O leitor terá compreendido que a filosofia que vimos de sumariar é européia em tudo, salvo quando ao lugar onde se originou. Tem as nuanças, o polido, a resignação característica das velhas culturas; sente-se em todas as suas partes que a Life of Reason não é uma voz americana.
Já em William James a voz, a idéia e próprio torneio da frase são da América. Polvilham seus escritos expressões como “cash-value”, “results”, “profits” que lhe afinam o pensamento a compreensão do homem da rua”; James não fala com a reserva aristocrática de Santayana ou de um Henry James, mas em um vernáculo racial, com uma força e precisão que fizeram a sua filosofia do “pragmatismo” e das “reservas de energia” o correlato mental do “prático” e “ estrênuo” Roosevelt. E ao mesmo tempo verbalizou para o homem comum aquela confiança nos essenciais da velha teologia, que na alma americana vivem lado a lado com o espírito realista do comercio e da finança e com a rude coragem que transformou um deserto virgem em terra da promissão.
William James nasceu em Nova York, em 1842. Seu pai fora um místico abeberado de Swedenborg, feição que não chegou a lhe enevoar a agudeza e o humor, e seu filho mostrou-se herdeiro desses três elementos. Depois de algumas estações em colégios particulares americanos, William e seu irmão Henry foram mandados para escolas em França. Lá travaram conhecimento com os trabalhos de Charcot e outros psicopatologistas, guinando ambos rumo à psicologia; um deles, para repetir velha frase, começou a tratar a ficção literária como psicologia e outro a tratar a psicologia como ficção literária. Henry passou a maior parte da vida no estrangeiro, acabando cidadão inglês. Graças ao seu contato longo com a cultura adquiriu uma alta maturidade de pensamento; mas William, voltando para a América, sentiu o estimulo forte de uma nação grande de alma e rica de oportunidades e esperanças, e tão bem apreendeu o espírito da época e do lugar, que se viu erguido nas asas do Zeitgeist a um solitário pináculo de popularidade jamais atingindo por nenhum outro filosofo americano.
Tomou em 1870 grau M.D. na universidade de Harvard, e lá professou de 1872 a 1910, data da sua morte, primeiro fisiologia e depois psicologia e filosofia. Sua grande obra foi a inicial, Princípios de Psicologia [1890], uma fascinante mistura de anatomia, filosofia e analise; porque em James a psicologia ainda goteja das membranas fetais de sua geratriz, a metafísica. A obra, entretanto, permanece o mais instrutivo e o mais absorvente sumário da matéria; alguma coisa da sutileza de Henry verteu em suas teses habilitou James a realizar a mais aguda introspecção que a psicologia havia testemunhado desde o jacto de luz de Davi Hume.
Esta paixão pela análise esclarecedora tinha de levá-lo da psicologia à filosofia, e por fim a própria metafísica; argüia ele [contra as suas próprias inclinações positivistas] que a metafísica era apenas um esforço para pensar com clareza, e na sua simples e diáfana maneira definia a filosofia como “pensar a respeito das coisas do modo mais claro possível”. Assim, depois de 1900, suas publicações restringiram-se todas ao campo filosófico. Começou com The Will to Believe [1897]; depois, em seguida a uma obra prima de interpretação psicológica – Varieties of Religious Experience [1902], passou aos seus famosos livros Pragmatism [1907], A Pluralistic Universe [1909 e The Meaning of Truth [1909]. Um ano após sua morte apareceram Some Problems of Philosophy [1911] e a seguir um notável volume dos Essays in Radical Empiricism [1912]. Começaremos nosso estudo por estas ultimas obras, visto que nelas James formula mais claramente as bases da sua filosofia.
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