O espaço é definido em muitas enciclopédias como a extensão infinita que separa e circunda os objetos: Essa extensão é a origem das três dimensões que os seres humanos podem perceber e que, como todos sabem, são comprimento, largura e altura. Do ponto de vista místico, o espaço não é verdadeiramente uma realidade material. Ele é um produto da consciência humana e, mais precisamente, de seu aspecto objetivo. Mas a consciência é um atributo da alma. Conseqüentemente, ela é imaterial em natureza. Assim sendo, somos forçados a reconhecer que o mesmo é válido para o espaço. Em outras palavras, o espaço é imaterial no plano Absoluto. O erro da humanidade é tentar conquistar o espaço com instrumentos materiais.
Uma vez que a humanidade jamais conseguirá conquistar o espaço através de meios materiais e uma vez que o espaço é um produto da mente humana, devia ser óbvio para nós que é através da consciência que podemos dominá-lo. A consciência humana, tal como entendemos, atua sobre dois mundos: nosso meio objetivo e nosso universo interior. Nossa consciência objetiva aplica-se à substancia das coisas, isto é, às três primeiras dimensões do espaço. Quanto à nossa consciência interior, relaciona-se mais particularmente à sua essência, ou seja, à quarta dimensão do espaço. Uma vez que o espaço não pode ser conquistado por meios materiais, somente nossa consciência interior, e não nossa consciência objetiva, pode nos possibilitar conquistá-lo. Mas que é exatamente a consciência interior? Para responder esta pergunta, temos de explorar um segundo conceito – o de ‘sagrado’.
Como dito acima, entendemos a consciência como atributo da alma. Ela penetra no corpo junto com a alma, quando a criança inspira pela primeira vez, e deixa o corpo no instante da ultima expiração. É por isto que a Ontologia Rosacruz afirma que Deus criou o homem do pó da terra e soprou em suas narinas o sopro da vida, e o homem tornou-se alma vivente, isto é, uma personalidade consciente encarnada. Além disso, quando buscamos referencia no persa, sânscrito, grego, latim e na maioria das línguas antigas em geral, encontramos a mesma palavra para designar alma, espírito e sopro [respiração]. Por exemplo, temos a palavra sânscrita ‘anifi’ que significa ‘sopro’; a palavra grega ‘anemos’ significando vento; e a palavra latina ‘animus’, sopro de vida.
O SOPRO DIVINO
Assim, vemos que os antigos místicos de tempos imemoriais sempre ligaram a essência espiritual dos seres humanos ao Sopro Divino. Eles acreditavam que, no momento do nascimento, através de um processo misterioso de alquimia cósmica, a criança respira na alma que Deus exala em sua direção, e que na hora da morte a pessoa a exala no universo, de modo que Deus a inala novamente. Foi isto que fez os sábios da antiguidade dizerem que a vida é uma respiração universal que a humanidade compartilhou com seu Criador desde a aurora dos tempos. Em linguagem mística, portanto, a palavra ‘sopro’ adquiriu o significado especial de sagrado, pois em si mesma constitui o meio pelo qual Deus escolheu para dar vida e consciência aos seres humanos e a todos os seres vivos em geral.
Em muitas linguagens antigas, a mesma palavra designava alma e espírito. Mas há séculos usamos a palavra ‘Espírito’ para designar a energia subjacente a toda a matéria. Devemos ver neste termos uma escolha deliberada, pois ele surge que a essência espiritual que permeia o universo e a substancia material que a manifesta são, na verdade, as duas expressões complementares de uma única energia cósmica. A realidade cotidiana confirma isto, pois o ser humano é realmente substância e essência; em outras palavras, corpo e alma. Portanto, cada um de nós é o duplo reflexo de um único Sopro Divino, e uma que o Sopro sempre foi visto com aquilo que é mais sagrado, podemos deduzir daí que, na Terra, os seres humanos são a mais nobre expressão dessa energia cósmica sagrada.
Conseqüentemente, o misticismo e a lógica nos levam a afirmar que, primeiro e antes de tudo, o sagrado espaço é a própria humanidade. Mas ser sagrado não significa ter consciência do sagrado. Para se convencer disso, basta observar como as pessoas são descuidadas em relação ao seu corpo, e como são desrespeitadoras em relação ao corpo dos outros. Muitas doenças são provas vivas desse descuido e desse desrespeito. Se todas as pessoas da Terra tivessem plena consciência de que o corpo físico é o templo da alma e que, como tal, é sua mais sagrada posse, elas o respeitariam muito mais e seriam muito menos impassíveis em relação aos que não tem meios para alimentá-lo, saciar sua sede e mantê-lo aquecido. Digo ‘muito menos impassíveis’ porque, para além do caos que está sacudindo nosso mundo, grupos humanitários organizados para o beneficio dos menos privilegiados nunca foram tão numerosos. Isto se deve a que as influencias cósmicas da Era de Aquário estão se fazendo sentir mais e mais. Supõe-se que essa Era por vir testemunhe a Idade de Ouro do Conhecimento, da Fraternidade e da Paz entre nações e indivíduos. Todos devemos nos envolver nessa perspectiva e dar nosso suporte espiritual a todos os caminhos e meios escolhidos por nossos contemporâneos para prestar assistência aos que necessitam, que sofrem um vazio no corpo, o qual sua alma tenta preencher orando mais ao deus da morte do que ao Deus da Vida. É claro que ao prestar assistência nessas questões é nosso dever, no entanto, usar de cautela e não agir em ignorância e ingenuidade, sem a devida reflexão.
SAGRADA TERRA
Se é verdade que nosso corpo é o templo da alma em nós, como personalidade terrena cada um de nós é o santuário de um templo ainda maior - o da própria Terra. Isso significa que os seres humanos não constituem sozinhos o Sagrado Espaço, mas são apenas um elemento dele. Realmente, o que seriamos nós sem a equipagem natural que dá suporte à nossa evolução espiritual? Quando a Inteligência, a Mente Divina, concebeu o universo e o criou por meio de seu Verbo, sabia que ele seria o palco da vida e da consciência. O planeta onde nossa humanidade vive agora, e a que os antigos deram o nome de Terra, não é uma exceção à regra. Ele é o laboratório que o Cósmico confiou aos seres humanos para que pudessem redescobrir a fórmula que lhes dará a maestria sobre a matéria. Voltando à terminologia que usamos, ele é o ‘cadinho onde a Alma Universal’ deve espiritualizar o Espírito. É por isso que devemos considerar que, para a coletividade humana, é isto que o corpo é para cada um de nós – um veículo material servindo à Evolução Cósmica.
Infelizmente os jornais nos mostram o quanto os seres humanos desrespeitam seu planeta. Por motivos errôneos, que não tenho de expor neste artigo, algumas pessoas poluem, destroem e espoliam o que a Terra tem de mais belo para oferecer. Em resumo, profanam o Templo dedicado à nossa humanidade. É verdade que, como no caso da ajuda mutua humanitária, mas e mais pessoas estão se conscientizando do risco que todos corremos ao tornar nossa Terra uma escrava dos nossos mais tolos caprichos. Movimentos ecológicos mundiais são prova disso e, fora de qualquer contexto político,devemos apoiar os pensamentos mais puros que eles defendem para as futuras gerações. Esta é uma necessidade vital parar a sobrevivência da espécie humana, tal como ela se manifesta em nosso globo, e todos os que não consideram o bem-estar físico e mental dos outros ou que exploram abusivamente da Terra, indiferentes ao mal que infligem a ela, são culpados de guerra contra Deus e a humanidade. Seu carma será diretamente proporcional à sua falha em perceber ou, mais exatamente, à sua persistente teimosia em ignorar o direito de viver dos outros e sua obstinação em destruir aquilo que não pertence a eles, e nunca vai pertencer.
Disso tudo decorre que nossa percepção do sagrado e do espaço em que ele se manifesta é o reflexo do respeito que temos pela própria humanidade e seu ambiente evolucionário. Mas há um terceiro espaço entre os seres humanos e seu ambiente evolucionário a que devemos dar atenção especial. Refiro-me ao local intermediário entre seu Santuário interior e o Templo terrestre onde devem trabalhar. É o intermediário entre os mundos visível e invisível. Por que? Porque enquanto formos incapazes de pensar por meio de Deus, fala por Deus e agir em nome de Deus, precisamos de um apoio para nos lembrar diariamente que ali está nossa meta. É por isto que o ‘Sanctum’ é o laboratório interno onde o misticismo é estudado, com o propósito de aplicá-lo no laboratório externo que é o mundo.
Portanto, o ‘Sanctum’ não é um lugar onde devemos ir para meditar ocasionalmente, quando temos um problema a resolver.Ao contrário, é um espaço sagrado a partir do qual devemos regularmente reajustar o perfil do nosso comportamento. Muitas pessoas têm tendência a pedir ajuda de Deus quando passam pelo infortúnio e esquecem de agradecer a Deus quando a felicidade lhes surge. Esta não deve ser nossa atitude, pois a meditação deve ser usada para irradiarmos as alegrias interiores que recebemos, tanto quanto para pedirmos ao Cósmico o auxilio para resolvermos todos os nossos problemas. O ‘Sanctum’ é um local privilegiado nessas duas circunstancias, pois devido ao que é e o que representa, ele facilita a projeção dos nossos pensamentos e a recepção das idéias mais inspiradoras.
Nossa presença no ‘sagrado’ não deve se limitar apenas a agradecimento a Deus pelas bênçãos que nos são concedidas, buscarmos uma solução para nossos problemas ou realizarmos nossa evolução intelectual e espiritual. É também vital para o bem-estar dos outros. Em outras palavras, devemos entrar nele regularmente para meditar e orar por todos os que sofrem física ou espiritualmente e que precisam do auxilio cósmico. Em outras palavras, não podemos e não temos o direito de ficarmos insensíveis ao sofrimento físico ou mental dos outros.
NOTICIAS ANESTÉSICAS
Por causa do modo como os acontecimentos são noticiados hoje em dia, as sociedades modernas fizeram os dramas da existência humana parecerem banais.
Em conseqüências, as pessoas tornaram-se anestesiadas ao ver e ouvir, com um grau maior ou menor de indiferença, os sofrimentos externos de seus irmãos. Quando um seqüestro acaba na execução de diversos passageiros, quando um ataque criminoso provoca a morte de dezenas de pessoas, quando fanáticos assassinam centenas de cidadãos em nome de seu Deus, quando guerras de interesses pessoais trazem em seu dorso a morte de milhares, quando um desastre nuclear ameaça milhares de pessoas, quando as forças das trevas prevalecem sobre as forças da Luz - o que faz a maioria das pessoas? Elas vêem e ouvem as noticias, ficam mais ou menos indignadas na hora, e, então, voltam-se para seus próprios problemas. Elas continuam a saber das noticias e acreditam que são impotentes, para fazerem alguma coisa sobre os eventos que estão sendo noticiados para elas. Mas isso não é totalmente verdade.
Estou convencido de que muitos dramas nos noticiários poderiam ser evitados, ou pelo menos terem um final melhor, se ao menos todos os que estivessem conscientes deles naquele momento pensassem positivamente em relação aos acontecimentos envolvidos. Por exemplo, quando uma criança é seqüestrada,é inútil ficar indignado, fazer especulações sobre a identidade do seqüestrador ou fazer suposições sobre como tudo vai acabar. Essas atitudes apenas alimentam o processo invisível que tornou possível esse ato de seqüestro. Acredito que é muito melhor orar ao Deus do seu coração para que ajude a criança e pedir para ela o auxilio das forças espirituais, que estão sempre esperando para serem canalizadas. Imaginem, então, o poder considerável que milhares d pessoas podem representar quando, no mesmo lapso de tempo, todas elas focalizam pensamentos positivos sobe um dado acontecimento! O dever do místico, nosso dever, é procedermos exatamente desse modo toda vez que uma tragédia acontece em algum lugar do mundo. Com isto quero dizer que tão logo somos informados de uma situação em que a integridade física ou moral de outras pessoas está ameaçada, devemos imediatamente trabalhar espiritualmente, chamando pelas forças de Deus, para que elas possam neutralizar a causa e a expressão do mal que testemunhamos.
Freqüentemente ouvimos as pessoas dizerem que se Deus existisse não consentiria nas atrocidades diárias que aparecem nas primeiras paginas dos jornais. O que essas pessoas não compreendem é que deus como uma essência e energia é fundamentalmente construtivo em natureza, mas que cabe aos seres humanos expressar os poderes divinos. Analogamente, a Terra contém potencialmente todos os elementos que permitem as plantas crescerem. Mas num jardim, os vegetais só crescem se os plantarmos, se os livrarmos das ervas daninhas e se cuidarmos do seu crescimento. Assim também acontece com os assuntos humanos. Devemos agir para canalizar o potencial positivo que o Cósmico coloca ao nosso dispor,m pois se não fizermos nada ou ficarmos neutros, a ausência de Deus se faz manifesta. É por isto que a passividade e a neutralidade são as maiores servas do Mal.
Portanto, o Sagrado Espaço, é sem duvida o local mais adequado para criar causas no plano invisível, que terão os efeitos positivos mais fortes no plano visível. É verdade que podemos invocar, visualizar, meditar e ora em qualquer outro lugar que não o nosso Sanctum, mas ainda assim é na atmosfera harmoniosa de suas vibrações que encontramos as condições mais condizentes com qualquer trabalho metafísico. Além disto, o fato de nos recolhermos nele para canalizar as forças de Deus cria uma associação de idéias entre seu simbolismo e aquilo que devemos realizar. Isto significa que quanto mais nos habituamos a entrar em nosso ‘Sagrado Espaço’ para servir às forças da Luz, mais geramos a necessidade interior de entrar nele. Pó outro lado, quando mais satisfazemos essa necessidade interior, mais criamos nesse santuário as condições vibratórias que tornarão ainda mais eficiente o trabalho místico que fizermos. Portanto, o Sanctum é um dos lugares mais sagrados para pormos as virtudes que atribuímos à consciência da alma e os poderes que atribuímos à Inteligência Divina.
Concluindo, devo dizer que o sagrado espaço da humanidade é proporcional à visão que ela tem de sua própria natureza e do papel que deve desempenhar no plano geral da Criação. Para nós, esse espaço cobre um reino tão vasto quanto a dimensão visível e invisível que tem do universo e é o reflexo do Deus que eles amam e compreendem. No espelho do seu Sanctum interior, todas as estrelas, todos os planetas, e todos os paises da nossa Terra, incluindo todos os seus habitantes e tudo o que vive em sua superfície, são tão sagrados aos seus olhos quanto seu próprio corpo e a alma que faz de cada um deles um ser vivo e consciente. O Templo do Universo, o Templo da Terra e o Templo da Vida são um só no Templo do Homem. É por isto que chegou a hora de trabalharmos no sentido de reconstruí-lo, pois a Luz Messiânica deve emanar da Jerusalém Celeste que vibra em nosso interior. Não devemos mais nos contentar apenas com conversas sobre misticismo e em lisonjearmos o ego com discursos teóricos sobre a espiritualidade. É hora de darmos expressão concreta, através da ação, à compreensão que temos do Deus do nosso coração, pois um espaço é sagrado somente se servir à rosa que anseia por desabrochar na cruz que todos carregamos.
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[Texto de Cristian Bernard]
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