17 de abr. de 2010

O Que é a Felicidade?


Que é que o homem busca?

Todos os homens possuem algum desejo e buscam sua realização. Alguns de tais desejos são a conseqüência de impulsos indefinidos. Sendo instintivos, não podem os mesmos ser erradicados da natureza humana; não são uma escolha da vontade. Apenas se servem da vontade como força propulsora para atingir seus objetivos. Tais desejos são os próprios atributos da Energia Essencial da Vida. Fundamentalmente, são os impulsos por sustento e segurança, fatores primordiais à própria natureza e preservação da vida. Esses desejos, por sua vez, podem ser subdivididos m apetites e paixões correlatos. Em conseqüência, tais desejos fundamentais não são errôneos ou maus, a menos que consideremos errônea e má uma função da vida. Milhões de pessoas desafortunadas no mundo nunca vão além de tais desejos. Jamais conseguem que os mesmos sejam satisfeitos, pois circunstâncias ou condições econômicas opressivas impedem sua concretização. Na vida de tais pessoas o único objetivo é a ‘sobrevivência’, característica comum em todos os animais.

Mas quando a necessidade de sustento e segurança é razoavelmente satisfeita, o desejo não cessa pois a imaginação e o raciocínio criam novos desejos. Esses outros desejos parecem infindáveis, visto que são inúmeros os objetos que os representam. Muito embora todos os desejos físicos sejam de natureza biológica, será que podemos encontrar algum fundamento comum nos outros desejos manifestados pelo homem? Será que podemos convertê-los num elemento único? Poderemos formar um conceito genérico do que esteja o homem procurando, psicológica, mental e emocionalmente?

Pergunte a um homem o que ele busca e, então, pergunte-lhe ‘por que’ o busca. Aprofunde-se nesta pergunta até suas últimas raízes, e você só encontrará uma palavra como resposta: “FELICIDADE”.

Que é, porém, felicidade?

É prazer. A prova disto está em que ninguém é infeliz enquanto experimenta prazer. Contudo, sem recorrermos ao raciocínio dialético, somos obrigados a perguntar: Que é prazer? A natureza do prazer tem sido objeto de inquirições filosóficas há séculos. Todo prazer pode ser psicologicamente classificado como satisfação, gratificação. Os prazeres são essencialmente ocasionados por alguma insuficiência ou necessidade de que se apercebe o ser humano. Essa insuficiência produz irritação, um desconforto de alguma espécie, em graus variados. Ao eliminarmos essa irritação provem o prazer.

Nem todos os prazeres despertam diretamente o desejo do homem. Ocorre alguma circunstância que elimina uma irritação, e isto por sua vez produz um titilamento, uma sensação de prazer. Conseqüentemente, essa experiência especifica se torna um ideal, sendo também associada com a eliminação daquela irritação em particular. A irritação produzida por nossos apetites ou necessidades biológicas é muito acentuada, e a maioria de nós instintivamente procura aquilo que satisfaça tais necessidades. Isto se torna o objetivo de nossos prazeres sensoriais. Como sabiam os antigos filósofos, e nós logo aprendemos, não podemos manter indefinidamente esses prazeres. Quando cessa a comichão, também cessa o prazer que sentimos ao coçar. Os filósofos platônicos chamavam isto de ‘prazer negativo’.

ESTADOS DE PRAZER

Não obstante, experimentamos também estados de prazer sem consciência de qualquer irritação correlacionada. Por exemplo, a beleza magnífica de um cenário nos traz satisfação, porém, esse tipo de prazer não é suscitado por qualquer sensação específica que a pessoa deseje eliminar. Também é o caso de uma pessoa, talvez uma criança, ouvir uma orquestra sinfônica pela primeira vez. A música é uma experiência extática para ela. Entretanto, a pessoa que não havia procurado o prazer, nem sentido originalmente sua necessidade. Outra pessoa tem uma experiência religiosa ou mística que lhe proporciona um intenso e inusitado prazer. Talvez não tivesse havido qualquer estado consciente de insuficiência ou desejo que a experiência viria a gratificar.

Estas experiências revelam que a plena harmonia de nosso ser raramente é alcançada. Alguma função ou atributo de que somos individualmente capazes não está sendo exercido, estando completa ou parcialmente adormecido. Seu uso ou estimulação provê uma satisfação que proporciona prazer. Estas funções ou capacidades inarmônicas ou não-satisfeitas não fornecem nenhuma indicação definida d sua condição. Não há qualquer sinal que possamos afirmar constituir-se em irritação. Tais funções não-satisfeitas não são como a fome, a sede ou a dor, que nos impelem a buscarmos um alívio imediato. Geralmente são subliminares, isto é, essas funções não-satisfeitas encontram-se além das fronteiras de nossa mente consciente. Não percebemos objetivamente sua causa. Simplesmente, a principio não estamos conscientes de qualquer insatisfação que uma experiência prazerosa venha a gratificar.

Os antigos gregos consideravam ‘positivos’ estes prazeres – prazeres que o homem busca por eles mesmos ao invés de pelo resultado de eliminar uma irritação ou desconforto. Entretanto, neste sentido esses prazeres igualmente ‘não são’ positivos porque também eliminam um estado de irritação ou desarmonia, ainda que seja um estado muito sutil de nossa natureza, não muito fácil de identificar. Para que se compreenda melhor, devemos nos reportar à nossa premissa básica: Não pode existir prazer sem antes haver um estado de ‘insuficiência’ que causa uma desarmonia no Eu.

Devemos fazer outra distinção importante entre esses dois tipos d prazer: Os prazeres sensoriais gratificam necessidades muito restritas, limitadas. Possuem um ponto ou limite de saciedade muito definido. Por exemplo, só podemos consumir uma quantidade limitada de alimento, e, quando o fazemos, não mais sentimos prazer em comer.

O PRAZER INTELECTUAL

Mas tratando-se das necessidades e impulsos do superego, o EU INTERIOR e a inteligência, não há limites. Por exemplo, a gratificação das funções intelectuais é muito diferente da gratificação dos apetites. A pessoa que tem prazer em atividades místicas ou intelectuais sente um desejo que cresce proporcionalmente. Em outras palavras, o prazer estimula o impulso ou a necessidade intelectual e emocional. O desejo aumenta com o prazer que se origina no próprio desejo. Não se pode realmente alcançar um clímax na satisfação do intelecto e dos sentimentos mais nobres. O verdadeiro cientista jamais alcança um derradeiro e externo prazer por suas realizações. Ele pode sentir-se contente com o que realizou, mas esse contentamento se torna um combustível que alimenta a chama de novas pesquisas.

A grande catástrofe que assola a maioria dos homens é a confusão destes prazeres. O homem procura prazeres físicos na esperança de que acalmem as causas psíquicas de seu desassossego íntimo. Ele deseja tranqüilidade, paz interior, mas associa a satisfação desses objetivos com apetites ou paixões. Somos todos culpados de buscar insignificâncias. Buscamos encontrar em tais coisas aquele prazer duradouro que constitui a felicidade. Os sábios nos disseram, e isto aprendemos na prática, que quanto mais bens materiais possuímos, mais opressivas se tornam nossas responsabilidades. Corremos atrás de novos arco-íris quando os velhos e ilusórios potes de ouro não mais gratificam.

O problema reside em descobrir uma fonte de crescente e duradoura felicidade. Não há uma fonte universal de felicidade, alguma coisa ou atividade que seja vivida como felicidade por todos os indivíduos. A felicidade é verdadeiramente uma busca que cada pessoa deve empreender por conta própria. Há um procedimento, contudo, que pode ser seguido e que permitirá a cada indivíduo compreender o que para ele pode significar a felicidade. Nosso EU não é um estado isolado ou único. Nosso EU é em verdade uma série de “EUS” integrados. A corrente total de consciência consiste de aspectos do EU. Cada um desses aspectos tem sua harmonia, a condição de que precisa para alcançar sua plenitude. Por conseguinte, cada aspecto possui seus anseios e necessidades particulares. Como dissemos, estes não estão claramente definidos em nossa consciência objetiva, mas algumas atividades mentais, emocionais e psíquicas satisfarão tais anseios. Quando descobrimos essas atividades, então conhecemos a felicidade, uma felicidade que jamais será saciada. Quanto mais um desses aspectos do EU é satisfeito, tanto mais cresce a exigência de maior satisfação.

VALOR DA EXPERIÊNCIA

Para fazermos esta descoberta, precisamos ter muitas experiências. Precisamos descobrir a experiência especifica à qual um dos aspectos de nosso EU responderá com maior intensidade. Naturalmente, temos nossas obrigações e responsabilidades, de modo que não podemos ser nômades na vida, perambulando de uma a outra camada social, mudando de uma a outra vocação. Mas podemos aprender pelas realizações humanas; podemos assistir concertos, visitar museus, apreciar elevadas representações teatrais. Podemos ler boa literatura, descobrindo fontes de interesse em história, biografia, ou discursos filosóficos iluminadores. Podemos ler artigos inteligentes que analisem o comportamento humano. Assim, podemos enxergar nossas próprias deficiências pela visão de outros, aprendendo o que constitui felicidade de alguma foram para outras pessoas.

Não precisamos descobrir a felicidade física, pois esta se encontra muito próxima de nossos apetites e confortos corporais. Mas que é que contribui para a ‘paz profunda’, aquela profunda alegria de viver? Ao aumentarmos nossas experiências na vida, descobrindo assim o que fizeram e aprenderam outros, descobrimos algo que nos atrai pois suscita nossa imaginação. Nessas ocasiões, dizemos para nós mesmos: Acho que gostaria de fazer isso. A idéia de alguma forma gratificou o anseio sutil do EU psíquico. Tentamos então fazer o que outros fizeram. Conseqüentemente, descobrimos a sublime emoção que constitui felicidade. Ela estimula todo o nosso ser. Pensamos e agimos de modo a intensificar essa emoção ou sentimento, aumentando assim nossa felicidade. Alastramo-la até que se torne nossa própria vida. Como acabamos descobrindo, as coisas que nos trazem a felicidade e satisfazem os anseios sutis do EU psíquico podem ser humildes, como cuidar de um doente, por exemplo. Pode também ser pintar, desenhar, escrever ou compor música. Pode ser uma experiência no campo da ciência ou da mecânica. Pode ser criar com as mãos ou com a mente, ou o domínio de alguma atividade.

Ás vezes fazemos inferências intelectuais erradas. Estabelecemos algo que atrai a imaginação. Vamos ao seu encalço só para descobrir que nosso interesse se desvanece. Nossa busca deve então prosseguir. O ponto importante a se ter em mente é que existem vários aspectos do EU. Não sabemos qual deles, quando satisfeito, proporcionará felicidade dominante. Por esta razão devemos nos expor à vida de modo mais geral. Devemos investigar e tomar conhecimento de coisas para além dos limites de nossa vida rotineira. Nossos hábitos podem estar obstruindo outra fase do EU que necessita expressão. Sabemos que a injunção “Conhece-te a ti mesmo” é por demais batida, mas até que aprendamos a responder aos “EUS” de que somos compostos [o Eu intelectual, o emocional e o psíquico], jamais seremos verdadeiramente felizes.

Á medida que evoluímos pessoalmente, alcançamos níveis mais profundos de consciência. Conseqüentemente, a felicidade dos jovens talvez não satisfaça os ‘EUS” ´psíquico, emocional e intelectual mais maduros. Se descobrimos que certo prazer se desvanece depois de algum tempo, devemos então explorar novos interesses. Este é o motivo por que muitas pessoas encontram prazer em atividades místicas mais tarde na vida. O benefício dos ensinamentos místicos, por exemplo, é ajudar o individuo a se tornar consciente desses impulsos e necessidades psíquicos. Ajudam-no a interpretar esses impulsos como objetivos a serem atingidos. Criam metas que podem resultar em duradoura felicidade pessoal.

Uma das causas de maior desassossego atualmente é a insatisfação do EU, a incerteza quanto ao que é felicidade. É nossa obrigação, como indivíduos, não apenas encontrar nossa própria felicidade, como ajudar outros a encontrar felicidade nesta forma psicológica. Ao fazermos isto, contribuímos para a paz da sociedade, a tão necessária estabilidade social.
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[Texto do Imperator]

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