15 de abr. de 2010

Paramnésia Uma Experiência Psíquica?


Muitas pessoas contam que já passaram por experiências de paramnésia [dejà vu]. A paramnésia nos dá a sensação de já termos vivido um acontecimento antes, mesmo que isso possa parecer uma impossibilidade. Assim, a sensação de familiaridade que acompanha a paramnésia é geralmente inesperada e inexplicável, levando muitas pessoas a se perguntar se suas experiências de paramnésia são psíquicas, fisiológicas, ou ambas.

Vários mecanismos tem sido propostos para explicar o fenômeno paramnésico. Devido a que experiências psíquicas de muitos tipos tem sido associadas com a paramnésia, tem sido freqüentemente sugerido que a própria experiência paramnésica seja psíquica. Neste particular, a paramnésia tem sido considerada como o resultado de lembranças de encarnações passadas, recordações subconscientes de projeções em sonho ou ‘experiências fora do corpo’, lembranças subconscientes de sonhos precognitivos, e clarividência. Uma incidência maior de casos de paramnésia tem sido registrada no caso de pessoas que meditam freqüentemente.

Outro mecanismo proposto para a paramnésia é o de memórias ancestrais codificadas bioquimicamente. Segundo este conceito, essas memórias se acumulam com o passar das gerações, sob forma de instintos, memórias raciais, o inconsciente coletivo, e todos os elementos que compõem a totalidade da mente. Esta Teoria da Memória, tanto pessoal como herdada, foi proposta por C.G.Jung como explicação para a paramnésia. De acordo com Jung, sempre que um acontecimento objetivo evoca algum conhecimento subconsciente, este conhecimento pode aflorar à nossa consciência objetiva. “O acontecimento é percebido como DEJÀ VU [“já visto”], de modo que o individuo recorda um conhecimento preexistente a seu respeito”.

ESTIMULAÇÃO CEREBRAL
Enquanto o intrigante fenômeno da paramnésia tem sido relatado em quase todas as categorias dos estados alterados de consciência, a estimulação cerebral também produz efeitos semelhantes. O estímulo de meio segundo que seja das regiões do HIPOCAMPO e da AMÍGDALA DO SISTEMA LÍMBICO, que se encontram bem dentro do lobo temporal do cérebro, ocasiona paramnésia, ou ‘familiaridade’, como é chamada por alguns pesquisadores. O Dr. Jose Delgado, da Universidade de Yale, observou que pacientes estimulados em certas regiões do sistema límbico escutavam os diálogos posteriores entre eles e o médico com um ar de divertimento e perplexidade. “Mas tudo isto já aconteceu antes. Eu sabia que o senhor ia dizer antes mesmo que o dissesse”.

È mais provável epilepsia lobo-temporal que freqüentemente tem experiências paramnésicas apresentem lesões no lobo-temporal direito. Coincidentemente, talvez, o hemisfério direito é não-verbal, e mais intuitivo e artístico que o hemisfério esquerdo.

J.E. Orme do Hospital Middlewood de Sheffield, Inglaterra, tratou da relação da paramnésia com a TEORIA DO TEMPO em sua obra acadêmica. TEMPO, EXPERIÊNCIA e COMPORTAMENTO. Ele citou o trabalho de R.Efron, que descobriu que os hemisférios cerebrais não processam necessariamente uma mensagem de modo simultâneo. Num indivíduo destro, um estímulo transmitido ao lado esquerdo do corpo não chega ao hemisfério esquerdo durante dois a seis milésimos de segundo após ter o hemisfério direito recebido o sinal do lado esquerdo do corpo. Durante esse retardamento, o hemisfério esquerdo é incapaz de verbalizar a sensação. O retardamento é o tempo necessário para que a informação seja passada ao ‘loquaz’ hemisfério esquerdo. Segundo Efron, se uma lesão atrasasse mais ainda a transferência, talvez tudo parecesse estar acontecendo duas vezes, como numa repetição [um replay].

SENSAÇÃO DE ESPANTO
Esta especulação não explica o sentimento subjetivo de estarmos recordando o passado distante. Além disso, o fenômeno paramnésico é algumas vezes acompanhado de uma onde de inefável acuidade; a memória parece estar colocada num contexto emocional. A natureza psíquica da paramnésia geralmente nos deixa com uma sensação de espanto e admiração. Esta singular sensação de espanto, acompanhada pela de familiaridade, é um característico da experiência mística, e assim, a incidência maior de paramnésia com freqüência relatada por pessoas que meditam não é de surpreender. Durante essas experiências místicas, a parmnésia pode também ser acompanhada de lembranças específicas de sonhos e visões precognitivos. Nestes casos, a memória onírica especifica pode ter caráter metafórico ou simbólico. Por exemplo, um dos nossos pacientes contou que havia sonhado com um bichinho de estimação que tinha morrido recentemente, e que no sonho se transformava em outra personalidade que não fora reconhecida pelo paciente naquele momento. Contudo, pouco tempo depois, quando um amigo intimo de feições idênticas às da personalidade do seu sonho inesperadamente faleceu, o paciente do nosso laboratório teve uma experiência paramnésica. Ele pode perceber que o sonho foi útil para outros, como para ele mesmo, porque serviu para trazer-lhes consolo durante acontecimentos subseqüentes.

Referindo-se a semelhantes casos de paramnésia C.G.Jung comentou que tinha observado numerosos casos em que sonhos e estados de vigília apresentaram um conhecimento prévio a posteriores experiências paramnésicas. Com certa ênfase, observou ele:

“Em tais exemplos, o acaso se torna altamente improvável, visto que o fato era conhecido antecipadamente. Assim, esses exemplos perdem o caráter de acaso, não apenas psicológica e subjetivamente, mas objetivamente também, uma vez que o acúmulo de incidentes que coincidem quase perfeitamente aumenta a improbabilidade de acaso como fator determinante. [Com respeito à correta previsão de morte, Dariex e Fammarion calcularam probabilidades de 1 em 4.000.000 e 1 em 8.000.000]. Assim, nestes exemplos seria absurdo falarmos em ‘acasos’. Trata-se, antes, de uma questão de coincidência signiticativa”.

Assim, mecanismos cerebrais, embora essenciais para a percepção de experiências como a paramnésia, refletem um processo psíquico que é mais profundo que o próprio cérebro. O valo de mecanismos cerebrais, porém, é o que eles nos dão oportunidade de refletirmos mais profundamente sobre a verdadeira natureza do EU.
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[Texto de George Buletza, PHD.]

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