19 de jul. de 2010

O Homem _ quem ele é? [Parte III] Homo Vivens

HOMO VIVENS – [A VIDA HUMANA]
Uma das propriedades fundamentais do ser humano é a vida. O homem é homo vivens: ele é humano enquanto é vivo. Enquanto o fenômeno da vida é um dado certo, a sua verdadeira natureza e a sua origem são coisas muito complexas e misteriosas.

A vida abrange uma forma vastíssima de seres [dos moluscos às plantas, aos animais, aos homens] e se apresenta com propriedades marcantemente diversas nos grupos em separado. Nossa tarefa é procurar descobrir aquele denominador comum que se realiza em todos os seres viventes.

Tal estudo é importante para nós como estudantes do misticismo porque de sua consideração depende o próprio modo de ver as coisas no plano filosófico, ético, místico e político. Conceber a vida de modo mecanicista ou vitalista significa iniciar a própria existência segundo regras éticas e espirituais diametralmente opostas. Por isso, o estudo da vida dificilmente pode ser conduzido de modo frio, fragmentado, desapaixonado, pois muito alta é a aposto em jogo.

Conforme afirmamos no artigo anterior, se para o estudo da somaticidade do homem não se consegue abordá-lo na sua plenitude pelo método experimental, sendo necessário o método fenomenológico, o que dizer do estudo da vida?

A distinção entre um e outro é que enquanto um [o cientifico ou metodológico] procura provar suas teses pelo encantamento lógico de suas experiências, desvendando suas causas e leis subjacentes, o outro [o experiencial] está associado à vivência, à característica de expressão de um fenômeno; é a visão fenomenológica. O primeiro método teve seu apogeu no final do século XIX, durante o postivismo europeu. O segundo tem nos pensamentos d Merleau-Ponty Martin Heiddger a representatividade de seu conteúdo, pois afirmam que a vida não pode ser fragmentada ou muito analisada, porque constitui-se de ‘algo’ muito mais sutil e que uma abordagem cientifica pode colher apenas alguns aspectos superficiais.

Para abordar a vida em toda sua plenitude e originalidade, é preciso vivê-la, senti-la, percebê-la.

Os vitalistas sustentam sua tese com os seguintes argumentos:

ð Não se pode reduzir um organismo à sua máquina, ou seja, os fenômenos de autoconstrução, de autoconservação, de auto-regulação, de auto-reparação, são típicos de organismos vivos.

Como estudantes do misticismo, sabemos que tais propriedades existem pela presença da inteligência cósmica em nossas células, bem como em todo universo.

ð A máquina só funciona talvez perfeitamente sob condições ideais. O organismo vivente, por sua vez, trás ‘em potência’ a improvisação e a utilização das circunstancias; é uma tentativa em todos os sentidos.

As máquinas são invenções do homem como imitação dos organismos vivos, dos quais não estão nunca em condições de atingir a perfeição.

A máquina é posterior ao organismo em todos os sentidos, histórico e ontológico, e, por isso, o organismo nunca poderá ser reduzido a uma máquina.

O vitalimso não morreu, na verdade há um continuo rejuvenescimento de sua fundamentação, a despeito das mais recentes descobertas científicas.

A ciência não sepultou realmente o vitalismo, pois ele voltou a florescer depois do positivismo com Bérgson, Dilthey, Heidderger, reconquistando seu prestígio com Teilhard de Chardin, Gadamer e outros.

A eficiência da física e o triunfo da matemática contribuíram para que filósofos como Descartes, Gassendi e cientistas da época sustentassem ser possível dar uma interpretação mecanicista da vida, aplicando à biologia modelos tirados da mecânica clássica e da física em geral.

Os mecanicistas sustentam sua tese atacando os vitalistas com os seguintes argumentos:

ð O vitalismo não tem provas a seu favor, mas somente suposições e preconceitos; investiga forças desconhecidas que nenhuma demonstração ou verificação cientifica pode documentar.
ð O vitalismo é vitima do antromorfismo.

Trata-se de abandonar a idéia de que seja privilegiada a esfera dos viventes, à qual pertencemos. Positivamente, trata-se de afirmar e adotar de modo sempre amplo o grande principio da indiferença da natureza.

Dizem os mecanicistas que o vitalismo é uma máscara que serve de cobertura a certas concepções metafísicas, éticas e religiosas das coisas, de certos valores morais, etc.

Na verdade,vitalismo e mecanicismos não são incompatíveis, eles se completam, sendo portanto legítimo concluir que o estudioso tem a possibilidade de ser mecanicista quando assume o ponto de vista cientifico, e vitalista quando ultrapassa o ponto de vista cientifico e busca uma explicação exaustiva do fenômeno da vida.

INFORMAÇÕES CIENTIFICAS
Do ponto de vista cientifico, a vida é uma particular organização da matéria. A biologia molecular demonstrou que a substancia vivente se distingue da não-vivente graças a um modo diferente e muito mais complexo de estruturação: a substancia não-vivente ou inorgânica é constituída de moléculas extremamente simples, por exemplo, a molécula de água é formada de um só átomo de oxigênio e de dois de hidrogênio; a substancia vivente, ou orgânica, por sua vez, é constituída de moléculas extremamente organizadas e complexas.

As moléculas da substancia vivente são formadas em noventa e nove por cento pela associação dos átomos pertencentes a quatro elementos: carbono, hidrogênio, oxigênio e nitrogênio. O resultado da sua associação é representado pelos constituintes orgânicos, que são denominados carboidratos, gorduras, proteínas, ácidos nucléicos, os quais são os constituintes fundamentais da célula. Cada um desses complexos desenvolve, no harmonioso equilíbrio do ciclo vital, uma tarefa bem especifica. Os carboidratos e as gorduras são as fontes principais de energia das células. A reunião ou síntese d moléculas de substancias realiza-se graças ao estímulo e ao comando de um tipo de proteínas: as enzimas. Trata-se de moléculas químicas muito complexas, que cada célula produz segundo as substancias que deve desagregar ou sintetizar. A enzima pode ser considerada como um verdadeiro e próprio laboratório químico, que toma certas substancias e as elabora segundo certo programa; o seu poder de ação é extraordinário.

No que tange aos ácidos nucléicos, a eles cabe a tarefa de conservar e de transmitir o código genético. O ácido que exerce essa função chama-se DNA [ácido desoxirribonucléico]. As moléculas desse ácido fundamental para a vida concentram-se em número relevante em todas as células de todos os seres vivos.

Mas nestes últimos anos a biologia nuclear deu passos gigantescos não somente na direção de um maior conhecimento da célula, mas também no de uma sua parcial reconstrução.

Outra descoberta importante é a realizada por alguns estudiosos da Rockfeller University, de Nova Iorque: a criação em laboratório da enzima ribonuclease, que é a enzima preposta à cisão do ácido ribonucléico que, como sabemos, é a molécula química que serve de mensageiro para transformar o código genético que atua quando uma célula se reproduz. O edifício químico da enzima ‘ribonuclease’ é composto de uma cadeia de cento e vinte e quatro aminoácidos. Trata-se da menor enzima conhecida. A maior tem uma cadeia de dez mil peças.

Essas descobertas geniais não devem, porém, criar a ilusão de que estamos próximos de desencadear o mistério da criação da vida em síntese. O que fica bem claro é que a célula é um objeto muito complicado e que será decerto extremamente difícil para nós sintetizá-lo de ponta a ponta.

QUE É A VIDA DE UM PONTO DE VISTA NÃO-CIENTIFICO E, MAIS ESPECIFICAMENTE, DO PONTO DE VISTA FILOSÓFICO?
Se colocarmos a questão assim, de modo geral, quase que provavelmente o homem comum responderá: a vida é amor, a vida é luta, a vida é dor, a vida é esperança, ou qualquer coisa semelhante.

Ora, a vida do homem é, indubitavelmente, tudo isso e muitas outras coisas ainda, e apenas tomando em conta essas múltiplas expressões da vida é possível alcançar uma determinação de sua verdadeira natureza e, por conseguinte, a elaboração de uma antropologia filosófica que coadune com nossos princípios místicos e contemple a questão da vida de modo muito mais amplo.

Todavia, a vida não é um fenômeno peculiar ao homem, mas um fenômeno que se manifesta em muitíssimas outras coisas. E aquilo que nós queremos conhecer antes de tudo é a natureza da vida entendida como propriedade comum a todos os seres animados e não como qualidade própria do homem. Nós nos perguntamos: o que é esta propriedade singular e extraordinária pela qual dizemos que uma planta é viva, enquanto que uma viga, um pedra, dizemos serem mortas? É possível desenvolver uma fenomenologia da vida?

A fenomenologia, já sabemos, não é a especulação abstrata, mas uma observação concreta: é um exame de casos particulares com o fito de tornar-lhes o sentido profundo e universal. Por isso, fazer fenomenologia da vida significa escolher determinado grupo de seres viventes e observar as propriedades das suas manifestações vitais.

Para uma primeira aproximação, podemos pôr em confronto um ser seguramente não vivente com um ser seguramente vivente, por exemplo, um bloco de mármore e um cão.

O bloco de mármore é parado, inerte, sem reação, sem mudanças, não cresce nem diminui se não é exposto a influxos externos, não se estraga, não se desfaz. Por sua vez, o cão move-se, ingere outras substancias, assimila-as, desenvolve-se, gera outros cães e se multiplica, reage à luz, aos rumores, ao contato com outros corpos, late, zanga-se, morde...adoece e morre. Essa fenomenologia, bastante sumária, nos diz que o vivente e o não-vivente têm propriedades essencialmente diferentes, de cujo confronto podemos derivar uma certa idéia da vida.

A vida caracteriza-se como:

Poder de crescer e desenvolver-se, tomando certa quantidade de matéria do ambiente circundante e reorganizando-a segundo as estruturas da substância orgânica. Na escolha do material conveniente para o próprio desenvolvimento, o organismo vivente revela uma habilidade e uma sagacidade excepcionais.

Poder de responder aos estímulos externos ou capacidade de excitação. Com ela o organismo ordena a sua relação com os objetos circundantes, que o golpeiam com os seus estímulos. Ele se relaciona com eles não de forma passiva, mas se insere ativamente no mundo, que se torna, assim, o seu ambiente.

Poder de s reproduzir segundo a sua própria espécie. Dado que crescer, se reproduzir, se irritar, são formas de movimento, os filósofos definem geralmente a vida como uma espécie de movimento. Nenhuma pedra, nenhum objeto sem vida, faz o esforço que mesmo a mais simples forma de vida necessita fazer, pelo menos, nos sugere a experiência e poderemos começar com o certificar que a diferença entre ‘vida’ e ‘não-vida’ consista nessa capacidade de fazer esforço. Poderemos, depois, definir a morte como a perda dessa capacidade.

Segundo São Tomás, “o nome vida se usa para indicar uma substancia à qual cabe mover-se por si mesma, por força de sua própria natureza.”

Porém, o movimento que caracteriza a vida não é um movimento qualquer; ele possui propriedades bem precisas. Quanto à origem, o movimento da vida é espontâneo, ou seja, não vem do exterior, mas sim do interior; é um ‘motus ab intrinseco’. No entanto, não é totalmente espontâneo: a ação vital não é um início absoluto sob todos os aspectos; ela depende, sim, de diversos fatores, condições e causas externas. Todavia, esses fatores, essas causas externas não bastariam para produzi-la se o ser já não fosse vivo.

Aqui nos encontramos defronte a um principio metafísico fundamental: “quidquid movetur ab alioo movetur” [tudo o que se move é movido por terceiros]. Mas como é salvaguardado tal principio quando se trata de seres viventes? A solução, segundo Aristóteles, é a seguinte: um ser vivente, uma parte move a outra, porque é um ser organizado que comporta diversos tipos de órgãos; mas se trata sempre de partes de um só ser, de modo que, considerando-o em seu todo, vê-se que a sua ação, o seu movimento, fica no sujeito.

Nesse sentido, a vida é essencialmente movimento. Mas se reconhece isso e também que se trata de um movimento que não é causado pelo exterior, mas sim pelo interior, é fácil compreender como tal movimento não é explicável senão reconhecendo a existência de um principio intrínseco, uma fonte interna que o produz. A esse principio interior das manifestações vitais, dos tempos mais remotos, os filósofos e o homem comum deram o nome de alma.

Portanto, a alma é o principio primeiro do movimento vital.

Também no que concerne à origem da vida, manteremos a nossa distinção entre discurso cientifico e discurso filosófico. Só que neste caso preferimos inverter a ordem do estudo e começamos com o filosófico ao invés do cientifico.

Sob o aspecto filosófico, o problema da origem da vida não apresenta dificuldades singulares.

Concordamos que a vida tem como seu ultimo principio a alma. Agora, mesmo não havendo ainda explorado a natureza ultima desse principio e a sua origem, uma coisa é clara: ela não pode ter origem de baixo, da matéria, porque se fosse assim não se compreenderia por que apenas uma parte e não toda a matéria é dotada de alma. Precisa-se então admitir que a alma tenha origem do alto, mediante a ação de um Ser Inteligente. Recentes descobertas parecem confirmar essa hipótese. Que o homem consiga sintetizar a vida constitui um argumento a favor e não contra a tese de que a alma surge mediante a ação de um ser inteligente: o homem, de fato, é uma expressão deste Ser, sendo por conseguinte um ser inteligente!

Ao problema da origem da vida os cientistas [mas não só eles] deram muitas soluções, que contudo podem ser reduzidas a quatro tipos fundamentais:

1. Criação direta por parte de Deus;
2. Evolução segundo um plano estabelecido por Deus;
3. Geração espontânea;
4. Geração por evolução, por puro acaso.

A solução da criação direta por parte de Deus foi acolhida também por muitos cientistas do passado [inclusive Darwin, que atribuía à ação direta de Deus a origem de quatro ou cinco protótipos viventes] e foi rigorosamente reafirmada por alguns cientistas contemporâneos, particularmente por Servier.

“... ela não pode ter origem de baixo, da matéria porque se fosse assim não se compreenderia por que apenas uma parte e não toda a matéria é dotada de alma.”

A solução da geração espontânea, também abordada em nossas monografias, afirmou-se no início da época moderna, conquistando de improviso todo o mundo cientifico, incluindo pensadores de talento como Descartes e Newton. Essa solução afirma que a vida é originária da transformação espontânea da matéria inerte em matéria vivente.

Posteriormente a tese da geração espontânea foi definitivamente afastada.

Neste século, foi proposta e reproposta por vários cientistas a teoria da geração da vida na matéria por acaso. Em resumo, essa teoria afirma que através de uma combinação casual de elementos químicos formou-se a primeira célula viva; por ela foi estabelecido, imediatamente, um código genético formado por uma série de moléculas de DNA, que assegurou definitivamente a transmissão da vida.

Mas como ocorreu a distinção entre todos os seres vivos que conhecemos? Isso é devido ao puro acaso. ”Através de uma série de gerações e seleções,uma molécula de DNA, que no inicio poderia significar tantas coisas, acabou sendo associada a um dado sistema de moléculas, que juntas constituem as células do organismo por nós chamado formiga, por exemplo: aquele DNA se reproduzirá sempre idêntico, se associará sempre às mesmas moléculas e se encontrará sempre nas células de formiga e nunca em outras.”

Enfim, a tese é contraditória, porque de um lado ela postula a irreversibilidade do primeiro DNA, enquanto de outro pretende que o DNA seja passível de erros, para poder explicar a origem de novas espécies de seres vivos. É um principio extremamente redutivo: ele elimina a possibilidade de colher o ‘sentido’ e a intencionalidade de qualquer coisa.

“Se, de tempos em tempos, os cientistas pensam que podem produzir a vida in vitro, não fazem nada além de prolongar por um ou dois séculos a velha teoria da geração espontânea. O vírus que eles querem fazer nascer em um cristalizador são os descendentes diretos dos camundongos que, segundos os filósofos do século XVI, se formavam do contato de uma camisa suja com uma porção de semens, isto é, de quimeras. Nem mesmo a síntese das proteínas dará a chave do mistério da reprodução.”

“Nunca, no estado atual de nossos conhecimentos, a vida pôde nascer da matéria em laboratório, enquanto, pelo contrario, podemos constatar correntemente que a matéria pode nascer da vida.”

Uma teoria intermediária entre a concepção da origem da vida por criação direta da parte de Deus e a oposta é aquela que afirma: a vida teve origem por evolução programada, ou seja, a evolução se realiza segundo um programa preestabelecido por Deus, e Deus estabeleceu que das forças de que dotou inicialmente a matéria, num certo momento, surgisse a vida. Aliás, essa é a que mais se coaduna com a visão rosacruz, na qual da inteligência cósmica presente na natureza, e cujo movimento é a expressão desta inteligência, manifesta-se a ordem geométrica do aparente caos, evidenciando que tudo existe potencialmente na mente do Criador.

Essa hipótese parece-nos filosoficamente aceitável; tanto quanto ao seu valor cientifico como místico. Parece-nos que o cientista não está em condições de refutá-la com nenhum argumento válido e decisivo.

A VIDA HUMANA
O homem é um ser vivente. Esse é um fato indiscutível que tomamos em consideração desde o inicio deste artigo. Antes, o homem é o vivente por antonomásia. Com efeito, embora havendo tantas coisas que classificamos como viventes, entre todas há uma que consideramos particularmente rica de vida: o homem. De outro lado, sabemos que privar o homem da vida e destruir o seu próprio ser são a mesma coisa.

Isso significa que o homem é essencialmente vivente; a vida faz parte de sua essência. Por isso, para compreender o homem é necessário compreender antes o que é a vida.

Mas o estudo da vida em geral que efetuamos aqui não parece lançar muita luz sobre o ser humano. A filosofia tem dito somente que é um ser dotado de movimento interior, autógeno, particularmente rico, variado e intenso.

Em geral acolhemos favoravelmente as informações que a ciência vem acumulando acerca do fenômeno da vida, na medida em que se apresentem como seguras e definitivas. Se refutamos certas explicações cientificas, fizemo-lo somente porque se tratam de pseudo-explicações. Assim, quando alguns cientistas nos dizem que a origem da vida tem início por acaso, não podemos estar de acordo com eles, porque isso não é dar uma solução ao problema, mas tapar os olhos e recusar-se a vê-lo.

Por isso, se queremos compreender o homem através da janela da vida, não podemos contentar-nos com informações ainda muito incompletas que nos fornece a ciência e nem tampouco com os poucos e magros dados que nos ofereceu até agora a filosofia.

Para tomar o homem através da janela da vida, não devemos em consideração a vida em geral, ou seja, as propriedades de que a vida se reveste em qualquer ser vivente, do molusco ao homem, mas devemos examinar a vida humana como tal. É a vida humana que caracteriza o homem e é, portanto, dela que é necessário partir se quer ter uma compreensão autentica do seu ser.

O ‘homo vivens’ destaca-se nitidamente dos outros seres viventes pelo tipo de vida que o caracteriza, uma vida consciente de si mesma. Aqui está a chave da compreensão deste artigo, o fato de que o homem tem consciência de si mesmo, ou seja, os níveis de consciência vão aumentando conforme evolui a espécie ou expressão desta Inteligência Criadora. Diz-se em concordância com este pensamento que: Deus dorme no mineral, repousa no vegetal e acorda no animal.

“L´home cést lê vivant separé de la vie par la science et séssayant à rejoindre l avie à travers la science.” [O homem é o vivente separado da vida pela ciência e tentando reunir-se à vida através da ciência].

A vida do homem é especialmente diferente da dos animais e das plantas. A linguagem ordinária mostra essa consciência quando diz de um homem que leva a vida de um animal. Platão declara que assinalar como fim da vida humana o prazer é reduzir o homem a um molusco.

A vida do homem s distingue da dos animais e dos outros seres viventes pelos níveis espirituais que atinge e pelas dimensões sociais que alcança: por isso se pode falar em vida mística, vida espiritual, vida intelectual, vida social, vida política, etc.

Distingue-se, além disso, pela atitude nova que o homem possui nos confrontos da vida: o homem coloca-se o problema da vida, aprecia a beleza da vida, tende a transcender os limites do espaço e do tempo em que a vida está confinada. Ele pode elaborar o seu próprio conceito de vida perfeita e é por essa vida que ele sente um fascínio ardente. O homem é dono da própria vida, pode em larga escala controlá-la, dirigi-la, aperfeiçoá-la, segundo o seu próprio livre-arbítrio.

A vida humana caracteriza-se, enfim, por uma riqueza e variedade estupendas. Os animais, mesmo os mais evoluídos, fazem sempre as mesmas coisas: comem, bebem, dormem, reproduzem-se, e o fazem sempre do mesmo modo, com extrema monotonia. Ao contrário, os homens tem uma vida variadíssima: dormem, mas são capazes de resistir ao sono por dias e dias, em caso de necessidade; bebem e comem, mas servindo-se de maior variedade de comidas e bebidas e segundo os mais diversos modos; divertem-se, combinando continuamente os próprios passa-tempos: estudando, pensando, rezando, etc.

Em suma, a vida humana é uma vida que atinge níveis espirituais muito elevados, níveis que procura sempre superar. O seu olhar está sempre apontando para a frente. Por isso, o seu verdadeiro significado pode ser colhido apenas descobrindo a finalidade para a qual é orientada. Qual é a finalidade ultima da vida humana?

Ainda é cedo para descobri-la; existem muitas coisas para estudar no homem antes de se arriscar uma resposta para este difícil problema. Mas o resultado é certo: o significado ultimo da vida humana não pode ser tratado nem de baixo nem do passado, porque ela aponta sempre para o alto e para o futuro.

Um outro resultado importante do que vimos dizendo é que a vida, esse fenômeno extraordinário, é ostensiva do ser próprio do homem apenas se for tomada em toda a sua riqueza e complexidade; uma riqueza e complexidade distendidas para transbordar sistematicamente todos os confins que lhe são impostos pelo ambiente sócio-cultural em que se encontra.

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