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Só temos consciência do belo,
Quando conhecemos o feio.
Só temos consciência do bom,
Quando conhecemos o mau.
Porquanto, o Ser e o Existir,
Se engedram mutuamente.
O fácil e o difícil se completam.
O grande e o pequeno são complementares.
O alto e o baixo formam um todo.
O som e o silencio formam a harmonia.
O passado e o futuro geram o tempo.
Eis porque o sábio age
Pelo não-agir.
E ensina sem falar.
Aceita tudo que lhe acontece.
Produz tudo e não fica com nada.
O sábio tudo realiza – e nada considera seu.
Tudo faz - e não se apega à sua obra.
Não se prende aos frutos da sua atividade.
Termina a sua obra,
E está sempre no principio.
E por isto a sua obra prospera.
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Explicação: Neste capitulo proclama Lao-Tse a grande lei da bipolaridade do Universo e de todas as coisas. Nada é somente o Uno, e nada é somente o Verso - tudo é Universo, unidade na diversidade, equilíbrio dinâmico, harmonia cósmica.
Não há círculos unicêntricos no Universo, há tão somente elipses bicêntricas, quer no mundo dos átomos, quer no mundo dos astros.
E, como o ánthropos é um microcosmo, feito à imagem e semelhança do grande kósmos, deve também o homem obedecer à mesma lei da bipolaridade, que rege o macrocosmo.
Quem só enxerga o belo no belo, e o bom no bom, é unicêntrico, monótono, acósmico, ou anticósmico, porque unipolarizado. Para ser bipolarizado, univérsico, como o cosmos, deve o homem ver o belo e o feio, o bom e o mau, como duas antíteses complementares, que se integram na grande síntese, sem se diluírem nela. Se o belo e o feio, o bom e o mau fossem duas antíteses contrárias, em vez de complementares, nunca poderiam integrar-se num síntese harmoniosa, feita da unidade na diversidade.
Esta bipolaridade univérsica rege o mundo infinitamente pequeno dos átomos, onde os elétrons negativos giram elipticamente em torno do seu próton positivo; rege o mundo infinitamente grande dos astros onde os planetas traças a sua órbita elíptica em torno do seu sol; rege op mundo misterioso da eletricidade e da eletrônica, onde luz, calor, movimento, som e cores são produzidas por dois pólos, o ânodo [positivo] e o cátodo [negativo]; rege o mundo de todos os seres vivos superiores, que só existem graças aos pólos masculino-dativo e o feminino-receptivo.
O Ser Infinito, que se revela nos Existires Finitos; o Creador-Uno, que se manifesta nas Creaturas-Verso, Brahman, revelado e velado por Maya – são expressão da bipolaridade do Universo.
Quando então o homem possui a reta experiência cósmica do seu Ser, pratica ele a reta vivencia ética no seu agir; age dinamicamente, sem ruído nem afobação; age extensamente em virtude da sua profunda intensidade. Ensina silenciosamente pelo que ele é internamente, e não pelo que diz ou faz externamente no plano do seu agir. Trabalha intensamente, como diz Krishna, mas renuncia a cada passo aos frutos do seu trabalho; depois de ter feito tudo o que fazer devia, o sábio diz, segundo as palavras de Cristo: agora sou servo inútil; cumpri a minha obrigação, nenhuma recompensa mereço por isto.
O sábio desaparece sempre por detrás das suas obras; ele é tão anônimo como Tao, cuja ausência invisível realiza todas as presenças visíveis. É ativo na passividade.
O sábio está invisivelmemte presente em suas obras, e visivelmente ausente de todas elas, porque ele age pelo seu Ser, muito mais que pelo seu Fazer ou Dizer. Age sem Agir. É cosmo-agido, e não ego-agente.
Neste capitulo celebra Lao-tse celebra a apoteose do homem univérsico, cuja invisível Fonte “Eu” faz fluir as águas vivas através dos canais visíveis do seu “ego”, assim como, no cosmo sideral, o Uno Infinito se revela em todos os Versos Finitos.
Toda a sabedoria está em que o Verso [ego] se deixe sempre guiar pelo Uno [Eu]; que este vá sempre na vanguarda, e aquele na retaguarda.
Profano = Verso sem Uno.
Místico = Uno sem Verso.
Cósmico = Uno e Verso _ Universo.
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Lao-Tse_Tao Te King
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