As pessoas que vivem no mundo ocidental, em sua maioria, são cristãs pertencentes às diversas denominações religiosas e é entre estas que se verifica a existência de um preconceito generalizado e difundido de que a “Reencarnação é uma doutrina exótica, característica das religiões orientais, incompatível com o Cristianismo, e condenada pela Igreja.”
A Reencarnação não é uma doutrina religiosa; trata-se de uma lei natural – tão natural quanto a da concepção e desenvolvimento do embrião no ventre materno ou a qualquer outra das leis que regem nosso mundo físico. Sua aceitação ou recusa, por conseguinte, em nada altera sua essência e operação. Permanece o fato, entretanto, de que a existência do preconceito aludido tem criado problemas de consciência ao cristão devoto.
Por isso, será interessante analisarmos os resultados de uma pesquisa, na qual se pretende demonstrar que a ‘Reencarnação é compatível com o Cristianismo’ e que não foi condenada pela autoridade eclesiástica.
Embora o Cristianismo tenha sofrido, na sua formação, a influencia do Mitraísmo, predominantemente no Império Romano, não há dúvidas de que é o herdeiro espiritual do Judaísmo. Segundo a Bíblia, Jesus e seus Apóstolos eram judeus e na Palestina, entre os judeus, Jesus fez suas pregações, algumas vezes nas próprias sinagogas. Chegou mesmo a afirmar que não viera reformar a Lei, mas cumpri-la [referindo-se à Lei Mosaica]. Eram os judeus reencarnacionistas?
JUDAÍSMO_
Moyses Gaster, Rabino-Chefe da Congregação Judaica de Londres, citado por H. Spencer Lewis em “Mansões da Alma”, páginas 118 e seguintes, a propósito da religião, crenças e práticas dos judeus, menciona livros oficiais, neste sentido, dentre os quais o Zoar, o Manasseh bem Israel e o Taheb.
No principal livro da Cabal, o Sepher Zoa, a Reencarnação é assim descrita:
“Todas as almas foram criadas no começo de toda a Criação e quanto não estão encarnadas, elas permanecem em celestial bem-aventurança e divina iluminação. Quando um corpo está sendo preparado para receber uma alma, a alma que precisa de certa experiência terrena é dirigida ou atraída para esse corpo que lhe proporcionará essa experiência ou esse conhecimento...Assim recebe a alma uma oportunidade de fazer compensação por seus pecados e se purificar, elevando-se mais um grau rumo à perfeição final...Quando todas as almas tiverem sido assim purificadas por meio de sucessivas reencarnações e tiverem alcançado a meta final da perfeição, o Reino do Céu, na Terra será estabelecido...A doutrina samaritana do Taheb ensina a mesma concepção de uma alma pré-existente, como a que foi concedida a Adão e que através de sucessivas encarnações em Set, Noé e Abrahão, chegou a Moisés...”
Estas crenças estavam firmemente estabelecidas na maioria dos homens e mulheres na época de Jesus e, assim sendo, podemos compreender melhor as muitas alusões à doutrina da Reencarnação na Bíblia Cristã, como veremos a seguir:
OS EVANGELHOS_
Era crença dos judeus que o profeta Elias voltaria a este mundo como precursor do Messias prometido.
Ora, no Evangelho segundo S. Mateus, capítulo XI, verso 14, Jesus declara:
“Porque todos os profetas e a Lei, até João, profetizaram e se vós o quereis compreender, ele mesmo é o Elias que há de vir; quem tem ouvidos para ouvir, ouça.”
Percebe-se, aqui, que o Mestre se referia a João Batista como sendo o profeta Elias reencarnado.
O seguinte trecho, extraído de Mat. XVI, 13, expressa claramente a convicção dos discípulos de Jesus na Reencarnação:
“E Jesus foi para as bandas da Cesaréia de Felipe e interrogou seus discípulos, dizendo: quem dizem os homens que é o Filho do Homem? E eles responderam: uns dizem que é João Batista, outros, que é Elias e outros que é Jeremias ou algum dos profetas”.
Em Mat.XVII, 12, lemos:
“Digo-vos, porém, que Elias já veio. Não o conheceram – antes fizeram dele o que quiseram. Assim, também, o Filho do Homem há de padecer em suas mãos. Então os discípulos compreenderam que lhes tinha falado de João Batista”.
Declaração expressa, de Jesus, de que João Batista era a reencarnação de Elias.
Em Jo. IX, 1, temos que:
“...passando, Jesus viu um cego de nascença e seus discípulos perguntaram-lhe: Mestre, quem pecou, este ou seus pais para que nascesse cego? Jesus respondeu: nem ele nem seus pais pecaram, mas foi assim para que se manifestassem nele as obras de Deus”.
Notamos aqui, conforme comentários de H.Spencer Lewis, “que os discípulos claramente afirmaram que o homem nascera cego e, portanto, estavam perplexos quanto à causa de sua cegueira. Convém frizar que os discípulos queriam saber se o próprio cego havia pecado, ou seus pais. – De que maneira poderia o próprio homem ter pecado de modo a provocar cegueira ‘antes’ do seu nascimento? Só tendo pecado numa vida anterior e, assim, ter provocado a própria cegueira como uma condição cármica. Nenhuma outra interpretação pode ser dada a essa pergunta dos discípulos”.
“E devemos notar, também, que os discípulos fizeram sua pergunta sem hesitação e, aparentemente, sem timidez. A pergunta foi feita como se fosse comum, muito natural e sua própria natureza indica que os discípulos perfeitamente familiarizados com as leis do Carma e do Renascimento e sabiam que Jesus conhecia o Renascimento e o Carma como leis universais”.
“Notemos, também, prossegue Spencer Lewis, que a resposta de Jesus não é uma repreensão pela pergunta feita, nem uma crítica às crenças dos discípulos... Jesus aceitou o conteúdo implícito da pergunta e respondeu que nem o homem e nem seus pais haviam pecado, mais que aquela condição havia ocorrido “àquele” homem para que pudesse ensinar uma lição e manifestar um princípio.”
No diálogo com Nicodemus, em Jo.III.,3, Jesus diz como é importante para o homem renascer a fim de entrar no Reino de Deus e, sem nada afirmar quanto ao número de vezes que o homem deve reencarnar, declara que o Espírito, ou alma do homem, “virá e partirá como o vento e ninguém poderá dizer de onde, nem para onde”. Uma afirmação alegórica do renascimento e de todo o processo de purificação.
Em se tratando de uma doutrina básica e tão importante, por que Jesus não se referiu a ela mais extensa e expressamente?
Em primeiro lugar, porque Jesus poderia ter achado desnecessário ensinar a repisar uma doutrina que era tranqüilamente aceita pelos judeus.
Em segundo lugar, nem tudo aquilo que Jesus ensinou consta dos Evangelhos, como os conhecemos. Sobre isto, temos a advertência do evangelista S. João, no capítulo XXI, 26: “Muitas outras coisas há que Jesus fez e ensinou as quais, se escritas fossem, uma por uma, creio que nem no mundo todo poderiam caber os livros que seria preciso escrever”. Esta declaração nos revela que a maior parte dos ensinamentos de Jesus não constam dos Evangelhos, nos quais foram registrados ‘alguns’ fatos e ensinamentos – aqueles considerados, pelos compiladores, como mais importantes e inusitados – omitindo-se o registro das coisas que já eram conhecidas e aceitas, como é o caso da Reencarnação.
Em terceiro lugar: não existem registros dos ensinamentos de Jesus, feitos no seu tempo. O evangelho mais antigo, o de S. Marcos, foi escrito entre os anos 65 e 67; o de S. Mateus e S.Lucas, pelo ano 70, enquanto que o de S.João, entre os anos 90 e 170 depois de Cristo. Como se explica isso?
A resposta está em Mat.X, 23-24;XVI, 27; XXIV, 34 a 36. Jesus havia prometido voltar naqueles dias: ”Em verdade vos digo que não acabareis de correr as cidades de Israel sem que venha o Filho do Homem”. – “Em verdade vos digo que entre aqueles que ‘aqui estão presentes’, há alguns que não morrerão antes que vejam vir o Filho do Homem no seu Reino”.
Face a estas solenes promessas, os primeiros discípulos perpetuavam, sobretudo, a tradição oral composta, quase exclusivamente, de fatos da vida de Jesus, não se preocupando em escrever qualquer coisa sistematizada, pois acreditavam que a volta do Mestre seria para breve.
Nos primeiros tempos, assuntos de ordem moral, doutrinária e teológica, sob a forma de cartas [epístolas], eram lidos e comentados nas igrejas. Quando os discípulos se aperceberam que a segunda vinda de Jesus, solenemente prometida, estava demorando muito, resolveram compilar os fragmentos transmitidos oralmente, originando-se, desta forma, os Evangelhos, dentre os quais mencionados o de Marcos, Mateus, Lucas, João, Pedro, Nicodemus, Barnabé, Tiago, dos Egípcios e outros.
Havia muita divergência e discussão em torno dos livros chamados “sagrados”. O Apocalipse de S.João era aceito no Ocidente, mas rejeitado no Oriente; as epístolas aos Hebreus e de S.Tiago eram adotadas no Oriente, mas não no Ocidente; as igrejas de Alexandria e Roma, aceitavam o Evangelho de S. Marcos, a de Jerusalém o de S. Mateus, a de Antioquia o de S.Lucas e a de Éfeso o de S.João. As igrejas menos importantes adotavam os de S.Pedro, de Barnabé, de Tiago e outros, considerados, mais tarde, em 367, como “apócrifos” com a fixação do Cânon cristão, por Santo Atanásio.
Estudos procedidos nos textos evangélicos revelam que os mesmos foram escritos, não por uma pessoa, mas por diversos compiladores. Pode-se imaginar as dificuldades que devem ter tidos os discípulos de reproduzir, fielmente, sem omissões e interpretações pessoais, em meio a tantas discussões, as exatas palavras de Jesus pronunciadas 30,40, e até 50 anos ‘antes’!
Os manuscritos originais dos Evangelhos, Atos, Epístolas e Apocalipse, bem como suas cópias mais antigas, perderam-se e, muito possivelmente, foram sendo feitas alterações, interpolações e omissões, na tentativa de se construir um corpo doutrinário no qual não houvesse contradição. É muito conhecida a interferência do Imperador Constantino, no Concílio de Nicéia, em 325, época em que a Igreja tornou-se dominante e realizou, pela primeira vez uma sólida unidade, à custa do recolhimento e destruição de numerosos escritos ‘discordantes’, dentre os quais os de Celso, violento polemista gnóstico, que acusava os cristãos de falsificarem, constantemente, seus livros religiosos.
Ao efetuar a tradução da Bíblia, do hebraico para o latim, S. Jerônimo foi duramente criticado pelos graves erros cometidos na tradução. Assim mesmo, seus originais e as cópias mais antigas, da “Vulgata” desapareceram e as novas cópias sofreram, por sua vez, alterações por parte dos copistas. Dentre os 12 mil manuscritos da Bíblia existentes, não há duas cópias exatamente iguais, pelas divergências existentes, fato que revela que, com o tempo e com as transcrições, foram se introduzindo alterações nos textos originais.
Face a tantos escritos contraditórios que originavam apreciável número de grupos dissidentes, a Igreja resolveu, através de concílios, declarar o que era verdadeiro e o que não o era. Os escritos divergentes foram destruídos e excomungados aqueles que teimavam em afirmar que as doutrinas ensinadas por Jesus eram diferentes daquelas oficialmente adotadas pela Igreja.
OS DOUTORES DA IGREJA_
Para que um cristão seja canonizado, considerado ‘santo’ pela Igreja, é necessário que o mesmo tenha exercitado as virtudes a um grau heróico e que seja absolutamente ortodoxo, isto é, fiel às doutrinas da Igreja. Nos escritos de cinco santos Doutores da Igreja, teólogos de autoridade incontestável, encontraremos elementos convincentes de que a Reencarnação compunha o elemento das doutrinas cristãs originais.
Nascido no ano 100, em Nablus – Samaria – S.Justino Mártir, estudioso dos filósofos, dedicou-se a conciliar a cultura clássica pagã com o Cristianismo. Dentre suas obras restam “Apologia” e “Diálogos”, escritas em Roma, no ano 150. Notadamente em seu “Diálogo n.4”, S. Justino declara, expressamente, que a alma humana habita mais que uma vez o corpo e, ao mesmo tempo, argumenta que ao reencarnar ela não pode se lembrar das experiências prévias.
Titus Flavius Clemens, mais conhecido como S. Clemente de Alexandria, nasceu em Atenas, no ano 150 e, como S. Justino, exerceu considerável influência na teologia cristã, tendo escrito alentados tratados, dentre os quais, “Stromateis”. Em sua obra, “Exortações aos Gregos” escreveu que “Filolaus, o Pitagórico, ensinava que a alma foi introduzida no corpo como punição pelos pecados cometidos, e que sua opinião era confirmada pelos mais antigos profetas”.
A concordância de S. Clemente de Alexandria com Pitágoras, sobre a Reencarnação, se encontra em “Stromata VI”, Capítulo 4, e suas opiniões sobre o assunto figuram em “Stromata IV”, Capítulo 26, no texto sob o título “Quis dives salvetur”, em “Stromata III”, capítulo 3, e na obra “De Principiis”, Volume II, 8 – tudo conforme a Enciclopédia Católica, Volume X, pagina 678, onde se acham, também, as referências a S.Justino Mártir.
S Gregório, bispo de Nyssa, nasceu na Capadócia em 330, tendo exercido considerável influência na tradição mística da Igreja Oriental. Num de seus escritos, Gregório, designado por Teodósio I como “modelo de ortodoxia”, formalmente declara ser “absolutamente necessário que a alma seja curada e purificada e se isso não tiver lugar durante sua vida na Terra, terá de ser feito em vidas futuras”.
Euzebius Hieronumus nasceu em Aquiléia, no ano 340, e tornou-se conhecido, pela sua tradução da Bíblia hebraica, como S. Jerônimo. Considerado um dos quatro maiores doutores da Igreja Ocidental, em sua “Epístola a Demetríades”, faz uma surpreendente confissão aos cristãos de todas as épocas: “A doutrina da reencarnação tem sido ensinada, ‘secretamente’, a um pequeno número de pessoas, como uma verdade tradicional que não deve ser divulgada, a não ser a um pequeno número de pessoas.” É interessante notar que S. Jerônimo se refere à Reencarnação como a uma ‘verdade tradicional’, a ser revelada ’a um pequeno número de pessoas’ e de maneira ‘secreta’. Por que essa ocultação da verdade tradicional aos cristãos?
Santo Agostinho, bispo de Hipona, conhecido pelas suas “Confissões”, é reconhecido como um dos maiores pensadores da Cristandade antiga. Admirador da reencarnacionista Plotinus, em sua obra “Contra Acadêmicos”, escreveu: “A mensagem de Platão, a mais pura e mais luminosa de toda a filosofia, dissipou, por fim, as trevas do erro, e agora brilha mais fortemente, principalmente em Plotinus, um platonista tão semelhante ao seu mestre, que a gente pensaria que viveram juntos, ou melhor – considerando tão longo período de tempo que os separou - que Platão nasceu, novamente, em Plotinus”.
Em suas “Confissões”, S. Agostinho questiona o Criador:”Dize-me, Senhor, minha infância sucedeu à outra minha idade que morreu antes dela? E essa era aquela que eu vivi no ventre de minha mãe?...e que houve antes dessa?...estava eu em algum lugar ou em outro corpo:...”
A Enciclopédia Católica, em seu Volume IX, páginas 346 e seguintes, fala extensamente do grande Orígenes, considerado por S.Jerônimo o maior dos Padres da Igreja depois dos Apóstolos. Em sua obra polêmica “Contra Celsum” – acusava os cristãos de falsificarem seus livros sagrados – escreve: “Não será, certamente, mais conforme a razão que cada alma, por certas e misteriosas razões, seja introduzida num corpo e de conformidade com seus merecimentos e ações anteriores?...e que aqueles que usaram seus corpos para fazer a maior soma possível de bem tenham o direito a corpos enriquecidos com qualidades superiores aos corpos de outros?...”em determinada oportunidade abandona um corpo que era necessário antes...e o substitui por um segundo corpo”.
São Paulo, em sua Epístola aos Efésios, Capítulo I, 4, diz: “Assim como Ele mesmo nos escolheu ‘antes’ da criação do mundo, por amor,...”. Comentando este trecho Orígenes ensinava: “A alma não teve começo nem terá fim; cada alma vem para este mundo fortalecida pelas vitórias ou enfraquecida pelas derrotas de sua vida anterior. Seu lugar, neste mundo, como um vaso destinado à honra ou à desonra´, é determinado por seus prévios méritos e desméritos. Seu trabalho, neste mundo, determina seu lugar num mundo que se segue a este”. Ora, S. Jerônimo, em sua 94ª Carta a Avitus”, concorda com esta interpretação dada por Orígenes à referida Epístola...
Não subsistem dúvidas, portanto, de que nos primeiros 400 anos a doutrina da Reencarnação, professada por Jesus e seus discípulos, como vimos, era naturalmente aceita pelos grandes luminares da Cristandade Primitiva.
A contar do II Concílio de Constantinopla, entretanto, qualquer alusão à doutrina reencarnacionista passou a ser assunto proibido. Qual a razão?
O II CONCÍLIO DE CONSTANTINOPLA_
Dentro do contexto dogmático da Igreja, se um fiel vier a crer em alguma doutrina formalmente condenada, está, ‘ipso facto’, excomungado, isto é, segregado da Cristandade e condenado. Ora, é crença generalizada que a doutrina do renascimento tenha sido condenada pelo referido Concílio e, por esta razão, durante todos estes séculos não foi analisada, discutida e muito menos ensinada no mundo cristão. Teria sido ela realmente condenada?
Para que uma doutrina seja tida como dogma de fé, ou então condenada pela Igreja, é necessário que um concílio [congresso de bispos do mundo inteiro] tenha sido convocado pelo Papa, que delibere em sessões plenárias e que suas conclusões seja, finalmente, ratificadas pelo Sumo Pontífice. Esta, a doutrina católica. Nada disso aconteceu no mencionado Concílio.
Instalado a 5 de maio de 553, o II Concílio de Constantinopla foi convocado – não pelo Papa Vigílio – mas pelo Imperador Justiniano. O Pontífice, além de protestar pela convocação, se recusou a ele comparecer.
O Concílio foi convocado - e irregularmente – para tratar, ‘exclusivamente’, de uma controvérsia teológica conhecida como “Três Capítulos”. Nem Orígenes, nem a Reencarnação por ele ensinada, foram causa do Concílio.
Pelas atas conciliares, existentes no Vaticano, verifica-se que aquele congresso tratou, ‘exclusivamente’, dos “Três Capítulos”, e ‘somente’ as atas concernentes a esta tese foram submetidas ao Papa, para sua aprovação, que somente foi dada, ‘sob pressão’ do Imperador, 6 meses após, em 8/12/553 e 23/2/554.
Se o Concílio como tal e o Papa não condenaram Orígenes e, por conseqüência, a doutrina do Renascimento, de onde surgiu a crença errônea de sua condenação?
UM ENGANO DESASTROSO_
A própria Enciclopédia Católica, em seu Volume IV, página 170, Volume XII, página 456 e Volume IX, página 346, tratando do “Concílio”, “Três Capítulos” e “Orígenes”, respectivamente, nos permite saber o que realmente aconteceu.
O Imperador Justiniano era inimigo declarado de um partido existente na Palestina, denominado de “origeneístas”; os bispos, reunidos numa sessão ‘extra-conciliar’, por ordem do Imperador tinham de considerar uma forma de origeneísmo que nada tinha, praticamente, com os ensinamentos de Orígenes. Pressionados pelo Imperador e cientes de que o Papa Vigílio quase perdera a vida por se recusar a concordar com Justiniano, os bispos subscreveram 15 anátemas propostos pelo Imperador. Após seis meses de constrangimentos e ameaças, o Papa ‘consentiu’ em aprovar a condenação contra os “Três Capítulos”, “tacendo sugli altri anatematismi emanti dal Concílio” – isto é, calando, não se pronunciando sobre os demais anátemas aprovados na sessão extra-conciliar.
Verifica-se, portanto, que uma forma de origeneísmo que nada tinha em comum com as doutrinas reencarnacionistas de Orígenes, foi condenada; condenada não pelo Concílio, nem pelo Papa, mas por alguns bispos subjugados pelo Imperador, numa sessão extra-conciliar.
As conclusões de uma comissão da Câmara dos Deputados não se transformam em lei, obrigando aos cidadãos, exceto se tiverem sido aprovadas pelo plenário e sancionadas pelo Presidente da República. Da mesma forma, as decisões de uma sessão extra-conciliar, que não foram aprovadas pelo Concílio e muito menos sancionadas pelo Papa, não têm qualquer valor jurídico no que respeita à autoridade doutrinária da Igreja.
Os estudiosos estão começando a negar que a Igreja Romana tivesse tomado parte nos anátemas contra Orígenes, insinuando que a Igreja laborou em erro, durante séculos, quando acreditou que o mesmo tivesse sido condenado. Entretanto, um resultado desastroso do engano cometido ainda persiste: a exclusão da doutrina reencarnacionista do credo cristão.
CONCLUSÃO_
A Reencarnação não é uma doutrina religiosa, mas uma lei natural. Mesmo que todos os teólogos, concílios e papas a tivessem condenado - e nada disto ocorreu - em nada alteraria sua existência e operação, da mesma forma que a desaprovação dos teólogos à tese de Galileu não impediu que nosso planeta, indiferente às pretensões humanas, continuasse, tranqüilamente, em sua órbita ao redor do astro-rei.
Para tranqüilidade da consciência religiosa de muitos dos leitores, resumindo o que acima foi escrito, podemos dizer que:
a] a Reencarnação era doutrina adotada pelos judeus, pelos discípulos de Jesus e pelo próprio Cristo, conforme os textos evangélicos citados;
b] a Reencarnação integrava o Cristianismo primitivo, conforme a palavra de seus proeminentes teólogos, doutores e padres da Igreja, até o ano 500;
c] a Reencarnação não foi condenada por qualquer autoridade eclesiástica investida de poder para tanto.
É por isso que o número sempre crescente de cristãos, que estão falando favoravelmente, juntamente com clérigos de todas as denominações religiosas, sobre a Reencarnação, aguardam que esta ‘verdade tradicional’, que até agora tem sido ensinada, ‘secretamente’, a um ‘pequeno número de pessoas’, seja proclamada a todos. Afinal, não está escrito que “as coisas que falastes aos ouvido serão apregoadas sobre os telhados?” [Luc. XII, 2-4]
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As labutas implicadas numa vivência complexa são muito maiores que os prazeres dela extraídos.
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[Texto de:Euclides Bordignon]
18 de fev. de 2010
A Reencarnação no Cristianismo Primitivo
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