20 de jul. de 2011

John Dewey _ Instrumentalismo

O que distingue Dewey é a indisfarçada integridade com que aceita a teoria da evolução. Espírito, assim como corpo, são para ele órgãos que na luta pela existência evoluíram de formas inferiores. Seu ponto de partida em cada campo é o darwinismo.  

  • Quando Descartes disse: “A natureza das coisas físicas é mais facilmente concebida quando vistas entrarem em existência de modo gradual do que quando são consideradas como produzidas de jacto e já em estado perfeito”, o mundo moderno tornou-se consciente da lógica que dali por diante o iria controlar, lógica de que a ‘A Origem das Espécies de Darwin’ é o ultimo desenvolvimento cientifico...Quando Darwin disse das espécies o que Galileu disse da terra – ‘e pur si muove’, emancipava de uma vez por todas e entronizava as idéias genéticas e experimentais como um ‘organon’ de propor questões a atender explanações.

As coisas têm, portanto, de ser explicadas pelo seu lugar e função no meio, em vez de por causa sobrenatural. Dewey é francamente naturalista; declara que ‘idealizar e racionalizar o universo é uma confissão de inhabilidade para dominar o curso das coisas que especificamente nos concernem”. Olha com desconfiança a Vontade de Schopenhauer e o ‘élan’ bergsoniano; podem existir, mas não há necessidade de adorarmo-los porque essas forças-mundo podem ser também destrutivas de tudo que o homem cria e reverencia. A divindade está dentro de nós, não nessas forças cósmicas neutras. “A inteligência desceu do solitário isolamento da fimbria das coisas, de onde operava como um imóvel motor e ultimo bem, para tomar assento na agitação da vida dos homens”. Devemos ser fieis à terra.

Como um bom positivista brotado de Bacon, Hobbes, Spencer e Stuart-Mill, Dewey repele a metafísica como um eco e um disfarce da teologia. O embaraço da filosofia tem sempre  sido que seus problemas se misturavam com os da religião. “Platão começou a sua filosofia com o senso da sua missão essencialmente política – reconhecimento de que os seus problemas eram organização e ordem social. Mas breve perdeu o pé e enveredou-se pelos sonhos de um outro mundo”. Na filosofia alemã o interesse pelos problemas religiosos defletiu o curso do desenvolvimento filosófico; na filosofia inglesa o interesse social sobrepujou o sobrenatural.  Durante dois séculos rugiu a guerra entre o idealismo, que refletia a religião autoritária e a aristocracia feudal, e o sensacionalismo, que refletia a fé liberal de uma democracia progressiva.

Não está terminada ainda essa guerra e por isso não estamos completamente imersos da idade média. A era moderna começará quando o ponto de vista naturalista for adotado em todos  os campos. Isto não quer dizer que o espírito fica reduzido a matéria, mas que o espírito e a vida, em vez de compreendidos em termos teológicos, o serão em termos biológicos, como um órgão ou um organismo dentro de um meio-ambiente, atuado e reagente, moldado e amoldador. Precisamos estudar, não ‘estados de consciência’, mas modos de reação. “O cérebro é primariamente um órgão de conduta de um certo tipo, e não órgão para conhecer o mundo”. Pensamento é um instrumento de readaptação; é um órgão do mesmo modo que as pernas ou os  dentes. Idéias são contatos imaginados, experiências em ajustamento. Não ajustamento passivo, não simples adaptação spenceriana. “A completa adaptação ao meio-ambiente significa morte. O ponto essencial em toda reação é o desejo de controlar o meio ambiente”.  O problema da filosofia não consiste em como poderemos conhecer um mundo externo, mas como poderemos aprender controlá-lo e refazê-lo, e em que rumos. A filosofia não é a analise da sensação e do conhecimento [isto se chama psicologia] mas a síntese e a coordenação do conhecimento e do desejo.

Para compreender o pensamento devemos observá-lo quando surge em situações especificas. O raciocínio não começa com premissas e sim com dificuldades; depois concebe uma hipótese, que se torna conclusão para a qual ele procura as premissas; finalmente submete a hipótese à observação e a experiência. “A primeira característica do pensar é enfrentar os fatos – inquérito, minucioso e extensivo exame, observação”. Há aqui pouco espaço para o misticismo.

Temos depois o pensamento no campo social, o qual ocorre não somente em situações especificas, mas ainda em meios de cultura. O individuo é tanto um produto da sociedade como esta o é do individuo; mas uma vasta rede de costumes, maneiras, convenções, línguas e idéias tradicionais jaz sempre distendida para receber cada nova criatura que nasce e moldá-la à imagem do povo a que pertence. Tão rápida e completa é a operação desta hereditariedade social que freqüentemente se vê confundida com a hereditariedade física ou biológica. O próprio Spencer admitia que as categorias de Kant, ou hábitos e formas de pensamento, eram nativos no individuo, embora todas as probabilidades sejam de serem transmissões de hábitos sociais dos adultos para as crianças. O papel do instinto é em regra exagerado, e o papel do treino inicial da criança é em regra menosprezado. Os mais fortes instintos, como sexos e belicosidades, tem sido consideravelmente modificados e controlados pelo treino social; e não há razão para que outros instintos, como o de aquisição e dominação, não sejam igualmente modificados pela influencia social e a educação. Temos de eliminar a idéia de uma natureza humana imutável, bem como a de um meio ambiente irredutível. Não há limite cognoscível à mudança ou ao crescimento; e talvez nada seja impossível – e só o pensamento crie impossibilidade.

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