2 de dez. de 2011

Aplicando a Criatividade_ao seu Ambiente

Nosso ambiente é um estado complexo. Em parte, ele consiste da área geográfica onde nos encontramos. Esta inclui condições físicas tais como altitude, clima e fartura ou escassez de recursos naturais. Há também outros fatores que, embora não resultem diretamente do ambiente físico, tem igual efeito e influencia sobre a pessoa. São estes as relações familiares, associações com outras pessoas, coma  sociedade; isto é, costumes e tradições, doutrinas religiosas e políticas.

O ambiente pode ser involuntário ou voluntário na influencia que exerce. Com mais freqüência, é uma combinação de ambos. Por exemplo, não escolhemos o ambiente físico onde nascemos, nem tampouco escolhemos nossa associação familiar. Podemos, contudo, por vontade própria, mudar mais tarde para outra área geográfica. Podemos também escolher as pessoas com as quais nos desejamos associar quando amadurecemos e formamos preferências.

Na vida da maioria das pessoas há certos fatores ambientes que são inevitáveis e aos quais elas parecem sujeitas. Podemos usar a analogia dos trabalhadores nas minas de carvão há mais ou menos um século na Europa.  Era costume o filho seguir a profissão do pai. Quando ainda criança tornavam-no cônscio desta obrigação social e ele esperava ser este o trabalho de toda a sua vida. Antes do aparecimento de governos e de leis trabalhistas esclarecidos, estas cidades de mineração eram deploráveis. As casas, muitas vezes, não passavam de choupanas imundas e onde não existiam instalações sanitárias adequadas. AS próprias minas não tinham ventilação apropriada. Os meninos deveriam iniciar o aprendizado cedo e, portanto, tinham pouca ou nenhuma oportunidade para educação. Portanto, ali, a pessoa estava presa pelo seu ambiente.

Hoje em dia há muitas pessoas, em nossa sociedade moderna, que por várias razões acreditam ser incapazes de transcender ou transformar seu ambiente e, portanto, submetem-se a ele. Muitas vezes essas pessoas tem algum tipo de obrigação moral para com sua família, ou com terceiros, e que não querem violar tal encargo com qualquer mudança. Muitas jovens – e rapazes -  deixaram de casar por causa de um genitor senil e muitas vezes egoísta. Temos aqui, portanto, um ambiente que eles criaram devido a um senso moral deslocado. Na realidade, eles talvez não tenham criado as circunstancias infelizes em que continuam a viver, mas as perpetuam recusando-se a mudá-las ou evitá-las.

O elemento do idealismo entra no tema de criar ambiente. Quais são as condições, os fatores da vida em que a pessoa quer entrar ou dos quais quer cercar-se? A bem da analogia, examinemos o ambiente físico. Se tivessem a escolha e a oportunidade de escolher, algumas pessoas viveriam numa área costeira. Outras, ainda, prefeririam as montanhas ou um vale fértil. São inúmeras as pessoas cujo ideal de vida é morar numa área urbana, como uma grande cidade metropolitana, com sua sofisticação, suas conveniências técnicas e suas facilidades. Quanto à criação de um ambiente, isto, portanto, está relacionado ao idealismo pessoal do individuo. Não existe nenhuma critério para ambiente que possa conquistar a aprovação ou aceitação de todas as pessoas.

Ao criar nosso ambiente, uma primeira etapa essencial é chegar-se a um conceito sobre o que queremos exatamente. Por exemplo, é o desejo básico uma mudança de área onde vivemos? Será associação, oportunidade de emprego, costumes sociais e políticos? Só muito raramente o ambiente da pessoa é indesejável em todos os seus elementos. A pessoa mediana que gostaria de uma transformação de ambiente pode reduzi-la a uma coisa primária que se evidenciaria e que, se mudada, satisfaria.

A consideração seguinte é se o individuo tem o poder pessoal, isto é, a capacidade e os recursos, para criar a mudança desejada. Algumas circunstancias são inatas -  são os costumes tradicionais e as tradições de um lugar que tem a aceitação da maioria que ali vive. Pode-se não aprová-las – na opinião do individuo, as pessoas podem ser fanáticas, intolerantes, ou dedicadas a finalidades obsoletas. Isto, então, provoca uma questão profundamente intima: Tem alguém o direito de impor suas opiniões e conceitos pessoais a outros?  Tem esse alguém o direito de, de tal forma, mudá-los para desagrado da maioria das outras pessoas?

Em termos simples, se você deseja ser um cruzado e atacar o que acha que precisa ser mudado, você então assume grande responsabilidade pelos seus atos. Grandes reformas tem sido feitas por pessoas de mentalidade radical. Essas pessoas muitas vezes agiam com altruísmo no esforço para criar um novo ambiente físico e psicológico. Elas o fizeram com a intenção de esclarecer o povo, conduzi-lo para fora de uma treva onde, na sua opinião, ele vivia. A história está repleta dessas reformar vitoriosas nas quais a humanidade se beneficiou pela atitude daqueles que desafiaram um ambiente tradicional e estático. Contudo, houve também exemplos de fanatismo quando a transformação era feita para satisfazer um conceito pessoal, independente das conseqüências para a humanidade contemporânea.

Deve-se supor que a pessoa mediana que deseja um ambiente não está aspirando a ser um cruzado ou um messias. Vamos dar um exemplo: Um homem tem uma mulher e três filhos pequenos. Ele mora numa cidade grande, num bairro que está se deteriorando fisicamente. Muitas famílias mudaram-se para novos lugares. Ele acha que os novos moradores do local são indesejáveis. Talvez não tenham bons hábitos de higiene; seus filhos são indisciplinados e os pais são de padrões morais e éticos baixos. Isto, então, reflete-se na linguagem vulgar e nos hábitos ofensivos de seus filhos. O homem de nosso exemplo observa os efeitos prejudiciais dessa associação sobre seus filhos.

O homem e sua mulher podem visualizar um lugar ideal. Na sua imagem mental, eles vêem um lar atraente numa rua limpa com belas árvores. Também imaginam crianças bem-educadas como companheiras de seus filhos. Contudo, esta visualização é apenas um fator contribuinte para o ideal, o ambiente melhor desejado. Em si, ela é bastante incompleta, psicológica, mística e praticante. Na verdade, não passa de um estado mental que não tem nenhuma ligação concreta com a realidade. Que terá a pessoa de aplicar sobre a realidade, sobre as condições reais que existem? Que influencia ou coisa ele exercerá para criar, isto é, fazer a transformação?

A auto-análise ou melhor, auto-avaliação, deve ser a etapa seguinte. A mudança para um local de acordo com o ideal visualizado e adquirir a casa desejada é uma questão econômica. Tem ele os meios para isso? Obviamente não, do contrário não teria permanecido onde está. É necessário, então, encontrar um meio de melhorar sua posição econômica. Existirá algum modo de fazer com que seu emprego atual resulte numa renda melhor? Se negativo, há possibilidade de novo treinamento para outra ocupação ou para uma promoção no emprego atual?

O que se está dizendo aqui é que, se não quisermos que o ideal tenha efeito nugatório, ele tem de estar relacionado aos potenciais reais da própria pessoa. Ele deve ser o potencial ativo para produzir o estado preferido. Logo, que pode aplicar a si mesmo? Na realidade, nessa criação, vemos que o ideal tem de ser subdividido em estágios progressivos pelos quais se possa alcançar o estágio final. 

Será que a intuição ajuda? Sim, de um modo prático. Se a pessoa não sabe como abordar seu ideal -  a criação de seu ambiente -, deve procurar ver seus componentes na reflexão, na meditação. Em outras palavras, ela deve ter em mente o desejo de saber qual deveria ser o ato inicial, isto é, como começar. Todo o processo deveria ser um nexo, uma cadeia de ligação de pensamento e ação.

Vamos supor que a pessoa não veja qualquer possibilidade de maior renda, através de promoção para outro cargo ou de novo treinamento para ter maior oportunidade. Isto, naturalmente, pode acontecer. Pode haver várias circunstâncias predominantes que constituem um obstáculo atual para todas estas condições. Raramente, porém, a pessoa é permanentemente privada de alguma melhoria em seus negócios. Se ela está sinceramente convencida de que assim é, pelo menos por enquanto, então seu ideal de criação de um ambiente preferido terá de ser adiado. Acalentar um ideal, sem ter o recurso aos meios de manifestá-lo, pode resultar numa frustração exasperante.

Numa contemplação e meditação sinceras sobre a criação de uma mudança ambiental, a pessoa finalmente chega a uma percepção franca de si mesma. Ela saberá, logo, quais são os pontos vitais de seu conhecimento pessoal. Primeiro, saberá se tem o treinamento, o conhecimento, a experiência ou os meios materiais para criar o que deseja. Segundo, pode saber que não os tem, mas possui a determinação, a vontade de se esforçar, de se sacrificar e de persistir para conseguir a capacidade pessoal e as qualidades necessárias. Se ela não pode chegar a nenhuma dessas duas conclusões, então seu ideal não passa de fantasia. Por conseguinte, ela talvez precise de nova orientação de pensamento, isto é, da formação de um ideal criativo menor porém mais alcançável.

O fracasso de uma pessoa em alcançar ou realizar um ideal para criar um novo ambiente nem sempre é sua culpa pessoal. Muitas vezes existem obstáculos intransponíveis, independente do potencial intelectual da pessoa ou de sua força de caráter. Como outro exemplo, num país onde o povo está politicamente oprimido por um ditador tirânico, a iniciativa pessoal também é suprimida. Num estado assim, um ideal altaneiro da pessoa pode ser contrário à força política esmagadora. Logo, é extremamente difícil, senão impossível, exercer poder pessoal suficiente para criar qualquer mudança. Todavia, a pessoa não precisa abandonar seu ideal. Ela tem de alimentá-lo com esperança. É possível que encontre apoio moral e real de outros, de um modo tão unido, a ponto de criar a mudança.

A criação de ambiente nem sempre representa a alteração dinâmica das condições vigentes. As vezes não vale a pena o esforço necessário para mover o que é inerte. O obstáculo pode ser tão grande num ambiente em que a pessoa vive, que a esperança de realizar uma mudança por seus próprios esforços seria inútil, ou exigiria tempo demais do período de vida da pessoa. Em tal caso, é muito mais sensato afastar-se das circunstâncias e recomeçar tudo noutra parte. Afinal de contas, lembre-mo-nos de que o que está sendo buscado não é apenas a emoção da vitória ou da conquista, e sim uma nova série de condições ou elementos de vida diferentes. Uma recusa obstinada de aceitar maior oportunidade de se realizar o desejado, porque se está decidido a permanecer ali e derrotar um conjunto de condições vigentes, é insensato. Esta é a atitude do cruzado, que não cabe àquele que deseja criar outro ambiente para si.

A inveja pode causar até mesmo o aparecimento de um ideal errôneo. Pode-se supor que a vida, o ambiente, ou as posses de que outro se cerca sejam o ‘ne plus ultra’, o ‘máximo’. Assim, ao esforçar-se para alcançar este ponto, a pessoa pode disparar seus recursos pessoais, sua energia, sua saúde e paz de espírito apenas para descobrir que fora iludida. Se a pessoa está formando um ideal calcado na vida de outra, deve primeiramente submetê-lo a minuciosa análise. Deve determinar até que ponto aquele ideal foi eficaz em dar à outra pessoa a maior recompensa cósmica – isto é, a paz de espírito. Sem essa qualidade, nenhum ideal é perfeito; não se deve criar nenhum ambiente no qual ela não seja a essência. 

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