquer situação em que a imaginação não atue como bálsamo e agente suavizador no trato com os outros.

Nas realizações pessoais é em geral insuficiente ter ‘vontade’ de ser bem sucedido. A vontade é muitas vezes fraca e hesitante. Devemos aprender a reforçá-la usando a imaginação.

Suponha que lhe pediram para fazer um discurso público e você sente-se nervoso diante da expectativa. Uma preparação perfeita poderia ir por água abaixo no último momento, por causa do nervosismo. Você deveria, por conseguinte, utilizar sua imaginação positivamente. Sempre que você antecipar um acontecimento tão importante, visualize-se numa posição firme e confiante à frente de sua Audiência, fazendo um excelente discurso. Visualize isto toda noite, durante uma semana antes do acontecimento. Com a deliberada inversão das costumeiras idéias de medo, notará supreendente diferença em seu desempenho.

No aprimoramento da personalidade, a imaginação ajudá-lo-á a superar hábitos ou tendências que considere indesejáveis. Se você é reservado ou mal-humorado, se gagueja ou ruboriza, imagine-se livre destes obstáculos. Pare de remoer fracassos passados; isto não ajuda em nada. Ao invés disto, “pinte-se” como gostaria de ser.

Talvez algum vago ideal o tenha assediado durante anos. De vez em quando você se defrontou com essa visão avidamente, mas ela rapidamente se desfazia. Agora, pela primeira vez na sua vida, escreva detalhadamente uma descrição da pessoa que você gostaria de ser. Gostaria de ser alegre, popular, dinâmico e audacioso? Gostaria de ser simpático, amigável e diplomático? Então você poderá ser! Mantenha seu ideal clara e firmemente diante de você. Persiga-o com determinação. Reavive sua coragem após um ocasional fracasso. Em verdade, muitas coisas poderão ser alcançadas se você primeiro as alcançar em sua imaginação.

Esqueça as coisas que ficaram para trás, e persiga o que está à sua frente. Faça dos seus pequenos sucessos trampolins para êxitos maiores. Acima de tudo, mantenha sua imagem de sucesso, bem clara na mente, e há de alcançar sucesso!
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[Texto de H.C. Ibojionu]

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Conhecimento Secreto


Sempre houve lendas e tradições acerca do conhecimento secreto. Nas raízes da maioria das religiões há alguma forma de conhecimento secreto, uma ‘gnose’ ou compreensão interior que pode ser alcançada e mesmo prometida, como nas Alianças da Tora.

Em sociedades e lojas secretas há um outro tipo de conhecimento secreto [palavras, sinais, símbolos e tradições] que pode aparecer em forma escrita mas ter significado adicional transmitido privativamente. Os ensinamentos dessas sociedades secretas são mais bem descritos como ‘privados’ do que secretos.

O buscador ingênuo do conhecimento secreto talvez espere encontrar algum fato ou fórmula mágicos, algo específico e objetivo que possa ser apreendido e memorizado. Mas a característica primordial de uma ‘gnose’ é que ela não pode ser transmitida; é tida como inefável. Trata-se de uma compreensão que não pode sr transmitida fisicamente de uma pessoa para outra. Assim mesmo, é passível de ser alcançada, comprovada e descoberta individualmente.

Além disso, há métodos e planos que levam a esta descoberta. Mas esses ensinamentos são geralmente venerados e preservados em sociedades primitivas, esotéricas. A tradição normalmente encerra a idéia de que este conhecimento, e quaisquer ensinamentos que levem à sua descoberta, devem ser ocultos a pessoas indignas e contra elas protegido. Buscadores dignos são iniciados e conduzidos ‘passo a passo na senda’. Rituais graus iniciáticos, nestas ordens, dramatizam os passos e favorecem a descoberta.

Entretanto, o grande segredo é que: NÃO HÁ NENHUM SEGREDO; que este conhecimento absolutamente não é de fato secreto! Está à disposição de olhos capazes de ver e ouvidos capazes de ouvir. Apesar de seu suposto sigilo, muito se tem falado e publicado sobre esse conhecimento, abertamente, porém, ele anda permanece irrevelado.

À luz disto, consideremos as muitas afirmações enigmáticas da escritura cristã e de outras escrituras sagradas. Estas afirmações também são para os iniciados. Sem a chave, sem o progresso pessoal preliminar, elas permanecem indecifráveis. Com a chave, são surpreendentes,afirmações impressionantes que refletem uma compreensão radicalmente diferente. Assim, esse conhecimento é secreto somente neste estranho aspecto, protegido pela sua própria natureza arcana, e pela nossa falta de evolução.

É fácil [como neste artigo] continuar falando muito ‘sobre’ esse conhecimento secreto, mas isto é como ‘falar sobre a água – não mata a sede’. Melhor seria dizermos: “Aqui está o caminho da fonte, onde você tem de aprender a beber por si mesmo”.
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[Texto de Edgar Wirt]

A Natureza de Deus


Considera-se às vezes que a questão d Deus não se presta a discussão geral, pois, quem poderá dizer com alguma certeza o que Deus é ou não é? Nos intermináveis debates sobre a natureza de Deus, há realmente uma representação clara do Criador aos olhos das pessoas? Mesmo entre os chamados especialistas não há concordância ou qualquer coisa parecida com isto, a cerca deste que é o mais profundo de todos os temas. Não obstante, esta questão interessa profundamente a todos os seres racionais. Haverá porventura alguém que nunca se tenha perguntado: “Existe um Deus?” ou “Quem é Deus?”. Certamente, o individuo inclinado ao misticismo é uma pessoa que procura conhecer Deus ou tornar-se consciente de Deus.

De fato, misticismo é “ apreensão intima e direta de Deus ou o Cósmico, através do Eu Interior, isto é, pelo campo do subconsciente. O ideal do misticismo é a consecução final da união consciente com o Absoluto, ou o Cósmico. O misticismo ensina os princípios e as Leis Cósmicas pelos quais o homem é levado a uma consciência mais íntima de seu poder divino”.

Quais são esses princípios e leis que podem nos trazer uma consciência mais intima de Deus?

Isto nos traz às próprias bases dos nossos estudos. Desde nossas primeiras lições aprendemos as artes da concentração, da meditação, e do desenvolvimento psíquico, e é pela prática e o aperfeiçoamento dessas artes, em conjunto com outras técnicas essenciais, que podemos finalmente apreender a consciência de Deus.

IMPORTÂNCIA DA ATITUDE
Entretanto, muito embora sejamos capazes de nos tornar muito hábeis em concentração, meditação e desenvolvimento psíquico, isto não significa que iremos ter uma consciência intima de Deus, porque outros requisitos essenciais se fazem necessários. Uma destas importantes condições é uma atitude mental altruísta, centralizada em nossa parte espiritual, quando nos preparamos para a comunhão com a Consciência Divina.

Não podemos abordar a Divina Essência do Cósmico com outra atitude que não o propósito e pensamento mais santificado e, para isto, devemos nutrir profundo amor e reverencia para com Deus. Tentar sentir a presença de Deus como um exercício mental pode ser muito desapontador; no entanto, muitas estudantes tentam isto, porque ainda não aprenderam a expressar o amor divino latente em seu coração, e que apenas liberação e reconhecimento. Quando aprendermos verdadeiramente a amar no sentido cósmico, a presença de Deus tornar-se-á um fator da experiência diária em nossa vida. Para os poucos que conseguiram isto, a vida tem um significado novo, diferente e belo. Mas isso pode ser experimentado por todos nós, desde que aprendamos a técnica da comunhão.

Esta técnica consiste em praticarmos a meditação; mantermos pensamentos santificados e atitude de prece; desenvolvermos um profundo amor a Deus e ao Cósmico, de modo a condicionarmos nosso pensamento aos mais puros ideais; finalmente, e o que é mais importante, em termos o firme desejo de encontrar, conhecer, e amar a Deus mais e mais profundamente.

Se pudermos seguir estes simples porém necessários passos, experimentaremos a mais profunda consciência da Sublime Essência de Deus. Mas devemos também ser pacientes; não podemos forçar essa experiência ou de modo algum ser insistentes. Devemos apenas nos colocar a disposição para que o Cósmico nos faça dignos desse contato.

Tem-se dito que um dos requisitos essenciais nesta busca de Deus é a expressão do amor divino. Em verdade, diríamos que este é o mais importante fator. O amor é um tema sobre o qual se vem escrevendo e falando há séculos, porém, quantas pessoas conhecemos que irradiam amor e harmonia em todos os momentos?

UM GRANDE AMOR
Devemos elevar nossos pensamentos e nossa consciência a um ponto de harmonia com o Eu Interior. Desse modo ocorre uma profunda percepção da Consciência Divina presente no âmago de cada um de nós. Nenhuma reflexão ou medição comum poderá proporcionar isto. É preciso que tenhamos uma atitude mental altruística, centralizada espiritualmente, e que sintamos sinceramente, em nosso coração e em nossa mente, um grande amor e pureza de pensamento, durante a nossa harmonização. Obviamente, considerável preparação é necessária para conseguirmos esta atitude mental, e a única coisa que nos trará sucesso é o espírito do Amor.

O amor, portanto, não é apenas a chave para nossa harmonização com Deus; propicia também a consecução de grande poder psíquico e espiritual, bem como intuição, que podemos utilizar para o bem do homem.

É importante compreender que o amor, como a harmonização com a Consciência Divina, não ocorre subitamente como um ‘flash’ de inspiração. Ao contrário, ele cresce em nosso coração gradualmente, dependendo o seu desenvolvimento de nossas experiências, nossa atitude para com a vida e com outras pessoas, e a amplitude e profundeza do nosso desejo. São necessários muitos anos de devoção e uma vida útil e plena, para que comece a despertar o espírito do amor que está dentro de cada um de nós, mas que aprisionamos devido a uma sensação de medo e embaraço para expressarmos nossos verdadeiros sentimentos e emoções íntimos.

Todos nós fomos condicionados a acreditar que constitui erro, fraqueza e desonra, exprimirmos nossos verdadeiros sentimentos e emoções, de modo que nos sentimos compelidos a escondê-los e suprimi-los. Apesar disso, o Eu interior se empenha em exprimir e revelar nossas emoções mais profundas, criando assim uma condição de conflito que impede a apreensão do espírito do amor que a alma em nosso interior procura expressar.

Ensinam-nos a ser críticos, a reparar defeitos, a colocar nossos próprios interesses egoísticos à frente de outras pessoas. Isto é a antítese do desejo da alma de encontrar amor e harmonia, de ver beleza e alegria na vida. Enquanto não iniciarmos esta mudança em nosso pensamento e sentimento, o amor será um prisioneiro em nosso interior. Mas quando compreendermos que este grande poder está esperando para se expressar, e cooperarmos com os impulsos do Eu interior, a energia do amor começará a se expandir em nosso coração e um poder espiritual terá nascido.

Na medida em que esta energia natural do amor começa a crescer no âmago da nossa consciência, uma série de mudanças ocorre em nosso caráter e nosso comportamento, bem como em nossos mais íntimos pensamentos. Não somos afetados pelas experiências perturbadoras como éramos anteriormente. Passamos a viver mais afastados das coisas sórdidas e vulgares da vida.

Quando decidirmos fazer o esforço necessário para nos expressar e doar altruisticamente, a estrada para o despertar espiritual será aberta à nossa frente. É então que advirão experiências que nos virão inspirar, enobrecer preparar para maior serviço.

Esta decisão e seu conseqüente desenvolvimento nos levarão a um contato mais intimo com Deus, e talvez nos levem a uma experiência iniciática da própria presença do Criador, que em nós deixará uma impressão indelével. Palavras nunca poderão descrever a beleza e maravilha da experiência mística que pode advir àqueles que se tornaram dignos de tais contatos com o Cósmico. Com esse despertar, tomamos conhecimento de que Deus é AMOR e amor é DEUS, e nosso progresso na senda do serviço altruístico é assegurado.
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[Texto de Robert E. Daniels]

O PEREGRINO


É quase proverbial que o homem insatisfeito vagueia, e o homem que não se encontrou, que não encontrou seu lugar no plano do Criador, está [tem de estar] sempre insatisfeito. Por trás das coisas do cotidiano e das coisas simples da vida, na música, em arte e viagens, ele procura ler os sinais e símbolos para o significado do seu próprio ser. Eis por que as antigas culturas do Egito, da Índia e da Grécia, nos atraem à primeira vista.

Minha primeira vez longe de casa, no entanto, não me levou ao Egito ou à Índia, e sim à Islândia e às ilhas Feróes. Mas mesmo ali eu procurei e o passado me falou. Primeiro na velha arquidioceses em Kirkjuboin, nas Feróes; depois, na casa de Joannes Paturson onde o rei Sverre nasceu. Estranhamente eu fora afetado mas não podia dizer por quê. Um sentimento de volta ao lar? Ou seria apenas a claridade de verão duma noite nórdica? Não, era certamente algo mais.

Aconteceu novamente, desta vez em Reykjavik, na casa-museu de Ejnar Jonsson, o escultor.

Outra viagem para o exterior, desta vez à Holanda. Certas ruas m Amsterdã suscitaram aquele mesmo sentimento de reconhecimento. Deu-se o mesmo em Heidelberg na Alemanha, e no percurso para a velha Universidade de Basel, Suíça, que me atraiu todo dia.

Isto aconteceu antes que eu ouvisse falar na reencarnação e na importância do passado na vida de todos nós. Então, a arrebatadora aura do Egito, Islândia, e de outros lugares onde estive, começou a me atrair para casa. A fraternidade mística do passado e a fraternidade mística do presente eram uma só, e eu era parte dessa unidade. Parei de vaguear porque não mais estava insatisfeito. Tendo encontrado a mim mesmo, eu estava em casa, sem necessidade alguma de vaguear.
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[Texto de Gudve Gjellstad]

Um Tipo Especial de Sabedoria


A primeira vez que vi aquele velho nos trilhos da estrada de ferro foi numa fria manhã de começo de primavera. Eu estava caminhando para a universidade, a uns três quilômetros de minha casa. Cristais de geada cobriam os trilhos e os velhos dormentes. O ar estava sereno.

Estava absorto em meus pensamentos e teria passado pelo velhos sem notá-lo, não fosse por uma coisa: eu podia sentir sua presença sem mesmo ter olhado para ele. Algo irradiava-se de seu corpo. Senti que estava sendo observado e, quando levantei o olhar para ele, percebi que estava me olhando atentamente. Seus olhos penetrantes deixaram-me um pouco inquieto. E ele continuou me observando. Nenhuma palavra foi trocada entre nós.

Como se num mudo acordo, ambos deixamos que algo se descontraísse em nosso âmago, e seus olhos de súbito brilharam, como os de uma criancinha a olhar um presente.

Parei e esperei.

Ele inclinou a cabeça e sorriu.

Isso foi tudo. Nada de “Tudo bem?” ou “Parece que vamos ter um belo dia”. Apenas seus olhos fitando os meus, um sinal de cabeça e um sorriso, e ele se voltou para partir.

Quis correr atrás dele, detê-lo e lhe perguntar o que havia de fato acontecido. Felizmente não o fiz. Teria quebrado o encanto que houvera entre nós. Algo extraordinário tinha acontecido eu não queria que isso fosse estragadol.

O modo como ele havia olhado para mim proporcionara-me o sentimento de ser alguém especial, alguém interessante o bastante para que fosse considerado atentamente observado. Ele usara sua visão de modo singular, e isto me remetera bruscamente aos ‘meus’ sentidos. A geada pareceu mais branca, as pedras começaram a ranger sob meus pés, e eu pude sentir o doce aroma de uma madeireira próxima.

Durante dias dei tratos ao nosso encontro. Ele parecia sem importância [um velho e um jovem cruzando caminhos numa estrada de ferro], não fosse pelo estranho modo como o velho olhara para mim. Por que isso mexera tanto comigo?

Os meses passaram e eu percorri o mesmo trecho da estrada de ferro dia após dia, sem ver qualquer sinal do velho. Talvez ele tivesse passado por ali apenas aquela vez. Lembrando-me do sobretudo esfarrapado e do sapato sem cadarço que ele usava, eu não me surpreenderia com isso. Homens como aquele geralmente medem sua vida em quilômetros.

Mas eu o vi uma vez mais. Era uma cálida tarde ensolarada, quando eu voltava da universidade. Ele usava a mesma roupa de antes, e estava juntando pedaços de madeira jogados fora pela madeireira. Curvava-se, socando os pedaços de madeira numa sacola de lona a seu lado. As pontas das ripas apareciam desordenadamente em todas as direções.

Ele se endireitou, acomodou a sacola, e olhou para suas mãos. Virou as palmas para cima e examinou cuidadosamente a pele, cheia de sulcos e calos. Satisfeito, deixou-as tomar ao lado do corpo.

Este simples gesto, o modo como examinou suas mãos, intrigou-me, e compreendi que ele era uma pessoa plenamente consciente de seus atos. Tudo fazia com atenção. Não desperdiçava nenhum esforço.

Esta capacidade o tornava especial. Sua concentração era um dom; percebi que podia aprender alguma coisa simplesmente observando-o.

Notou minha presença e caminhou até onde eu estava. Surpreendeu-me, ao dizer: “Já faz algum tempo que o vi...” e, antes que eu pudesse falar, acrescentou: “...e, sabe, parece que você está preocupado com alguma coisa”.

O que ele disse era verdade, e fiquei espantado com sua objetividade.

“Você está deixando de aproveitar este sol”., disse ele apontando para o céu; “você deveria procurar sentir-se bem ao invés de mal. Como a escolha é minha, eu sempre estou me sentindo bem”.

Quando eu comecei a argumentar, ele se voltou e começou a procurar mais madeira no mato. Nunca falei com ele. Vi-o perambular pelo campo, completamente absorto em cada um de seus movimentos, totalmente concentrado na tarefa simples de catar madeira colocá-la na sacola. Notei o modo como se abaixava, a deliberação com que estendia os braços as mãos, e percebi que estava observando um artista. Não um artista que pintava ou esculpia em madeira ou metal, mas, um artista que vestia roupa de segunda mão e se movia com segurança, graça e honradez. Saboreei aquele momento e fui-me embora em silêncio.

Deixei o velho trabalhando calmamente ao lado da linha do trem.

Levei comigo, para casa, um tipo especial de sabedoria.
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[Texto de Jim Ballard]