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27 de ago. de 2010
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26 de ago. de 2010
O VALOR DO CETICISMO
“Não se pode conhecer realmente uma coisa sem tê-la experimentado”, este é um antigo adágio. Entretanto, há uma falha neste ditado. Muito do nosso conhecimento atual não é resultado da experiência direta. Somos obrigados a aceitar como conhecimento uma considerável quantidade de coisas, relativas a nós mesmos, apenas pela autoridade implícita de outras pessoas. A maior parte deriva-se de fontes como professores, sacerdotes, jornalistas, políticos e pessoas conhecidas. A aceitação das idéias que nos são transmitidas é crença.
Em um mundo complexo, não nos é possível descobrir, por nossos próprios meios, tudo o que devemos saber. Tampouco podemos por à prova tudo o que nos é dito, de modo a comprovar sua validade. A crença, portanto, torna-se um substituto para o conhecimento intimo que se adquire como resultado de nossa própria observação e reflexão. Ao longo de nossas lidas cotidianas, adquirimos conhecimento pessoal até certo ponto. Não podemos deixar de observar que acontecem à nossa volta. Esse conhecimento perceptual é pelo menos factual, tanto quanto possamos confiar naquilo que vemos e ouvimos.
Para muitas pessoas hoje, esse conhecimento perceptual impõe-se sobre elas, sendo forçosamente trazido à sua atenção pelas circunstâncias. Ao se realizar uma ação especifica, uma série de coisas imprevistas, como causas e efeitos, podem ocorrer, as quais não se pode deixar de observar. Usando uma frase jurídica, tudo pode ser totalmente circunstancial e, portanto, uma cuidadosa investigação subseqüente pode provar ser algo diferente do que parecia.
A crença só deveria ser admitida quando a fonte da informação tivesse sido amplamente estabelecida como confiável. Um exemplo de crença justificável são os conselhos do medido. Pode-se verificar pela licença sob a qual ele trabalha que o médico recebeu treinamento técnico em algum campo de terapia. Isto significa que sua opinião e conclusões baseiam-se em um conhecimento de experiência pessoal. Não se pode querer que qualquer um seja uma autoridade na multidão de assuntos técnicos de que depende a vida moderna. Uma tal crença então é uma atitude mental razoável em nossos relacionamentos.
Muito daquilo que lemos hoje em publicações populares e mesmo em noticias jornalísticas é totalmente baseado em uma opinião. Uma opinião é uma conclusão não necessariamente fundamentada em fatos, embora possa ser uma crença honesta. Uma opinião pode ser plausível, pode soar de modo racional e parecer lógica em sua apresentação das idéias. Mas plausibilidade não significa necessariamente que os conteúdos sejam verdadeiros. O desconhecimento de um certo conhecimento pode fazer com que uma afirmação pareça convincente.
Na Idade Média parecia plausível que se uma pessoa caminhasse para muito longe numa única direção, acabaria atingindo os limites da Terra. Essa conclusão fundamentava-se na premissa de que a Terra era achatada. Como exemplo mais recente, pessoas que desconhecem as causas de certos fenômenos celestes naturais por elas percebidos aceitam como afirmações plausíveis que esses fenômenos são provocados por seres extretarrestres no espaço.
No que diz respeito a conhecimento abstrato e temas especulativos que não envolvem fatos reais, deveríamos confiar um pouco na crença. Ninguém é verdadeiramente uma autoridade em questões de opinião pessoal e resultantes de mera interpretação individual. Ninguém pode se afirmar como autoridade em algo que não pode ser demonstrado e que consiste apenas em uma convicção pessoal. A verdade deve ter a confirmação da experiência. Não podemos sustentar que alho é verdadeiro se não podemos, igualmente, submetê-lo à prova de nossas experiências sensoriais. Podemos raciocinar até certo ponto que a questão é bastante auto-evidente para nós. Nós, em questão é bastante auto-evidente para nós. Nós, em nós mesmos, podemos não ter qualquer dúvida sobre ela.
Entretanto, expor um conceito a uma análise objetiva pode subseqüentemente provar que ele é falso. Assim, somos obrigados a aceitar as descobertas principais das nossas experiências sensoriais, em contraste com a razão apenas. Se nos recusamos a aceitar o que os sentidos comunicam, a realidade de certas condições podem nos destruir. Não podemos, por exemplo, fechar os olhos e imaginar que uma rua está livre de carros passando, e caminhar para o meio dela sem correr o risco de um desastre.
Portanto, a apresentação racional de um conceito por uma pessoa, sem a comprovação da experiência objetiva, é quando muito uma verdade relativa. Ela é relativa ao raciocínio particular do individuo que a expõe. Em assuntos abstratos, sua contemplação e interpretação pessoal, que para ele representam uma convicção auto-evidente, são equivalentes às de qualquer outro individuo.
Consideremos a noção abstrata de Deus. Este é um conceito sem uma realidade objetiva. Em outras palavras, não existe uma coisa material que seja uma contraparte da idéia de Deus e que tenha aceitação universal por todos os seres humanos. Conseqüentemente, a concepção de Deus alcançada por um individuo possui uma relativa verdade, igual à alcançada por qualquer outro individuo sobre a mesma questão.
Desacreditar nossa opinião sobre assuntos abstratos, simplesmente por ser nossa opinião, e aceitar a de uma outra pessoa, que se diz uma autoridade, é um desnecessário sacrifício da nossa liberdade intelectual. Encontramos essa crença e fé cega muito comumente à mostra hoje em dia. Porque alguém muito popular escreve ou fala de modo convincente sobre um assunto, que não pode ser empiricamente demonstrado, não deve garantir uma crença implícita nas afirmações feitas. Há uma crescente necessidade de um ceticismo saudável.
Um cético não é alguém com uma mente fechada para as postulações e exposições dos outros. Pensar assim é cometer uma injustiça para como verdadeiro cético. O verdadeiro cético é alguém que chegou a uma convicção pessoal sobre um assunto ou questão. Para ele a questão está até certo ponto satisfeita. Ele não é persuadido a substituir sua própria concepção pela de um outro, a menos que os fatos possam refutá-los ou, no caso de ser algo relativo a um assunto abstrato, que surja um argumento mais lógico que o seu.
O verdadeiro cético é um individualista intelectual, alguém que pensa por si mesmo. Ele não é facilmente influenciado pela opinião das massas, pelo fato de um certo numero de pessoas acreditar nisto ou naquilo, ou por uma publicação popular ter feito esta ou aquela declaração. Para esse cético, verdade é realidade. Ela tem de ser aplicável a certas circunstancias e ter preponderância do respaldo das experiências. Se algo tem em si os elementos da verdade, então é merecedor de aceitação, quer tenha ou não a concordância das massas.
O cético, contrariamente à conceituação popular, não é alguém inclinado à descrença. Ele é tão prontamente um buscador do conhecimento quanto o não-cético, sendo que a diferença é que o cético tem certos critérios pelos quais aquilo que é oferecido como conhecimento é avaliado. Esses critérios são a demanda por uma demonstração razoável de tudo o que é declarado, a menos que se trate de conclusões abstratas ‘prima facie’. Em verdade, o cético diz: “Eu quero acreditar. Eu quero saber. Mas não vou aceitar credulamente tudo o que me dizem, nem vou aceitar sem questionar uma opinião sem provas.” Talvez o cético demore um pouco mais para aumentar seu reservatório de conhecimento. Entretanto, ele é menos suscetível de ficar decepcionado ou desiludido.
Como um homem pode ser livre se não pensar por si mesmo? Afinal, só aqueles que ‘pensam fazem uma escolha verdadeira’. Os demais estão sujeitos à influencia da sugestão, seja ela sutil ou direta.
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[Texto de R.M.L]
Além de qualquer duvida razoável.
Perturbado, Trix examinou mais uma vez os relatórios anteriores sobe o Planeta Azul que já enchia todo o horizonte. Eram deprimentes. Como podiam seres inteligentes agir de forma tão destrutiva e cruel? O mais belo planeta daquele quadrante do universo vinha sendo sistematicamente poluído, desvitalizado, descaracterizado. Os seres que o dirigiam tinham tecnologia e conhecimentos suficientes para o uso adequado daquele admirável mundo - mas algum defeito em seus sistemas de pensamento os impedia de enxergar a realidade clara e simples das coisas. Pior, estavam brincando com forças cujo alcance e poder não aquilatavam devidamente. Manipulavam energias, cujo alcance desconheciam, com uma arrogância insuportável, e estavam enveredando pelos campos desconhecidos e perigosos da engenharia genética, como crianças a brincar com explosivos.
Tudo para eles era motivo para a criação de novos armamentos e novos meios de dominação das muitas raças que povoavam o planeta. Ignoravam a beleza de seus campos, rios, flores. Se soubessem como era descolorido e monótono o planeta de onde vinha Trix...No entanto, lá havia paz, harmonia, justiça e evolução; era um recanto do universo onde tudo tendia para o amarelo-ocre – águas, montanhas, pessoas – contudo, em Mauria existia a compaixão, o amor fraterno e o desejo sincero de evoluir para a Perfeição, enquanto que no planeta azul – dotado das mais espantosas riquezas e maravilhas, como tantos climas e locais promissores para a formação de civilizações superiores - tudo isto era desperdiçado, mal utilizado, desprezado, em nome da mais grosseira ambição, egoísmo e desejo de dominação. Com o correr dos séculos, a maldade dos homens tinha formado uma aura tenebrosa ao redor do planeta, que fazia mal a todos os investigadores que dele se aproximavam para observação e estudo; aura essa cujas emanações estavam se tornando insuportáveis, e se avizinhavam do ponto de causar prejuízos a outras civilizações daquele quadrante.
Trix já vivera muito, tinha visto muitos mundos e estudado muitas civilizações, e nada se comparava àquele extraordinário desperdício de oportunidades. Ele controlou as emoções que o invadiam, pois seu trabalho exigia a mais absoluta frieza e imparcialidade. Sua missão era dar a última palavra sobre o extermínio ou não dos habitantes do planeta azul, para que o mesmo pudesse um dia abrigar criaturas mais merecedoras e sensíveis. Vários estudos tinham sido feitos, verificados e reverificados, porque os Maurianos, cujo dever era cuidar daquele quadrante do espaço sideral, eram justos e tinham horror a qualquer infração das sagradas leis que regem o universo. Trix recebera ordens de fazer a derradeira revisão, e sua decisão seria definitiva. Ele sentia o peso dessa responsabilidade, e pensava quase que obcecadamente nas recomendações finais do Conselho de Mauria: o povo do planeta azul só seria exterminado após qualquer possibilidade de haver uma ‘duvida razoável’ ter sido declarada inexistente.
Trix desligou o aparelho onde os relatórios feitos nos últimos séculos mostravam com muita clareza que os ‘humanos’ pareciam irrecuperáveis – eram maus, ambiciosos, egoístas e cegos para os valores mais elevados da Vida Universal. Em seguida, ordenou à sua mente que esquecesse aquelas cenas e palavras gravadas nos relatórios, para poder ver o planeta de maneira imparcial e isenta de pré-julgamento.
Entrou na nave menor, própria para o seu trabalho, e iniciou a inspeção final da Terra. Usando os sensores de bordo, sua capacidade telepática superior e contato visual pelos visores, viu a beleza das geleiras cintilando ao Sol, dos campos pontilhados de flores [era primavera], das montanhas majestosas, dos rios murmurantes, dos dourados desertos [vários deles causados pelo descuido dos homens]; examinou as grandes cidades, as fabricas imensas vomitando veneno pelas chaminés, as belas casas e os jardins dos poderosos, como também os prédios desumanos com seus apartamentos frios e sem personalidade, as favelas miseráveis, e principalmente as armas, as articulações secretas de grupos de homens, cujos resultados eram sempre a fome, a morte e o sofrimento de nações inteiras. O ‘ruído’ de todas essas coisas era insuportável e Trix precisou usar todo o seu extraordinário controle para continuar a inspeção. Captou as intenções malévolas dos humanos em geral, a falta de compaixão, a ausência de ternura, de alegria, de simplicidade, e o nível da moralidade atingindo o fundo da escala. ‘Viu’, através dos poderes de sua mente, humanos jovens se destruindo lentamente no desespero de drogas perigosas, práticas perversas, crimes, loucuras. O ‘ruído’ malévolo e dominante de todas essas coisas era ensurdecedor, invadia todo o espaço e não lhe permitia captar as vibrações amorosas emitidas por alguns seres humanos.
Trix pensou, atordoado: “Se eu não fosse tão bem treinado, morreria em um minuto nesta atmosfera pestilenta, carregada de ódio, inveja e mesquinhez. Como é que ‘eles’ conseguem viver assim? Devo concluir sem sombra de duvida que seres mais merecedores deverão ter o privilégio de viver um dia neste planeta tão belo. Seus habitantes devem ser exterminados; não souberam usufruir com dignidade e inteligência dessa dádiva divina que lhes foi concedida por algum alto desígnio. Mas devo ser justo ao máximo. Só por desencargo de consciência, vou descer num ponto desabitado qualquer e sentir o planeta fisicamente, para ter certeza de que não existe uma duvida razoável, pois esta é uma decisão muito pesadas, que poderá ter conseqüências cármicas muito vastas. Ela deve ser correta e visar o bem maior.
Trix pousou a nave sobre uma rocha que se erguia numa praia deserta. Desceu e, pela primeira vez, seus pés tocaram o solo do planeta azul. Todo os eu ser se encheu de emoção: o cheiro do ar, o fragor das ondas verdes e espumosas do poderoso oceano, a sensação deliciosa do vento em seu corpo, o azul profundo do firmamento – era tudo tão belo, tão divino! Viver em um lugar assim ‘teria’ que inspirar sentimentos nobres, não todos aqueles sentimentos horríveis que envolviam a Terra com tão medonha aura. Aquele recanto estava protegido por penhascos, mas ainda assim era fácil detectar o angustiante e sombrio peso do ambiente terreno.
Trix nem percebeu que uma criança o olhava com admiração. Davi tinhas ido brincar na areia com suas bolinhas de vidro, único brinquedo que possuía, pois era muito pobre, e ficava a maior parte do tempo sozinho – a mãe era empregada doméstica numa casa a uns dois quilômetros dali, onde não admitiam a presença de crianças. Nem por isso Davi era infeliz. Sua mão o amava, contava-lhe histórias bonitas e ensinava preces, transmitia idéias positivas e alegres, cheias de esperança e amo. É claro que às vezes ele se sentia muito só, mas sabia conversar com o vento, com as águas do mar, coma s gaivotas que ali vinham pescar. Ao ver aquele estranho homem alto, magro, de pele amarelada, com aparência nobre e sábia, Davi adivinhou logo quer ‘era um astronauta’. E por ser criança não teve medo e foi se aproximando.
Trix se surpreendeu um pouco com a própria distração, indevida naquelas circunstancias. Mas ao sentir as vibrações daquele serzinho miúdo, soube que tudo estava bem. Em poucos minutos os dois estavam jogando bolinhas, ‘tecando’ umas nas outras, colocando-as nos buraquinhos feitos por Davi na areia molhada e firme. Trix achou as bolinhas fascinantes, com suas volutas coloridas e misteriosas. Davi, a certa altura, disse que gostaria de viajar pelo espaço, mas só se a mãe fosse junto. Trix respondeu que era impossível, não podia levar passageiros. Porém, podia mostrar-lhe a pequena nave de reconhecimento. Feita a visita, que maravilhou o menino, Trix infantilmente pediu para brincar mais um pouco com as bolas de vidro – estava encantado com o brinquedo.
“É normal haver uma exceção neste mundo – creio que este serzinho é a exceção que confirma a regra”, pensou Trix tristemente, cuja decisão continuava firme. Sua descida tinha sido apenas mais um meio de captar impressões sobre um planeta que logo estaria desabitado, tendo que assim permanecer por vários séculos, até que a aura se purificasse e ele pudesse ser mais uma vez o berço de novas civilizações.
“Sinto muito, menino”, pensou ele, “mas você é apenas um entre bilhões de criaturas sem caráter, cujo fim só pode ser a destruição. A operação-exterminio apenas irá apressar esse fim, que virá sem dor ou sofrimento.”
Então Trix se despediu de Davi, dizendo: “Tenho de partir, tenho obrigações a cumprir. Adeus e obrigado”.
“Mas tão depressa? É uma pena, gostei da sua companhia. Foi muito engraçado saber que vocês podem viajar entre as estrelas, mas não sabem fazer bolinhas de vidro colorido para brincar!”
“Não é mesmo estranho? Gostei desse jogo, acho que meus filhos adorariam jogar também. Tentarei fabricar bolinhas de vidro, mas não conseguirei fazê-las tão coloridas – em meu mundo os recursos de cores são pequenos, talvez seja este o único defeito do meu planeta natal...”
“Está certo, Trix. Faça boa viagem, vou sentir sua falta, você é um cara legal. Mando lembranças para seus filhos.”
“Adeus, Davi. Quem sabe nos encontraremos de novo um dia, em algum lugar do universo, para continuar nosso joguinho de bolinhas...”
Com estas palavras, ditas com uma certa amargura, Trix começou a andar na direção da nave, enquanto o menino olhava tristemente para o novo amigo que ia embora tão depressa. Então teve uma idéia e saiu correndo atrás do ‘astronauta’, depois de contemplar por algum tempo as bolinhas de vidro, sua única riqueza, que mal cabiam na mãozinha miúda.
“Trix! Espere um pouco!”
“Tome, leve isto, é um presente!”
Trix, parou, voltou-se e viu as bolinhas coloridas na mão estendida para ele, numa dádiva totalmente pura e generosa, de real amizade. Emocionado, ele pegou as três e as levou para a nave, depois de abraçar carinhosamente o garotinho.
Trix tinha que terminar sua missão, mas estava inquieto, uma agitação interna o perturbava. Decidiu voltar à praia para pensar um pouco mais e senti pela ultima vez a delicia daquele lugar e o frescor da brisa marinha. Levou as bolinhas e sentou-se numa pedra para meditar, fixando o olhar no encantador colorido do vidro, à luz suave do crepúsculo. Aos poucos, sentiu vibrações muito sutis e foi separando-as do tumulto que envolvia o planeta com uma densa nuvem.
E então, ouviu a voz de um poeta exaltando a glória da natureza. E a cantiga de uma jovem mãe embalando o filhinho. Sentiu a força do ideal que levava os defensores do meio ambiente a lutar com denodo pela saúde da Terra. Captou preces de místicos em meditação, harmonizando-se com a Divindade, orando pela paz, pele amor, pela fraternidade entre os homens. Percebeu que entre os louco tecnólogos haviam alguns que tinham o desejo de disciplinar o uso do saber. E sonhadores a desenhar no ar um mundo melhor e mais justo. Homens e mulheres sacrificando seu tempo e conforto para levar alivio e pão aos doentes e famintos.
Eram bem frágeis aquelas vibrações diante da força selvagem da maldade humana, por isto tinham passado despercebidas no ‘ruído’ grotesco que sufocava Terra. Trix tomou conhecimento delas, e não podia ignorá-las...O episódio das bolinhas de vidro tinha servido de catalisador ou de ‘sintonizador’.
Voltando à nave maior, TRix sentiu-se confuso, dividido entre a decisão já tomada e a inquietação que o acometia. A luz do teto incidiu com força sobre as bolinhas de Davi, ao lado do teclado fatal, com os botões que iam decidir o destino do planeta azul. O olhar de Trix foi atraído para elas e nesse instante soube com intima convicção que lhe seria impossível apertara a tecla ‘execute’ que determinaria o breve extermínio da humanidade.
A generosa e espontânea dádiva de Davi [que nunca saberia do fato...] tinha presenteado o povo da Terra com mais uma chance de corrigir seus descaminhos, e se tornar digno do planeta azul, ao criar uma poderosa ‘dúvida razoável’...
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Há muitas pessoas chegando a acreditar, com amargura e ceticismo, que a raça humana não é digna da vida, que não ‘presta’, etc. E ainda que não digam isto com estas ou outras palavras semelhantes, dizem-no com atitudes de um constante ‘não vale a pena’, seguindo as massas em comportamentos de degradação e na inversão de valores e princípios universais. Publicamos esta historia de ficção com o intuito de, criar no coração de cada um uma mesma ‘dúvida razoável'...
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Amit Goswami _ propõe a união de ciência e espiritualidade
Sagrado Espaço
O espaço é definido em muitas enciclopédias como a extensão infinita que separa e circunda os objetos: Essa extensão é a origem das três dimensões que os seres humanos podem perceber e que, como todos sabem, são comprimento, largura e altura. Do ponto de vista místico, o espaço não é verdadeiramente uma realidade material. Ele é um produto da consciência humana e, mais precisamente, de seu aspecto objetivo. Mas a consciência é um atributo da alma. Conseqüentemente, ela é imaterial em natureza. Assim sendo, somos forçados a reconhecer que o mesmo é válido para o espaço. Em outras palavras, o espaço é imaterial no plano Absoluto. O erro da humanidade é tentar conquistar o espaço com instrumentos materiais.
Uma vez que a humanidade jamais conseguirá conquistar o espaço através de meios materiais e uma vez que o espaço é um produto da mente humana, devia ser óbvio para nós que é através da consciência que podemos dominá-lo. A consciência humana, tal como entendemos, atua sobre dois mundos: nosso meio objetivo e nosso universo interior. Nossa consciência objetiva aplica-se à substancia das coisas, isto é, às três primeiras dimensões do espaço. Quanto à nossa consciência interior, relaciona-se mais particularmente à sua essência, ou seja, à quarta dimensão do espaço. Uma vez que o espaço não pode ser conquistado por meios materiais, somente nossa consciência interior, e não nossa consciência objetiva, pode nos possibilitar conquistá-lo. Mas que é exatamente a consciência interior? Para responder esta pergunta, temos de explorar um segundo conceito – o de ‘sagrado’.
Como dito acima, entendemos a consciência como atributo da alma. Ela penetra no corpo junto com a alma, quando a criança inspira pela primeira vez, e deixa o corpo no instante da ultima expiração. É por isto que a Ontologia Rosacruz afirma que Deus criou o homem do pó da terra e soprou em suas narinas o sopro da vida, e o homem tornou-se alma vivente, isto é, uma personalidade consciente encarnada. Além disso, quando buscamos referencia no persa, sânscrito, grego, latim e na maioria das línguas antigas em geral, encontramos a mesma palavra para designar alma, espírito e sopro [respiração]. Por exemplo, temos a palavra sânscrita ‘anifi’ que significa ‘sopro’; a palavra grega ‘anemos’ significando vento; e a palavra latina ‘animus’, sopro de vida.
O SOPRO DIVINO
Assim, vemos que os antigos místicos de tempos imemoriais sempre ligaram a essência espiritual dos seres humanos ao Sopro Divino. Eles acreditavam que, no momento do nascimento, através de um processo misterioso de alquimia cósmica, a criança respira na alma que Deus exala em sua direção, e que na hora da morte a pessoa a exala no universo, de modo que Deus a inala novamente. Foi isto que fez os sábios da antiguidade dizerem que a vida é uma respiração universal que a humanidade compartilhou com seu Criador desde a aurora dos tempos. Em linguagem mística, portanto, a palavra ‘sopro’ adquiriu o significado especial de sagrado, pois em si mesma constitui o meio pelo qual Deus escolheu para dar vida e consciência aos seres humanos e a todos os seres vivos em geral.
Em muitas linguagens antigas, a mesma palavra designava alma e espírito. Mas há séculos usamos a palavra ‘Espírito’ para designar a energia subjacente a toda a matéria. Devemos ver neste termos uma escolha deliberada, pois ele surge que a essência espiritual que permeia o universo e a substancia material que a manifesta são, na verdade, as duas expressões complementares de uma única energia cósmica. A realidade cotidiana confirma isto, pois o ser humano é realmente substância e essência; em outras palavras, corpo e alma. Portanto, cada um de nós é o duplo reflexo de um único Sopro Divino, e uma que o Sopro sempre foi visto com aquilo que é mais sagrado, podemos deduzir daí que, na Terra, os seres humanos são a mais nobre expressão dessa energia cósmica sagrada.
Conseqüentemente, o misticismo e a lógica nos levam a afirmar que, primeiro e antes de tudo, o sagrado espaço é a própria humanidade. Mas ser sagrado não significa ter consciência do sagrado. Para se convencer disso, basta observar como as pessoas são descuidadas em relação ao seu corpo, e como são desrespeitadoras em relação ao corpo dos outros. Muitas doenças são provas vivas desse descuido e desse desrespeito. Se todas as pessoas da Terra tivessem plena consciência de que o corpo físico é o templo da alma e que, como tal, é sua mais sagrada posse, elas o respeitariam muito mais e seriam muito menos impassíveis em relação aos que não tem meios para alimentá-lo, saciar sua sede e mantê-lo aquecido. Digo ‘muito menos impassíveis’ porque, para além do caos que está sacudindo nosso mundo, grupos humanitários organizados para o beneficio dos menos privilegiados nunca foram tão numerosos. Isto se deve a que as influencias cósmicas da Era de Aquário estão se fazendo sentir mais e mais. Supõe-se que essa Era por vir testemunhe a Idade de Ouro do Conhecimento, da Fraternidade e da Paz entre nações e indivíduos. Todos devemos nos envolver nessa perspectiva e dar nosso suporte espiritual a todos os caminhos e meios escolhidos por nossos contemporâneos para prestar assistência aos que necessitam, que sofrem um vazio no corpo, o qual sua alma tenta preencher orando mais ao deus da morte do que ao Deus da Vida. É claro que ao prestar assistência nessas questões é nosso dever, no entanto, usar de cautela e não agir em ignorância e ingenuidade, sem a devida reflexão.
SAGRADA TERRA
Se é verdade que nosso corpo é o templo da alma em nós, como personalidade terrena cada um de nós é o santuário de um templo ainda maior - o da própria Terra. Isso significa que os seres humanos não constituem sozinhos o Sagrado Espaço, mas são apenas um elemento dele. Realmente, o que seriamos nós sem a equipagem natural que dá suporte à nossa evolução espiritual? Quando a Inteligência, a Mente Divina, concebeu o universo e o criou por meio de seu Verbo, sabia que ele seria o palco da vida e da consciência. O planeta onde nossa humanidade vive agora, e a que os antigos deram o nome de Terra, não é uma exceção à regra. Ele é o laboratório que o Cósmico confiou aos seres humanos para que pudessem redescobrir a fórmula que lhes dará a maestria sobre a matéria. Voltando à terminologia que usamos, ele é o ‘cadinho onde a Alma Universal’ deve espiritualizar o Espírito. É por isso que devemos considerar que, para a coletividade humana, é isto que o corpo é para cada um de nós – um veículo material servindo à Evolução Cósmica.
Infelizmente os jornais nos mostram o quanto os seres humanos desrespeitam seu planeta. Por motivos errôneos, que não tenho de expor neste artigo, algumas pessoas poluem, destroem e espoliam o que a Terra tem de mais belo para oferecer. Em resumo, profanam o Templo dedicado à nossa humanidade. É verdade que, como no caso da ajuda mutua humanitária, mas e mais pessoas estão se conscientizando do risco que todos corremos ao tornar nossa Terra uma escrava dos nossos mais tolos caprichos. Movimentos ecológicos mundiais são prova disso e, fora de qualquer contexto político,devemos apoiar os pensamentos mais puros que eles defendem para as futuras gerações. Esta é uma necessidade vital parar a sobrevivência da espécie humana, tal como ela se manifesta em nosso globo, e todos os que não consideram o bem-estar físico e mental dos outros ou que exploram abusivamente da Terra, indiferentes ao mal que infligem a ela, são culpados de guerra contra Deus e a humanidade. Seu carma será diretamente proporcional à sua falha em perceber ou, mais exatamente, à sua persistente teimosia em ignorar o direito de viver dos outros e sua obstinação em destruir aquilo que não pertence a eles, e nunca vai pertencer.
Disso tudo decorre que nossa percepção do sagrado e do espaço em que ele se manifesta é o reflexo do respeito que temos pela própria humanidade e seu ambiente evolucionário. Mas há um terceiro espaço entre os seres humanos e seu ambiente evolucionário a que devemos dar atenção especial. Refiro-me ao local intermediário entre seu Santuário interior e o Templo terrestre onde devem trabalhar. É o intermediário entre os mundos visível e invisível. Por que? Porque enquanto formos incapazes de pensar por meio de Deus, fala por Deus e agir em nome de Deus, precisamos de um apoio para nos lembrar diariamente que ali está nossa meta. É por isto que o ‘Sanctum’ é o laboratório interno onde o misticismo é estudado, com o propósito de aplicá-lo no laboratório externo que é o mundo.
Portanto, o ‘Sanctum’ não é um lugar onde devemos ir para meditar ocasionalmente, quando temos um problema a resolver.Ao contrário, é um espaço sagrado a partir do qual devemos regularmente reajustar o perfil do nosso comportamento. Muitas pessoas têm tendência a pedir ajuda de Deus quando passam pelo infortúnio e esquecem de agradecer a Deus quando a felicidade lhes surge. Esta não deve ser nossa atitude, pois a meditação deve ser usada para irradiarmos as alegrias interiores que recebemos, tanto quanto para pedirmos ao Cósmico o auxilio para resolvermos todos os nossos problemas. O ‘Sanctum’ é um local privilegiado nessas duas circunstancias, pois devido ao que é e o que representa, ele facilita a projeção dos nossos pensamentos e a recepção das idéias mais inspiradoras.
Nossa presença no ‘sagrado’ não deve se limitar apenas a agradecimento a Deus pelas bênçãos que nos são concedidas, buscarmos uma solução para nossos problemas ou realizarmos nossa evolução intelectual e espiritual. É também vital para o bem-estar dos outros. Em outras palavras, devemos entrar nele regularmente para meditar e orar por todos os que sofrem física ou espiritualmente e que precisam do auxilio cósmico. Em outras palavras, não podemos e não temos o direito de ficarmos insensíveis ao sofrimento físico ou mental dos outros.
NOTICIAS ANESTÉSICAS
Por causa do modo como os acontecimentos são noticiados hoje em dia, as sociedades modernas fizeram os dramas da existência humana parecerem banais.
Em conseqüências, as pessoas tornaram-se anestesiadas ao ver e ouvir, com um grau maior ou menor de indiferença, os sofrimentos externos de seus irmãos. Quando um seqüestro acaba na execução de diversos passageiros, quando um ataque criminoso provoca a morte de dezenas de pessoas, quando fanáticos assassinam centenas de cidadãos em nome de seu Deus, quando guerras de interesses pessoais trazem em seu dorso a morte de milhares, quando um desastre nuclear ameaça milhares de pessoas, quando as forças das trevas prevalecem sobre as forças da Luz - o que faz a maioria das pessoas? Elas vêem e ouvem as noticias, ficam mais ou menos indignadas na hora, e, então, voltam-se para seus próprios problemas. Elas continuam a saber das noticias e acreditam que são impotentes, para fazerem alguma coisa sobre os eventos que estão sendo noticiados para elas. Mas isso não é totalmente verdade.
Estou convencido de que muitos dramas nos noticiários poderiam ser evitados, ou pelo menos terem um final melhor, se ao menos todos os que estivessem conscientes deles naquele momento pensassem positivamente em relação aos acontecimentos envolvidos. Por exemplo, quando uma criança é seqüestrada,é inútil ficar indignado, fazer especulações sobre a identidade do seqüestrador ou fazer suposições sobre como tudo vai acabar. Essas atitudes apenas alimentam o processo invisível que tornou possível esse ato de seqüestro. Acredito que é muito melhor orar ao Deus do seu coração para que ajude a criança e pedir para ela o auxilio das forças espirituais, que estão sempre esperando para serem canalizadas. Imaginem, então, o poder considerável que milhares d pessoas podem representar quando, no mesmo lapso de tempo, todas elas focalizam pensamentos positivos sobe um dado acontecimento! O dever do místico, nosso dever, é procedermos exatamente desse modo toda vez que uma tragédia acontece em algum lugar do mundo. Com isto quero dizer que tão logo somos informados de uma situação em que a integridade física ou moral de outras pessoas está ameaçada, devemos imediatamente trabalhar espiritualmente, chamando pelas forças de Deus, para que elas possam neutralizar a causa e a expressão do mal que testemunhamos.
Freqüentemente ouvimos as pessoas dizerem que se Deus existisse não consentiria nas atrocidades diárias que aparecem nas primeiras paginas dos jornais. O que essas pessoas não compreendem é que deus como uma essência e energia é fundamentalmente construtivo em natureza, mas que cabe aos seres humanos expressar os poderes divinos. Analogamente, a Terra contém potencialmente todos os elementos que permitem as plantas crescerem. Mas num jardim, os vegetais só crescem se os plantarmos, se os livrarmos das ervas daninhas e se cuidarmos do seu crescimento. Assim também acontece com os assuntos humanos. Devemos agir para canalizar o potencial positivo que o Cósmico coloca ao nosso dispor,m pois se não fizermos nada ou ficarmos neutros, a ausência de Deus se faz manifesta. É por isto que a passividade e a neutralidade são as maiores servas do Mal.
Portanto, o Sagrado Espaço, é sem duvida o local mais adequado para criar causas no plano invisível, que terão os efeitos positivos mais fortes no plano visível. É verdade que podemos invocar, visualizar, meditar e ora em qualquer outro lugar que não o nosso Sanctum, mas ainda assim é na atmosfera harmoniosa de suas vibrações que encontramos as condições mais condizentes com qualquer trabalho metafísico. Além disto, o fato de nos recolhermos nele para canalizar as forças de Deus cria uma associação de idéias entre seu simbolismo e aquilo que devemos realizar. Isto significa que quanto mais nos habituamos a entrar em nosso ‘Sagrado Espaço’ para servir às forças da Luz, mais geramos a necessidade interior de entrar nele. Pó outro lado, quando mais satisfazemos essa necessidade interior, mais criamos nesse santuário as condições vibratórias que tornarão ainda mais eficiente o trabalho místico que fizermos. Portanto, o Sanctum é um dos lugares mais sagrados para pormos as virtudes que atribuímos à consciência da alma e os poderes que atribuímos à Inteligência Divina.
Concluindo, devo dizer que o sagrado espaço da humanidade é proporcional à visão que ela tem de sua própria natureza e do papel que deve desempenhar no plano geral da Criação. Para nós, esse espaço cobre um reino tão vasto quanto a dimensão visível e invisível que tem do universo e é o reflexo do Deus que eles amam e compreendem. No espelho do seu Sanctum interior, todas as estrelas, todos os planetas, e todos os paises da nossa Terra, incluindo todos os seus habitantes e tudo o que vive em sua superfície, são tão sagrados aos seus olhos quanto seu próprio corpo e a alma que faz de cada um deles um ser vivo e consciente. O Templo do Universo, o Templo da Terra e o Templo da Vida são um só no Templo do Homem. É por isto que chegou a hora de trabalharmos no sentido de reconstruí-lo, pois a Luz Messiânica deve emanar da Jerusalém Celeste que vibra em nosso interior. Não devemos mais nos contentar apenas com conversas sobre misticismo e em lisonjearmos o ego com discursos teóricos sobre a espiritualidade. É hora de darmos expressão concreta, através da ação, à compreensão que temos do Deus do nosso coração, pois um espaço é sagrado somente se servir à rosa que anseia por desabrochar na cruz que todos carregamos.
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[Texto de Cristian Bernard]
23 de ago. de 2010
Na Soleira da Porta da Casa da Tolerância
Acho que foi P. Claudel quem disse: ‘Tolerância? Existem casas disso!’ Piada, sátira, é claro... Mas olhando mais de perto, a ‘Casa da Tolerância’, que nosso comportamento muitas vezes fecha a porta e a torna uma casa ‘fechada’, não deveria ser aberta novamente? Essa casa cuja localização é o ‘Coração’. Eis então, entre muitos outros, alguns elementos de reflexão sobre a tolerância.
SITUAÇÕES PROBLEMÁTICAS
Existem situações que todo mundo reconhece como sendo um problema [por exemplo, desemprego, miséria, etc]. Mas embora haja uma unanimidade ao se dizer que os problemas existem, cada pessoa pode ter uma idéia diferente para uma solução e se sentir convencida de que a sua idéia é a melhor.
A ABORDAGEM MUNDANA
Na maior parte do tempo, cada um defende rigidamente uma solução, o que acaba em conflito e retardando o progresso das decisões a serem tomadas para resolver o problema, que se prolonga. A rigidez na defesa da sua posição é geralmente a fonte dos fanatismos. É a intolerância total.
Num grau menor, podemos observar o fenômeno das negociações que tendem a chegar a um acordo. É a tolerância relativa. Neste caso, os protagonistas levam um tempo mais ou menos longo a argumentar, apelando para todas as suas capacidades intelectuais e se apoiando em suas bagagens culturais. Aqui também o problema se prolonga, com toda sua agudeza, enquanto um consenso não é alcançado.
A natureza desse consenso será fortemente o reflexo daquele que for mais hábil nas negociações, aquele cujos argumentos tiverem mais peso. O que também envolve uma bagagem cultural importante. Porém, não é absolutamente seguro que o consenso seja a melhor solução possível. Assim, por exemplo, o negociador que tem a melhor solução poderá não ter a habilidade, a eloqüência ou a bagagem cultural, e ter diante de si uma pessoa dotada desses recursos, propondo uma solução menos acertada para o problema, mas que no entanto conseguirá a adesão do grupo que, seduzido pela vivacidade do orador, rejeitará a solução do orador menos brilhante mas portador de uma solução melhor.
QUAL A MELHOR SOLUÇÃO?
A melhor solução... mas somos levados a perguntar: em relação a que? Alguns pontos talvez nos dêem uma pista:
1. A melhor solução é o processo que permite chegar a um resultado justo.
2. Um resultado é justo quando está em conformidade, em todos os pontos, com as leis do sistema em que o problema está inserido.
3. Para se chegar ao resultado justo, só se pode usar o processo, sendo que este está em conformidade com as leis daquele sistema.
4. Em nosso mundo manifesto, experimentamos duas espécies de leis: as leis humanas e as leis cósmicas.
5. As leis humanas são cambiantes. As leis cósmicas, das quais nosso mundo faz parte, são imutáveis.
6. Então a melhor solução é aquela que está em harmonia com as leis cósmicas, permitindo chegar a um resultado que esteja em conformidade com essas mesmas leis.
A ABORDAGEM MÍSTICA
Enquanto a pessoa mundana busca instintivamente a solução de um problema baseando-se no sistema das leis humanas, o místico, graças aos estudos e à pratica dos ensinamentos, tem o reflexo natural de buscar a solução desse mesmo problema referindo-se primeiro e acima de tudo às leis cósmicas.
Isso quer dizer que cada um deve buscar saber se a solução que ele defende está de acordo com as leis cósmicas, antes de querer impor aos outros essa solução ou ele mesmo aplicá-la. Seria também conveniente perguntar-se sobre que grau de conhecimento das Leis Cósmicas ele se baseia para afirmar que sua solução está de acordo com elas.
A VIA DA TOLERÂNCIA
Tendo consciência de que ninguém detém o conhecimento total das leis cósmicas [salvo os Iniciados de Graus elevados e os Mestres Cósmicos], cada pessoa seria naturalmente levada a relativizar mais suas opiniões, seus pontos de vista. Isto diminuiria consideravelmente o fanatismo. Não seria apenas a simples tolerância relativa das negociações mundanas. Seria a via da Tolerância. E é no nível do ‘Coração’ que se faz o trabalho da relativização.
UNIDADE
Podemos até afirmar que se todo mundo tivesse um conhecimento perfeito e total das leis cósmicas [daqui a uma eternidade isto talvez seja possível], cada individuo chegaria à mesmíssima solução para a resolução de um dado problema. Assim, percebe-se que, na verdade, as divergências de opiniões não são nada mais do que a tradução de diferentes graus de conhecimento [ou diferentes níveis de ignorância] das leis cósmicas. Podemos até mesmo pensar que quanto mais se avança na senda menos a tolerância é uma realidade, pois as divergências de pontos de vista, diminuem para dar lugar à Unidade de Opinião. E onde não há divergências de opinião, reina a Unidade do ponto de vista. Ora, onde reina a Unidade de ponto de vista, a tolerância deixa de ser um conceito, deixa de ter realidade.
Em relação à abordagem das negociações baseadas nas leis humanas, que ganho de tempo oferece a abordagem mística! E quanto beneficio levado aos outros sem retardos supérfluos, ela permite em matéria de por em aço a melhor solução. Isso é ainda mais precioso quando se trata de um problema crucial a ser resolvido e que talvez reclame urgência.
CONCLUSÃO
Fica evidente que a abordagem mística para a resolução de problemas implica no conhecimento das leis cósmicas, e que só ele permite encontrar a justa solução. É a aprendizagem dessas leis que realizamos, e isto nos diz a que ponto temos responsabilidade de dar o exemplo da tolerância. A abordagem mística, esboçada aqui brevemente, é a chave que permite reabrir a Casa da Tolerância no coração de nosso ser; essa Casa que a abordagem mundana, antes dos nossos estudos, havia fechado, tornando-a uma casa ‘fechada’. Não seria interessante nos perguntarmos em que situações da vida cotidiana poderíamos nos esforçar em aplicar a tolerância, cujas palavras são: ‘relativização e modéstia’ Relativização das nossa opiniões porque nos conscientizamos que possuímos apenas um modesto conhecimento das leis cósmicas.
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[Texto de Jean-Marie Hurand]