25 de ago. de 2011

Intuição, Idealismo e Iluminação

O homem tem várias vidas reunidas em sua existência mortal. Isto não deve ser interpretado com referencia à reencarnação ou renascimento. Antes, pretende-se que seja compreendido no sentido de que cada um de nós, em sua existência física, pode experimentar vários estados de consciência que constituem diferentes aspectos  da vida. Há, contudo, os que jamais experimentam alguns desses estados de consciência. Toda sua existência mortal pode permanecer confinada a apenas uma visão limitada da vida. Para eles, é como olhar o mundo pela mesma janela – continuamente.

Estas vidas que vivemos são determinadas por motivação psíquica e mental. As escolhas e ações que compreendem nossa vida social e  privada são principalmente o resultado de decisões que tomamos e que, por sua vez, são a conseqüência dos nosso processos mentais e estados emocionais. Reconhecidamente, o ambiente tem uma influencia tremenda sobre nós; isto é, as circunstancias em que somos precipitados diariamente. Mas a maneira como reagimos a esses estímulos, como interpretamos e tentamos nos ajustar a eles, é o resultado de nossa vida psíquica e mental, dos estados de consciência através dos quais percebemos e concebemos as experiências especificas.

Existem três estados de consciência, cada um caracterizando uma fase da vida. Na realidade, eles são as forças motivadoras que determinam o rumo que nossa vida toma. Estes estados de consciência são intuição, idealismo e iluminação. Os dois primeiros são bastante comuns na maioria das pessoas e, embora muitas vezes mencionados, raramente são compreendidos. O terceiro, iluminação, é difícil de se alcançar e, mesmo quando experimentado, muitas vezes é dotado de algum outro significado. Portanto, muitos tem sido iluminados mas não reconheceram a experiência como tal. Um espaço cheio de vida, aquela perfeição da existência humana a que aspiramos consciente ou inconscientemente, só pode advir de uma coordenação desses três estados: intuição, idealismo e iluminação. Uma espontaneidade não correlacionada da parte dos dois primeiros jamais pode conduzir ao terceiro.

Que é intuição?  Há séculos a filosofia e a metafísica vêm dando definições variadas e muitas vezes conflitantes dessa experiência. Nos tempos relativamente modernos, a psicologia também tem dado sua versão. Em geral, as obras de psicologia descrevem o fenômeno da intuição sob o título de Instinto. A experiência da intuição comumente compreendida como um conhecimento ou orientação absurda. É uma forma de ideação que lampeja na consciência, sem nossa vontade, e muitas vezes quando aparentemente não tem qualquer relação com nossos pensamentos no momento.

Dizemos que a intuição é irracional porque suas impressões não surgem como uma conclusão correlata imediata de qualquer proposição que temos em mente no momento.  Há também uma característica distintiva sobre as impressões intuitivas. Quando experimentamos uma destas, ela possui uma clareza óbvia que traz consigo a convicção de ser evidente por si mesma. Na verdade, designaríamos como conhecimento intuitivo aquela impressão sobre a qual não temos dúvidas. Em outras palavras, muitas vezes questionamos a validade do nosso discernimento quando racionamos. Mas no momento em que experimentamos a intuição, jamais duvidamos dela.

É por esta razão que a intuição tem sido aceita, com tanta freqüência, como uma espécie de conhecimento imanente, isto é, uma sabedoria inata que transcende o conhecimento adquirido de maneira normal. Na verdade, o conhecimento intuitivo tem sido associado a uma conotação religiosa ou espiritual como um atributo da alma. Emanuel Kant, em sua Critica da Razão Pura, disse que tempo e espaço são formas de intuição. E a intuição, por sua vez, ele declarou ser um conhecimento a priori. Em outras palavras, ele a considerava como uma espécie de conhecimento que precede o conhecimento adquirido pela experiência. Este conhecimento a priori  disse, é parte da natureza real do homem. Contudo, ele precisa de fenômenos ou da existência dos nossos sentidos para ser expressado. Mas não precisa de tais experiências para existir.

A psicologia situa a intuição na categoria do instinto. É conhecimento adquirido historicamente;isto é, o organismo humano tem precisado adaptar-se a muitas e diferentes condições em sua longa evolução. Estes ajustes transformaram-se em registros permanentes estabelecidos no gene, uma espécie de impressão de memória. Portanto, sempre que surgem circunstancias semelhantes que estão relacionadas a essas impressões de memória, elas são instintivamente liberadas como idéias intuitivas e ações instintivas. A psicologia declara ainda que a intuição só é fidedigna em questões de nossa sobrevivência, proteção contra perigo e condições ameaçadoras à vida do próprio organismo.

Contrários às explicações da psicologia existem os numerosos casos em que idéias surgiram aparentemente de parte alguma para dentro da mente. Essas idéias tem sido inspiradoras e resultado em soluções para problemas desconcertantes. Embora talvez não estivesse relacionado a uma cadeia de pensamentos a que a pessoa se entregava no momento, a impressão intuitiva na maioria dos casos tinha uma relação com alguma cognição anterior. A idéia intuitiva sempre tem uma finidade com nossos interesses, atividades mentais, desejos e experiências, seja do presente ou do passado. Aventuramo-nos a dizer que raramente a idéia intuitiva é completamente estranha a nossas concepções, interesses ou talentos.

Por analogia, podemos pensar que as idéias são como objetos que são polarizados, isto é, tem polaridade separada que atrai ou repele. Em nosso processo mental objetivo normal, talvez não sejamos capazes de atrair todas aquelas idéias que estão relacionados ao pensamento especifico que dominava nossa mente em determinado momento. Na verdade, em nosso processo de raciocínio, as idéias que despertamos conscientemente muitas vezes podem entrar em choque ou se opor entre si, não resultando em qualquer conclusão satisfatória.

Subseqüentemente, minutos, horas ou dias mais tarde, das profundezas do fluxo de consciência surgirá repentinamente uma idéia composta, cintilando em sua clareza, uma perfeita harmonia de pensamento. Pareceria então que existe um raciocínio subconsciente que prossegue depois que a mente racional parou ou fracassou. Pareceria tratar-se de uma inteligência superior que é capaz de avaliar todas as idéias de experiência acumuladas que estão armazenadas na memória e encontrar uma relação harmônica entre elas e que eventualmente constitui as impressões intuitivas liberadas.

Será que a impressão intuitiva é infalível em todos os casos? Todos os que obedeceram a seu chamado palpite nem sempre foram bem sucedidos. Mas estes casos talvez não indiquem o fracasso da intuição. O fracasso poderia dever-se à maneira como o individuo aplicou as impressões intuitivas aos seus negócios. Ela pode ter-se deturpado pela sua tentativa em fazê-lo conformar com algum plano ou propósito.

A melhor maneira de se contar com a intuição é mais no sentido admonitório do que como uma sugestão positiva que inicia uma nova ação. Assim, por exemplo, quando somos intuitivamente advertidos para não prosseguirmos ou para tomarmos uma posição contrária, é aconselhável dar ouvidos à intuição independente da maneira como ela possa contradizer a razão. Ignorar de todo a intuição é negar uma faculdade desenvolvida que tem sido inerente ao homem durante toda a sua ascensão desde um estado primitivo.

A segunda força motivadora que constitui uma importante fase da vida é o idealismo. Perfeição e idealismo estão relacionados. Naturalmente, nem todo ideal é perfeito de acordo com todos os padrões. Na verdade, os ideais acalentados por alguns podem ser contrários aos aceitos pela sociedade em geral. Por exemplo, os ideais de um comunista em uma sociedade capitalista, e vice-versa. Um ideal é um objetivo abstrato, um estado ou coisa que se considera transcender todas as coisas de natureza correlata. Alguma coisa só pode ser um ideal em comparação com alguma outra cujo contexto aparece como inferior.

Nossos ideais, porém, podem ser intrinsecamente falsos. Podemos aspirar àquilo que infringe a lei natural e que não tem qualquer possibilidade de se manifestar da maneira como o concebemos. Mas, além disso, muito embora um ideal possa ser racional, ele talvez não esteja dentro das capacidades ou do potencial daquele que o visualiza.

São dois os padrões para se medir o idealismo: Um deles é a razão e o outro é a intuição. Um ideal pode ser transcendental, pode ser algo a ser alcançado. Mas ele tem de ser contíguo com o presente. Tem de haver uma ligação entre o que é e o que se deseja que seja. È preciso haver um modo, uma cadeia de causalidade, pela qual se possa realizar o efeito ou ideal final. Para se evitar a mera extravagância frívola, um ideal deve ser analisado pela razão. Dever-se-ia determinar que possíveis abordagens a ele existem. Este método muitas vezes revelará que um ideal é falso ou que não está dentro do âmbito da probabilidade.

A intuição é um guia fidedigno na determinação da viabilidade de um ideal. Se não cedermos ao emocionalismo, ao entusiasmo excessivo, e sim ponderarmos primeiro sobre algum objetivo, em geral experimentaremos uma impressão intuitiva de valor em relação a ele. Com mais freqüência, essa ponderação superior da intuição é um elo valioso com o idealismo.

A terceira força motivadora e a que proporciona a mais exaltada experiência de vida é a iluminação. Os místicos foram os primeiros a usar este termo em conexão com a experiência mística. No sentido etimológico mais amplo, iluminação refere-se a um esclarecimento exaltado da mente. Em outras palavras, a mente é iluminada com uma luz singular de conhecimento e compreensão. Do ponto de vista místico, iluminação é “uma libertação das ligações deste mundo”. Destarte a mente, a consciência, é liberada para experimentar “a vida unida”, uma vida de unidade com Deus ou o Absoluto. Em termos mais simples, o homem conhece a si mesmo, mas não apenas como indivíduo. Ele descobre sua relação cósmica. Para usar as palavras de um místico,”...ele afunda em seu elemento divino, como uma onda no mar”.

Dionísio, o monge sírio do século XVI, disse que a iluminação pela qual se conhece a inteireza de seu ser é um dom de bondade. Ela restaura o poder unificador do homem pelo qual este compreende a unidade de tudo aquilo do qual é parte.

Se a iluminação é um aspecto da experiência mística, qual é então toda a harmonia da experiência mística? Onde a iluminação se encaixa? De modo geral, há três estágios reconhecidos da experiência mística. São eles a purgação, a iluminação e a perfeição. O primeiro, a purgação, é um reconhecimento de nossas fraquezas de caráter; é uma tentativa de auto-análise e de refinamento do interior e um desejo de remover obstáculos por nós criados, tais como os representados por hábitos e costumes, mentais e físicos.

Dizem-nos que desta purgação surge gradualmente a iluminação. Existem estados de separação gradual da consciência objetiva. Pouco a pouco nos libertamos – muito embora seja apenas momentaneamente – de ter nossa consciência presa unicamente à exterioridade, ao mundo das coisas. Desenvolvemos uma sensibilidade para impressões mais sutis que surgem dentro de nós mesmos e compõem o mundo interior. Isto é algo raramente realizado pela pessoa mediana. Só é parcialmente atingido quando ela pode livrar-se do televisor e sentar-se em meditação ou mesmo em abstração durante alguns minutos. Se pudermos fazer isto diariamente, mesmo que apenas por quinze minutos, poderemos dar os primeiros passos rumo à iluminação.

É possível esboçar esses passos pelos quais se pode experimentar esta iluminação, este grande esclarecimento da consciência? O que se segue é uma breve soma dos estágios pelos quais a iluminação tem sido alcançada por aqueles que a buscaram sinceramente.

[1]O despertar do eu para uma consciência de uma realidade divina ou absoluta. Esta é a convicção pessoal de que existe um poder supremo real que tudo penetra. Este despertar dá uma sensação de alegria como acontece na descoberta de um fenômeno espantoso e agradável.

[2] O eu torna-se cônscio, pela primeira vez, da beleza cósmica, isto é, ele experimenta a harmonia do puro ser. Ao mesmo tempo, percebem-se as próprias imperfeições; ele tenta eliminá-las pelas disciplina, e isto constitui a purgação.

[3]Completada a purgação, surge a iluminação que se alcança por graus ou estágios.

[4]O teste final tem sido chamado de a Noite Escura ou a Escura Noite da Alma. É um teste de determinação da pessoa. É um desafio para ele fazer mudanças drásticas em seu modo de pensar, em seus hábitos e seu modo de vida. Por exemplo, não se pode ser sensual a ponto de se entregar totalmente aos sentidos e apetites físicos e, ainda assim, esperar ser sensível à luz interior da iluminação.

[5]O quinto estágio é quando o Absoluto não é simplesmente desfrutado como experiência, nem quando é apenas uma questão de iluminação, e sim quando a pessoa sente sua unidade com todo o ser. É quando ela percebe que é mas não é. Isto significa que a pessoa sabe que é mortal mas compreende a imortalidade da essência dentro dela.  

Na vida prática, a iluminação segue a intuição e o idealismo. Nossa intuição nos ajuda a formar uma série de degraus para subirmos. Cada degrau, por sua vez, é um ideal; cada ideal é mais avançado e mais satisfatório para nosso eu psíquico mais elevado. Então, ele pode progredir para uma consideração do bem-estar de outros, o serviço da sociedade, e então, gradualmente, expandir-se com maior compreensão. O idealismo prepara a consciência para  a iluminação.

A iluminação não é mera abstração. Não é um isolamento eventual do eu do mundo. Mais propriamente, ele é uma sintetização de todas as nossas faculdades e poderes, de modo que podemos tirar o Maximo de nosso período de vida mortal aqui na Terra. Por exemplo, ela proporciona uma clareza de visão com relação a fenômenos, às experiências da vida. O eu percebe uma significação adicional em todas as experiências nele e em torno dele. O infinito da iluminação é uma penetração do mundo natural em uma profundidade maior em uma direção, enquanto que ao mesmo tempo se penetra o Cósmico noutra direção. Mas essas duas direções são como linhas curvadas para se encontrarem. Assim, elas formam um todo, ou circulo, de vivencia mais completa.
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R.M.L._F.R.C.

23 de ago. de 2011

Que é Desenvolvimento Psíquico?

A concepção de que o homem é duplo é tão antiga quanto a primeira análise do homem de si mesmo. Ele tem funções óbvias que são tão diferentes em seus fenômenos que é difícil conceber que elas não sejam processos separados. A razão e os vários processos mentais são  facilmente diferenciados do organismo físico e  suas atividades. Na verdade, os antigos gregos consideravam a razão como o mais elevado atributo da natureza do homem e como uma qualidade distintamente divina implantada no corpo. De modo geral, a alma e a razão eram consideradas sinônimos e um dos atributos básicos da sua natureza dupla.

Os gregos também relacionavam o amor, em seu sentido mais elevado, com a alma. A alma era uma entidade racional e amorosa. Este amor era interpretado como compaixão e considerado como sendo o mais alto senso moral de que o homem é capaz. A alma, como entidade ou substancia, era considerada etérea, amorfa e invisível. Ela não possuía qualidades materiais como o corpo. Essas outras qualidades, embora distintas do organismo físico, pareciam entrar no corpo e deixá-lo com o alento. Por conseguinte, os gregos identificavam a alma com o ar, o alento, ou pneuma. A alma, portanto, era dessa qualidade aérea que alçavam para outras regiões. Muito antes dos gregos, a noção de asas fora associada à alma e era simbolizada por uma ave ou insetos alados.

Eventualmente, a alma foi personificada pela mítica Psique. Segundo a mitologia grega, o marido de Psique era Cupido. Quando ela descobriu quem realmente ele era, ele partiu; isto ocorreu por causa de uma traição de Vênus. Psique procurou-o e acabou por encontrá-lo após sofrer a perseguição da ciumenta Vênus. Ela passou a ser retratada como uma bela jovem com asas – a alma em vôo.

A palavra Psique tornou-se a raiz de onde surgiram palavras e termos como psíquico, psicologia, psicossomático e numerosos outros que representam a natureza intima do homem, em contraste com o físico. Na maioria das religiões, a alma, a psique, tem sido postulada como uma espécie de substancia divina implantada no homem. Acredita-se que ela traz consigo certos atributos como consciência, percepção, o senso moral e outros poderes e funções imateriais.

Havia, e há, várias escolas de pensamento sobre a qualidade inerente da alma. Segundo algumas teologias, a alma é enclausurada pelos pecados que o homem herdou e dos quais tem de se libertar antes que ela possa ter expressão plena. Esta libertação deve ser realizada por certos atos de salvação. Por conseguinte, o individuo aspira àquela consecução espiritual, àquela liberdade da alma, que pode ser alcançada cumprindo-se ritos religiosos prescritos. Esta atividade é uma espécie de desenvolvimento espiritual, ou, em termos do nome grego para alma, um desenvolvimento psíquico.

Uma concepção filosófica e metafísica é também a de que a alma, como uma infusão do corpo, é acompanhada de uma eficácia e uma inteligência que são uma espécie de poder mental sobrenatural ou cósmico. Esta doutrina  explica que essa inteligência transcende a mente racional, ou o intelecto moral. Ela dirige as funções involuntárias do corpo, tais como a respiração, a circulação do sangue e outros processos orgânicos sobre os quais a vontade não tem poderes. Contudo, esta super-mente é acessível à consciência objetiva. O homem pode ser sintonizado com uma fonte para realizar fenômenos que seus processos mentais normais não podem alcançar.

Como esta super-mente, ou inteligência, da alma com sua energia é infinita em sua relação cósmica, afirma-se que ela pode produzir e produz, fenômenos além da capacidade do cérebro e do corpo. Ela não é limitada pelo tempo ou pelo espaço; tem seu próprio estado de consciência, percepção e concepção; isto é, pode compreender o que os sentidos físicos não podem perceber. De igual modo, ela pode gerar idéias muito mais esclarecedoras que as produzidas pela razão. Esta mente e suas forças, afirma-se ainda, existem como um reservatório dentro do organismo humano para ser utilizado a fim de ampliar o domínio do homem sobre si mesmo e seu ambiente.

Como essa inteligência e seus poderes são os da alma, segue-se naturalmente que os seguidores do misticismo e da metafísica dar-lhe-iam o nome de forças psíquicas. Tornou-se comum, nesses sistemas, expor modos de se “desenvolver os poderes psíquicos do homem”. Este desenvolvimento, ou método, tem sido definido de várias maneiras pelas diferentes escolas de metafísica e esoterismo. Na realidade, o termo desenvolver é uma denominação imprópria quando associado à noção de poderes psíquicos, pois se existe uma força da alma, uma inteligência divina, funcionando como uma mente-superior no homem, por certa não está dentro da capacidade do homem desenvolvê-la.

Pelo menos, o finito não pode, logicamente, exercer um controle sobre o infinito. Por conseguinte, o único desenvolvimento de acordo com esta concepção seria o dos métodos volitivos da mente pelos quais o homem pode vir a compreender seus poderes latentes, despertando-os e dirigindo-os, mas não aumentando sua onipotência. O homem desenvolve somente seu estado de percepção, sua capacidade de compreender e desenvolver um canal interior para a expressão e funcionamento de seu poder psíquico imanente.

Com o desenvolvimento da psicologia orgânica, a palavra psíquico adquiriu significado diferente. Ela não mais tinha relação com qualquer encarnação espiritual, sobrenatural ou separada no homem. Todas as forças no homem, todos os fenômenos a ele atribuídos eram considerados como sendo uma única qualidade unitária de seu organismo inteiro, e muito naturais. A memória, a razão, as emoções, o chamado senso moral, a consciência, a percepção – estas eram funções diferentes oriundas da mônada complexa ou entidade simples que, conforme se afirma, é o homem. O organismo humano, de acordo com a psicologia moderna, pode produzir diversas formas de fenômenos, tal como se podem tirar notas diferentes de um teclado de piano simples e unificado.

Contudo, esta ciência faz uma classificação geral dos fenômenos humanos. Alguns de seus aspectos, segundo se declara, são motivados conscientemente, e alguns, como as funções subliminares da mente, inconscientemente. Em outras palavras, acredita-se que alguns processos são mais misteriosos e mais sutis porque estão envolvidos com as complexidades do cérebro e do sistema nervoso, ou do que se chama mente. Logo, estes são funções psíquicas do  homem conforme classificados pela ciência. Mas, repetimos, isto refere-se ao psíquico como sendo completamente purgado de quaisquer atributos divinos ou sobrenaturais.

A ciência admite, sem dificuldades, que as chamadas funções psíquicas no homem variam. As chamadas motivações subconscientes, instintos e intuição que afloram na mente consciente são mais pronunciadas em alguns do que em outros. Como e por que isto ocorre em algumas pessoas em maior grau que em outras, é um dos enigmas da psicologia e da psiquiatria e tornou-se o incentivo para maiores pesquisas.

Do ponto de vista psicológico, existem certas funções psíquicas que, segundo a ciência acredita, podem ser desenvolvidas conscientemente. Uma delas, por exemplo, é a criatividade. Diferentes livros de psicologia apresentam opiniões variadas sobre o que seja criatividade e como ela pode ser desenvolvida. Como a ciência inclui a memória, imaginação e visualização entre os poderes psíquicos do homem, existem também técnicas sugeridas para seu desenvolvimento.

Fenômenos como percepção extra-sensorial, telepatia, bilocação [projeção da consciência] empatia e telecinese ainda são mistérios para a ciência ortodoxa. Mas, atualmente, fazem-se esforços sinceros para investigar tais fenômenos, como no laboratório de parapsicologia da Ordem Rosacruz. Entretanto, o consenso nos círculos científicos ortodoxos é que eles não tem qualquer relação com qualidades espirituais ou cósmicas transcendentais. Eles são apenas parte do processo natural do organismo humano. Não obstante, em suas experiências, a ciência tenta verificar se a prática desenvolverá esses poderes latentes no individuo.

Assim como a maioria dos psicólogos não admitirá a infusão de uma inteligência externa, ou Mente Cósmica, no homem, e que pudesse explicar os estranhos fenômenos humanos, também muitos estudiosos do misticismo e da metafísica confundem processos orgânicos naturais com uma força psíquica externa. Esses estudiosos muitas vezes relegam tais fenômenos psicológicos e fisiológicos ao mundo psíquico. Pós-imagens, por exemplo, cores complementares que se podem ver após se desviar os olhos de uma luz forte que se estava fitando, muitas vezes são atribuídas a coisas que não uma função natural. Ruídos internos nos ouvidos muitas vezes são considerados forças psíquicas a serem desenvolvidas! Perturbações nervosas, contrações e movimentos espasmódicos dos músculos são erroneamente associados a  poderes não-físicos e psíquicos.

Existem fases mais profundas do fluxo de consciência dentro de nós que produzem percepções e experiências, as quais podem ser realmente chamadas de psíquicas – se nos referimos ao resultado de aspectos mais altos de nossa consciência e da inteligência do próprio fluxo vital. A direção e aplicação destas podem ser desenvolvidas, pois elas são naturais a todo ser humano; porém, são mais manifestas em algumas pessoas do que em outras. Todavia, aberrações mentais, funcionamento anormal do cérebro e do sistema nervoso podem produzir fenômenos que são psíquicos apenas no sentido psiquiátrico do termo -   não no sentido místico ou metafísico.

O impulso moral, o desejo de experimentar uma união com a realidade além do nosso próprio ser físico, é um impulso psíquico tanto no sentido cientifico ou psicológico quanto no sentido místico. É místico ter o desejo e o amor para experimentar a sensação de unidade com o Cósmico, o todo do ser. Mas os estados de  consciência pelos quais se passa para alcançar essa experiência, são o resultado de processos naturais, mentais e emocionais. Por analogia, uma composição musical é um ideal, mas primeiro há necessidade de haver o instrumento físico no qual ela possa ser produzida ou expressada para transformar aquele ideal em uma realidade. As forças psíquicas no homem são uma e parte de todos os poderes naturais do ser do homem. Não as desenvolvemos. Antes, desenvolvemos a maneira de compreender e aplicar essas forças a nossa vida.  
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R.M.L_F.R.C.

22 de ago. de 2011

A Consciência é Universal?

Se a consciência individual existisse independentemente da consciência universal, a religião então não teria significado e o misticismo estaria sem uma premissa viável. A consciência no homem é um estado de percepção, uma compreensão de vários fenômenos. Por ela, o homem passa a perceber aspectos da exterioridade como o mundo exterior. De igual modo, ele torna-se sabedor de sua própria existência, isto é, consciente de si mesmo. Todas as religiões, mesmo as chamadas pagãs, tem um sistema teológico pelo qual ensina-se o homem a comungar com seu conceito de Deus. Qualquer religião digna do homem tem recurso à oração. Esta oração é uma tentativa de comunicação entre o homem e seu Deus, ou deuses.

Por conseguinte, há o corolário de que o homem pode tornar-se cônscio daquele poder transcendental ao qual apela. Tal compreensão, obviamente, requer uma consciência. Há, portanto, uma mescla, um estado de unidade entre a consciência humana e aquele tipo de consciência que o homem atribui ao Ser Divino.

Examinemos agora a questão estritamente do ponto de vista místico. Em poucas palavras, o místico é aquele que aspira a uma união pessoal, ou unidade, com o Absoluto. Este Absoluto ele pode chamar de Deus, Cósmico, Mente Universal, Ser Supremo, etc. O auge da realização mística é a Consciência Cósmica. Se  transpusermos as duas palavras para consciência do Cósmico, teremos então uma compreensão melhor do termo. Simplesmente, ele consiste de o homem ter uma consciência do Cósmico, o UM de que toda realidade consiste.

Não é como se um estado ou condição, separado, estivesse entrando em contato com outro de natureza diferente. Não é uma sincrasia, uma mistura de coisas diferentes. A consciência no homem, embora seja de um estágio de  apreensão inferior é parte da consciência existente por toda parte. Mas as freqüências ou faixas diferentes de manifestação tem de ser postas em harmonia entre si. A consciência humana evolui para o alto de modo a ser capaz de perceber o UM, que é igualmente uma consciência. O místico afirma que todo o cosmo tem um estado de consciência de sua própria natureza. Para o homem, perceber que existe tal relação com ele é o mais alto senso de perfeição que o ser humano pode experimentar.

É bastante compreensível que o homem acredite, com mais freqüência, que sua consciência é um estado separado e independente. Ele não consegue perceber o fator unificador que existe por toda a vida e, na verdade, por todo o cosmo. Toda célula viva, seja de uma planta ou animal, tem consciência. Esta consciência é apenas separada na maneira particular como se expressa através do organismo ou através da própria planta. Mas, basicamente, as células num corpo humano tem funções semelhantes às das que existem nas outras formas.

Falamos, hoje em dia, de diferentes estados conscientes dentro do homem, tais como o objetivo, subjetivo e subconsciente, com as variações teóricas do ultimo. Contudo, não pensamos nesses estados de consciência como sendo separados dentro de nós, porém, mais propriamente, como sendo níveis ou oitavas do mesmo fluxo de consciência que nos percorre.

Como é exatamente a consciência universal? Ela não tem qualidades determinativas definidas. Como todas as coisas são manifestação da consciência universal, então, como disse o filósofo holandês Spinoza sobre o Absoluto, “está em todas as coisas mas não está em nenhuma delas”. Ademais, todas as coisas não são a totalidade da consciência universal porque ela tem o potencial de infinitas outras manifestações.

Ignoramos por completo outros mundos que existem no numero infinito de galáxias ou outros universos do cosmo, que podem ter manifestações da consciência universal, as quais não podemos sequer conceber. Por conseguinte, a consciência universal é amorfa ou, como disse Heráclito, ‘está sempre vindo a ser’.

A ciência pode rejeitar a hipótese de que todas as coisas tem consciência; em outras palavras, que a consciência está em toda realidade. Mas isto, porém, depende das limitações que  damos às características de consciência. A física e a química, por exemplo, nos mostraram que a estrutura da matéria obedece ao que em geral se declara ser uma espécie de ordem natural. Esta ordem é tão precisa que a consideramos universal. Na verdade, a exploração  espacial desta época descobriu que existem elementos químicos em mundos distantes, conforme revelados pelo espectrógrafo, que tem as mesmas características de comprimento de onda dos encontrados na Terra. Também temos amostras do solo da Lua e de Marte. Não poderemos dizer que essa ordem, essa precisão persistente, é uma espécie de consciência? Reconhecidamente, ela difere em suas manifestações da consciência humana. Mas, por outro lado, também temos diferentes estados de consciência.

Lembramo-nos da filosofia dos antigos Estóicos, fundada por Zeno 340-265 a.C]. Os estóicos sustentavam que nem matéria, lama ou homem eram coisas separadas, e sim parte de um todo unificado que pode ser chamado de Deus ou Natureza. Uma alma universal ou principio racional, ou seja, mente, está presente por toda parte. No momento, é o que chamamos alma, diziam os Estóicos. Na matéria, são as leis naturais pelas quais ela se manifesta.

Isto, é claro, é tecnicamente chamado de panteísmo místico ou, nomeadamente, Deus, ou a Mente Cósmica, que tudo penetra. O teísta ortodoxo e o chamado fundamentalista bíblico, naturalmente, rejeitarão esta idéia. Ele deseja, como acontece com muitos dos que chama de pagãos, personalizar seu Deus, fazer Dele um ser de forma. Ele acha que encarnar a existência de Deus em todas as coisas, como o panteísta faz, é uma espécie de idolatria. Mas, ao supor isto, ele revela sua incompreensão do panteísmo místico. O verdadeiro panteísta neste sentido nem adora nem venera qualquer objeto como deidade. Mais propriamente, ele sabe que o principio cósmico é infinito em essência e subsistente e, portanto, nenhuma coisa ou todas as coisas poderiam ser ele. Mas ele afirma que nada do que existe poderia existir sem a ordem inerente de Deus ou Mente Cósmica.
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R.M.L._F.R.C

São o Bem e o Mal Absolutos?

As concepções e dogmas teológicos da maioria das religiões criam certos padrões de  comportamento que sugerem a existência de um bem e um mal absolutos. Esses padrões ou códigos são, porém, bastante pertinentes à referência e à concepção humanas.

A concepção de bem é basicamente psicológica. Ela está relacionada à avaliação da experiência pessoal. Chamamos de bem tudo o que produz prazer e sensações gratificantes. Aquilo que nos favorece física, mental e psiquicamente, chamamos de bem.

O chamado bem moral é uma satisfação emocional e intelectual. Uma pessoa, por razões religiosas ou outras, cria um código de comportamento que julga necessário para seu bem-estar moral ou espiritual. Como a conduta exigida é o cumprimento do preceito moral, ela é intelectual e emocionalmente satisfatória e, por conseguinte, aceita como bem.

Tal estado ou qualidade positiva como bem cria sua antítese, sua condição contra, que é chamada de mal. Em termos simples o mal é aquilo que cria o oposto do prazer para o ser humano. O desagradável, o prejudicial são, assim, mal. Cada bem, quando assume uma qualidade positiva na mente do homem, também cria uma concepção inversa, tal como a luz sugere seu próprio contrário, as trevas.

Há porém variações desta concepção absoluta do bem. Essas variações encontram-se principalmente nas categorias de moral e ética. Todos estão familiarizados com o fato de que mesmo nas seitas cristãs existem diversas interpretações de conduta humana em termos de bem e mal. Uma seita fundamentalista declarará como mal aquilo que outra mais liberal não considera assim. Certas seitas protestantes invectivam contra a dança como mal. Por outro lado, a Igreja católica não a considera assim. As seitas não-cristãs aceitam muitos atos dentro do âmbito de seu código moral que os cristãos rejeitam como mal ou que contribuem para o mal.

Portanto, bem e mal são concepções humanas; são produtos da mente humana. Eles não tem existência fora da avaliação humana de acontecimentos e circunstancias relacionadas com o homem. O homem pode, arbitrariamente, estabelecer certas condições que são universalmente censuráveis para a humanidade e, daí por diante, declará-las absolutas. Assim, por exemplo, ele pode declarar que o assassinato, estupro e roubo são mal porque pode certificar-se que tais atos só trazem danos para a humanidade. Ele poderia, igualmente, declarar virtudes como caridade, tolerância e sinceridade como sendo um bem universal e absoluto para a humanidade. Mas, também aqui, o ponto de referencia nessas coisas é o próprio homem. Elas são boas ou más somente conforme o homem reage a elas. Sem sua resposta a tais atos, eles não teriam nenhum conteúdo qualitativo.

Misticamente, só pode haver um bem e este é a inclinação moral, o impulso da retidão, que o homem experimenta dentro de si mesmo.

Todo mal é relativo a padrões aceitos. Em outras palavras, não há na Natureza nenhum mal absoluto; isto é, ele não é universal. Naturalmente, esta declaração é contrária aos ditames morais delineados nos vários livros sagrados das diferentes seitas religiosas. Se há censuras e proscrições contra certos atos nas obras religiosas ou nas leis e costumes da sociedade, estas então tornam-se os critérios pelos quais o individuo mediano determina o que é bem ou mal.

Na verdade, em grande parte, o que chamamos de consciência em sua manifestação ou expressão externa, baseia-se na influencia daqueles atos ou tipos de comportamento que nos ensinaram a considerar como mal. A consciência, ou o senso moral, é um impulso subconsciente para conformar com um estado interior de retidão que o homem possui. Mas a definição daquilo que retidão ou bem deveria consistir, é criado objetivamente pelo individuo e surge das suas experiências e treinamento pessoais.

Se os detalhes de consciência fossem alcançados de modo universal e não individualmente, então todo comportamento humano conformaria com o mesmo padrão de bem e rejeitaria igualmente todo o mal aparente. Toda pessoa que já viajou muito pelo mundo conheceu povos cujos padrões de conduta adequada e aceita são mal considerados pelo visitante. O visitante ou viajante está simplesmente medindo o que essa gente faz pelo seu próprio código pessoal.

Se pensarmos abstratamente sobre o assunto do mal, ele não pode existir na realidade; tampouco o bem pode existir no cosmo. O cosmo – e todos os seus fenômenos – é o que é. O cosmo não se está esforçando para atingir alguma finalidade idealista que transcende seu estado particular em um determinado momento. Por conseguinte, tudo não é nem bom nem mau: Não existe padrão externo pelo qual se possa julgar o cosmo. Tais padrões são apenas recursos de que o homem lança mão.

Há uma distinção, embora exista uma relação entre o que chamamos de mal e errado. A palavra mal é associada à moralidade. Significa aquilo que é contrário a algum edito ou ordem dada nos textos sagrados ou na teologia de determinada seita. O bem moral é aquele que está associado com a consciência e é coerente com o padrão moral que a consciência aceita. O bem moral é geralmente concebido como sendo aquele comportamento que conforma com a vontade de um ser sobrenatural como um deus, ou principio divino. Tudo o que é contrário a ele é, portanto, aquilo que se proclama ser mal.

Por outro lado, o errado não é diretamente baixeza moral. Não é estabelecido basicamente por qualquer código religioso. Errado e certo são principalmente resultado de uma interpretação ética. Eles não são comumente considerados como sendo variações de ordens espirituais, e sim de relações ou comportamento social impróprio por parte do individuo. Por exemplo, é eticamente errado uma agencia de publicidade representar dois clientes competitivos por que ela não pode então fazer justiça a nenhum dos dois em suas afirmações.  Também é eticamente errado discriminar entre dois homens devido a sua raça.

Contudo, notaremos que, em muitos códigos de ética por elas adotados, geralmente as empresas e sociedades revertem, em principio, aos padrões morais. Por exemplo, em geral se aceita a deturpação de um produto que está sendo vendido, isto é, quanto a sua qualidade, é falta de ética. Tal conduta é fraude e, portanto, mentira, o que é também uma interdição moral.

Uma sociedade estabelece certas regras de conduta baseadas no código moral que a maioria de seus cidadãos adotou. Em termos simples, os valores morais de uma nação cristã são fundamentalmente baseados nos ditames morais do cristianismo. Considera-se que as pessoas que conformam com elas estão vivendo em retidão, isto é, uma vida moralmente boa; e os que agem contrários a elas, são então julgados culpados em graus de mal.

Quando vemos uma pessoa que se desvia de tal padrão, consideramo-la como sendo má. Não obstante, seu mal não é absoluto no sentido cósmico. Pense em todos aqueles seres humanos que foram queimados na fogueira pela Igreja durante a Idade Média e durante a Inquisição – condenados como maus porque suas ideais pessoais não conformavam com o dogma despótico da Igreja!

O mal, portanto, não é intrínseco e sim relativo às crenças e circunstancias pelas quais julgamos o comportamento humano. É, contudo, necessário que alguns atos do homem sejam restritos de acordo com as razões que a sociedade crê serem essenciais ao seu bem-estar. O tempo sempre foi o grande alquimista na transmutação das qualidades de bem e mal em novas formas de aceitação ou rejeição por parte do homem.  
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R.M.L_F.R.C  

4 de ago. de 2011

Corpo_Mente_Alma

Que é unidade?
Estamos acostumados a pensar em unidade como sendo uma simples coisa, estado ou condição. Contudo, a idéia de unidade tem origem na multiplicidade. Quando duas ou mais coisas parecem fundir-se em simplicidade, chamamo-las de unidade. A introspecção do homem, sua investigação de si mesmo, remonta há milhares de anos. Mas raramente o homem podia encarar-se como uma entidade simples.

Havia funções do ser do homem que diferiam notavelmente entre si. Por conseguinte, o homem há muito se imagina com sendo uma unidade de três substancias ou qualidades. Ademais, o relacionamento delas nele é um mistério sobre o qual ele ainda pondera. Em geral, estas três qualidades diferentes do ser do homem são chamados de corpo, mente e alma.

Desta trindade concebida, o homem tem a menor estima pelo seu corpo. Na verdade, ele muitas vezes o tem desprezado. Em suas religiões e filosofia, ele com freqüência submete o corpo ao sacrifício de si mesmo e à auto-mortificação. Em outras palavras, ele tem as vezes negado ao corpo suas necessidades e até mesmo o tem torturado.

A antiga escola filosófica órfica considerava a carne má e corrupta. Essa escola acreditava que o corpo aprisionava o elemento divino, isto é, a alma. Ela ensinava que a alma estava constantemente em busca da liberdade e se considerava que esta liberdade era o vôo da alma de volta a sua origem divina. As escolas socrática e platônica foram muito influenciadas por essa idéia  sobre o corpo.

Filo Judeu, do primeiro século a.C., foi um filósofo judeu, nascido em Alexandria. Na época, as crenças religiosas eram muito influenciadas pela cultura helênica, isto é, grega. Para Filo, Deus transcendia a tudo; Ele era eterno. Mas coeterno com Deus, existindo com Ele, dizia-se haver a matéria. Assim, havia um dualismo – Deus por um lado com a matéria se Lhe opondo do outro. Filo dizia que de Deus desceram os logoi, isto é, forças. Os dois logoi principais eram a bondade e a potencia, ou poder divino. A estes, Filo deu o nome de mensageiros ou intermediários de Deus.

Filo também ensinou que havia logoi menores. Estes menores, dizia ele, foram enredados e se transformaram em matéria. A alma – o logoi – foi aprisionada nessa matéria; portanto, consideravam-na potencialmente má. O homem tornou-se pecaminoso, mau, disso Filo, pelo mau uso de sua força de vontade; em outras palavras, cedeu às tentações de seus sentidos e corporais. Somente pela meditação e contemplação de suas qualidades divinas, declarava ele, é que o homem poderia erguer-se acima da matéria e do corpo. Estas idéias de Filo deixaram impressões fortes nas teologias judaica e cristã. O Novo Testamento reflete estas idéias.

Quais eram as causas principais daqueles conceitos adversos do corpo humano?  Quais são as razões filosóficas por trás deles? Mesmo nas culturas primitivas, o homem considerava que o corpo era evanescente, isto é, estava mudando constantemente. Como a vida vegetal, observava-se que ele declinava e perdia suas qualidades. O corpo podia ser facilmente ferido, destruído até mesmo pelo próprio homem. O corpo, portanto, não sugere nenhuma permanência, imutabilidade ou natureza eterna. Em comparação com os corpos celestes como o Sol, Lua e estrelas, o corpo parecia ser uma criação inferior.

Também para o homem primitivo, os males e dores do corpo pareciam salientar sua falta de pureza. Mesmo os apetites e paixões eram considerados como exemplos das fraquezas do corpo. Eles eram comparáveis às funções corporais dos animais, que o homem julgava lhe serem inferiores.

Mas também havia a segunda qualidade da natureza trina do homem. Era a parte pensante, os processos mentais.  Agrupamos estes sob o titulo de mente, mas existia uma vasta  distinção entre essas funções da mente e as do corpo. Havia uma característica impalpável sobre a parte pensante do homem. Ela não podia ser vista ou desmembrada. O mais impressionante, para o homem, sobre esta parte pensante, era que ela residia dentro dele. Era um algo dinâmico que movia o corpo como o homem preferisse. Este algo interior falava com ele; podia ordenar e implorar, mas era invisível.

Além disso, o corpo agia sobre este algo, sobre esta parte pensante, e esta reação fazia o homem experimentar medo, surpresa, felicidade, tristeza. Qual, então, era o real? Qual a verdadeira identidade ou ser do homem? Aqui nasceu a idéia de que o eu estava encerrado num invólucro. Em geral se considerava que este era inerte, passivo. O corpo era movido somente pelo mundo exterior ou por este algo interior. Considerava-se que o eu, a parte consciente e compreensiva, era o positivo, o ser real.

Vemos aqui o começo do dualismo, da dicotomia, da divisão do homem em duas partes. Esta idéia da divisão da natureza do homem ainda persiste nas religiões e filosofias éticas. Observou-se que esta parte pensante do homem só existia no corpo vivo. Ela partia com a morte, de modo que se lhe concebia como um atributo do que quer que dava vida ao corpo. Observou-se que a vida entrava e saía do corpo com o alento. O alento era o ar; O ar parecia infinito e eterno; portanto, o alento logo recebeu uma quantidade divina dada pelo homem antigo. Por exemplo, no Gênesis 2:7, encontramos: “O Senhor Deus formou, pois, o homem de barro da terra, e soprou-lhe no rosto o fôlego da vida e o homem tornou-se uma alma viva”.

Mas se supusermos que a força vital é divina, ela tem de fazer mais do que simplesmente dirigir as funções orgânicas do corpo. O homem achava que tinha de ter algum propósito superior a ser cumprido no corpo. Independente de como o homem concebe ser a forma Divina, considerava-se que ele possuía uma inteligência superior. Com o desenvolvimento dessa consciência de si mesmo, o homem adquiriu uma autodisciplina cada vez maior. Ele começou a experimentar fortes reações emocionais a certas fases de seu comportamento. Alguns dos atos do homem faziam-no experimentar prazeres; entretanto, nem todos esses prazeres estavam relacionados com as sensações de seus apetites. Havia alguns que eram muito mais sutis. Estas sensações o homem chamou de bem; seu oposto era o mal.

Era fácil para o homem acreditar que era a Essência ou Substancia Divina dentro dele que o mandava ser bom. Considerava-se ser ela a Inteligência do Divino do Homem. Julgava-se igualmente que esta Inteligência era uma parte superior da natureza do homem. Esta terceira qualidade de seu ser o homem chamou de alma.

O homem logo ficou sabendo das ilusões e  enganos dos sentidos. Estes estavam relacionados com o corpo finito e, portanto, não eram considerados uma fonte fidedigna para se chegar à verdade e ao conhecimento. A parte pensante do homem, a razão, parecia dar-lhe iluminação. Em outras palavras, ela dava ao homem respostas pessoais a muitas de suas experiências. Devido a essa eficácia atribuída à razão, ela era associada ao elemento divino do homem. Dizia-se que a razão era um atributo da alma. Plotino, o filósofo neoplatônico, dizia que a razão é “a alma contemplativa”.

De que maneira estes elementos trinos da natureza do homem seriam integrados? Qual deles seria o poder controlador da natureza humana? Platão relacionou esses três elementos com as classes de sociedade propostas para sua republica ideal. Ele disse que a razão no homem devia ser como a classe governante de filósofos; a vontade devia ser como a classe de guerreiros e devia pôr em vigor os ditames da razão; e o corpo devia ser os trabalhadores que provêem o sustento da razão e da vontade.

A metafísica e o misticismo modernos reconciliados com a ciência repudiaram a velha idéia da Trindade e, com a rejeição, muitas superstições, dúvidas e temores foram dissipados. Sua primeira proposição e doutrina são que todos os fenômenos, independente de sua manifestação, estão correlacionados. Eles não reconhecem uma dualidade real tal como material por um lado e imaterial do outro. Este moderno conceito místico e metafísico também não expõe que um estado ou condição da natureza humana é basicamente bom e que outro é mau. Ele afirma que tais conceitos são apenas relativos aos valores da mente humana finita.

A noção de dualidade pressupõe que um estado, coisa, ou condição, criou o outro. Por que deveria ser feito assim? Que parte da qualquer dos dois é a superior? OU por que uma permitiria que a outra fosse inferior ou lhe fosse contrária? Estas são as perguntas que há séculos vêm atribulando a teoria dualista da realidade. Por conseguinte, a metafísica moderna expõe, em vez disso, um estado monístico.

Este estado monístico, este “Um”, é o cosmo. Ele é eternamente ativo. O ser, o cosmo, é ativo porque é o cumprimento do que ele é. O ser é inerentemente positivo, dinâmico. A  idéia de não-ser do homem, um estado negativo, é apenas inferida do ser. É a suposição da ausência do que é. Inversamente, contudo um nada absoluto não sugere um algo.

Diz-se que a Natureza tem aversão ao vácuo; em outras palavras, ela se esforça continuamente por ser. Este esforço por ser é a própria necessidade do cosmo. Aquilo que está cônscio da necessidade do seu ser é consciência. Portanto, a metafísica e o misticismo modernos perpetuam um conceito tradicional. O de que o cosmo é cônscio de si mesmo.

A consciência d ser funciona de várias maneiras por toda expressão do cosmo. Encontramos consciência até na matéria inanimada. Ela está na estrutura nuclear da matéria e se manifesta como a polaridade positiva e negativa inerente a que a matéria obedece. Encontramo-la no núcleo positivo da célula viva e no seu invólucro externo negativo.

A consciência de “Uma” energia cósmica pode dominar e deter outra. Por exemplo, a  energia que impregna a matéria e a torna viva tem grande potência. Ela é relativamente mais positiva do que a matéria que, por contraste, é negativa. Este aspecto superior da consciência e da força então detém e controla a matéria. Ela obriga a estrutura da matéria viva a conformar com ela. Eis por que, nas moléculas DNA e RNA da célula viva, o desenvolvimento é somente unidirecional. A célula viva não retrogada no seu padrão. Somente grandes interferências podem produzir uma mutação, um desvio.

Há, portanto, uma combinação de consciência em cada forma viva, por mais elementar que ela possa ser. Esta combinação de consciência é transmitida por um processo evolutivo. Ela se torna uma consciência de grupo cada vez maior e esta consciência de grupo inclui todos os estágios anteriores de consciência. Como humanos, temos a consciência de que é a força de  energia básica, a centelha de vida. Mas também temos dentro de nós a consciência de toda forma de vida da qual o homem ascendeu.

Assim como a célula viva tem aquela consciência impulsora pela qual ela se esforça por ser, o mesmo acontece com o homem. O complexo organismo do homem – cérebro e sistema nervoso -  lhe dá consciência de si mesmo. Ele sabe que é. Ele se torna uma entidade em si. Mas as variações de consciência que se manifestam através do complexo organismo do homem produzem diferentes conjuntos de sensações. Existem fenômenos como intuição, razão, as emoções e as sensações ou impressões morais mais profundas.
O homem passou a separar e classificar estas variadas sensações e sentimentos que experimenta. Como dissemos, ele se imaginava ser uma tríade. Por analogia, suponhamos que temos várias cordas de metal esticadas, de diferentes tamanhos, como num instrumento musical, uma harpa, por exemplo. Se dirigirmos uma forte corrente de ar através delas, elas emitirão sons diferentes. Mas foi o mesmo volume de ar que produziu os sons diferentes. O ar fez apenas que as cordas, com tensão diferente, vibrassem de maneira diferente.

Da mesma forma, nosso organismo faz com que as variações da consciência universal em nós produzam sensações diferentes. O corpo, a mente e a consciência mais alta do eu, que se  chama alma, são apenas efeitos desta uma consciência de grupo dentro de nós. As distinções não estão na sua essência, mas nas funções produzidas. É como todas as diferentes notas musicais que, não obstante, são som. Somente à medida que o homem passa a compreender este  conceito é que deixará de exaltar uma função de seu ser à custa das outras.

O corpo tem a mesma fonte cósmica divina que aquilo a que o homem prefere chamar de alma. Mas o corpo está limitado a servir ao homem todo. Em conclusão, como disse o poeta Alexander Pope: “O estudo adequado da humanidade é o homem”.
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R.M.L. F.R.C.         
           

É Deus uma Energia?

Se pensarmos sobre isso por um momento, com isenção de qualquer fidelidade emocional, teremos de concluir que é extremamente presunçoso o homem pensar que sua inteligência finita é capaz de compreender a natureza absoluta do infinito. Sejam quais forem as qualidades de tal causa, proeminente seria o fato de que isto ultrapassaria os limites de quaisquer  qualidades sensoriais das quais o homem infere suas idéias. Em termos simples, se alguma coisa pode ser definida como incongnoscível em seu estado absoluto, esta quase que certamente seria a natureza de tal coisa como Criador, independente de qualquer outro termo que o homem lhe possa atribuir.

Mas os místicos falam de apreender, isto é, contactar e experimentar o Divino, o Cósmico, ou Deus por qualquer de vários delineamentos. Estamos, então, negando que o místico tenha tido tal experiência? O místico transcendeu em sua experiência mística os limites de suas qualidades sensoriais periféricas ou receptoras. Ele tornou-se cônscio do grau de um estado ou condição que transcende qualquer experiência objetiva. Ela o faz entrar num êxtase, uma sensação exaltada de prazer.

Contudo, seguindo-se a subjetividade do místico, existe, então, seu esforço para converter os elementos de sua experiência em termos objetivos. Ele transforma a experiência em palavras, formas e qualidade que pode compreender. Em termos mais sucintos, ele cria uma imagem verbal mental de sua experiência que está relacionado ao intelecto, educação e associação geral de particulares.

Por exemplo, o budista que tem tal experiência pode chamá-lo de Nirvana; o muçulmano pode dizer que Alá lhe foi revelado; o hebreu, Jeová; o hindu, talvez Brama; o persa, Zoroastro. Infelizmente, o fanático religioso em geral insistirá que a experiência especifica que  tem tido é a natureza absoluta do Criador,e, ademais – da maneira exata como ele a interpreta objetivamente. Ele estará predisposto a ser tendencioso contra qualquer noção divergente.

Portanto, podemos dizer que o homem pode criar sua própria imagem da causa onipotente e onisciente. O homem cria Deus não em essência, mas nas qualidades que sua mente lhe atribui, a imagem pela qual ele concebe esta essência. Quanto ao Criador ou Causa Inicial, que se acredita ser onipresente, considerá-lo como uma energia é praticamente tão plausível quanto qualquer outro conceito. O pensamento é energia. Portanto, aqueles que acreditam numa causa teleológica – isto é, numa causa mental – por certo admitirão igualmente que o pensamento é energia.

Mesmo o estudante religioso ortodoxo  lembrar-se-á da doutrina do Logos em João 1:1 do Novo Testamento, que diz: “No principio era o Verbo, e o Verbo estava junto de Deus e o Verbo era Deus”. Isto subentende claramente o pensamento sendo transformado na energia da palavra falada. Séculos antes da compilação do Novo Testamento, os sacerdotes egípcios diziam que o Deus Ptah, a divindade padroeira dos artesãos e que igualmente simbolizava o pensamento cósmico, criou o universo pela palavra falada. Dizem-nos que Ptahpronunciou o nome de todas as coisas”.

Há os que concebem a causa primária como sendo uma consciência universal, mas também em nossa experiência humana aceitamos a consciência como um atributo da vida, e a vida em  sua força e função vitais é, igualmente, uma  energia. Ademais, seja o que for que o homem conceba como sendo esta essência ou substancia cósmica, ela é, pelo próprio fato de ser – na medida em que a experiência humana pode concebê-la -, um paralelo da energia.

Em sua grande maioria, a população mundial em geral não aceita uma energia mental não-encarnada como sendo a força criadora no universo. Isto se deve principalmente à tendência humana de atribuir a uma Causa Inicial suprema qualidades semelhantes às do próprio ser do homem. Por exemplo, o homem é causativo; isto é, ele está cônscio de introduzir mudanças ou inovações em seu próprio ambiente e em suas próprias ações. Ele equaciona esta causação volitiva com a liberdade e criatividade pessoais. Ele está cônscio de que isto lhe dá superioridade sobre a maioria das outras formas de vida. Por conseguinte, inclina-se a  não atribuir qualquer poder ou qualidade menor ao que considera como um ser superior transcendental.

Dizer que o Cósmico – uma causa universal – é uma energia só seria ofensivo às pessoas que preferem um Deus antropomórfico; isto é, que tenha forma semelhante à humana. Contudo, essas pessoas estão negando seu deus como sendo determinativo ou tendo vontade e    propósito, pois por certo a vontade e o propósito estão relacionados com a mente, e a mente é, em sua manifestação, energia.

A ciência moderna deu um equivalente à  matéria e energia, pelo menos na medida em que há um intercambio entre elas. Simplesmente, atrás de toda realidade há uma espécie de  espectro eletromagnético, mas desconhecem-se seu alcance ou limitações. Em geral, os cientistas não admitem que tal fenômeno seja Deus. Mas se esse fenômeno é a causa básica de tudo o que existe, então seja qual for o nome que o homem lhe queira dar, ele é o Criador. Declarar que tal idéia é um sacrilégio significa, na verdade, admitir que o homem realmente conhece a natureza exata de Deus.

Isto, portanto, suscita a questão da natureza autorizada das obras religiosas sagradas, as quais são bem específicas em sua definição de um deus. O primeiro fato notável a ser observado, ao se ler essa literatura, é que as obras não estão concordes em seu conceito de uma causa primária ou divina. Portanto, outro ponto de vista, tal como uma energia cósmica cuja ordem ou manifestação parece estar relacionada com a energia que conhecemos, tem tanto direito como especulação abstrata quanto qualquer das outras chamadas exposições sagradas.

Compreendamos que as obras sagradas extraem sua autoridade principalmente da declaração de que elas são o resultado das revelações divinas. Não obstante, as descrições verbais dessas revelações são a construção da mente humana que as concretizou. Podemos, então, indagar quem estava certo ou errado: Ptah, Akhenaton, Moisés, Zoroastro, Buda, Jeová, Maomé, e numerosas outras personalidades ou conceitos que eram igualmente considerados sacrossantos para milhões de pessoas.

Não obstante, cabe ao homem o crédito de que realmente reconhece algo supremo que está além dele próprio e que cria, dentro dele, espanto, humildade e amor, bem como um desejo de compreendê-lo.

Será que o homem toma parte, de algum modo, na formação do Universo? Chegamos a nossas idéias, ao conhecimento que temos, a partir das sensações que percebemos pelos nossos sentidos receptores. Os impulsos registrados em nossos olhos e nossos órgãos de tato, por exemplo, oferecem as qualidades primárias pelas quais formamos uma imagem de nossa experiência. A visão nos transmite a noção  de espaço, cores e dimensões. O tato nos dá igualmente a noção de espaço e dimensões, ou tamanho e peso, e assim por diante.

Todavia, essas imagens, as formas mentais que temos de nossas percepções, na realidade não correspondem ao que quer que seja a fonte de nossas impressões. Em outras palavras, as vibrações que registram no cérebro criam idéias que são traduções do que na realidade está lá. Como analogia, uma pessoa pode ver algo que, para ela, tem a cor vermelha, mas para outra, que é daltônica, pode parecer verde. Qual é então sua verdadeira natureza? Está  é então sua verdadeira natureza? Está claro que o  espectroscópio revelaria que as vibrações estão dentro de certa faixa de espectro luminoso; mas a cor é uma imagem mental.

Se não tivéssemos os sentidos receptores e as qualidades a eles associadas, não atribuiríamos à realidade as formas especificas que lhe damos. Neste aspecto, lembremo-nos da velha história dos cegos e do elefante. Cada homem baseava sua descrição do animal de acordo com a parte que ele tocava da anatomia do paquiderme. O que apalpou sua tromba julgou-o semelhante a uma arvore; o que tocou sua orelha acreditava ser ele um leque ou uma folha. Na realidade, porém, ele era bem diferente de qualquer das duas concepções.

Vamos supor que os homens fossem privados da visão; sua consciência dos fenômenos do cosmo seria, objetivamente, muito alterada. Ou suponhamos que os homens possuíssem outra faculdade sensorial para perceber a realidade. A consciência humana poderia então estabelecer uma série de imagens dos fenômenos cósmicos e muito diferentes das que ora existem. Dizemos, então, que o ser existe; em outras palavras, há realidade que é muito independente da consciência humana. Em termos sucintos, se o homem não existisse, o ser continuaria sendo o que é. Contudo a consciência humana atribui a este ser uma forma, isto é, realidade; ela é um produto dos sentidos receptores, da razão e da imaginação humanas.

Mesmo nossa instrumentação moderna está alterando as impressões que nossa visão desarmada tem dos céus. Radiotelescóspios e viagens espaciais refutaram algumas das idéias, as imagens mentais que temos de objetos celestiais distantes. O cosmo não é tridimensional; tampouco se limita ele às cores do espectro tal como as percebemos.

Não nos deveríamos esquecer que até bem pouco tempo nossa imagem mental da Terra era a de ser ela chata e não esférica. Além disso, também não há muito, no período da história registrado, o homem acreditava que a Terra era o centro do universo. Ele remodelou o cosmo na sua mente mediante observações e impressões posteriores.

O absoluto, a verdadeira natureza do cosmo, talvez nunca seja conhecido pela mente finita do homem. Estamos aprendendo mais fenômenos do cosmo e suas miríades de mudanças, mas não podemos ter certeza de que nossa experiência daquilo que percebemos é fidedigna. O homem, por meio das ciências como astronomia, cosmologia e astrofísica, está tentando descobrir, isto é, chegar a uma teoria racional quanto à origem de seu universo imediato e daquele universo maior que dizemos ser formado de galáxias, sistemas solares, planetas etc. Quaisquer fenômenos que possam existir, e que a tecnologia avançada revelará, podem, uma vez mais, no futuro, alterar nossa imagem quanto ao que o cosmo realmente seja;em outras palavras, a tecnologia avançada pode fazer-nos remodelá-lo em nossa mente.