1 de jun. de 2010

A Violência como Diversão


Psicologicamente, a diversão pode ser considerada como excitação dos sentidos que produz a sensação agradável. Em geral, o indivíduo não interpreta como diversão aquilo que é auto-induzido, como a participação em esportes ou a busca de um passatempo. Mais propriamente, a diversão é em geral analisada como s implicasse em uma condição passiva que faz com que o ego da pessoa seja influenciado externamente, com o objetivo de produzir a sensação agradável. Assistir a televisão ou um acontecimento esportivo e comparecer a um concerto, são disso exemplos.

O grau de prazer ou satisfação produzido pela diversão varia com a reação emocional do indivíduo. Para as pessoas dotadas de temperamento estético, a visita a uma galeria de belas-artes pode ser plenamente satisfatória. Com outras pessoas, as emoções e instintos básico devem ser despertados mais vigorosamente para que o individuo possa sentir prazer. Absurdo como possa parecer, o ‘medo’, gerado indiretamente ao assistir os chamados filmes de terror, pode produzir excitação, uma intensa satisfação emocional, em certos espectadores.

O risco de possíveis ferimentos ou mesmo de morte, como elemento de atitudes ou aventuras perigosas, propicia grande satisfação para muitas pessoas. Indivíduos há que arriscariam a vida repetidas vezes, simplesmente para experimentar a sensação que advém da vitória pessoal sobre um desastre em potencial.

Há necessidade do ser humano ser emocionalmente excitado. Na verdade, sem estímulos emocionais nossa vida seria um platô de monotonia, que não ofereceria incentivo para viver. Quando em estado primitivo, o homem constantemente se defronta com um desafio à sua sobrevivência. Os elementos são para ele mais hostis do que para os homens de maior cultura, devido à ignorância daquele a respeito dos fenômenos naturais. Por exemplo, muito poucas pessoas civilizadas se apavoram com um forte trovão ou um temporal com relâmpagos, porém a maioria dos homens primitivos isso faz. Além disso, os indivíduos de uma cultura primitiva estão usualmente sujeitos a ataques de animais ferozes e vorazes, e de outros seres humanos.

Esses confrontos geram, freqüentemente, instintos básicos e emoções primitivas. Essas impressões emocionais estão em constante fluxo entre um estado negativo, isto é, a angústia provocada pelas circunstancias, e, por outro lado, o estado positivo. O positivo é a satisfação que o ego sente quando tem a impressão de superar a causa da angustia emocional.

CULTURA AVANÇADA
As emoções e instintos primitivos não são tão predominantes no homem de uma cultura avançada, isto é, se ele tiver aproveitado as vantagens dessa cultura. Ordinariamente, o ambiente da vida moderna não suscita emoções primitivas; pelo menos ele o faz esporadicamente. Por conseguinte, não há, então, o jogo variegado dessas emoções e a satisfação que delas poderia advir. Surge, então, um estado de tédio relativo, que é irritante para o individuo.

Este, nessas circunstâncias, busca o prazer, para mitigar a agitação das emoções semi-reprimidas. Felicidade é apenas um termo que significa prazer de alguma espécie. A felicidade pode ser qualquer um da gama de sentimentos agradáveis, emocionais e sensuais. A pessoa ‘inteligente, estética ou espiritualizada’, isto é, aquela que é dotada com forte estimulo moral como o devoto e o místico, encontra felicidade de maneira menos primitiva. Como analogia, o apreciador das grandes composições musicais e das operas tem uma reação emocional agradável com a sensação experimentada, equivalente à que é sentida por qualquer pessoa que goste de assistir a touradas ou brigas de galo.

A pessoa que sente satisfação como decorrência de um estimulo às suas emoções inferiores e instintos básicos, não é permanentemente insensível àquilo que poderíamos chamar de emoções mais refinadas. As chamadas emoções inferiores são aquelas de que o homem, em sua longa ascensão, tem dependido para a sua continuada existência. As demais reações emocionais são mais sutis e têm de ser cultivadas, ou talvez ‘despertadas’ seja o termo mais apropriado. Os homens que são criados em ambiente isento de quaisquer influencias das características intelectuais, estéticas ou espirituais manifestam finalmente apreciação por elas, quando passam a desfrutar de condições a elas favoráveis, durante período de tempo suficiente.

Na maioria das pessoas, a sensibilidade a impressões de natureza mais sublime está latente e precisa de estimulo. É questão polêmica entre os psicólogos se a sensibilidade que produz o grande artista ou músico é a hereditariedade. Alguns dos grandes músicos do mundo nasceram de pais que não davam mostra do mesmo talento nem demonstravam apreciação excepcional pela música clássica.

TRANSFERÊNCIA GENÉTICA
Por outro lado, muitas das pessoas extremamente sensitivas às impressões que satisfazem as emoções mais sutis, têm tido pais que reagem de maneira idêntica, embora seu interesse não correspondesse exatamente ao dos filhos. Como analogia, um pai pode ser um poeta famoso, e sua satisfação emocional decorre de abandonar-se a esse tipo de literatura. O filho, por outro lado, pode ser grande admirador da arte abstrata, demonstrando, porém, pouco interesse pela poesia. Pareceria, portanto, que, por esses exemplos, haveria uma transferência genética de sensibilidade às emoções sutis, mas ela se manifestaria, todavia, em uma categoria diferente, nos descendentes.

Há um acentuado clamor d uma certa parte da sociedade a respeito da crescente exibição de violência na televisão e nos filmes cinematográficos. A grande maioria dos filmes de televisão é baseada em estórias sobre as aventuras de detetives particulares e oficiais encarregados da execução da lei,e tem o crime como tema. A sanção do crime com toda a sua violência é comumente retratada com sórdidos detalhes. O espectador experimenta uma sensação de expectativa profundamente gerada. Essa expectativa é ansiedade, origem da emoção de medo.

Esses espectadores, contudo, sentem profunda satisfação porque aquilo que está sendo visto atua sobre a natureza primitiva do ego, o aspecto mais inferior do homem. Quanto mais esses filmes forem vistos, mais dependente se tornará o individuo a essa espécie de estímulos; em outras palavras, ele sente satisfação principalmente na tentação aos sentimentos primordiais. Por contraste, todas as demais sensações que possa experimentar não conseguirão provocar satisfação emocional igualmente intensa.

Não há informação estatística para provar que o espectador de peças sanguinárias e estórias de horror é por elas induzido a cometer crimes idênticos. A média do espectador adulto desses temas está perfeitamente ciente da condenação social desses atos. Além disso, a maioria desses indivíduos tem suficiente controle moral para não se entregar a semelhantes atos de violência.

SATISFAÇÃO EMOCIONAL
O maior perigo de considerar a violência como entretenimento subsiste entre os adolescentes. A menos que os jovens tenham tido a oportunidade de primeiramente despertar as reações mais sutis da consciência para as coisas mais nobres da vida e de com elas sentir satisfação, a violência torna-se, para eles, satisfação emocional.

Há, sem dúvida, um desequilíbrio entre a atração da violência e o recurso ao ego emocional mais sublime. A violência tem predominância, desde que é uma impressão muito grosseira. Ela ataca diretamente os valores fundamentais da vida do individuo, em forma de ‘medo, dor, morte’. Estas emoções agitam o individuo profundamente e podem ser descritas de maneira simples, mas a emoção que desperta o desejo e o gozo dos valores morais e estéticos é muito mais sutil. Na maioria dos casos, necessário se faz o desenvolvimento gradual ou o despertar do ego para essas impressões.

A criança, portanto, que está continuamente exposta a entretenimento violento, fica dominada por suas emoções e seus instintos inferiores. Como conseqüência, ser-lhe-á cada vez mais difícil adaptar-se aos prazeres cujo impacto sobre essas emoções seja muito menos intenso.

O adulto, do mesmo modo, não está livre dos efeitos adversos da violência como diversão. O ser humano normal encontra gradações de prazer em outras atividades. Contudo, o contínuo abandono à reação mais emocional provocada pela violência como diversão diminui a satisfação que ele sente com outros meios de entretenimento.

Por que, então, a violência na televisão e nos filmes, ao ponto em que hoje existe?
A televisão e os filmes são empreendimentos comerciais. É, portanto, de se esperar que eles procurem se constituir em atração tão forte quanto possível, para as multidões. É necessário que suas estatísticas provem que certos programas têm maior audiência para que, desse modo, possam persuadir os anunciantes a patrociná-las. Infelizmente, muitas organizações comerciais importantes, hoje em dia, não estão imbuídas de propósito que denote um acentuado idealismo moral ou ético. Elas continuarão a usar, mais e mais, um tema que possa produzir lucros, a menos que contra ele haja condenação pública majoritária ou censura governamental.
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[Pelo Imperator]

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