19 de set. de 2010

A Época e os Mistérios de Akhenáton

Akhenáton é um dos mais singulares e controversos personagens do mundo antigo. Desde há meio século sua vida tem sido comentada em várias línguas e em numerosos livros e artigos. Nos últimos anos, tem sido comum narrativas populares, como as  que foram escritas por Francis Giles e Immanuel Velikosky, apresentarem um libelo ‘contra’ o ‘idealismo romântico’ dos primeiros egiptólogos, como E.A.W. Budge e James Breasted. Com freqüência, as opiniões mais extravagantes de egiptólogos modernos, como Alan Gardiner e Cyril Aldred, são perpetuadas, embora, em alguns casos, o próprio cientista tenha mudado de opinião. Essas inúmeras declarações conflitantes ou polêmicas dão origem a muitos dos ‘mistérios’ que envolvem Akhenáton e sua época. Que conhecemos realmente sobre Akhenáton? Que é realmente duvidoso, e qual foi sua ligação com os Mistérios de Osíris?

Nossa história começa quatorze séculos antes de Cristo, num Egito rico e poderoso. As guerras vitoriosas do Novo Império haviam assegurado, ao Egito, o domínio do mundo então conhecido.

Com o comércio, toda a riqueza do mundo afluiu para o Egito. ‘No Egito, o ouro é tão comum quanto o pó’, escreveu Tushratta, Rei de Mitanni. Talvez a extravagância das exorbitantes oferendas feitas ao deus Amon, e a influência da poderosa classe sacerdotal tebana, tenham levado Amenhotep III  a compreender que o crescente poder dos sacerdotes representava um perigo para a casa real. Isto explicaria por que Amenhotep III preferia outros deuses a Amon, especialmente Horakhty [Hórus do horizonte]. Sob o reinado de Amenhotep III, vemos a arte tornar-se menos rígida e novas experiências artísticas serem tentadas. Sua escultura, hoje no Museu Britânico, é um exemplo. Assim, está preparado o cenário para o aparecimento singular de Amenhotep IV, filho de Amenhotep III e sua ilustre esposa, Tiy.

Amenhotep IV cedo mudaria seu nome para Akhenáton. Seu reinado, de dezessete anos [1364 – 1347 a.C] transcorreu aproximadamente no final da 18ª Dinastia, período também notável por sua admirável arte idealista. A cidade por ele fundada, Akhenáton, embora abandonada até transformar-se em ruínas, foi alvo de  intensas investigações arqueológicas. Começando em 1891, a cidade e as tumbas das proximidades de Tell al-Amarna, como é hoje conhecida, foram submetidas a meticulosa investigação, primeiro por Sir Flinder Petrie e depois pela Deustsche Orient Gesellschaft e pela Sociedade Egípcia de Pesquisa. As escavações foram como uma bomba para os historiadores da arte. Algumas das maravilhas descobertas foram reunidas no livro ‘La Statuaire de Tell el Amarna’ [As escrituras de Tell al-Amarna].

Como jovem, Akhenáton se nos apresenta com olhos sonhadores, boca sensual, e lábios e queixo salientes.

Suas estátuas mais caricaturais aparecem no principio de seu reinado. Posteriormente, a arte tornou-se mais delicada e quase clássica, sob os reinados de Smenkhare e Tutankhâmon.

Os estudiosos escreveram centenas de paginas analisando o que denominam mal de Akhenáton, tentando explicar seu abdômen, que mais parece o de uma mulher do que o de um homem. Uma escultura, provavelmente inacabada, é representativa desta controvérsia, por apresentar o corpo nu, mostrando um imenso ventre,sem órgãos genitais. Os escritores vão ao ponto de propor a possibilidade de que Akhenáton fosse eunuco, o que é impossível. Akhenáton é sempre representado com suas filhas. Não relacionaremos os nomes das doenças que foram apresentados para explicar a curiosidade desta estátua. Mas a explicação talvez deva ser formulada ‘de modo simbolico’. Diz um texto que Akhenáton é ‘o pai e a mãe de  todas as coisas’, o que o torna uma força primeva do poder cósmico. Não é de surpreender, portanto, que, como força cósmica, fosse ele representado assexuadamente.

Aparentemente, Akhenáton foi coroado em Tebas, e tinha extremo interesse por assuntos religiosos. Em seguida à sua elevação ao trono como co-regente, foi-lhe concedida uma esposa [Nefertiti] e um harém. A tradução do nome Nefertiti com ‘a bela que veio’ fez com que se pensasse que ela poderia ser uma princesa mitanniana, ou até mesmo Tadukhipa, filha de Tusharatta. Entetanto, não parece ser este o caso. Também se falou de uma ligação de Tiy, mãe de Akhenáton, com Mitanni. Os pais de Tiy, porém, eram egípcios de origem plebéia, Iouiya e Thouiyou. Muitos egiptólogos concordam que os pais de Nefertiti era Ay e Tey.

SMENKHKARE
Ao nosso ano de seu reinado, Akhenáton e Nefertiti tinham seis filhas. A mais velha das princesas reais, Meritáton, casou-se com Smenhkhare; a segunda, Meketáton, morreu ainda jovem; e a terceira, Akhesenpaáton, casou-se com Tutankhâmon.

Não conhecemos ao certo a filiação de Smenkhkare, ou de Tutanlhâmon, seu sucessor imediato. Segundo F. Giles, eles poderiam ser filhos de Akhenáton com outra mulher que não Nefertiti. Os filhos reais jamais eram representados nos relevos de Tell al-Amarna [Amarna]. Um rei de Mitanni, contudo, escreve a Akhenáton perguntando acerca da saúde de ‘teus filhos’ isto pode significar que os dois herdeiros fossem realmente filhos naturais de Akhenáton. Numa escultura – o Leão de Soleb – na Núbia Sudanesa, Tutankhámon chama Amenhotep III de ‘meu pai’;isto, porém, pode simplesmente significar ‘avô’, como ocorre em outros casos semelhantes. Na tumba de Tutankhámon foram encontrados objetos pessoais pertencentes a Akhenáton, bem como uma mecha de cabelos de Tiy. Porém, se Tiy houvesse realmente sido a mãe de Tutanhkhâmon, como muitos supõem, ela deveria ter 54 anos quando ele nasceu. É verdadeiramente inacreditável pensar que tal prodígio clinico pudesse haver ocorrido.

Muitas noções falsas se desenvolveram em torno do caráter singular de Akhenáton. Por exemplo: afirmou-se, no passado, que Akhenáton era monogâmico. Contudo, isto carece de confirmação, pois sabe-se que Akhenáton teve outra esposa, chamada Kia.

Á época de sua coração, o jovem rei era conhecido como ‘Nefer-Kheperu-rê’ “Amenhotep”, cuja tradução é ‘belas são as transformações de Rê’; Amon,[o Oculto] está satisfeito’. Porém, no quinto ano de seu reinado, ele mudou a ultima parte de seu nome para ‘Uan-rê Akhenáton’, ou seja, ‘o único de Rê, devoto de Aton’. Ao tempo em que mudou seu nome, Akhenáton já estava edificando sua cidade, Akhetáton’, ‘o horizonte do Disco Solar [Áton]’.

ÁTON
Contrariamente a algumas opiniões, Akhenáton não estabeleceu um novo culto a Áton. Áton é o Disco do Sol, conhecido com oÁton ou Áten desde a 5ª Dinastia, no baixo Egito. Na pirâmide de Unas, em Sakkara, perto de Mênfis, Áton já aparecera  dotado de mãos, característica das representações do Disco com mãos encontradas em Amarna. Contudo, o nome de Áton apresentava variações ao tempo de Akhenáton. No principio do seu reinado, Áton era chamado ‘Viva rê-Horakhty, jubilante no horizonte’, ‘em seu nome, Shu, que está em Áton’. Posteriormente, esse nome foi mudado para: ‘Possa rê, que governa os dois horizontes, viver, jubilante no horizonte; Em seu nome, do pai, que vem como Áton’. Tais títulos podem ser empregados para estabelecer as fases do período Amarna.

A decisão de Akhenáton de se estabelecer em sua nova residência, conhecida hoje como Tell al-Amarna, ou Amarna, foi provavelmente um alivio para seu pai, então ocupado com a construção de um novo templo a Amon, em Lúxor, perto de Tebas. Na nova sede, distante de Lúxor, seu co-regente Akhenáton, poderia prosseguir em suas experiências místicas e religiosas, enquanto o restante da vida egípcia era conduzido como de costume. Sabemos que o reinado de Akhenátopn durou não mais do que dezessete anos, dos quais apenas quatro teriam transcorrido em Amarna.

Vários templos dedicados a Áton ali foram erigidos, e uma cidade inteira foi criada. Nas colinas de Amarna podem ser encontradas as tumbas dos nobres, de grande interesse para o estudo da arte de Amarna e dos fatos históricos que estão ainda para ser extraídos dos textos amarnas. Tudo isto pode ser encontrado nos seis volumes de N. de G. Davies, ‘The Rock Tombs of el Amarna’ [As Tumbas de Pedra de al-Amarna].

Se havia ou não uma co-regência entre Akhenáton e seu pai, é problema que tem sido decididamente negado ou afirmado pelos mais sérios egiptólogos e historiadores. Gardiner fundamenta seu argumento de que Akhenáton subiu ao trono após a morte do pai em sua interpretação das  cartas de Tell al-Amarna. Em 1958, H. Helck apresentou mais extensa argumentação contra a co-regencia; todavia, mesmo a estes argumentos falta comprovação. Creio que a questão ‘pró co-regência é mais consistente’, além de se tratar de uma TEORIA que poderá contar com indícios ainda mais fortes, à medida que o túmulo de Akhenáton, em Karnak, seja reconstruído.

O pai de Akhenáton reinou aproximadamente durante um total de quatro décadas. Não sabemos onde morreu. A múmia a ele atribuída pode ser a de um rei bem posterior. Com a morte de seu pai, diminuiu a repressão ao arrebatamento religioso de Akhenáton, e encontramos mutilações dos nomes de Amon, Mut e Khonsu em centenas de monumentos. As evidencias dessas deturpações parecem haver cessado mais ou menos à época em que o Faraó Akhenáton, por sua vez, nomeou seu genro Smenkhkare co-regente. Contudo, Smenkhkare foi sepultado sem cerimônias especiais, numa tumba inacabada, em Tebas, após somente quinze meses  de co-regencia. Giles acredita que Akhenáton e Smenkhkare foram assassinados ao mesmo tempo. No entanto, como em outras hipóteses infundadas, não dispomos da evidencias comprovadora do corpo de Akhenáton. Mas, estamos nos avançando à nossa história.

Uma das mais extraordinárias controvérsias em torno da patologia de Akhenáton surgiu quando se verificou que a múmia que se pensava ser da Rainha Tiy era de um homem. A tumba inacabada, que se dizia ser a de Tiy, parece agora haver sido um deposito de objetos ritualísticos, tais como as quatro tabuletas mágicas dos primórdios do reinado de Akhenáton, chamando-o Osíris; selos estampando o nome de Tutankhámon; e a urna funerária de Tiy. Nesta urna, o nome de Áton é o ultimo titulo, e aparecem também os nomes de Amenhotep III e Akhenáton. Portanto, podemos estar certos de que Amenhotemp III ainda era vivo quando Akhenáton ofertou a urna a Tiy. Se seu pai estivesse morto, teriam sido empregadas as palavras ‘ma kheru’ ‘fiel a seus votos’ [falecido]. O corpo atribuído a Tiy, depois a Akhenáton, foi identificado como sendo o de Smenkhkare. Por toda parte, o nome de Smenkhkare encontra-se rasurado, mas comprovou-se que o grupo sanguíneo é o mesmo do seu irmão Tutankhamon.

A controvérsia que envolve Akhenáton não acaba aqui. Formulou-se a hipótese de que Akhenáton pode haver sido homossexual. Isto parece não passar de um disparate. A única prova apresentada foi uma Estela em que Akhenáton e Smenkhkare estão sentados juntos num trono. Akhenáton é apresentado segurando o queixo de Smenkhkare. Contudo, se Smenkhkare fosse filho de Akhenáton, o que é possível, seria esse apenas um gesto paternal. Outra Estela apresenta Smenkhkare servindo vinho numa taça que Akhenáton está segurando. A cena pode significar nada mais do que outra das cenas domesticas familiares, freqüentes no estimo amarna.

Sucedendo Akhenáton no trono, subiu Tutankaton, de onze anos, mais provavelmente outro parente próximo e, possivelmente, seu filho. Após vários anos de reinado em Tell al-Amarna, Tutankhatón finalmente abandonou o ‘horizonte de Aton’ e transferiu a sede do poder novamente para Tebas. Lá, todavia, seu reinado teve curta duração, pois Tutankhaton, que teve de mudar seu nome para Tutankhamon, morreu aproximadamente sete anos após sua coroação. Embora tenha aderido ao culto de Amon, algumas peças de mobília encontradas em sua tumba são provenientes de Amarna e apresentam ainda seus dois nomes.

Muitas das discussões que conduzem à controvérsia em torno do caráter de Akhenáton poderiam ser desnecessárias se observássemos mais detidamente a ligação de Akhenáton com os Mistérios de Osíris, que  personifica, em vez da morte, ‘o principio da eterna recompensa e da Ordem Cosmica’.

Alguns textos por vezes afirmam que Akhenáton era vivente em Maat, ou seja, na verdade, o que confirma, para alguns, a crença de que o primitivo estilo caricatural da arte armana, especialmente as peças que o representam como um Osíris, na verdade mostram a aparência do rei atonista na vida real.

Num estudo de R. Anthes, Die Maat des Echaton’s, Maat foi em geral traduzida pelas palavras ‘verdade e justiça’. Maat, porém, é mais do que isto. Maat significa ‘Ordem Cósmica’. O conceito de Maat com Ordem Cósmica foi provado por C. Bleeker num estudo em holandês: ‘De Beteekenis van de Egyptische Godin Maat’. Esta obra merece ampla divulgação. Em síntese, Maat era a mais elevada oferenda que o rei ou os altos sacerdotes podiam fazer no templo. Nos templos de Edfu e Denderah, Maat é  encontrada no santuário como a última oferenda que o rei fazia ao deus. O hieróglifo que simboliza Maat representa um canteiro oblongo de terra cultivável. Posteriormente, esse hieróglifo adquiriu significação cósmica, ao passar a ser empregado como um pedestal para os deuses cósmicos, como Min e Osíris. Dizia-se que os deuses, ou os tronos, ‘firmavam-se na Ordem Cósmica’.

ETERNO RENASCIMENTO
A simbólica ‘masculinidade’ do deus cósmico Min representava o ‘principio da fertilidade’. Osíris, tido comumente como  deus dos mortos, era mais do que isto.

Poucos se dão conta de que Osíris representava ‘o principio do eterno renascimento’. Alguns autores tomam Osíris como deus da vegetação – aquele que morre e ressuscita, como na história mitológica de Osíris, Isis e Hórus. Todavia, Osíris não era Nepri, o deus do milho, mas, como principio do eterno renascimento, era ele relacionado com o ressurgimento do grão. Da mesma forma, Osíris não era o Nilo. O deus da inundação era Hápy. Contudo, Osíris era relacionado à inundação do Nilo em razão de ser o principio do eterno renascimento.

Ao ligar-se ao principio do eterno renascimento, Akhenáton acresceu a perenidade da natureza à religião abstrata do  Disco Solar. Talvez, para Akhenáton, o horror da morte, na vida, se convertesse na vida eterna. Podemos apenas concluir que meio século de investigação, análise e polemica, não reduziu o mistério ou a sedução do idealista Akhenáton. Se algo disso resultou, foi o aprofundamento de nossa atual curiosidade em relação a seu sonho, sua  tragédia e seu mistério; a intensificação do antigo idealismo romântico no coração de cada pesquisador que almeja sondar as profundezas artísticas, religiosas e místicas, da época de Akhenáton. Afinal, há em todos nós a necessidade de compreender o mistério e a pungência dos nossos próprios sonhos, que aguardam sua realização e seu renascimento definitivo numa nova era.
_
É melhor pensar por si mesmo e ocasionalmente cometer erros, do que estar certo apenas porque segue a maneira de pensar de uma outra pessoa.
_
[Texto de Constant de Wit, Ph.D_Conselho Internacional de Pesquiza]           

12 de set. de 2010

A Visão Mistica da Vida

Grande parcela da humanidade geralmente considera o intelecto, a mente racional, o mais elevado nível de consciência possível ao homem, e que os problemas da vida podem ser solucionados unicamente por meio dele. O místico discorda deste ponto de vista, ciente de que há níveis de consciência muito superiores ao intelecto, que é limitado em sua função.

O modo místico de solucionar os problemas da vida consiste primeiro em empregar a mente racional até o limite de sua capacidade, e, em seguida, transferir o assunto para o Eu interior, permitindo que os níveis mais elevados de consciência forneçam uma solução. O emprego exclusivo do intelecto faz lembrar alguém que dirigisse um carro em primeira, sem se dar conta de que há outras marchas para serem utilizadas.

Para se compreender a visão mística da  vida é primeiramente necessário definir o ser humano do ponto de vista místico. O homem é um ser físico e espiritual. O misticismo sustenta que o Eu interior, a verdadeira essência do homem, é uma entidade divina – imortal, ilimitada, impoluta, sagrada. O organismo humano é um veiculo físico através do qual o Eu interior pode manifestar-se no mundo material. O Eu interior é o Ser real do homem, integrando o aspecto divino da existência humana. Os aspectos físico e espiritual constituem duas realidades diferentes operando em harmoniosa correspondência.

Na vida cotidiana – tomando decisões, relacionando-se com outras, cuidando de si mesma, etc -  toda pessoa revela sua personalidade individual. Em nenhum individuo, porém, a personalidade é imagem perfeita da alma, porque se manifesta através dos componentes exteriores do organismo e da consciência objetiva. A tarefa do Eu interior é levar a consciência objetiva a uma condição em que possa reconhecer-se como expressão e reflexo do Ser interior – em que possa reconhecer o Eu interior*, e buscar mesmo sua orientação para todos os aspectos de sua vida no mundo exterior.

A voz do Eu interior – essa voz intima – pode ser muito forte, mas pode também ser muito sutil. Inúmeros indivíduos tem dificuldade em reconhecer a voz sutil do eu interior. Após anos vividos apenas no mundo exterior, no mundo material, descrêem da existência dessa voz em si mesmos, e, por conseguinte, ficam privados de sua valiosa orientação e sabedoria.

PERSONALIDADE
A personalidade de um individuo forma-se através de muitos anos de desenvolvimento. É moldada por experiências do mundo exterior e influenciada pelo modo como tais experiências são incorporadas e compreendidas pelo individuo. Porém, de modo ainda mais relevante, a personalidade é moldada pelas lições marcantes que o individuo aprenda durante a sua vida. Tais lições nascem de refletirmos sobre nossas experiências, e de nos harmonizarmos com o Eu interior em busca de orientação e maior compreensão. Naturalmente, cada um de nós traz para esta encarnação o inestimável conhecimento acumulado em milhares de experiências do passado. Este conhecimento exerce indiscutível influencia em nosso atual período de vida particularmente quando nos harmonizamos como Eu interior. Vivemos muitas experiências em encarnações passadas, que poderão nos valer na vida presente, se aprendermos a nos harmonizarmos com o Eu interior para receber orientação.

O momento presente, e apenas o momento presente, é realmente vivido. Esta centelha de consciência, ‘o agora’, percorre o ‘tempo’ qual ponto de luz traçando um rastro luminoso na escuridão. Este ‘agora’ que tudo abrange é a manifestação da personalidade anímica na matéria – a consciência humana.

A consciência humana criou, por conta própria, uma ilusão popularmente chamada ‘ego’. Os psicólogos definem o ‘ego’ como ‘a parte consciente da personalidade’. É o aspecto da personalidade que se ocupa do mundo material. Poderíamos chamá-lo de Eu exterior. Nestes termos, o ego, ou Eu exterior, é o traço luminoso desse instante de consciência a que chamamos presente – o agora.

A consciência humana acredita de modo irrestrito que o ego por ela criado seja real. Na verdade, porém, é ele a reminiscência daquilo que já existiu. Não tem existência real independente da que lhe atribui a mente racional, por nele crer. O ego domina a personalidade porque a consciência está para ele voltada. Se, ao contrário, a consciência estivesse mais voltada para o Eu interior, o domínio do ego na personalidade de certo modo cessaria. Na prática, essa propensão da consciência para o Eu interior, essa confiança na sua orientação, é parcial. A libertação do domínio do ego ocorre na proporção direta do grau em que a propensão da consciência é reorientada.

Para aclarar estas noções, examinemos os conceitos que muitas pessoas fazem acerca de si mesmas e de outras. Excluindo-se as características físicas, uma pessoa é reconhecida por suas qualidades. Conseqüentemente, pode-se dizer que uma pessoa é gentil ou grosseira, honesta ou desonesta, feliz ou infeliz, etc. Isto constituiria o que se acha que a pessoa é. Porém, boa parcela das idéias que fazemos das pessoas depende de aspectos superficiais da sua personalidade. Na realidade, como é a pessoa interiormente? Até que ponto nossa opinião acerca de um individuo é falseada por nossas próprias emoções e carências – por nosso Eu exterior? Até que ponto se alicerça na experiência passada? [Tenhamos em mente que todos mudamos interiormente à medida que o tempo passa e vivemos novas experiências]. Por esta mesma razão, freqüentemente a imagem que fazemos de nós próprios também não e fiel. Poder-se-ia dizer que até certo ponto é uma ilusão que criamos para explicar nosso ser a nós mesmos. As maquinações do intelecto são proveitosas apenas quando refletem a realidade que somos, e não o ego, que não somos.

Como antes afirmamos, o Eu interior tem sobre si a tarefa bastante difícil de criar condições para que o Eu exterior venha a reconhecer a presença do divino Ser interior, e ativamente buscar sua orientação. Naturalmente, o processo é complicado pelas influencias do organismo físico e do mundo material em que vivemos, que nos predispõem a considerar real o mundo exterior. Mesmo quando um individuo toma a decisão consciente de seguir os ditames do Eu interior, sobrevém um longo período em que tal decisão é testada por eventos do mundo exterior.

Porém, o individuo deve persistir desenvolvendo o vinculo com o Eu interior, confiando em sua orientação. Em muitos sentidos, é este um processo de esclarecimento, pois, à medida que mais prontamente ouvimos a voz interior, tornamo-nos capazes de melhor perceber e compreender. Nosso desenvolvimento se acelera, e nos tornamos capazes de realizar transformações mais positivas e construtivas em nossa personalidade exterior.

Uma vez que a ilusão do ego seja substituída pela realidade do Eu interior, o intelecto torna-se aquilo para que foi destinado – um maravilhoso instrumento da mente, utilizado sob a orientação da personalidade anímica, de modo que espiritualidade e verdade manifestem-se em todos os seus níveis de expressão.
_

[Texto de Fred Flanagan]

11 de set. de 2010

Ideias polêmicas rondam o 11 de Setembro nos EUA

Queimar o Alcorão e a suposta autoria do governo americano nos atentados de 2001 são algumas das ideias controversas.

Além de desatar o pânico, as guerras no Afeganistão e no Iraque, e de prejudicar a convivência entre os mundos muçulmano e Ocidental, o 11 de Setembro produziu extremismos e teorias controversas, especialmente dentro dos Estados Unidos.
O pastor da Flórida Terry Jones, que chamou a atenção ao propor a queima do Alcorão para marcar o novo aniversário do 11 de Setembro, é o mais recente de uma lista de personagens com ideias polêmicas relacionadas aos ataques. Além dele, há grupos cristãos de extrema direita e intelectuais que contestam até hoje a autoria dos atentados de 2001, que deixaram quase 3 mil mortos em Nova York, Washington e Pensilvânia. Para alguns, o governo americano - então liderado pelo presidente George W. Bush (2001-2009) - não foi apenas cúmplice como participou ativamente do planejamento dos ataques que chocaram o mundo e configuraram um novo xadrez na geopolítica mundial.

A seguir, algumas das principais vozes polêmicas em torno do 11 de Setembro.
Terry Jones  O pastor da Flórida conseguiu ser o centro das atenções nas últimas semanas. Líder da Igreja Dove World Outreach Center, Jones - que tem antecedentes complicados com a seita Comunidade Cristã de Colônia, que chefiava na Alemanha nos anos 80 – foi alvo de polêmicas por lançar a campanha de queimar 200 exemplares do Alcorão no nono aniversário do 11 de Setembro. A Dove World comporta um grupo cristão de 50 membros em Gainesville, apresenta-se como encarregada de levar aos fieis a palavra de Deus do Novo Testamento e vende produtos (de livros a camisetas e bonés) pregando o Islã como “diabólico”. A campanha do pastor radical levou a secretária de Estado Hillary Clinton e o presidente Barack Obama a condenar o plano.

Right Wing Extreme  A organização, formada por cristãos conservadores em sua maioria, inicialmente apoiou a iniciativa do pastor Terry Jones. O grupo defende que Obama é um muçulmano que está destruindo a economia e a Constituição dos Estados Unidos e tem uma agenda socialista voltada para uma Nova Ordem Mundial. O recente apoio dado por Obama à construção de um centro islâmico perto do Marco Zero de Nova York - onde ficavam as Torres Gêmeas atacadas em 2001 - é visto pelo grupo como insulto e motivo para despertar o ódio entre os americanos. Para eles, a mídia “esquerdista” satura os leitores com esse assunto em uma tentativa de incitar violência, racismo, intolerância e extremismo.

Kevin Barret – O acadêmico de Wisconsin se viu em meio a polêmicas depois de defender a teoria de que o 11 de Setembro teria sido planejado pelo próprio governo americano. Em seu blog, ele diz que “assumir que os EUA foram atacados por muçulmanos em 11/09 alimenta a percepção de que o Islã é uma religião violenta e os muçulmanos são culpados, antes mesmo de provarem inocência”. Membro do Painel Científico sobre o 11/09, ele é visto por parte dos americanos como ameaça dentro das salas de aula. Recentemente, Barret escreveu uma carta para Obama em favor da construção do centro islâmico em Nova York para “reparar o trabalho interno do 11 de Setembro”.

Morgan Reynolds – Ex-economista chefe do Departamento do Trabalho na administração de George W. Bush, o texano ganhou atenção pública quando se mostrou como o primeiro oficial do governo a culpar as próprias autoridades pelo suposto planejamento dos ataques do 11 de Setembro. É um dos membros da organização Scholars for 9/11 Truth, que questiona a autoria dos atentados. Em sua argumentação, Reynolds ressalta que, em menos de 72 horas após os atentados, Bush fez um discurso sobre a necessidade da união nacional e a coragem que deveriam ter os americanos frente à ameaça que se apresentava: “O conflito começou na hora e nos termos de outros. E terminará da maneira e na hora em que escolhermos.” Além disso, diz não haver nomes árabes na lista de passageiros dos aviões que colidiram com as Torres Gêmeas ou mesmo um vídeo dos suspeitos, dizendo que o FBI não apresentou provas suficientes na época dos ataques.

James Fetzer – O filósofo e acadêmico californiano é uma das vozes que se opõem à versão dada pelo governo americano de que o 11 de Setembro teve autoria de muçulmanos extremistas. Em sua investigação, Fetzer argumenta que o 11 de Setembro serviu para dar sustentação à onda neoconservadora que apoia intervenções e guerras envolvendo os EUA. Também levanta alguns pontos que colocam em xeque a natureza dos ataques, como a temperatura necessária para derreter o aço usado na construção das Torres Gêmeas (1.538 graus), que seria bem superior à temperatura desencadeada pela explosão por combustível de um avião (982 graus).

Gore Vidal – Para o historiador e escritor nascido em West Point (Nova York), o 11 de Setembro é um golpe de Estado liderado pela “Junta Bush-Cheney" (em referência ao presidente George W. Bush - e seu vice, Dick Cheney). No livro O Inimigo Interno (2002), Vidal considera a administração cúmplice dos terroristas. Ele questiona também por que o presidente Bush, também comandante-em-chefe, ficou paralisado em uma sala de aula na Flórida quando soube que os ataques estavam ocorrendo. Em seu ataque ao ex-presidente, ele garante: a principal razão que levaram os Estados Unidos a darem início à guerra no Afeganistão foi o desejo de controlar a passagem de riquezas energéticas para a Eurásia e a Ásia Central.
_

[Texto de Marsílea Gombata, iG São Paulo ]

Como são projetados os Pensamentos

Nestes dias em que tanto se escreve acerca da transmissão do pensamento e do seu efeito sobre as pessoas e as situações, poderia parecer que a projeção do pensamento fosse amplamente aceita como fato, e que não fossem necessários argumentos para comprovar as leis metafísicas evolvidas. Contudo, há muitas pessoas que são cépticas, e há muitas que acreditam que tal manifestação de leis metafísicas seja casual ou acidental, e não conseqüência de um processo objetivo que todos podem estudar, praticar e dominar.

Há não muitos anos, lembro-me, um grande grupo de homens e mulheres reunia-se mensalmente em New York, com o objetivo de investiga e testar esta e outras teorias metafísicas. O fenômeno da projeção de pensamento era então definido como a transmissão de um pensamento conservado na mente de uma pessoa ou de um grupo de pessoas.

Afirmava-se que, pelo emprego de algumas leis místicas recentemente descobertas, a pessoa em cuja mente o pensamento se originara podia, voluntariamente e com êxito, enviar tal pensamento pelo espaço para um dado ponto. De centenas de experimentos realizados  pelos membros da  mencionada sociedade de investigação, apenas cerca de 20 por cento obtiveram sucesso. Quando tinham êxito, não eram realizados de acordo com o processo teórico aplicado em outros experimentos. Além disso, parecia haver um elemento de acaso, que envolvia a manifestação de alguma lei desconhecida que controlava a transmissão e a recepção de pensamentos.

Há determinados princípios envolvidos na projeção do pensamento que são facilmente demonstráveis. Revelam que o processo é devido a certas leis até agora não explicados oficialmente. Cremos que para haver êxito na pratica desta técnica, de muitos séculos, tal êxito se deva tanto ao conhecimento das leis físicas do universo, quanto das leis metafísicas.

A tentativa de psicólogos, místicos e dos chamados ocultistas, para explicar a projeção do pensamento em bases puramente metafísicas, conduziu a experimentação inútil, com a mesma reduzida percentagem de resultados positivos que se verifica sob condições de teste. Não é de admirar que cientistas de tendências materialista e grande parte das pessoas sensatas tenham-se recusado a aceitar as explicações místicas. A tendência de estudante de misticismo e metafísica para escrever e falar inconseqüentemente de coisas cientificas, sem estarem familiarizados com os mais elementares princípios de metafísica e química, cosmologia e ontologia, levou as pessoas de mentalidade cientifica a atirar todos os postulados metafísicos e místicos ao lixo.


Energia e Pensamentos
Compreendemos que o pensamento resulta de certos processos da mente, envolvendo energias mentais concentradas ou postas em circulação, pelos quais essas energias convergem e se organizam numa unidade de expressão. Poder-se-ia dizer que o pensamento se assemelha à faísca produzida por dois fios carregados de energia elétrica postos em contato por um momento, assim concentrando-se a energia neles existente e produzindo-se o instantâneo fenômeno, ou a manifestação de sua energia que chamamos de faísca elétrica.

Um pensamento sustentado durante certo tempo é côo uma centelha prolongada ao se conservar os fios ligados de modo que suas correntes se choquem e invertam rápida e livremente a polaridade, o suficiente para manter a faísca. A única diferença é que o pensamento – completo, perfeito e de nada carente em sua constituição para ser uma expressão perfeita de uma idéia racional – provavelmente se constitui de muitas correntes de energia que se focalizam num ponto, e não apenas duas como no caso dos fios elétricos.

Os cientistas modernos descobriram que a energia e os impulsos nervosos do corpo humano são realmente comparáveis à energia elétrica com que estamos familiarizados. A  energia cerebral, portanto, e a energia utilizada no pensamento, são extraídas da  energia nervosa do corpo e, inquestionavelmente, constituem-se de certa freqüência ou fase da energia vital que se encontra no organismo humano.

Somos tentados, por isso, a comparar o pensamento à centelha produzida no equipamento de transmissão de uma estação de rádio, a transmissão sem fio de sinais limitava-se quase exclusivamente à produção de tais centelhas, pressionando-se uma chave. Supunha-se que esses impulsos elétricos originavam ondas que flutuavam no éter hipotético, em todas as direções, assim produzindo, nos receptores sensíveis, um sinal de natureza idêntica à centelha original. Esta tendência, então, a considerar o pensamento análogo a uma centelha de natureza superior levou-nos a explicações que envolvem, não apenas o suposto éter, mas, também outros elementos hipotéticos.

Do nosso ponto de vista, o pensamento não se transmite como se supõe que a faísca elétrica se transmita através do éter. O pensamento não constitui um distúrbio da  tranqüilidade, da condição estática do éter, produzindo ondas que se irradiem em   todas as direções.

A antiga analogia para esta concepção era a de que uma pedra, jogada na superfície lisa da água, produz ondas que se irradiam em todas as direções, provocando um movimento impulsivo num objeto que esteja flutuando na água a certa distancia. Esta analogia requeria a substituição do meio liquido pelo éter hipotético, pois, se o pensamento fluía em ondas, como as ondas na superfície da água, era necessário que se inventasse algo para tomar o lugar da água.

A IMUTÁVEL MENTE CÓSMICA
Sabe-se hoje que a Consciência Cósmica, ou Mente Cósmica, é uma substancia ou energia uniforme e imutável, de alta freqüência vibratória, que impregna todo o espaço e está em contato real e permanente com a consciência de todas as criaturas vivas. Não é intangível, no sentido de que sua existência não possa ser objetivamente comprovada ou percebida pelas faculdades do homem; mas é invisível e superior a todas as limitações dos elementos físicos constituídos de vibrações inferiores.

Já deve o leitor ter percebido que, ao se entrar numa sala em que todas as portas e janelas estejam fechadas, o abrir ou fechar uma porta faz com que as janelas vibrem suavemente em suas esquadrias. O movimento rápido de uma porta, ou sua movimentação sucessiva, cinco ou dez centímetros para um lado e outro, provocam movimento em outras partes da sala. Isto se deve à atmosfera invisível da sala, que, à semelhança de alguma espécie de substancia sólida, preenche todo o espaço do ambiente, de modo que a pressão aplicada numa extremidade ao se abrir contra ela a porta causa pressão contra as janelas do lado oposto da sala.

Os indígenas podiam perceber a aproximação de cavaleiros distantes, apertando o ouvido contra a terra e ouvindo as batidas das patas dos cavalos no chão. Em regiões isoladas dos Estados Unidos, quando desejava saber se algum trem estava se aproximando da estação, pressionava meu ouvido contra os trilhos e ouvia o ruído do comboio a duas ou três milhas, quando não se podia vê-lo ou ouvi-lo de outro modo. Nestes casos, as impressões de som ou de contato se propagaram através das substancias sólidas, não na forma de ondas flutuando na superfície, mas pela natureza da pressão sobre a matéria sólida, que se transmite automaticamente de um extremo a outro, sem perder sua identidade. Da mesma forma, todas as consciências existentes na terra estão, de algum modo ou em certo grau, em contato com a Mente Cósmica, pois a Consciência Cósmica é simplesmente a soma total das consciências de todas as criaturas  vivas.

Poderíamos comparar esta consciência universal a um imenso tabuleiro de xadrez, com suas casas brancas e pretas. Se marcássemos um pontinho no centro de cada casa e considerássemos o ponto a consciência de uma criatura viva, e o restante da casa ao seu redor a aura ou a consciência de cada pessoa, veríamos que, em razão de se tocarem mutuamente todas as casas, a consciência de todas, e o próprio tabuleiro, realmente constituiriam a consciência universal. Se uma das mentes no centro de um das casas produzisse um impulso de pensamento em sua própria casa, tal impulso seria sentido por todas as outras casas do tabuleiro, exatamente como uma batida numa extremidade de uma tabua seria percebida em qualquer ponto de sua extensão.

Nos primeiros experimentos, anos atrás, verificou-se que algumas pessoas eram mais receptivas às impressões transmitidas do que outras. Isto não significa que tivessem maior contato com a Consciência Cósmica, mas que haviam estimulado, despertado e assim desenvolvido maior grau de sensibilidade às impressões recebidas.

O estudante de musica desenvolve gradualmente maior sensibilidade à freqüência do som e, após algum tempo, é capaz de detectar as mais sutis vibrações na altura de uma dada nota. O pintor é capaz de desenvolver um grau maior de percepção dos matizes de cor. O arquiteto e o desenhista desenvolvem a sensibilidade às linhas retas e curvas e tem aguda percepção da correção horizontal ou vertical de uma linha.

Constatou-se há séculos, que existem exercícios e princípios que podem ser empregados pela pessoa comum para desenvolver as faculdades do Eu interior, de modo que as impressões possam ser recebidas e instantaneamente identificadas. Esse desenvolvimento é sempre acompanhado de intensificação da atividade das faculdades de transmissão de idéias e impressões.

Mesmo que não estão interessados nas leis metafísicas descobrem que determinados resultados positivos se manifestam quando aplicam certos princípios. Isto deve tornar claro que para se alcançar  o desenvolvimento para a utilização das faculdades e funções do Eu interior, deve-se basear em princípios científicos. Facilmente demonstráveis e eficazmente utilizados na promoção do bem-estar do individuo e na superação de condições infortunadas.
_
“O atributo da vida é a consciência. Sem ela, torna-se a vida um mero processo mecânico.”

_
[Texto de H.S.L]          

Constantes inconstantes criam revolução na física?

Resultados recentes de observações astronómicas parecem pôr em causa um dos pilares fundamentais da física moderna: o de que as chamadas constantes fundamentais da natureza são... bem, constantes. Pode parecer um simples pormenor matemático, mas longe disso: se as medições estiverem correctas, o Universo é muito mais misterioso e complexo do que aquilo que pensamos - e, por mero acaso, nós vivemos numa pacífica vizinhança cósmica em que as constantes parecem ter os valores ideais.

Mas esta conclusão está longe de ser consensual, e os resultados estão a causar grande controvérsia na comunidade de astrofísicos. De facto, a serem verdade obrigariam a uma reformulação completa da famosa teoria da relatividade de Einstein, que assenta precisamente no princípio de que as leis da física são iguais em todo o Universo. E esta teoria, testada com sucesso vezes sem conta, é uma das bases mais sólidas do nosso conhecimento actual.

Desde que Newton viu a maçã a cair e teve a inspiração que o levou a formular a teoria da gravitação universal que os físicos sabem que a natureza é regulada por um conjunto de "números mágicos": constantes fundamentais que têm valores universais (isto é, iguais em todo o Universo), e cujos valores não podem ser deduzidos por cálculos, mas apenas medidos experimentalmente. Encontram-se entre estas a constante da gravitação universal, que determina a força com que, por exemplo, as estrelas e os planetas se atraem, ou a constante da estrutura fina (conhecida por alfa), que governa a interacção entre a luz e a matéria. Ninguém sabe por que estas grandezas têm os valores que têm, mas sabe-se que se fossem ligeiramente diferentes o resultado seria caótico: por exemplo, se alfa tivesse um valor apenas 4% diferente, as estrelas não seria capazes de sintetizar carbono e oxigénio - e, logo, a vida como a conhecemos não seria possível. Assim, alfa - que curiosamente tem um valor de cerca de 1/137 - é um dos números-chave mais importantes da natureza.

Mas um artigo agora publicado pelo físico John Webb , da Universidade da Nova Gales do Sul em Sydney, Austrália, vem sugerir que alfa tem um valor um pouco diferente em regiões remotas do Universo. Ainda mais surpreendente é a conclusão de que a suposta variação do valor de alfa tem uma orientação específica: aumenta para um lado do Universo, e diminui para o outro. No meio estamos nós, onde alfa tem o valor "certo". No quadro da física moderna, esta hipótese é uma autêntica heresia!

Webb e os seus colaboradores retiraram estas conclusões da análise de centenas de observações astronómicas obtidas com o Very Large Telescope (VLT) no Chile. Já há uma década atrás, Webb tinha-se baseado em resultados obtidos no telescópio Keck no Havai para propor que alfa teria variado no tempo, ao observar linhas espectrais da luz emitida por  quasares longíquos, há 12 milhares de milhões de anos atrás. Com este novo resultado, a polémica atingiu um ponto escaldante.

Orfeu Bertolami, astrofísico do Instituto Superior Técnico em Lisboa, está céptico em relação ao trabalho de Webb, e explica os seus motivos: "A independência das leis da física da posição no espaço é um dos pilares fundamentais da teoria da relatividade geral de Einstein, e que, até ao presente, é consistente, com grande precisão, com todos os factos observacionais conhecidos. O resultado das observações de Webb e colaboradores contradiz directamente este preceito basilar da teoria de Einstein."

Carlos Herdeiro, da Universidade do Porto, partilha esta opinião: "A presente observação, a confirmar-se, traz uma novidade algo revolucionária. O paradigma da cosmologia é o 'princípio cosmológico': podemos escolher instante de tempo de modo a que o Universo é essencialmente igual em todo o lado, para um dado tempo. Contudo a presente alegação é que o Universo não é exactamente semelhante em todo o lado, isto é, a física depende da posição espacial."

Bertolami foi um dos participantes no recente simpósio "From Varying Couplings to Fundamental Physics" que decorreu em Lisboa no início de Setembro no contexto do Joint European and National Astronomy Meeting (JENAM 2010), e em que Webb participou através de vídeo-conferência desde a Austrália. Segundo refere, as suas dúvidas e as de muitos outros colegas não foram esclarecidas com esta interacção: "A questão mais preocupante refere-se aos erros sistemáticos inerentes à instrumentação utilizada (os telescópios VLT e Keck) e a dificuldade na selecção das linhas espectrais."

Na sua opinião, estes novos resultados são apenas uma variação da controvérsia iniciada há uma década, com a hipótese da variação de alfa no tempo: "Assistimos agora aos capítulos iniciais da 'novela' da variação espacial. Naturalmente, só a repetição das observações e a reprodução dos resultados por outros grupos de astrónomos poderá confirmar a validade desta alegada dependência." 

Herdeiro acrescenta: "Os resultados (de há dez anos) têm pouco significado estatístico e, após muitas re-análises dos dados, a inexistência de variação encontra-se ainda dentro da barra de erro. Ainda assim, as consequências de uma tal medição seriam tão importantes que muito trabalho teórico e observacional se seguiu às primeiras observações de Webb."

Mas e se Webb estiver correcto e, de facto, algumas constantes universais não o forem? Quais seriam as consequências para a nossa visão do Universo? "Como físico teórico, não vejo nada de particularmente extraordinário acerca da possibilidade de que alfa varie de sítio para sítio no Universo," afirma Bertolami. "É uma hipótese perfeitamente admissível que pode ser acomodada no contexto de muitas teorias mais gerais que a de Einstein." Herdeiro concorda: "Embora haja modelos de física de altas energias onde as constantes fundamentais aparecem naturalmente como campos dinâmicos (como a Teoria de Cordas), a comunidade científica é céptica relativamente a esta hipótese."

Contudo, segundo Bertolami, admitir esta possibilidade significa também reconhecer a nossa incapacidade de progredir em direcção a uma compreensão mais abrangente da natureza: "Até ao conhecimento detalhado desta teoria presumivelmente mais fundamental, teremos que abdicar da magnífica possibilidade de compreender a física do Universo, pois sem esta não sabemos o valor noutros sítios do Universo de grandezas que assumimos terem o mesmo valor em todas as partes. Assim, sem a teoria mais fundamental, a física fica reduzida ao estatuto aristotélico de descrever apenas acontecimentos cosmicamente locais. Uma perspectiva que eu julgo ser muito pouco auspiciosa."
_

[Texto de Gonçalo Figueira_Sociedade Portuguesa de Física]

Um gene antirracismo?

O preconceito pode parecer inevitável. Mesmo indivíduos que se autodefinam como não racistas mostram evidências de racismo inconsciente, implicando que o racismo teria base social ou biológica. Mas foi mostrado em um artigo publicado recentemente que um grupo de pessoas parece não formar estereótipos raciais (Santos, A. e colegas, Current Biology, 2010).

A síndrome é rara, causada por uma mutação genética, removendo 25 a 30 genes do cromossomo 7. Como diversas outras doenças raras, a síndrome talvez não chamasse tanta atenção, não fossem as consequências comportamentais que os portadores dessa mutação apresentam. Crianças com a síndrome de Williams são demasiadamente amigáveis, hiper-sociais e apresentam um interesse demasiado em pessoas desconhecidas. “Todas as pessoas do mundo são meus amigos” – frase que se costuma usar para caracterizar crianças com essa síndrome.

Isso porque não apresentam bloqueios sociais ao entrar em contato com estranhos. A razão disso já foi discutida numa coluna anterior e está relacionada à Teoria da Mente (capacidade que temos de imaginar o que o outro estaria pensando). Esse defeito acontece durante o desenvolvimento, e as razões neuronais ainda são obscuras.

O estudo em questão mostra que essas crianças não desenvolvem atitudes negativas contra outros grupos étnicos, mesmo apresentando atitudes estereotipadas comuns a crianças normais da mesma idade. Essa parece ser a primeira evidência sugerindo que diferentes tipos de estereótipos e preconceitos podem ser biologicamente distintos.
Indivíduos adultos com a síndrome de Williams apresentam atividade neuronal anormal numa estrutura cerebral conhecida como amígdala. Essa região está envolvida com a resposta a ameaças sociais, acionando inconscientemente respostas emotivas negativas contra outras etnias. Tendências racistas estão associadas ao medo: adultos são mais propensos a associar objetos negativos ou eventos repulsivos (por exemplo, choques elétricos) a pessoas de outras etnias. Mas de acordo com esse último estudo, seria o medo social que levaria ao preconceito. Uma perspectiva com sérias implicações, sem dúvida. Poderíamos sugerir, por exemplo, intervenções para reduzir o medo social como alternativa contra o preconceito. Mas será que existem evidências suficientes na pesquisa para garantir essa conclusão?

O trabalho consistiu em mostrar imagens de pessoas a 20 crianças de 5 a 16 anos portadoras da síndrome de Williams e outras 20 crianças normais (grupo controle), com mesma faixa etária. Todas de origem europeia e de pele branca. O primeiro teste consistia em pedir para os dois grupos de crianças escolherem as imagens relacionadas com atividades geralmente associadas a homens ou mulheres, como por exemplo, brincar com bola ou bonecas. Os dois grupos mostraram o mesmo tipo de tendência estereotipada, associando figuras de meninos com a bola e figuras de meninas com bonecas.

As crianças também ouviram historinhas sobre os personagens das figuras, descrevendo atributos negativos, como sendo teimosos ou sujos, ou atributos positivos, como bonitos e inteligentes. Pediu-se para as crianças associarem os tipos de histórias com imagens de pessoas de pele clara ou escura. 
Um exemplo de história consistiu em: “Havia dois meninos, um deles era muito amoroso. Quando viu que o gatinho caiu no lago, o menino salvou o animal, evitando que ele se afogasse. Qual é o menino gentil e amoroso?”
Crianças-controle, sem síndrome de Williams, consistentemente associam características positivas a indivíduos de pele clara e características negativas aos de pele escura. 
Infelizmente, esses dados confirmam resultados anteriores feitos tanto em crianças claras como em negras. No entanto, as crianças portadoras da síndrome de Williams não mostraram nenhum tipo de bias (preconceito). A conclusão óbvia é que o medo social não é necessário para estereótipos sexuais mas é importante para o estabelecimento de preconceitos étnicos.

O dado é extremamente interessante, mas existem alguns detalhes que podem influenciar as conclusões dos pesquisadores. Os pacientes com síndrome de Williams têm outros tipos de problemas, como retardo mental e reduzida capacidade de aprendizado, que podem interferir com as escolhas feitas pelas crianças. 
Apesar do grupo ter escolhido participantes com QI e nível socioeconômicos parecidos, as crianças com Williams possuem experiências de vida bem diferentes de crianças normais. Até certo ponto, todas as crianças são expostas a modelos baseados em sexo pelo convívio com os pais, mas nem todas têm a chance de refletir sobre a questão do racismo. A exposição reduzida das crianças com Williams a estereótipos racistas pode ser uma outra forma de interpretar os resultados do grupo.

Além disso, o estudo não responde se o preconceito tem bases genéticas predeterminadas ou é baseado em experiência prévia. Alterações genéticas podem fazer alguém nascer sem as mãos e por isso ser incapaz de tocar piano. Não podemos inferir que exista uma base genética para tocar piano nesse caso. Com esse trabalho, a mesma coisa. Para examinar o papel da experiência prévia o grupo poderia, por exemplo, encontrar crianças que foram criadas por pais do mesmo sexo. De qualquer forma, o trabalho precisa ser replicado em grupos maiores e com outras faixas etárias.

O que parece ser um fato é que preconceitos e estereótipos diferentes podem ser biologicamente discriminados. Se isso é por causa de genes, ambiente ou uma complicada interação entre ambos, é uma questão cuja resposta ainda está por vir.

_

[Texto de
 Alysson Muotri]

Consciência Lavada

Quem já não se perguntou como um político corrupto pode ter uma boa noite de sono depois de um dia recheado de falcatruas? Como consegue dormir sem peso na consciência? Talvez um banho antes do sono tenha alguma coisa a ver com isso…
_
Esse tema é uma das áreas mais fascinantes da neurociência contemporânea, que é a busca experimental da compreensão da consciência humana.
 

O problema começa com a própria definição de “consciência”, que para uns não passa de uma forma de “atenção” e, assim sendo, não é de forma alguma restrita a nossa espécie: até mesmo um sapo precisa se concentrar para pegar uma mosca!

O assunto atraiu bastante a atenção do público com a notícia de que uma paciente de 23 anos, vítima de uma lesão cerebral e diagnosticada como em estado vegetativo, apresentou uma inesperada atividade cerebral quando interrogada verbalmente por pesquisadores (Owen et al, Science 313:1402, 2006).
Estaria ela realmente consciente do seu estado e do que estava se passando ao seu redor, ou os pesquisadores estariam apenas detectando uma atividade cerebral aleatória em resposta a estímulos verbais?

Afinal, como poderemos estudar a consciência se não sabemos nem ao menos defini-la? 
O dilema vem atraindo cada vez mais cientistas de outras áreas, como por exemplo Francis Crick, um ícone da biologia molecular por ter participado da descoberta da estrutura do DNA.
 
Crick acreditava que a consciência é algo mais complicado do que simplesmente atenção, envolvendo conceitos culturais como a moral e a ética. 
Além disso, Crick defendia a idéia de que certas formas de consciência podem ser mensuráveis através de experimentos científicos (para uma excelente visão das idéias de Crick sobre o assunto, convido o leitor a degustar o livro de sua autoria “The Astonishing Hypothesis: The Scientific Search for the Soul”).
Ora, mesmo que intuitivamente, a grande maioria de nós tem plena consciência da própria imagem moral perante a sociedade ou mesmo de quando estamos sendo anti-éticos em determinadas situações. 
E mais, podemos até apagar ou compensar essas atitudes anti-éticas, fortalecendo nossa imagem moral. 
Isso acontece diariamente em diversas religiões que, muitas vezes, utilizam alguma forma de purificação física, como banhos hindus ou mesmo o batismo católico.

Aparentemente, a conexão entre pureza corporal e consciência já é inerente a algumas sociedades. E foi recentemente alvo de um estudo cientifico, publicado na prestigiosa revista “Science” (Zhong & Liljenquist, 138: 1451, 2006).
O trabalho de dois pesquisadores, um do Canadá e outro dos Estados Unidos, descreve o efeito “Macbeth” (talvez aqui no Brasil tenderíamos a chamá-lo de efeito Pilatos), que diz que qualquer ameaça à nossa pureza moral induz uma limpeza física.
Os experimentos foram desenhados de forma elegante, com devidos controles e submetidos a rigorosos testes estatísticos.
A tragédia de Shakespeare empresta o nome a esse efeito, devido ao fato de que Lady Macbeth acredita poder se livrar do peso da consciência do assassinato do rei Duncan lavando-se com água. Lady Macbeth fica obcecada em limpar sua consciência ensangüentada removendo todo respingo de sangue que encontra (como comentam os autores do trabalho, impressionante mesmo é a afiada visão de Shakespeare sobre a psiquê humana!).
Para medir a consciência “suja”, os pesquisadores pediram aos participantes para se lembrar de episódios éticos e não-éticos em que estiveram envolvidos no passado. 
Depois, os participantes foram submetidos a um jogo de palavras onde poderiam optar por um grupo de palavras relacionados a limpeza (como por exemplo: sabão) ou totalmente não relacionadas, mas ortograficamente semelhantes (salão).
Participantes que se lembraram de episódios não-éticos optaram significativamente mais por palavras relacionadas a limpeza. Além disso, no final do experimento, os participantes podiam escolher um brinde (um lápis ou uma toalha anti-séptica – ambos previamente testados e classificados como neutros por um grupo de participantes-controle). A maioria daqueles que se lembraram de episódios não-éticos optou por escolher a toalha anti-séptica, evidenciando a preferência por limpeza física.


Num segundo experimento, os participantes tiveram de copiar uma redação em primeira pessoa, descrevendo uma atitude ética (como auxiliar um colega) ou não-ética (como sabotar um colega). Logo depois, tiveram que qualificar uma série de produtos de acordo com o seu desejo ou atração naquele instante. Novamente, os participantes que copiaram a redação com conteúdo não-ético optaram por produtos de limpeza ou higiene pessoal.
Mais revelador foi o último experimento, no qual os participantes que se lembraram de episódios não-éticos e que receberam a toalha anti-séptica puderam, ou não, usar a toalha para lavar as próprias mãos. Em seguida os pesquisadores perguntaram a eles se topariam participar de um outro estudo como voluntários, sem nenhuma remuneração. Presumidamente, os que lavaram as mãos iriam se sentir menos propensos a atividades voluntárias pois já haviam lavado a “consciência” e restaurado a imagem moral – não necessitariam então de ações compensadoras. Como esperado, o ato físico de lavar as mãos reduziu drasticamente o voluntariado!


Mas quais seriam as implicações dessa sobreposição psicológica entre limpeza moral e física?
Será que forçar certos políticos a um rigoroso processo de higiene os tornaria mais éticos?
Ou será que, ironicamente, a limpeza física teria o efeito oposto, fornecendo uma licença para comportamentos não-éticos? 
Teríamos então que impedir o hábito da higiene pessoal na política? 
Certamente ainda estamos longe de responder a essas questões, mas esses resultados mostram como atividades mundanas diárias podem ter um impacto profundo na forma como percebemos e julgamos nosso próprio comportamento. 

_ 
[Texto de Alysson Muotri.]