O leitor não necessita guia para apreender os novos e velhos elementos do sistema de James. Faz ele parte da guerra entre a ciência e a religião; é outro esforço, como o de Kant e Bergson, para salvar a velha fé das unhas do materialismo mecanicista. O pragmatismo tem suas raízes na “razão prática” de Kant; na exaltação da vontade, de Schopenhauer, na noção darwiniana da sobrevivência do mais apto [e também da idéia mais verdadeira]; no utilitarismo que mede tudo em termos de uso; nas tradições empíricas e indutivas da filosofia inglesa; e, finalmente, nas sugestões do cenário americano.
Como já tem sido apontado, se não na substancia pelo menos na maneira de apresentar-se, o pensamento de William James é especifica e unicamente americano. O ardor dos americanos pelo movimento e pela aquisição enche as velas do seu estilo e do seu pensamento, dando-lhe uma alegre e quase aérea mobilidade. Huneker denominou-o “filosofo para os filistinos”, e realmente há nele algo de homem de negócios. James fala de Deus como de um artigo a ser vendido a um consumidor de espírito materialista, e o anuncia com todas as seduções técnicas da propaganda comercial; aconselha-nos a crer como se aconselhasse uma inversão de capitais a longo prazo, suscetível de altos dividendos, onde não há hipótese de perder e há todo um outro mundo a ganhar. James foi a reação da defesa do jovem povo americano contra a metafísica e a ciência européias.
O seu teste da verdade era sem duvida bem antigo; e o honesto filosofo descreve muito modestamente o pragmatismo como “novo nome de um velho modo de pensar”. Se seu teste significa que a verdade é o que foi provado por experiência e experimentação, a resposta é: Sem duvida. Se significa que a utilidade pessoal é um teste da verdade, a resposta passa a ser: Não. Utilidade pessoal é meramente utilidade pessoal; só a utilidade permanente e universal constitui verdade. “Quando o pragmatista quer que uma crença tenha sido verdadeira unicamente porque foi útil, embora esteja hoje provada como falsa, está emitindo um contra-senso, porque na realidade se trata de um erro útil, não de uma verdade.
O que William James pretendeu fazer foi limpar de teias de aranha a filosofia; desejava repor em caminho novo e desimpedido a velha atitude inglesa para com a teoria e a ideologia. Continuou o trabalho de Bacon, voltando uma vez mais o rosto da filosofia para o iniludível mundo das coisas. William James será relembrado pela sua ênfase empírica, antes que pela sua teoria da verdade; e será honrado talvez mais como psicólogo do que como filosofo. Bem sabia ele não ter encontrado solução para os velhos problemas e francamente admitia haver proposto apenas uma nova fé. Na sua secretaria, quando morreu, foi encontrado um papel no qual lançara a mais característica das suas sentenças:
· “Não há conclusão. Quem é que concluiu que podíamos concluir? Não há fortuna a ser lida, nem conselho a ser dado. Adeus”.
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