15 de jul. de 2011

Bertrand Russell

1_O Lógico
Guardamos para o fim o mais jovem e viril dos pensadores europeus do Século XX.

Quando Bertrand Russel falou na Universidade de Columbia, em 1914, apareceu-nos, como o seu tema – epistemologia – magro, desfeito, moribundo; a assistência esperava vê-lo desmaiar a cada período. A Grande Guerra havia rebentado e esse filosofo de espírito meigo e amigo da paz tinha sofrido de ver o mais civilizado dos continentes desintegrar-se em barbarismo. Dava a impressão de ter escolhido um assunto tão remoto como “O nosso Conhecimento do Mundo Exterior” porque o sabia remoto  e desejava manter-se o mais afastado possível da realidade horrenda. Foi surpresa, revê-lo mais tarde, alegre, lépido, ardente de rebeldias, apesar de já nos cinqüenta e dois anos. E isso a despeito de toda uma década que lhe destruíra quase todas as esperanças, afastara amigos e rompera laços de um viver até então aristocrático.

Porque Russel pertence aos Russells, famosa família que tem dado à Inglaterra uma série de estadistas. Seu avô, John Russel, foi um grande primeiro ministro liberal que lutou incessante batalha pró livre cambio, educação universal livre, emancipação dos judeus -  liberdade em todos os campos. Seu pai, o visconde Amberley, fora um livre-pensador que não sobrecarregou o filho com a hereditariedade teológica do Ocidente. E o nosso filosofo é hoje o herdeiro presuntivo do segundo conde Russell – mas desistiu orgulhosamente destes direitos e ganha com orgulho sua própria vida. Quando Cambridge o demitiu por pacifismo, fez ele do mundo sua universidade e tornou-se um sofista itinerante [sofista no sentido original e nobre da palavra] que o mundo aceita com alegria.

Houve dois Bertrand Russell: um que morreu durante a guerra e outro que se ergueu dessa mortalha, comunista quase místico brotado das cinzas de um lógico matemático. Talvez sempre existisse nele uma suave mística latente, representada a principio pela montanha de formulas algébricas e depois com expressão em um socialismo mais religioso que filosófico. O mais característico titulo dos seus livros é Misticismo e Lógica: impiedoso ataque versus a ilogicidade do misticismo, seguido de tal glorificação do método cientifico que nos faz pensar no misticismo da lógica. Russell herdou as tradições positivistas inglesas e deliberou ser espírito forte justamente porque sabe que não pode.

Talvez fosse compensatoriamente que exaltou as virtudes da lógica e fez das matemáticas uma divindade. Ele impressionava-nos em 1914 qual uma formula com pernas – uma abstração momentaneamente animada. E por essa ocasião nos revelou que jamais havia visto um filme antes de ler em Bergson a analogia entre o cinematografo e o intelecto; reconciliou-se então com a cena muda meramente como mais um campo da filosofia. O vívido senso do tempo e do movimento em Bergson, a sua concepção de que todas as coisas são animadas de um ímpeto vital, não fez nossa em Russell; pareceu-lhe um belo poema, nada mais; por sua parte não teria ele outros deus além da matemática. Não sentia nenhuma inclinação para os clássicos; argüia vigorosamente, qual outro Spencer, por mais ciência na educação. As desgraças do mundo, sentia, eram largamente devidas ao misticismo, à criminosa obscuridade do pensamento; e a primeira lei da moralidade deveria pensar corretamente. “Antes pereça o mundo do que tenha eu, ou qualquer outra criatura humana, de crer numa mentira;...esta é a religião do pensamento, em cujas chamas ardentes as escorias do mundo estão sendo consumidas” [*Mysticism and Logic].

Sua paixão pela clareza arrastou-o forçosamente para a matemática; Russell exultava diante da serena precisão dessa ciência aristocrática. “A matemática possui não somente a verdade como ainda a beleza suprema – uma beleza fria e austera, qual a da escultura, que não fala aos fracos da nossa natureza, que não arma as trapas suntuosas da musica; é sublimemente pura e capaz de severa perfeição só possível na arte suprema”. Acredita que o progresso das matemáticas foi a mais alta realização do século dezenove; especificamente, “a solução das dificuldades que a principio rodeavam o infinito matemático é, talvez, a maior realização de que a nossa era pode orgulhar-se”. A velha geometria, que fora a fortaleza das matemáticas durante dois mil anos, ficou em um século quase totalmente destruída; o texto de Euclides, o mais velho livro escolar do mundo, foi posto de parte. “Não passa de um escândalo que ainda hoje ele esteja nas mãos dos meninos ingleses”.

Talvez a fonte de muitas das inovações nas matemáticas modernas se origine na rejeição de axiomas; e Russell deleita-se em ser o homem que desafia as “verdades evidentes por si mesmas” e insiste na demonstração do que é óbvio. Exultou de ouvir que as linhas paralelas podem encontrar-se em qualquer ponto e que o todo pode não ser maior que uma das partes. Gosta de assustar o leitor inocente com assombros como este: os números pares são metade de todos os números e todavia há tantos números pares quanto há números – desde que para cada numero existe seu duplo par. Na realidade é isto o tudo da até aqui indefinível coisa – o infinito matemático: um todo contendo partes que possuem tantos termos ou itens como o todo. O leitor poderá seguir esta tangente, se gosta de tais revôos [*A Introductio to Mathematical Philosophy começa com uma especiosa inteligibilidade, mas logo exige o concurso de um especialista em matemáticas. O próprio The Problems of Philosophy que procura ser popular, é difícil e desnecessariamente epistemológico; O Mysticism and Logic mostra-se muito mais claro e perto da terra. A Philosophy of Leibnitz é uma bela exposição de idéias. Os dois volumes, The Analysis of Mind e The Analysis of Matter, servem para por o leitor ao corrente de certos aspectos da psicologia e da física. Os livros de depois da guerra são acessíveis; e embora sofram da natural confusão de um homem cujo idealismo descambou para a desilusão, merecem leitura. Why Men Fight é dos melhores. Roads to Freedom vale por genial visão das filosofias sociais].

O que arrastou Bertrand Russell para a matemática foi a sua rígida impessoalidade e objetividade; aqui, e aqui só, está a eterna verdade e o conhecimento absoluto; estes teoremas a priori são as “Idéias” de Platão, a “ordem eterna”, de Spinoza, a substancia do mundo. A filosofia devera ter como alvo igualar a perfeição das matemáticas, confinando-se a proposições similarmente exatas e similarmente verdadeiras antes de qualquer experiência. “Proposições filosóficas...devem ser a priori, diz este estranho positivista. Tais proposições se referirão não a coisas, mas a relações e a relações universais. Serão independentes de fatos específicos; se cada particular no mundo fosse mudado, as proposições permaneceriam intangíveis. Exemplo: “Se todos os AA são BB, e X é A, então X é B”: isto é verdadeiro seja A lá o for; reduz a uma forma universal e a priori o velho silogismo de Sócrates a respeito da moralidade; e seria verdadeiro se nenhum Sócrates ou nenhum de nós existisse. Platão e Spinoza estavam certos: “O mundo dos universais pode também ser descrito como o mundo do ser. O mundo do ser é imutável, rígido, exato, deleitoso para o matemático, para o lógico, para o construtor de sistemas metafísicos e para todos que amam a perfeição mais que à vida”. Reduzir a filosofia a tais formas matemáticas, sacar de dentro dela todo o conteúdo especifico, comprimi-la em matemática -  era essa a ambição do novo Pitágoras.

*O homem descobriu como fazer o raciocínio simbólico, como o é na álgebra, de modo que as deduções possam ser efetuadas por meio de regras matemáticas...As matemáticas puras consistem totalmente de asserções para o efeito de que, se tal e tal proposição é verdadeira em alguma coisa, então tal e tal outra proposição é também verdadeira nessa coisa. Não é essencial discutir se a primeira proposição é realmente verdadeira, nem mencionar o que da coisa é suposto verdadeiro...Assim as matemáticas podem ser definidas como a matéria na qual nós nunca sabemos do que estamos falando, nem se o que estamos falando é verdadeiro.

E talvez [se nos é permitido interromper exposição com opinião] esta descrição não faça grande justiça a filosofia matemática. É um esplendido jogo para os que o apreciam; tão bom para “matar o tempo” como o xadrez; uma nova forma de solidão e deve ser jogado, tanto quanto possível, longe do contato contaminador das coisas. Notável que depois de escrever diversos volumes sobre tão sábio jogo Russell pudesse inopinadamente ressurtir a face do planeta e entrar a raciocinar com paixão sobre a guerra, o governo, o socialismo e a revolução – sem nunca fazer uso das impecáveis formular amontoadas, como o Pelion e o Ossa, em seu Principia Matemática. Nem ninguém mais fez uso delas. Para tornar-se efetivo e útil, o raciocínio deve ser sobre coisas e nunca fora do céu contato. Abstrações servem como sumários; mas como implementos de argumentação requerem a prova e o comentário da experiência. Estamos aqui em perigo de mais uma escolástica, ao lado da qual a gigantesca Summa da filosofia medieval seria um modelo de pensamento pragmático.

Partindo desse ponto, Bertrand Russell teria de chegar fatalmente ao agnosticismo. Encontrara no cristianismo tanta coisa impossível de ser matematizada que o abandonou inteiro, exceto na parte moral. Russell fala com desprezo de uma civilização que  persegue os homens que negam o cristianismo e encarcera os que o tomam muito a sério [*Why Men Fight]. Não pode encontrar Deus em um mundo tão contraditório e acha que só um humorístico Mefistófeles poderia tê-lo criado em um momento de excessivo demonismo. Segue Spencer em sua visualização do fim do mundo e ergue-se aos cimos da eloqüência ao descrever a resignação do estóico depois da ultima derrota de cada individuo ou espécie. Falamos em evolução e progresso; mas o progresso é uma expressão egoísta e a evolução não passa da metade de um ciclo amoral de eventos que desfecham na dissolução e na morte. “A vida organiza, dizem-nos, desenvolveu-se gradualmente do protozoário ao filosofo; e este desenvolvimento, continuam, é indubitavelmente um avanço. Infortunadamente é o filosofo, e não o protozoário, que nos assegura isto”. O “homem livre” não pode confortar-se com esperanças infantis de deuses antropomórficos; tem de conservar a sua coragem ainda que saiba que o fim de todas as coisas seja morrer. Não obstante, não se renderá; se não pode vencer, pode pelo menos gozar a luta; e pelo conhecimento que prevê sua própria derrota, permanece superior as forças cegas que o destruirão. Seu culto não irá aos poderes brutos externos, que pela sua persistência sem mira o conquistam, e destroem cada lar e cada civilização construída pelo homem; mas irá aos poderes criadores interiores, que lutam sempre e apesar das derrotas ergueram, pelo menos por alguns séculos, a frágil beleza das coisas pintadas ou esculpidas e as ruínas majestosas do Partenon.

Tal era a filosofia de Bertrand Russell – antes da guerra.

2_O Reformador
E então a Grande Loucura sobreveio; e Bertrand Russell, que permanecera tanto tempo silencioso e enterrado sob o peso da lógica, da matemática e da epistemologia, rompeu de chofre, qual flama libertada, e o mundo espantou-se de ver que o esguio e débil professor era um homem de infinita coragem e de exaltado amor pelo gênero humano. O erudito arrancou-se do recesso das formulas e interpelou os maiores estadistas do seu país, e envolveu-se em uma onda de polemica que não cessou nem quando o alijaram da universidade e o mantiveram, qual outro Galileu, isolado em um canto de Londres. Os que duvidavam da sua sabedoria, admitiam a sua sinceridade; mas ficaram todos de tal maneira desnorteados pela transformação, que caíram, por um momento, em uma intolerância nada inglesa. O indomável pacifista, a despeito da sua alta estirpe, foi posto fora da sociedade e denunciado como traidor do país que o nutria e que parecia naquele momento ameaçado de morte pelo maelstrom da guerra.

Atrás da sua rebelião estava o horror por todos os conflitos sangrentos. Russell, que experimentara tornar-se um intelecto sem corpo, era na realidade um sistema de sentimentos; e os interesses do Império lhe pareciam não valer as vidas dos moços que orgulhosamente marchavam para o matadouro. Pôs-se a ferretear as causas do monstruoso holocausto; e julgou encontrar no socialismo uma analise econômica e política que indicava ao mesmo tempo as fontes do mal e o remédio. A causa do mal era a propriedade privada e a cura, o comunismo.

Toda propriedade, pregou ele na sua maneira genial, tinha origem na violência e no roubo; no caso das minas de diamantes de Kimberley e das minas de ouro de Rand, essa transição do roubo para a propriedade efetuou-se as claras diante dos olhos do mundo. “Nenhum bem para a comunidade, de qualquer espécie que seja, resulta da apropriação privada da terra. Se os homens fossem razoáveis, decretariam para amanhã o fim desse regime, sem nenhuma compensação mais que uma taxa de renda vitalícia aos seus atuais detentores”.

Desde que a propriedade privada é protegida pelo estado e os roubos que originam a propriedade são sancionados pela legislação e mantidos pelas armas e pelas guerras, o estado é um grande mal; e seria ótimo que a maior parte das suas funções fossem realizadas por cooperativas e sindicatos de produtores. A personalidade e a individualidade vêem-se esmagadas pela estandardização da rotina das nossas sociedades; unicamente maior segurança e ordem na vida moderna podem reconciliar-nos com o estado.

A liberdade é o supremo bem, porque sem ela torna-se impossível a personalidade. A vida e o conhecimento são hoje tão complexos que somente pelo livre debate podemos encontrar nosso caminho, através dos erros e preconceitos, rumo a perspectiva total que é a verdade. Deixemos que os homens, deixemos que até os professores divirjam e se degladiem; dessa diversidade de opiniões vem uma inteligente relatividade de crença, que não correrá pronta para as armas; ódio e guerra são filhos de idéias fixas e fé dogmática. Liberdade de pensamento e de palavra valerá como corrente de ar através das neuroses e superstições do espírito ‘moderno’.

Porque nós não somos tão educados como pensamos; apenas estamos iniciando a grande experiência da escola para todos, e a experiência ainda não teve tempo de mostrar seus efeitos nos nossos modos de pensar e na nossa vida publica. A feição peculiar do homem ininteligente é o arrebatamento e o absoluto das suas opiniões; o cientista é lento em crer e nunca fala sem relatividades. O uso mais largo da ciência e do método cientifico na educação dar-nos-ia uma medida dessa consciência intelectual que só crê na evidencia e está sempre pronta para admitir que pode estar errada. Com tais métodos a educação se mostrará o grande remédio para nossos males; e talvez possa fazer dos filhos do nossos filhos o novo homem e a nova mulher sem os quais a nova sociedade não será possível. “A parte instintiva do nosso caráter é muito maleável. Influencia-se por meio de fé, de circunstancias materiais ou sociais e de instituições”. É concebível, por exemplo, que a educação possa amoldar a opinião de modo a admirar a arte mais do que a riqueza, como nos dias da Renascença, e a guiar-se pela resolução de “promover tudo quanto é criador, diminuindo assim os impulsos e desejos que fazem centro na posse”. Este é o Principio do Crescimento cujos corolários são dois grandes mandamentos de uma nova moralidade natural: primeiro, o Principio da reverencia, mandando que “a vitalidade dos indivíduos e comunidades seja estimulada o mais possível”; e segundo, o Principio da Tolerância, mandando que o “crescimento de um individuo, de uma comunidade, seja no mínimo possível feito a expensas de terceiros”.

Nada há que o homem não possa fazer, se a nossa esplendida organização de escolas e universidades fosse convenientemente dirigida com objetivo no melhoramento do caráter humano. Isto,e não as revoluções violentas ou leis no papel constitui o caminho para a criação de óbices a ganância e a brutalidade internacional.

Nossas escolas são o ‘Abre-te Sésamo’ para a Utopia.

3_Epílogo
Tudo isto é, sem duvida, um tanto otimista, embora seja melhor errar ao lado da esperança do que do lado do desespero. Russell derramou na sua filosofia social o misticismo e o sentimento que havia tão resolutamente reprimido na sua atitude para com a metafísica e a religião. Não aplicou as teorias sociais e políticas a mesma rígida inquietação, o mesmo ceticismo quanto aos axiomas que lhe deram tanto enlevo no campo da matemática e da lógica. Sua paixão pelo a priori, seu amor pela perfeição mais que pela vida, levam-no a quadros esplendidos que servem antes como oásis poéticos no prosaico do mundo do que de aproximações para a solução dos problemas da vida.  É deleitoso, por exemplo, contemplar uma sociedade na qual a arte seja mais respeitada do que a riqueza; mas enquanto as nações se erguerem e tombarem no fluxo da seleção natural dos grupos, e mais de acordo com o poder econômico do que com o poder  artístico, é o pode econômico e não o artístico que, possuindo maior valor de sobrevivência, receberá maiores aplausos e mais largas recompensas. A arte pode ser unicamente a flor que cresce nos alfobres da riqueza; não a substituta desta. Os Medicis precederam a Miguelangelo.

Mas não é necessário insistir nos pontos falsos da brilhante visualização de Russell; sua própria experiência lhe serviu de  severo critico. Na Rússia encontrou-se face a face com um tremendo esforço para criar uma sociedade socialista; e as dificuldades lá supervenientes quase que destroem a fé de Russell em seu próprio evangelho. Desapontou-o verificar que o governo russo não podia arriscar-se a medida democrática que lhe havia parecido o axioma da filosofia liberal; e Russell se sentiu tão encolerizado pela supressão da liberdade da palavra e da imprensa, e pelo resoluto monopólio e uso sistemático de todos os meios de propaganda, que se rejubilou do analfabetismo do povo russo; pois que a capacidade para ler, nessa época de jornais subsidiados, pareceu-lhe um impedimento para a aquisição da verdade. Também se sentiu chocado de ver que a nacionalização da terra fora forçada a ceder quanto a propriedade privada; e ficou-lhe a crença de que os homens não cultivarão a terra, nem cuidarão dela convenientemente, salvo quando possam transmiti-la aos filhos. “A Rússia parece o caminho de tornar-se uma grande França – uma grande nação de camponeses proprietários. O velho feudalismo desapareceu”; Russell começou a compreender que a tremenda revolução, com todos os seus sacrifícios e heroísmos, não passará do 1789 da Rússia.

Talvez se achasse ele mais em casa quando foi prelecionar por um ano na China; havia lá menos maquinismo e toadas mais lentas; um homem podia sentar-se e racionar, e a vida se mantinha estacionada durante a dissecação. Nesse vasto mar humano novas perspectivas se abriram para o filosofo; compreendeu que a Europa não passa de um aleatório pseudopodio de um continente maior, mais velho e de talvez mais profunda cultura; todas as suas teorias e silogismos se fundiram em uma modesta relatividade em face da nação mastodonte. Vemos o seu sistema fazer água quando ele escreve:

  • Compreendi que a raça branca não é tão importante como estamos acostumados a imaginar. Se a Europa e a América se destruíssem mutuamente e de maneira completa em uma batalha, isto não significaria de nenhum modo a destruição da espécie humana; nem sequer da civilização. Ficariam ainda consideráveis multidões de chineses -  e a muitos respeitos a China é a maior nação que ainda existiu. Não somente a  maior em população e maior culturalmente -  mas também me parece que a maior intelectualmente. Não sei de nenhuma outra civilização onde haja tanta largueza de espírito, tanto realismo, tanta boa vontade para encarar os fatos com são, em vez de procurar torcê-los em um certo sentido.

É um tanto difícil passar da Inglaterra para a América, e depois para a Rússia, e depois para a Índia e China, e conservar a mesma filosofia inicial. O mundo convenceu a Bertrand Russell de que é muito grande para caber em suas formulas, e talvez muito avultado e pesado para mover-se de acordo com os desejos do seu coração. E ainda há tantos corações e tantos desejos diferentes! Agora o temos, ao nosso filosofo, “um homem mais velho e mais sábio”, amadurecido pelo tempo e pela variedade de vidas; mais largamente do que nunca sabedor de que a carne é herdeira, e todavia senhor da moderação que conhece as dificuldades das mudanças sociais. No conjunto, um homem digno de amor, capaz da metafísica mais profunda e da mais útil matemática – e, apesar disso, falando de maneira simples, com a clareza peculiar dos sinceros; um homem freqüentador dos campos do pensamento que mais ressecam a alma e no entanto tépido, banhado da piedade e cheio de uma quase ternura pelo gênero humano. Nada do cortesão; um erudito e um gentleman, e muito melhor cristão que muitos que assim se rotulam. Quem sabe o veremos com suas desilusões vertidas em sabedoria e com seu nome inscrito entre os mais altos da serena irmandade dos filósofos.

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