25 de ago. de 2011

Intuição, Idealismo e Iluminação

O homem tem várias vidas reunidas em sua existência mortal. Isto não deve ser interpretado com referencia à reencarnação ou renascimento. Antes, pretende-se que seja compreendido no sentido de que cada um de nós, em sua existência física, pode experimentar vários estados de consciência que constituem diferentes aspectos  da vida. Há, contudo, os que jamais experimentam alguns desses estados de consciência. Toda sua existência mortal pode permanecer confinada a apenas uma visão limitada da vida. Para eles, é como olhar o mundo pela mesma janela – continuamente.

Estas vidas que vivemos são determinadas por motivação psíquica e mental. As escolhas e ações que compreendem nossa vida social e  privada são principalmente o resultado de decisões que tomamos e que, por sua vez, são a conseqüência dos nosso processos mentais e estados emocionais. Reconhecidamente, o ambiente tem uma influencia tremenda sobre nós; isto é, as circunstancias em que somos precipitados diariamente. Mas a maneira como reagimos a esses estímulos, como interpretamos e tentamos nos ajustar a eles, é o resultado de nossa vida psíquica e mental, dos estados de consciência através dos quais percebemos e concebemos as experiências especificas.

Existem três estados de consciência, cada um caracterizando uma fase da vida. Na realidade, eles são as forças motivadoras que determinam o rumo que nossa vida toma. Estes estados de consciência são intuição, idealismo e iluminação. Os dois primeiros são bastante comuns na maioria das pessoas e, embora muitas vezes mencionados, raramente são compreendidos. O terceiro, iluminação, é difícil de se alcançar e, mesmo quando experimentado, muitas vezes é dotado de algum outro significado. Portanto, muitos tem sido iluminados mas não reconheceram a experiência como tal. Um espaço cheio de vida, aquela perfeição da existência humana a que aspiramos consciente ou inconscientemente, só pode advir de uma coordenação desses três estados: intuição, idealismo e iluminação. Uma espontaneidade não correlacionada da parte dos dois primeiros jamais pode conduzir ao terceiro.

Que é intuição?  Há séculos a filosofia e a metafísica vêm dando definições variadas e muitas vezes conflitantes dessa experiência. Nos tempos relativamente modernos, a psicologia também tem dado sua versão. Em geral, as obras de psicologia descrevem o fenômeno da intuição sob o título de Instinto. A experiência da intuição comumente compreendida como um conhecimento ou orientação absurda. É uma forma de ideação que lampeja na consciência, sem nossa vontade, e muitas vezes quando aparentemente não tem qualquer relação com nossos pensamentos no momento.

Dizemos que a intuição é irracional porque suas impressões não surgem como uma conclusão correlata imediata de qualquer proposição que temos em mente no momento.  Há também uma característica distintiva sobre as impressões intuitivas. Quando experimentamos uma destas, ela possui uma clareza óbvia que traz consigo a convicção de ser evidente por si mesma. Na verdade, designaríamos como conhecimento intuitivo aquela impressão sobre a qual não temos dúvidas. Em outras palavras, muitas vezes questionamos a validade do nosso discernimento quando racionamos. Mas no momento em que experimentamos a intuição, jamais duvidamos dela.

É por esta razão que a intuição tem sido aceita, com tanta freqüência, como uma espécie de conhecimento imanente, isto é, uma sabedoria inata que transcende o conhecimento adquirido de maneira normal. Na verdade, o conhecimento intuitivo tem sido associado a uma conotação religiosa ou espiritual como um atributo da alma. Emanuel Kant, em sua Critica da Razão Pura, disse que tempo e espaço são formas de intuição. E a intuição, por sua vez, ele declarou ser um conhecimento a priori. Em outras palavras, ele a considerava como uma espécie de conhecimento que precede o conhecimento adquirido pela experiência. Este conhecimento a priori  disse, é parte da natureza real do homem. Contudo, ele precisa de fenômenos ou da existência dos nossos sentidos para ser expressado. Mas não precisa de tais experiências para existir.

A psicologia situa a intuição na categoria do instinto. É conhecimento adquirido historicamente;isto é, o organismo humano tem precisado adaptar-se a muitas e diferentes condições em sua longa evolução. Estes ajustes transformaram-se em registros permanentes estabelecidos no gene, uma espécie de impressão de memória. Portanto, sempre que surgem circunstancias semelhantes que estão relacionadas a essas impressões de memória, elas são instintivamente liberadas como idéias intuitivas e ações instintivas. A psicologia declara ainda que a intuição só é fidedigna em questões de nossa sobrevivência, proteção contra perigo e condições ameaçadoras à vida do próprio organismo.

Contrários às explicações da psicologia existem os numerosos casos em que idéias surgiram aparentemente de parte alguma para dentro da mente. Essas idéias tem sido inspiradoras e resultado em soluções para problemas desconcertantes. Embora talvez não estivesse relacionado a uma cadeia de pensamentos a que a pessoa se entregava no momento, a impressão intuitiva na maioria dos casos tinha uma relação com alguma cognição anterior. A idéia intuitiva sempre tem uma finidade com nossos interesses, atividades mentais, desejos e experiências, seja do presente ou do passado. Aventuramo-nos a dizer que raramente a idéia intuitiva é completamente estranha a nossas concepções, interesses ou talentos.

Por analogia, podemos pensar que as idéias são como objetos que são polarizados, isto é, tem polaridade separada que atrai ou repele. Em nosso processo mental objetivo normal, talvez não sejamos capazes de atrair todas aquelas idéias que estão relacionados ao pensamento especifico que dominava nossa mente em determinado momento. Na verdade, em nosso processo de raciocínio, as idéias que despertamos conscientemente muitas vezes podem entrar em choque ou se opor entre si, não resultando em qualquer conclusão satisfatória.

Subseqüentemente, minutos, horas ou dias mais tarde, das profundezas do fluxo de consciência surgirá repentinamente uma idéia composta, cintilando em sua clareza, uma perfeita harmonia de pensamento. Pareceria então que existe um raciocínio subconsciente que prossegue depois que a mente racional parou ou fracassou. Pareceria tratar-se de uma inteligência superior que é capaz de avaliar todas as idéias de experiência acumuladas que estão armazenadas na memória e encontrar uma relação harmônica entre elas e que eventualmente constitui as impressões intuitivas liberadas.

Será que a impressão intuitiva é infalível em todos os casos? Todos os que obedeceram a seu chamado palpite nem sempre foram bem sucedidos. Mas estes casos talvez não indiquem o fracasso da intuição. O fracasso poderia dever-se à maneira como o individuo aplicou as impressões intuitivas aos seus negócios. Ela pode ter-se deturpado pela sua tentativa em fazê-lo conformar com algum plano ou propósito.

A melhor maneira de se contar com a intuição é mais no sentido admonitório do que como uma sugestão positiva que inicia uma nova ação. Assim, por exemplo, quando somos intuitivamente advertidos para não prosseguirmos ou para tomarmos uma posição contrária, é aconselhável dar ouvidos à intuição independente da maneira como ela possa contradizer a razão. Ignorar de todo a intuição é negar uma faculdade desenvolvida que tem sido inerente ao homem durante toda a sua ascensão desde um estado primitivo.

A segunda força motivadora que constitui uma importante fase da vida é o idealismo. Perfeição e idealismo estão relacionados. Naturalmente, nem todo ideal é perfeito de acordo com todos os padrões. Na verdade, os ideais acalentados por alguns podem ser contrários aos aceitos pela sociedade em geral. Por exemplo, os ideais de um comunista em uma sociedade capitalista, e vice-versa. Um ideal é um objetivo abstrato, um estado ou coisa que se considera transcender todas as coisas de natureza correlata. Alguma coisa só pode ser um ideal em comparação com alguma outra cujo contexto aparece como inferior.

Nossos ideais, porém, podem ser intrinsecamente falsos. Podemos aspirar àquilo que infringe a lei natural e que não tem qualquer possibilidade de se manifestar da maneira como o concebemos. Mas, além disso, muito embora um ideal possa ser racional, ele talvez não esteja dentro das capacidades ou do potencial daquele que o visualiza.

São dois os padrões para se medir o idealismo: Um deles é a razão e o outro é a intuição. Um ideal pode ser transcendental, pode ser algo a ser alcançado. Mas ele tem de ser contíguo com o presente. Tem de haver uma ligação entre o que é e o que se deseja que seja. È preciso haver um modo, uma cadeia de causalidade, pela qual se possa realizar o efeito ou ideal final. Para se evitar a mera extravagância frívola, um ideal deve ser analisado pela razão. Dever-se-ia determinar que possíveis abordagens a ele existem. Este método muitas vezes revelará que um ideal é falso ou que não está dentro do âmbito da probabilidade.

A intuição é um guia fidedigno na determinação da viabilidade de um ideal. Se não cedermos ao emocionalismo, ao entusiasmo excessivo, e sim ponderarmos primeiro sobre algum objetivo, em geral experimentaremos uma impressão intuitiva de valor em relação a ele. Com mais freqüência, essa ponderação superior da intuição é um elo valioso com o idealismo.

A terceira força motivadora e a que proporciona a mais exaltada experiência de vida é a iluminação. Os místicos foram os primeiros a usar este termo em conexão com a experiência mística. No sentido etimológico mais amplo, iluminação refere-se a um esclarecimento exaltado da mente. Em outras palavras, a mente é iluminada com uma luz singular de conhecimento e compreensão. Do ponto de vista místico, iluminação é “uma libertação das ligações deste mundo”. Destarte a mente, a consciência, é liberada para experimentar “a vida unida”, uma vida de unidade com Deus ou o Absoluto. Em termos mais simples, o homem conhece a si mesmo, mas não apenas como indivíduo. Ele descobre sua relação cósmica. Para usar as palavras de um místico,”...ele afunda em seu elemento divino, como uma onda no mar”.

Dionísio, o monge sírio do século XVI, disse que a iluminação pela qual se conhece a inteireza de seu ser é um dom de bondade. Ela restaura o poder unificador do homem pelo qual este compreende a unidade de tudo aquilo do qual é parte.

Se a iluminação é um aspecto da experiência mística, qual é então toda a harmonia da experiência mística? Onde a iluminação se encaixa? De modo geral, há três estágios reconhecidos da experiência mística. São eles a purgação, a iluminação e a perfeição. O primeiro, a purgação, é um reconhecimento de nossas fraquezas de caráter; é uma tentativa de auto-análise e de refinamento do interior e um desejo de remover obstáculos por nós criados, tais como os representados por hábitos e costumes, mentais e físicos.

Dizem-nos que desta purgação surge gradualmente a iluminação. Existem estados de separação gradual da consciência objetiva. Pouco a pouco nos libertamos – muito embora seja apenas momentaneamente – de ter nossa consciência presa unicamente à exterioridade, ao mundo das coisas. Desenvolvemos uma sensibilidade para impressões mais sutis que surgem dentro de nós mesmos e compõem o mundo interior. Isto é algo raramente realizado pela pessoa mediana. Só é parcialmente atingido quando ela pode livrar-se do televisor e sentar-se em meditação ou mesmo em abstração durante alguns minutos. Se pudermos fazer isto diariamente, mesmo que apenas por quinze minutos, poderemos dar os primeiros passos rumo à iluminação.

É possível esboçar esses passos pelos quais se pode experimentar esta iluminação, este grande esclarecimento da consciência? O que se segue é uma breve soma dos estágios pelos quais a iluminação tem sido alcançada por aqueles que a buscaram sinceramente.

[1]O despertar do eu para uma consciência de uma realidade divina ou absoluta. Esta é a convicção pessoal de que existe um poder supremo real que tudo penetra. Este despertar dá uma sensação de alegria como acontece na descoberta de um fenômeno espantoso e agradável.

[2] O eu torna-se cônscio, pela primeira vez, da beleza cósmica, isto é, ele experimenta a harmonia do puro ser. Ao mesmo tempo, percebem-se as próprias imperfeições; ele tenta eliminá-las pelas disciplina, e isto constitui a purgação.

[3]Completada a purgação, surge a iluminação que se alcança por graus ou estágios.

[4]O teste final tem sido chamado de a Noite Escura ou a Escura Noite da Alma. É um teste de determinação da pessoa. É um desafio para ele fazer mudanças drásticas em seu modo de pensar, em seus hábitos e seu modo de vida. Por exemplo, não se pode ser sensual a ponto de se entregar totalmente aos sentidos e apetites físicos e, ainda assim, esperar ser sensível à luz interior da iluminação.

[5]O quinto estágio é quando o Absoluto não é simplesmente desfrutado como experiência, nem quando é apenas uma questão de iluminação, e sim quando a pessoa sente sua unidade com todo o ser. É quando ela percebe que é mas não é. Isto significa que a pessoa sabe que é mortal mas compreende a imortalidade da essência dentro dela.  

Na vida prática, a iluminação segue a intuição e o idealismo. Nossa intuição nos ajuda a formar uma série de degraus para subirmos. Cada degrau, por sua vez, é um ideal; cada ideal é mais avançado e mais satisfatório para nosso eu psíquico mais elevado. Então, ele pode progredir para uma consideração do bem-estar de outros, o serviço da sociedade, e então, gradualmente, expandir-se com maior compreensão. O idealismo prepara a consciência para  a iluminação.

A iluminação não é mera abstração. Não é um isolamento eventual do eu do mundo. Mais propriamente, ele é uma sintetização de todas as nossas faculdades e poderes, de modo que podemos tirar o Maximo de nosso período de vida mortal aqui na Terra. Por exemplo, ela proporciona uma clareza de visão com relação a fenômenos, às experiências da vida. O eu percebe uma significação adicional em todas as experiências nele e em torno dele. O infinito da iluminação é uma penetração do mundo natural em uma profundidade maior em uma direção, enquanto que ao mesmo tempo se penetra o Cósmico noutra direção. Mas essas duas direções são como linhas curvadas para se encontrarem. Assim, elas formam um todo, ou circulo, de vivencia mais completa.
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R.M.L._F.R.C.

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