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Renunciai à vossa pretensa cultura,
E todos os problemas se resolvem.
Oh! Quão pequena parece a diferença
Entre o sim e o não!
Quão exíguo o critério
Entre o bem e o mal!
Como é tolo não respeitar
O que merece ser respeitado de todos!
Ó solidão que me envolve todo!
Todo o mundo vive em prazeres
Como se a vida fosse uma festa sem fim,
Como se todos sorrissem em perene primavera! –
Somente eu estou só...
Somente eu não sei o que farei...
Sou como uma criança que desconhece sorriso...
Sou como um foragido
Sem pátria nem lar...
Todos vivem em abundância
Somente eu não tenho nada...
Sou um ingênuo, um tolo...
É mesmo para desesperar...
Alegres e sorridentes andam os outros!
Deprimido e acabrunhado ando eu...
Circunspectos são eles, cheios de iniciativa!!!
Em mim, tudo jaz morto...
Inquieto, como as ondas do mar,
Assim ando eu pelo mundo...
A vida me lança de cá para lá,
Como se eu fosse uma folha seca...
A vida dos outros tem um sentido,
Eu não tenho razão-de-ser...
Somente a minha vida parece vazia e inútil;
Somente eu sou diferente de todos os outros –
...
E no entanto - sossega meu coração!
Tu vives no seio da mãe do Universo.
Explicação: À primeira vista parece estranho esse pessimismo do autor, esse lúgubre desânimo da vida, que lembra os lamentos de Job. Mas, não convém esquecer que todo o homem que deixou a sociedade dos profanos, tem de inicio, a sensação de uma solidão imensa, de um Saara sem oásis; sente-se exilado, sem pátria nem lar. O homem espiritual se sente desambientado aqui na terra; ninguém o compreende; todos o consideram como um estranho, não pertence ao nosso mundo. O próprio Jesus passou por esses transes: “As raposas têm suas cavernas, as aves têm seus ninhos – o Filho do Homem não têm onde reclinar a cabeça”. E a seus discípulos diz ele: “Por causa de mim e do Evangelho sereis odiados de todos...”. “Bem-aventurados os que choram...”
Ao descer do Tabor, ele exclama: “Ó geração perversa e sem fé!, até quando estarei convosco? Até quando vos suportarei?”...
Mas esta aparente solidão e abandono do homem espiritual é a “Comunhão dos Santos”, a mais bela companhia do Universo, como Lao-Tse lembra nas últimas linha. É o total abandono de Job - que estava na companhia de Deus, no coração do Universo. Abandonado se sente o ego - bem amparado está sempre o Eu. “Meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste?...Pai, em tuas mãos entrego o meu espírito.”
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Lao-Tse_Tao Te King