10 de mai. de 2011

Schopenhauer_A Sabedoria da Morte

Algo mais ainda é necessário. Com o Nirvana o individuo alcança a paz da ausência de vontade e encontra a salvação; mas, e além do individuo? A vida sorri da morte de um individuo; sobrevive  na sua prole ou na dos outros;  e ainda que este riacho de vida seque, outros se vão tornando cada vez mais largos no decorrer das gerações. Como pode o Homem ser salvo? Há para as raças um Nirvana, como para o individuo?

Obviamente, a conquista final e radical da vontade se faria pela supressão da fonte da vida – a vontade de reproduzir: “A satisfação do impulso reprodutor é profunda e intrisecamente repreensível por ser a mais forte afirmação da vida”. Que crimes  cometeram as crianças para serem condenadas a nascer?

*Se contemplamos o torvelinho da vida vemos todo mundo ocupado com as suas misérias, lutando as extremas para satisfazer suas infinitas necessidades e varrer com suas inumeráveis aflições, e apesar disso não esperando outra coisa senão preservar o mais possível esse breve lapso de vida. No meio desse tumultuo brilham os olhares secretos, medrosos e furtivos dos amantes. Porque os amorosos são traidores que procuram perpetuar a inferneira da vida, que sem isso breve chegaria ao fim...dai o motivo de ter-se tornado vergonhoso o processo da geração.

É a mulher culpada aqui; porque são seus encantos que arrastam de novo o homem à reprodução. A mocidade não possui bastante inteligência para alcançar o breve dessas seduções; quando a inteligência acorda, já é tarde.

*Com as moças a Natureza parece ter em vista o que na linguagem do teatro se chama efeito; por alguns anos a Natureza as dota com os primores da beleza e do ‘charme’ as expensas do resto de suas vidas, e durante esse período elas capturam a imaginação dos homens arrastando-os ao encargo de as sustentar pela vida inteira – uma passo que jamais seria dado se unicamente a razão dirigisse o pensamento dos homens...Aqui, como nom ais, a Natureza procede com a habitual economia; porque, assim como a formiga fêmea depois de fecundada perde as asas já supérfluas, assim também, depois de ter dado ao mundo um ou dois filhos, a mulher em regre perde toda a beleza – e provavelmente pelas mesmas razões da formiga: asas e beleza iriam prejudicar a criação dos filhos.

Os moços devem refletir que se o “objeto que agora lhes inspira sonetos houvesse nascido dezoito anos antes, eles não lhe dariam um olhar”. E além disso o corpo do homem tem muito mais beleza que o da mulher.

*Unicamente um homem com a cabeça perturbada pelo impulso sexual pode dar o nem de ‘belo sexo’ a essa raça de pequena estatura, ombros estreitos, ancas largas e pernas curtas; a beleza de tal sexo decorre desse impulso. Em vez de considerá-las belas, o justo seria vê-las como inesteticas. Nem para a musica, nem para a poesia, nem para as belas artes possuem nenhuma sensibilidade real; por mero fingimento e para melhor agradar aos homens é que pretendem interessar-se por isso...São incapazes de tomar interesse objetivo pelo que quer que seja...Os mais notáveis intelectos do sexo feminino jamais puderam produzir uma só obra realmente original; nem dar ao mundo uma só obra de valor permanente em qualquer esfera [*Ensaio Sobre a Mulher].

Esta veneração da mulher é um produto do cristianismo e do sentimentalismo alemão; é por sua vez a causa do movimento romântico que exalta o sentimento, o instinto, e põe a vontade acima do intelecto. Os asiáticos sabem mais, e francamente reconhecem a inferioridade da mulher. “As leis que dão a mulher igualdade de direitos deviam dar-lhe também igualdade de intelecto”. A Asia também mostra maior honestidade do que nós nas suas instituições do casamento; aceita como normal e legal a poligamia que, embora largamente pratica entre nós, vive a coberto pela folha de parra. “Onde existem verdadeiros monógamos?” E que absurdo conceder direitos de propriedade a mulher! “Todas as mulheres são, com raras exceções, inclinadas a extravagâncias” porque vivem só no presente e seu dileto esporte consiste em comprar nas lojas. “A mulher julga que a missão do homem é ganhar dinheiro e a delas, gastá-los”; nisso se resume o conceito feminino da divisão do trabalho. “Sou portanto de opinião que a mulher não deve ser permitido dirigir seus negócios, devendo ficar sempre sob a supervisão do macho, seja pai, marido, filho ou estado – como na Índia; e que por conseqüência não lhe deve ser dado o direito de dispor da propriedade que não adquiriu” [*Wallace, pág.80. Eco do desgosto de Schopenhauer ante as extravagâncias de sua mãe]. Foi provavelmente o luxo e a extravagância das mulheres da corte de Luiz Quatorze que trouxeram a corrupção do governo, desfechada na Revolução Francesa.

Quanto menos lidarmos com as mulheres, melhor. Não são nem sequer um ‘mal necessário’ [*Frase de Carlyle]; a vida sem elas é mais segura e suave. Quando o homem perceber a armadilha oculta na beleza da mulher, a absurda comédia da reprodução cessará. O desenvolvimento da inteligência enfraquecerá ou frustrará a vontade de reproduzir, e teremos a extinção da espécie. Nada pode constituir melhor desenlace para a louca tragédia da vontade; por que há de a cortina que desce sobre a derrota e a morte erguer-se de novo para uma nova vida, uma nova luta, uma nova derrota? Por quanto tempo ainda seremos conservados neste muito-barulho-para-nada, nesta aflição continua que nos leva a morte? Quando teremos a coragem de lançar um desafio ao rosto da Vontade – e dizer-lhe que a beleza da vida não passa de mentira pura e que a grande bem-aventurança é a morte?  

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