19 de jul. de 2010

O Homem _ quem ele é? Uma Visão Antropológica Filosófica

O Homem _ quem ele é? _ Uma Visão Antropológica Filosófica

“O interrogar-se sobre o homem, sobre a sua posição presente e futura no mundo, faz parte dos problemas centrais da filosofia. Na conjuntura da passagem mundial da humanidade pelo capitalismo, pelo socialismo e pelo processo de radicais mudanças técnico-científicas, essa questão ganha atualidade. À sua solução são dirigidos também esforços dos representantes da filosofia, da sociologia e da cultura, de maneira sempre mais intensa”.

Praticamente todos estão portanto de acordo em reconhecer a importância ‘capital de um estudo profundo do homem’.

Mas como realizá-lo? De onde começar? Que aspecto examinar? Qual o método a ser seguido, o da ciência experimental ou o da psicanálise, o da sociologia ou o da metafísica? Em outras palavras, para alcançar uma resposta conclusiva à interrogação “Quem é o Homem?” que tipo de antropologia se deve elaborar: a cientifica, a fenomenológica ou a filosófica?

A tentativa de abordar o estudo do homem prevê por seu próprio turno um numero considerável de ciências, pseudociências e especulações as mais variadas.

Variando pela abordagem, estas tentativas são cognominadas de acordo com seu enfoque. As ‘logias’ que conhecemos confirmam este fato.

Entretanto, ressaltaremos o homem como tema central – ele e suas relações, e mais ainda, discorreremos respeitando a sua Totalidade. Tal categoria representa, segundo o conceito aristotélico, um todo completo nas suas partes e perfeito na sua ordem. Plenitude.

Max Scheler afirma: “Num certo sentido, todos os problemas fundamentais da filosofia podem reconduzir-se à questão seguinte: que é o homem e que lugar e posição metafísica ele ocupa dentro da totalidade do ser, do mundo, de Deus”. Daí a importância da antropologia filosófica.

Representa efetivamente uma ciência fundamental acerca da essência e da estrutura de eidos [*eidos – um dos termos que Platão usava significando a idéia, Aristóteles a forma, usado na filosofia contemporânea por B.Husserl para indicar a ‘essência’]do homem; da sua relação com os reinos da natureza [minerais, plantas e animais] e com o princípio de todas as coisas; da sua origem essencial metafísica e ao seu inicio físico, psíquico e espiritual no mundo; das forças e potencias que agem sobre ele e aquelas sobre as quais ele age; das direções e das leis fundamentais do seu desenvolvimento biológico, psíquico, espiritual e social, consideradas nas suas possibilidades e realidades essenciais.

Historicamente, até dois séculos atrás, o estudo do homem era chamado ‘De Anima’. Era ao mesmo tempo ‘experimental e metafísico’, diríamos mais o segundo.

Foi Wolff o primeiro a distinguir os dois tipos de pesquisa, e as chamava respectivamente: Psychologia empírica [Frankfurt,1732] e Psychologia rationalis [Frankfurt, 1734].

Essa distinção depois assumiu caráter definitivo.

Hoje tende-se a substituir o termo ‘psicologia’ por ‘antropologia’, que é mais apto a indicar o conteúdo da pesquisa filosófica: ela diz respeito a todo homem e não só à sua alma.

O termo ‘antropologia’ afirmou-se por mérito de Kant, que intitulou uma de suas obras ‘Anthropologie in Pragmatischer Hinsicht [1798]’. Nela se define essa ciência como:”Uma doutrina do conhecimento do homem ordenada sistematicamente”.

Hoje ele é adotado para denominar três disciplinas bem diferentes:
a) O estudo do homem do ponto de vista físico-somático: antropologia física.
b) O estudo do homem do ponto de vista da sua origem histórica: antropologia etmológica ou cultural.
c) O estudo do homem do ponto de vista dos seus princípios últimos: antropologia filosófica.

Embora o termo antropologia tenha sido cunhado em tempos mais recentes, o homem tem sido objeto de estudo m todos os períodos da historia.

O homem foi estudado pela filosofia grega, assim como pela cristã, pela filosofia moderna como pela contemporânea. Não foi, porém, estudado sempre do mesmo modo, do mesmo ponto de vista, do mesmo ângulo.

*Na filosofia clássica o homem foi estudado a partir de uma perspectiva cosmocêntrica; na filosofia cristã, de uma perspectiva teocêntrica; na filosofia moderna e contemporânea, de uma perspectiva antropocêntrica.

É lógico que destas diversas perspectivas se obtiveram imagens do homem profundamente diferentes.

As antropologias mais significativas elaboradas numa perspectiva cosmocêntrica são as de Platão, Aristóteles e Plotino.

Para Platão o homem é essencialmente alma: alma espiritual, incorruptível, e portanto certamente imortal; a imortalidade da alma para Platão não constitui verdadeiramente um problema: o único problema para ele é libertar a alma da prisão do corpo.
A visão cosmocêntrica possui o Cosmo como centro, tendo portanto o homem uma importância relativa.

Nesta visão, a preocupação destaca-se pela origem, funcionamento e manifestações da natureza, do Cosmo e de Deus. É a fase a que se atribuem aos mitos as explicações e desígnios e é também chamada de mítica. A busca da ‘substancia primordial’ pelos filosóficos pré-socráticos é um marco deste período cosmocêntrico.

A visão teocêntrica mais característica do período medieval tem Deus como centro da visão e da origem do homem. Com o cristianismo abre-se para o homem [e portanto também para a reflexão antropológica] uma nova perspectiva. O fundo sobre o qual se desenvolve a vida humana não é mais o da natureza, do cosmo, como para os gregos, mais sim aquele da história da salvação, ou seja, a história das relações entre Deus e a Humanidade. Por conseguinte, a reflexão antropológica dos autores cristãos tem como ponto de referencia constante o próprio Deus: é uma reflexão evidentemente teocêntrica.

Com o inicio da época moderna a pesquisa antropológica abandona a impostação cosmocêntrica dos filósofos gregos e a teocêntrica dos autores cristãos e se dirige para a impostação antropocêntrica: o homem constitui o ponto de partida de onde se origina e em torno ao qual fica constantemente polarizada a pesquisa filosófica. A investigação critica, que em Descartes é o necessário ponto de partida de todo reto filosofar, tem por objeto o homem. Na Ethica, Spinoza não se propõe outro objetivo que estabelecer cientificamente qual seja o escopo da vida humana e os meios para o conseguir. Hume [em Treatrise on Human Nature] pretende oferecer um quadro definitivo do homem como indivíduo; Comte e Marx pretendem apresentar um quadro completo do homem como ser social; Freud estuda o homem como um complexo de instintos, etc... Enfim, o homem como centro das buscas do pensador moderno.

Existem modelos, métodos e enfoques para o estudo do homem que quando conhecidos pelo estudante rosacruz ampliam seu horizonte, contribuindo com subsídios à questão do homem em suas relações materiais e espirituais.

Propomo-nos trazer à tona um enfoque que o enxerga como um ser espiritual, como uma alma vivente, conforme a Ontologia Rosacruz, mas que sobretudo avalia-o inserido num contexto, numa manifestação material enquanto ser-no-mundo. Daí a necessidade da ética como mediadora das relações da sociedade humana e do conhecimento das classificações feitas pela ciência da antropologia filosófica como elemento vital desta compreensão.

É desta maneira que nos ocuparemos nos próximos artigos desta seção, a fim de que, conhecedor dessas ‘facetas’, o estudante possa efetivamente adequar o seu conhecimento místico-filosófico à realidade e expressão de seu ser na vida, na terra e na sociedade humana.

Deve-se observar que embora todos partam de uma perspectiva antropocêntrica, os filósofos modernos, de um primeiro estágio moderno, continuam inspirados em Platão, elaborando antropologia de cunho metafísico. Temos como exemplo as antropologias de Descartes, Spinoza, Pascal, Malebranche, Vico e Leibnitz.

Um novo modo de estudar o homem toma lugar quando um pensador de renome resolve provar a absurdidade da metafísica. Nada menos que Emmanuel Kant, autor da Critica da Razão Pura, procurou provar que o saber humano é limitado e a mente humana não pode adquirir um saber absoluto, nem do mundo nem do homem nem de Deus; a mente pode adquirir somente um conhecimento de caráter prático, moral. Daí seu imperativo categórico fundamentado, etc.

A critica kantiana à metafísica, os progressos da ciência, o emergir da consciência histórica e outros fatores já no século XIX, e depois mais decididamente ainda no século XX, deram uma reviravolta decisiva na investigação antropológica: abandona-se o terreno metafísico no qual, como se viu, os filósofos haviam trabalhado até Kant, para se colocarem em outros terrenos – os da história, da ciência, da cultura, da fenomenologia, da psicanálise, da religião, etc...

A proposta da Antropologia Filosófica é abarcar o quadro completo da situação do homem e responder a Questão: “Quem é o homem enquanto tal?”

Isto, sabendo que a realidade humana traz problemas que a razão de per si não consegue resolver. Desmascara deste modo a auto-suficiência do saber cientifico e aborda a questão acima não com o rigor parcial das especialidades cientificas, mas sobretudo buscando a resposta total, completa, exaustiva, última, uma resposta em condições de esclarecer plenamente o que seja o homem tomado globalmente, em seu todo, o que ele seja efetivamente além e sob as aparências, o que seja em si mesmo afora as diferenças causadas pelo ambiente, pela idade, pela educação, etc...

O homem nos interessa na sua totalidade, não por esse ou aquele de seus aspectos. As ciências especializadas [antropologia, lingüística, medicina, psicologia, sociologia, economia, ciências políticas], malgrado os seus esforços, tendem a limitar a totalidade do individuo, considerando-o do ponto de vista de uma função ou d um impulso particular. O nosso conhecimento do homem resulta de uma função ou de um impulso particular. O nosso conhecimento do homem resulta fragmentado: muito freqüentemente tomamos uma parte pelo todo. É esse erro que nos propomos evitar.

Isto posto, consideramos apresentada a legitimidade da Antropologia Filosófica. Nosso método será lento, porém de uma exploração, a mais ampla possível, do fenômeno humano, tomando para exame as suas principais manifestações que citaremos a seguir.

Depois, seguindo certo indícios que nos serão sugeridos por essas mesmas manifestações, procederemos à decifração do sentido profundo, último e completo do homem.

O Homem é a expressão do Homo Somaticus; Homo Vivens; Homo Sapiens; Homo Volens; Homo Loquens; Homo Socialis; Homo Culturalis; Homo Faber; Homo Ludens; Homo Religiosus.
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[Estudode Hélio de Moraes e Marques]

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