Em seu livro, A TEIA DA VIDA – Uma Nova Compreensão dos Sistemas Vivos, o físico Fritjof Capra mostra, com base em farta documentação, que a natureza é de fato inteligente – algo que os místicos de séculos atrás já sabiam.
A idéia central do livro do físico Fritjof Capra mostro todo o alcance da mudança revolucionária que está ocorrendo no pensamento científico. Com habilidade, senso comum e farta documentação, o livro A TEIA DA VIDA – UMA NOVA COMPREENSÃO DOS SISTEMAS VIVOS leva o leitor a concluir do mesmo modo que os místicos e santos de muitos séculos atrás:
“A mente universal está presente na natureza. Portanto, a natureza é inteligente. Porém, a inteligência não é necessariamente um processo verbal. A compreensão que fica presa às palavras é superficial. O conhecimento pode ocorrer de modo direto, independentemente de informações.”
Com doutorado na Universidade de Viena,autos de livros famosos como O TAO DA FÍSICA E O PONTO DE MUTAÇÃO, Capra é um dos principais pensadores da Nova Era, cujo surgimento ele estuda e descreve a partir dos avanços da ciência e da redescoberta das filosofias orientais.
Em The Web of Life [“A Teia da Vida”][1],Capra faz uma crônica da evolução cientifica no século 20 e retoma as teses de O PONTO DE MUTAÇÃO para discutir as teorias sistêmicas, que procuram ver todas as coisas em conjunto e nunca isoladamente. Para ele, não só a física, mas todas as áreas especificas da ciência moderna desembocam hoje inevitavelmente na visão ecológica do mundo, assim como os rios encontram o oceano. A visão ecológica é idêntica à visão mística.
Capra abre seu livro com um poema de Ted Perry, inspirado na famosa mensagem do chefe indígena Seattle ao presidente norte-americano, considerado como o maior manifesto ecológico de todos os tempos:
“Isto nós sabemos.
Todas as coisas estão ligadas
Como o sangue que une uma família...
Tudo o que afeta a terra
Afeta os filhos e filhas da terra.
O homem não teceu a teia da vida;
Ele é apenas um fio dela.
Tudo o que ele faz à teia
Ele faz a si mesmo.”
A concepção sistêmica da vida não vê as coisas como elementos isolados, mas como partes de padrões vibratórios integrados, conjuntos cheios de significados, cujas características mais importantes não estão em suas partes, mas na maneira como estas partes se relacionam. Este enfoque surge, de certo modo, da física quântica. “Os objetos sólidos da física clássica se dissolvem no nível subatômico em padrões de probabilidades que tem forma de ondas”, escreve Capra:
“Estes padrões, além disso, não representam probabilidades de coisas, mas de interconexões. As partículas subatômicas não significam nada como entidades isoladas, mas só podem ser compreendidas como interconexões, ou correlações, entre vários processos...em outras palavras, as partículas subatômicas não são coisas, mas relações entre coisas, as quais, por sua vez, são relações entre outras coisas, e assim por diante.”
O paralelo com a tradição mística e esotérica é inevitável. “O mundo físico é MAYA, ilusão”, diz o budismo há 2.500 anos, antecipando a física moderna, “e além desta aparência ilusória está o vazio que “plenitude”. A sabedoria hermética afirma: “Assim é o grande como o pequeno, e tudo está unido a tudo o tempo todo.”
A unidade de todas as coisas não significa que não haja diferença entre elas. Afinal, estamos acostumados a compreender o mundo pelas suas partes, e estabelecendo contrastes entre elas: frio e quente, alto e baixo, rápido e lento, próximo e distante. Há um nível de percepção da realidade em que estas distinções funcionam perfeitamente [conforme a física de Newton]. Mas a aparente exatidão e a segurança desta dimensão da ciência são limitadas. Capra dá um exemplo disso.
Suponhamos, diz ele, que uma professora de física deixa cair de certa altura um objeto até o chão, e mostra a seus alunos como calcular o tempo de queda do objeto de acordo com a formula newtoniana clássica.[2] Como a maior parte da física de Newton, a fórmula vai ignorar a resistência do ar, e por isso não será perfeitamente exata. Se o objeto fosse uma folha de papel, a experiência fracassaria. A professora pode ir além desta primeira aproximação e levar em conta a resistência do ar acrescentando mais um elemento à sua formula. Mas isto também não dará uma precisão total. A resistência do ar depende da temperatura e da pressão atmosférica, e também do movimento do ar da sala, o qual é movimentado inclusive pela respiração dos estudantes. Capra mostra, então, que a precisão nunca é total, derrubando o velho paradigma de que o conhecimento científico é exato. “A ciência avança através de respostas parciais a questões cada vez mais sutis, que alcançam cada vez mais profundamente a essência dos fenômenos naturais”, escreveu Louis Pasteur. “Em ciência, nós sempre lidamos com descrições limitadas e aproximadas da realidade”, completa Fritjof Capra. E é a aceitação desta “imprecisão relativa” que leva a desistir da obsessão com o detalhe e a olhar as coisas em seu conjunto.
O cérebro humano, por exemplo, pode ser visto como uma rede ou teia de relações. “A estrutura do cérebro é tremendamente complexa”, diz Capra. “Ela contém 10 bilhões de células nervosas[neurônios], que estão interligadas formando uma grande rede graças a 1 bilhão de junções[sinapses].” O cérebro pode ser dividido em seções, ou sub-redes, comunicadas entre si de modo não-linear, isto é, com a troca energética fluindo em todas as direções ao mesmo tempo e provocando uma ação instantaneamente coordenada.
Algo semelhante ocorre com o planeta Terra, como ecossistema natural. Há uma auto-organização. E, segundo a hipótese Gaia, a auto-organização ecológica também é consciente. Deste modo, vemos que existe um ecossistema mental, que reúne nossas idéias e pensamentos, e que tem como ponto de apoio no mundo físico o nosso cérebro; existe um ecossistema emocional, que tem como ponto de apoio físico o nosso sistema nervoso; e há um ecossistema físico, nosso corpo com os aparelhos digestivo, circulatório, respiratório, etc. Cada um destes ecossistemas tem sua própria forma de inteligência e capacidade de auto-organizar-se. Mas a visão ecológica da vida, que é, por estranho que pareça, igualmente ‘mística e científica’ não pára neste ponto. Os ecossistema físicos e naturais externos ao ser humano também são auto-regulados e têm sua própria forma de inteligência. Grande parte do livro de Capra é dedicado “à hipótese de Gaia”, segundo a qual o planeta Terra vive e regula seu metabolismo mantendo a temperatura certa e as outras condições necessárias à vida.
“O processo de auto-regulação foi a chave para a idéia de James Lovelock[criador da hipótese Gaia], escreve Capra. “Ele sabia, graças à astrofísica, que o calor do Sol aumentou em 25% desde o começo da vida na Terra, apesar disso, a temperatura na superfície do planeta tem permanecido constante, em nível confortável para a vida, nestes últimos 4 bilhões de anos.”
Foi então que Lovelock formulou a hipótese de que a Terra seria capaz de regular sua temperatura-assim como a composição química da sua atmosfera, a salinidade dos seus oceanos, etc.- do mesmo modo que os organismos vivos descritos pela biologia. A Terra não era mais “um planeta morto feito de rochas, oceanos e atmosfera inanimados”, mas sim um conjunto vital capaz de auto-regular-se. A ciência moderna redescobria deste modo a deusa grega Gaia. E é bom lembrar, a esta altura, que James Lovelock não era nenhum poeta romântico ou estudioso das tradições místicas orientais, mas um especialista em química atmosférica contratado pela Nasa para fazer parte do programa de investigações sobre a vida em Marte.
Neste livro, como em textos anteriores, Capra parece cometer uma certa injustiça em relação a Isaac Newton, quase sempre citado como expressão maior da ciência estreita e mecanicista. Na verdade, Newton era praticante da alquimia e temia as tendências materialistas do pensamento cientifico, que levaram a uma falta de reverencia e de ética diante da vida. Ele aceitava a doutrina da vida universal e da colocação, por Deus, do espírito divino m todas as coisas, o que, com palavras diferentes, é a mesma idéia central de Capra outros físicos atuais. Lembrando o famoso episódio em que Newton desenvolve a sua teoria a partir da queda de uma maçã, enquanto ele repousava sob uma árvore, Helena Blavatsky escreveu, com seu estilo irônico:
“As idéias e os pensamentos mais íntimos de Newton foram deturpados, e da sua profunda ciência matemática aproveitou-se apenas a crosta física. Se o pobre Sir Isaac Newton houvesse previsto o uso que seus sucessores e discípulos dariam à sua “gravidade” aquele homem piedoso e crente teria preferido certamente comer tranqüilamente a maçã, sem jamais dizer uma palavra sobre as idéias mecânicas sugeridas pela sua queda.”[3]
De qualquer modo, uma das contribuições revolucionárias de A TEIA DA VIDA trata da natureza do conhecimento. Adotando a chamada TEORIA DE SANTIAGO, formulada por HUMBERTO MATURANA e FRANCISCO VARELA, Capra afirma que a mente não é uma coisa, mas um processo. A mente é a aquisição de conhecimento, e está imersa na própria vida concreta da natureza:
“As interações de um sistema vivo com seu meio ambiente são interações cognitivas, isto é, de conhecimento, e o próprio processo da vida é um processo cognitivo. Nas palavras de Maturana e Varela, VIVER É CONHECER.” A idéia é inspiradora. Não há vida sem conhecimento, e portanto o próprio desenvolvimento do mundo vegetal – por exemplo – é uma ampliação de conhecimento. Inverte-se, pois, a famosa frase de Descartes, “Penso, logo existo.” O saber é inseparável da existência, e não há vida sem saber. Tudo o que existe tem consciência. Podemos imaginar uma árvore que diz:
“Estou viva, busco os nutrientes no solo, estendo minhas raízes de modo a firmar melhor meu tronco, abro minhas folhas de modo a captar melhor a luz e a energia do Sol, e estas são diferentes formas de conhecimento. Meu conhecimento da vida é direto, e não verbal. Não preciso falar para buscá-lo ou usá-lo. Mas posso falar através da própria imaginação humana de quem me compreende.”
Os cidadãos de hoje, perdidos em um mar de palavras, esquecem do conhecimento direto. A consciência plena, independente do discurso verbal, é objeto da ioga e do samadhi ou êxtase místico. Não é por mero acaso que os santos e sábios buscam o convívio com a natureza. Eles tem o mesmo tipo de conhecimento direto que as plantas e animais, e desenvolveram uma percepção imediata da realidade que não necessita da intermediação do pensamento, porque sabem que navegam no universo e que a separatividade é uma ilusão.
Mesmo mantendo-se dentro dos limites da linguagem cientifica acessível ao público leigo, Capra amplia a relação cada vez mais vasta, hoje, entre ciência e sabedoria esotérica. E, ao traçar a enorme diferença entre conhecimento e informação, lança um desafio fascinante ao jornalismo e aos meios de comunicação de massa.
Quando o rádio e a televisão despejam uma quantidade imensa de informações a cada instante, não estão transmitindo nenhum conhecimento real. A comunicação autentica não é uma mera transferência de informação, mas sim uma troca entre sistemas vivos. Os meios de comunicação de massa devem fazer o cidadão crescer como ser humano, e não apenas lançar sobre seu cérebro atônito imagens desconexas de coisas que estão ocorrendo em algum lugar, mas que ele não entende porque não percebe qual a relação delas com sua vida concreta.
Será preciso que os meios de comunicação social renunciem ao abuso do que é “fantástico” e “extraordinário” para que possam cumprir sua missão, acelerando conscientemente o surgimento de uma mente humana mais profunda e poderosa, livre do ruído interior da busca de “novidades”. O verdadeiro conhecimento é interior e não-verbal. Quando o jornalismo adequar-se a este fato, a transição para a NOVA ERA se completará com uma velocidade surpreendente. As informações serão, então, transmitidas dentro de um contexto significativo de crescimento interior, em que as noticias do mundo externo – boas ou más – fazem parte do processo do nosso desenvolvimento espiritual e o aceleram. O que se poderá chamar de “visão sistêmica do jornalismo e da informação” é, cada dia mais, uma necessidade objetiva da nossa cultura.
A lição central do livro de Capra é que não existe nada separado, seja dentro de um átomo, em nosso planeta ou no universo. Cada ação ou atitude nossa provoca certas conseqüências, não é sobre os outros, mas sobre nós próprios. “Toda ação provoca uma reação igual em sentido contrário”, diz a terceira lei de Newton, que é uma perfeita formulação da lei do carma. Sabendo disso, talvez o melhor que podemos fazer é lembrar sempre dos versos imortais:
“Pare de fazer o mal.
Aprenda a fazer o bem.
Purifique seu coração.
Este é o ensinamento dos Budas.”
_
Notas
A idéia central do livro do físico Fritjof Capra mostro todo o alcance da mudança revolucionária que está ocorrendo no pensamento científico. Com habilidade, senso comum e farta documentação, o livro A TEIA DA VIDA – UMA NOVA COMPREENSÃO DOS SISTEMAS VIVOS leva o leitor a concluir do mesmo modo que os místicos e santos de muitos séculos atrás:
“A mente universal está presente na natureza. Portanto, a natureza é inteligente. Porém, a inteligência não é necessariamente um processo verbal. A compreensão que fica presa às palavras é superficial. O conhecimento pode ocorrer de modo direto, independentemente de informações.”
Com doutorado na Universidade de Viena,autos de livros famosos como O TAO DA FÍSICA E O PONTO DE MUTAÇÃO, Capra é um dos principais pensadores da Nova Era, cujo surgimento ele estuda e descreve a partir dos avanços da ciência e da redescoberta das filosofias orientais.
Em The Web of Life [“A Teia da Vida”][1],Capra faz uma crônica da evolução cientifica no século 20 e retoma as teses de O PONTO DE MUTAÇÃO para discutir as teorias sistêmicas, que procuram ver todas as coisas em conjunto e nunca isoladamente. Para ele, não só a física, mas todas as áreas especificas da ciência moderna desembocam hoje inevitavelmente na visão ecológica do mundo, assim como os rios encontram o oceano. A visão ecológica é idêntica à visão mística.
Capra abre seu livro com um poema de Ted Perry, inspirado na famosa mensagem do chefe indígena Seattle ao presidente norte-americano, considerado como o maior manifesto ecológico de todos os tempos:
“Isto nós sabemos.
Todas as coisas estão ligadas
Como o sangue que une uma família...
Tudo o que afeta a terra
Afeta os filhos e filhas da terra.
O homem não teceu a teia da vida;
Ele é apenas um fio dela.
Tudo o que ele faz à teia
Ele faz a si mesmo.”
A concepção sistêmica da vida não vê as coisas como elementos isolados, mas como partes de padrões vibratórios integrados, conjuntos cheios de significados, cujas características mais importantes não estão em suas partes, mas na maneira como estas partes se relacionam. Este enfoque surge, de certo modo, da física quântica. “Os objetos sólidos da física clássica se dissolvem no nível subatômico em padrões de probabilidades que tem forma de ondas”, escreve Capra:
“Estes padrões, além disso, não representam probabilidades de coisas, mas de interconexões. As partículas subatômicas não significam nada como entidades isoladas, mas só podem ser compreendidas como interconexões, ou correlações, entre vários processos...em outras palavras, as partículas subatômicas não são coisas, mas relações entre coisas, as quais, por sua vez, são relações entre outras coisas, e assim por diante.”
O paralelo com a tradição mística e esotérica é inevitável. “O mundo físico é MAYA, ilusão”, diz o budismo há 2.500 anos, antecipando a física moderna, “e além desta aparência ilusória está o vazio que “plenitude”. A sabedoria hermética afirma: “Assim é o grande como o pequeno, e tudo está unido a tudo o tempo todo.”
A unidade de todas as coisas não significa que não haja diferença entre elas. Afinal, estamos acostumados a compreender o mundo pelas suas partes, e estabelecendo contrastes entre elas: frio e quente, alto e baixo, rápido e lento, próximo e distante. Há um nível de percepção da realidade em que estas distinções funcionam perfeitamente [conforme a física de Newton]. Mas a aparente exatidão e a segurança desta dimensão da ciência são limitadas. Capra dá um exemplo disso.
Suponhamos, diz ele, que uma professora de física deixa cair de certa altura um objeto até o chão, e mostra a seus alunos como calcular o tempo de queda do objeto de acordo com a formula newtoniana clássica.[2] Como a maior parte da física de Newton, a fórmula vai ignorar a resistência do ar, e por isso não será perfeitamente exata. Se o objeto fosse uma folha de papel, a experiência fracassaria. A professora pode ir além desta primeira aproximação e levar em conta a resistência do ar acrescentando mais um elemento à sua formula. Mas isto também não dará uma precisão total. A resistência do ar depende da temperatura e da pressão atmosférica, e também do movimento do ar da sala, o qual é movimentado inclusive pela respiração dos estudantes. Capra mostra, então, que a precisão nunca é total, derrubando o velho paradigma de que o conhecimento científico é exato. “A ciência avança através de respostas parciais a questões cada vez mais sutis, que alcançam cada vez mais profundamente a essência dos fenômenos naturais”, escreveu Louis Pasteur. “Em ciência, nós sempre lidamos com descrições limitadas e aproximadas da realidade”, completa Fritjof Capra. E é a aceitação desta “imprecisão relativa” que leva a desistir da obsessão com o detalhe e a olhar as coisas em seu conjunto.
O cérebro humano, por exemplo, pode ser visto como uma rede ou teia de relações. “A estrutura do cérebro é tremendamente complexa”, diz Capra. “Ela contém 10 bilhões de células nervosas[neurônios], que estão interligadas formando uma grande rede graças a 1 bilhão de junções[sinapses].” O cérebro pode ser dividido em seções, ou sub-redes, comunicadas entre si de modo não-linear, isto é, com a troca energética fluindo em todas as direções ao mesmo tempo e provocando uma ação instantaneamente coordenada.
Algo semelhante ocorre com o planeta Terra, como ecossistema natural. Há uma auto-organização. E, segundo a hipótese Gaia, a auto-organização ecológica também é consciente. Deste modo, vemos que existe um ecossistema mental, que reúne nossas idéias e pensamentos, e que tem como ponto de apoio no mundo físico o nosso cérebro; existe um ecossistema emocional, que tem como ponto de apoio físico o nosso sistema nervoso; e há um ecossistema físico, nosso corpo com os aparelhos digestivo, circulatório, respiratório, etc. Cada um destes ecossistemas tem sua própria forma de inteligência e capacidade de auto-organizar-se. Mas a visão ecológica da vida, que é, por estranho que pareça, igualmente ‘mística e científica’ não pára neste ponto. Os ecossistema físicos e naturais externos ao ser humano também são auto-regulados e têm sua própria forma de inteligência. Grande parte do livro de Capra é dedicado “à hipótese de Gaia”, segundo a qual o planeta Terra vive e regula seu metabolismo mantendo a temperatura certa e as outras condições necessárias à vida.
“O processo de auto-regulação foi a chave para a idéia de James Lovelock[criador da hipótese Gaia], escreve Capra. “Ele sabia, graças à astrofísica, que o calor do Sol aumentou em 25% desde o começo da vida na Terra, apesar disso, a temperatura na superfície do planeta tem permanecido constante, em nível confortável para a vida, nestes últimos 4 bilhões de anos.”
Foi então que Lovelock formulou a hipótese de que a Terra seria capaz de regular sua temperatura-assim como a composição química da sua atmosfera, a salinidade dos seus oceanos, etc.- do mesmo modo que os organismos vivos descritos pela biologia. A Terra não era mais “um planeta morto feito de rochas, oceanos e atmosfera inanimados”, mas sim um conjunto vital capaz de auto-regular-se. A ciência moderna redescobria deste modo a deusa grega Gaia. E é bom lembrar, a esta altura, que James Lovelock não era nenhum poeta romântico ou estudioso das tradições místicas orientais, mas um especialista em química atmosférica contratado pela Nasa para fazer parte do programa de investigações sobre a vida em Marte.
Neste livro, como em textos anteriores, Capra parece cometer uma certa injustiça em relação a Isaac Newton, quase sempre citado como expressão maior da ciência estreita e mecanicista. Na verdade, Newton era praticante da alquimia e temia as tendências materialistas do pensamento cientifico, que levaram a uma falta de reverencia e de ética diante da vida. Ele aceitava a doutrina da vida universal e da colocação, por Deus, do espírito divino m todas as coisas, o que, com palavras diferentes, é a mesma idéia central de Capra outros físicos atuais. Lembrando o famoso episódio em que Newton desenvolve a sua teoria a partir da queda de uma maçã, enquanto ele repousava sob uma árvore, Helena Blavatsky escreveu, com seu estilo irônico:
“As idéias e os pensamentos mais íntimos de Newton foram deturpados, e da sua profunda ciência matemática aproveitou-se apenas a crosta física. Se o pobre Sir Isaac Newton houvesse previsto o uso que seus sucessores e discípulos dariam à sua “gravidade” aquele homem piedoso e crente teria preferido certamente comer tranqüilamente a maçã, sem jamais dizer uma palavra sobre as idéias mecânicas sugeridas pela sua queda.”[3]
De qualquer modo, uma das contribuições revolucionárias de A TEIA DA VIDA trata da natureza do conhecimento. Adotando a chamada TEORIA DE SANTIAGO, formulada por HUMBERTO MATURANA e FRANCISCO VARELA, Capra afirma que a mente não é uma coisa, mas um processo. A mente é a aquisição de conhecimento, e está imersa na própria vida concreta da natureza:
“As interações de um sistema vivo com seu meio ambiente são interações cognitivas, isto é, de conhecimento, e o próprio processo da vida é um processo cognitivo. Nas palavras de Maturana e Varela, VIVER É CONHECER.” A idéia é inspiradora. Não há vida sem conhecimento, e portanto o próprio desenvolvimento do mundo vegetal – por exemplo – é uma ampliação de conhecimento. Inverte-se, pois, a famosa frase de Descartes, “Penso, logo existo.” O saber é inseparável da existência, e não há vida sem saber. Tudo o que existe tem consciência. Podemos imaginar uma árvore que diz:
“Estou viva, busco os nutrientes no solo, estendo minhas raízes de modo a firmar melhor meu tronco, abro minhas folhas de modo a captar melhor a luz e a energia do Sol, e estas são diferentes formas de conhecimento. Meu conhecimento da vida é direto, e não verbal. Não preciso falar para buscá-lo ou usá-lo. Mas posso falar através da própria imaginação humana de quem me compreende.”
Os cidadãos de hoje, perdidos em um mar de palavras, esquecem do conhecimento direto. A consciência plena, independente do discurso verbal, é objeto da ioga e do samadhi ou êxtase místico. Não é por mero acaso que os santos e sábios buscam o convívio com a natureza. Eles tem o mesmo tipo de conhecimento direto que as plantas e animais, e desenvolveram uma percepção imediata da realidade que não necessita da intermediação do pensamento, porque sabem que navegam no universo e que a separatividade é uma ilusão.
Mesmo mantendo-se dentro dos limites da linguagem cientifica acessível ao público leigo, Capra amplia a relação cada vez mais vasta, hoje, entre ciência e sabedoria esotérica. E, ao traçar a enorme diferença entre conhecimento e informação, lança um desafio fascinante ao jornalismo e aos meios de comunicação de massa.
Quando o rádio e a televisão despejam uma quantidade imensa de informações a cada instante, não estão transmitindo nenhum conhecimento real. A comunicação autentica não é uma mera transferência de informação, mas sim uma troca entre sistemas vivos. Os meios de comunicação de massa devem fazer o cidadão crescer como ser humano, e não apenas lançar sobre seu cérebro atônito imagens desconexas de coisas que estão ocorrendo em algum lugar, mas que ele não entende porque não percebe qual a relação delas com sua vida concreta.
Será preciso que os meios de comunicação social renunciem ao abuso do que é “fantástico” e “extraordinário” para que possam cumprir sua missão, acelerando conscientemente o surgimento de uma mente humana mais profunda e poderosa, livre do ruído interior da busca de “novidades”. O verdadeiro conhecimento é interior e não-verbal. Quando o jornalismo adequar-se a este fato, a transição para a NOVA ERA se completará com uma velocidade surpreendente. As informações serão, então, transmitidas dentro de um contexto significativo de crescimento interior, em que as noticias do mundo externo – boas ou más – fazem parte do processo do nosso desenvolvimento espiritual e o aceleram. O que se poderá chamar de “visão sistêmica do jornalismo e da informação” é, cada dia mais, uma necessidade objetiva da nossa cultura.
A lição central do livro de Capra é que não existe nada separado, seja dentro de um átomo, em nosso planeta ou no universo. Cada ação ou atitude nossa provoca certas conseqüências, não é sobre os outros, mas sobre nós próprios. “Toda ação provoca uma reação igual em sentido contrário”, diz a terceira lei de Newton, que é uma perfeita formulação da lei do carma. Sabendo disso, talvez o melhor que podemos fazer é lembrar sempre dos versos imortais:
“Pare de fazer o mal.
Aprenda a fazer o bem.
Purifique seu coração.
Este é o ensinamento dos Budas.”
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Notas
[1]The Web of Life, a New Scientific Understandign of Living Systems, Anchor Books, Doubleday, Nova York,mEUA, 1996, 333 pp.
[2]The Web of Life, pp 41-42.
[3]Helena Blavatsky em A Doutrina Secreta, Ed. Pensamento, Vol II, p.194. ver também Helena Blavatsky, a Vida e a Influencia Extraordinária da Fundadora do Movimento Teosófico Moderno, de Sylvia Cranston, Editora Teosófica, Brasília, 1997.
[4]Texto por Carlos Cardoso Aveline.
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