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Que vale mais:
Meu nome de família ou meu Ser?
Que é mais meu:
Minhas posses externas ou meu intimo Ser?
Que me é mais importante:
Meus lucros ou minhas perdas?
Quem prende seu coração a algo
Está preso.
Quem deseja possuir tesouros
É um pobre possesso.
Quem vive satisfeito
É feliz com os satisfeitos.
Quem respeita os seus limites
Não corre perigo.
Isto gera verdadeira serenidade.
De dentro vem o que por fora se revela.
Explicação: Lao-Tse joga com os conceitos “algo ou alguém”. O homem-ego dá imensa importância aos algos, às coisas, aos fatos, porque vive coisificado pelo mundo das facticidades fictícias, que ele confunde com a própria Realidade. O homem profano é governado pelo espírito gregário do rebanho, da tribo, da família, do grupo, da sociedade, que são coisas engedradas pelo ego. O homem profano não descobriu ainda a sua individualidade indivisa e indivisível, o seu átomo, como diriam os gregos. Conhece, quando muito, a sua personalidade, a sua “máscara”, que ele confunde com o Eu da sua individualidade. Conhece as coisas impersonais [objetos, dinheiro, divertimento], ou então a coisa personal [seu ego] – conhece algos, os teres, os fazeres do seu ego, mas ignora o alguém do seu ser real. O homem profano é essencialmente um idólatra que adora falsos deuses: os algos impersonais, ou o algo personal, mas nada sabe do alguém supra-personal do seu Eu. Conhece e adora o que ele tem, ignora o que ele é. A realização interna não produz necessariamente as realizações externas. O homem espiritual não é necessariamente rico, como ensina um superficial pragmatismo. Mas é sempre feliz.
Como para um sábio é difícil ser rico – assim para um rico é difícil ser sábio.
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Lao-Tse_Tao Te King