7 de jan. de 2010

OS SETE DEGRAUS PARA A FELICIDADE


Do ponto de vista físico, há um final decisivo para a vida. Isto é evidente para todo mundo, tanto para o homem civilizado, como para o bárbaro e o aborígine. Esse fim da vida, esse término de nossa existência física é a cessação dos atributos e das funções que associamos à vida ou às coisas animadas.

Todos nós estamos nos dirigindo continuamente para esse térmico físico da vida, essa transição da existência.

Admitindo-se o fato de que o homem é dotado de vontade e pode fazer escolhas, quais seriam as escolhas fundamentais de sua vontade? Que opções deve fazer? Como escolha fundamental não pode incluir a morte, por que ela é inevitável. Advém para todos, quer a escolham, quer não. Além disso, não podem incluir a vida, porque já estamos vivendo, e por força das circunstâncias, não há escolha a fazer. Por conseguinte, somos livres somente para escolher como usar nossa atual existência. Dotados como somos, de consciência, de que estaremos conscientes?

Existem aqueles cuja escolha consiste exclusivamente em lutar pela saúde. Porém, fazer da saúde o fim primordial ou a principal escolha constitui uma consecução negativa. Resulta meramente na eliminação do sofrimento e da dor. A boa saúde confere mais substancia à vida, proporciona maior longevidade, mas, no final, isto é o mesmo que reforçar as paredes de um prédio e continuar a acrescentar-lhe as vigas e outros suportes. Não se reforçam as paredes de uma casa vazia onde nada será colocado, ou que não tenha qualquer finalidade definida. Lutar pela saúde só para assegurar a longevidade é algo semelhante. Há aqueles que buscam apenas acumular fortuna. Acreditam que isto é um produto de sua escolha; no entanto, a cupidez ou o amor à posse nada mais é do que um desejo, e os desejos constituem uma qualidade inexorável da própria vida. O desejo não é uma escolha e, sim, uma compulsão, tão inseparável da vida como a umidade o é da água.

De que, então, deverá consistir nossa consecução voluntária? Qual deverá ser nossa escolha fundamental? De modo geral, a resposta deve ser a escolha da felicidade completa e perfeita. Durante séculos, teólogos, místicos e filósofos têm afirmado que o homem é um ser trino; isto é, que consiste de corpo, mente e alma. Portanto, a única felicidade perfeita que pode existir, a única felicidade que pode ser completa, é aquela que inclui os três aspectos da natureza humana.

Há sete passos para esta felicidade, sete degraus pelos quais é alcançada. Desde tempos imemoriais, o número sete tem sido referido como o número de passos necessários para alcançar o sucesso na vida. O número sete foi especialmente escolhido pelos antigos e tem, evidentemente, grande significado e valor místico. Por exemplo, Heródoto, historiador grego da Antiguidade, relata que a Torre de Babel, construída pelos antigos babilônios, tinha sete estágios ou andares que os devotos deviam subir para alcançar o Templo de Enlil, o Deus do Ar, situado no topo. A primeira pirâmide egípcia, com lados inclinados e construída pelo faraó Snefru, aproximadamente 2900 a.C., consistia em sete andares. Cada andar constituía uma pequena e distinta estrutura colocada sobre a anterior; cada estrutura era ligeiramente menor do que a anterior, de modo que os lados ficavam escalonados em terraços, sendo depois preenchidos para formar o declive.

Os primeiros gnósticos, que buscavam a salvação exclusivamente pelo conhecimento, também veneravam o número sete. Para eles, o número sete representava os quatro vértices do quadrado somados aos três do triângulo. Simbolizavam esta idéia desenhando o quadrado com o triângulo colocado sobre o mesmo, com o vértice para cima. Os três vértices do triângulo representavam as três naturezas do homem: corpo, mente e alma. Os quatro vértices do quadrado, expressões ou manifestações fundamentais da Natureza: fogo, água, terra e ar. Pitágoras, filósofo e cientista grego, fundador da escola de misticismo de Crotona, Itália, também sustentava que a ‘HEPTADA’, ou número sete, era digna de veneração. Declarava ainda que este era o mais perfeito de todos os números, talvez por ter descoberto que nos fenômenos cíclicos da Natureza, os eventos freqüentemente ocorriam em períodos de sete anos. Com relação ao homem, Pitágoras dividia a vida em dez períodos de sete anos. Finalmente, os místicos da Idade Média dividiram o funcionamento da vontade e os estágios de compreensão, em sete.

1_SUBSTÂNCIA E CONSCIÊNCIA_
O primeiro dos sete degraus para a consecução da felicidade é a compreensão da substância e da nossa própria essência.

Toda pessoa tem consciência de que existe. Esta autoconsciência é o ponto de partida para tudo o mais que concebemos existir. As coisas existem para nós, somente porque, primeiro, existimos para nós mesmos. Dizemos que as coisas existem no tempo e ocupam lugar no espaço, por que ocorrem ao nosso redor. Dizemos que uma coisa está em algum lugar, somente porque não faz parte de nós, ou parece não estar em nós mesmos. Além disso, dizemos que algo é passado porque não está em nossa percepção imediata. Elimine-se o homem e ter-se-á eliminado a prova de todas as coisas que para ele existem, porque ele é o meio pelo qual elas tem existência. Assim, temos de admitir que a consciência é uma das grandes substâncias do universo.

A realidade de toda a miríade de coisas de que estamos conscientes, a lei e a forma, estão espelhadas nas profundezas da consciência. Entretanto, a consciência, em si mesma, não tem forma. Nada há que possa representá-la. Nada existe que possamos separar, apontar, e dizer: “Isto é a consciência“. Na verdade, a consciência nunca se apercebe de si mesma como sendo apenas essência pura, como tendo natureza especifica e limitada. Estamos sempre conscientes do Ser como substância mais grosseira que chamamos corpo. Quando temos consciência do Ser, tornamo-nos cônscios da existência do Ser em outra substância, ou veículo. Ora, esse corpo, em que reside a consciência, tem afinidade ou está em relação com outras coisas. Sabemos, com certeza, que não concebemos todas as imagens que se refletem em nossa consciência, ou das quais estamos conscientes. Além disto, sabemos que não concebemos e criamos nossa própria consciência, nossa autoconsciência. Concluímos que a consciência humana deve ser parte de uma substancia maior, d uma corrente ou um fluxo de algo de sua mesma espécie, mas que a ela transcende.

Podemos então dizer que, no universo, coexistem dois grandes aspectos:a matéria e a consciência. Assim sendo, devemos nos perguntar: Poderá um existir sem o outro? E terá um se originado do outro? Terá a matéria provindo da consciência, ou a consciência da matéria? Ou terão ambas provindo de um criador ou uma fonte comum? Neste caso, como é esta fonte? É evidente, que o ser primário, a fonte primária, deve ser mais do que as energias ou forças das quais a matéria consiste. Deve ser, por exemplo, mais que simplesmente eletricidade, magnetismo e luz. Já dissemos que é somente através da consciência que essas coisas existem. Nada poderia existir sem uma mente para compreender, seja humana ou de outra espécie. Desde que a consciência não é uma coisa em si mesma, deve ter algo para espelhar, algo que possa refletir, ou não existiria. Podemos argumentar que a fonte primária de todas as coisas não é tão somente a consciência, nem apenas as forças e energias que associamos à matéria mas sim a união de ambas. Para cada estado de Ser, ou para tudo que tem movimento, deve haver um estado de conhecimento, de consciência.

Aquilo que tem existência e conhecimento é ‘MENTE’. Portanto, a substancia primária, da qual todas as coisas provêm, é mente absoluta. Se isto é verdadeiro, então nós, os mortais, não podemos, justificadamente, conceber Deus limitado ou restrito a qualquer forma. Deus não poderia consistir de uma forma exclusivamente material. Além disso “Deus não está consciente de Si mesmo em qualquer forma particular, porque Sua consciência não corresponde a uma forma”. Com base nesta conclusão, não podemos propriamente conceber a matéria desprovida de toda essência espiritual. Não podemos acreditar nas declarações de muitos teólogos do passado, que “a matéria é abjeta e corrupta e, portanto, deve ser desprezada e condenada”. Devemos sustentar que, para cada divina expressão material, no universo, há uma consciência divina da mesma, uma idéia para cada forma. Deus, como mente, substância primordial, existe em todas as coisas manifestadas. Deus está nas coisas mais grosseiras e materiais bem como naquilo que denominamos consciência espiritual.

2_LIBERTAÇÃO_
O segundo degrau para essa consecução na vida, para a perfeita e completa felicidade, é a libertação. Relaciona-se à questão da liberdade. Devido à seleção que fazemos em cada momento do dia, porque podemos fazer escolhas, somos realmente livres. Sra possível, que ao fazermos nossas escolhas, estejamos sendo sutilmente influenciados por condições das quais não tenhamos consciência? A liberdade absoluta, na Natureza, seria o maior caos que se poderia imaginar. A Ordem que percebemos na Natureza é em função de sua própria necessidade. Tudo é compelido a se conformar às mudanças, ao movimento, dos quais faz parte. Ao olharmos ao nosso redor, vemos que as coisas da Natureza parecem ter grandes diferenças entre si. Há coisas que parecem tão diferentes em sua função e forma que é quase impossível imaginar terem qualquer ligação, e no fundo, todas as coisas são iguais, porque tudo na Natureza,obedece a certas leis básicas comuns. Não é razoável que as coisas iguais em essência não sejam livres? Disse um místico que a liberdade e a igualdade se contradizem, e, não obstante, os homens estão constantemente falando sobre a liberdade e a igualdade, que buscam simultaneamente. Efetivamente, a liberdade total criaria desigualdade, pois, o que é livre não pode ser limitado por quaisquer padrões, compelido a se tornar igual a outra coisa. Inversamente, a verdadeira igualdade, quando as coisas são, de fato, iguais entre si, não permitem liberdade.

Surge a questão: Pensam os homens individual ou coletivamente e foi isso determinado pela Natureza? Foi isto predeterminado? Terão todas as coisas sido concebidas como as conhecemos? Se tudo foi predeterminado, então, obviamente, nada é livre na Natureza. Há os que não aceitam a idéia de terem sido todas as coisas previamente determinadas. Preferem pensar que o Cósmico não teve começo e que tudo o que existiu e ainda existe pertence à natureza de Deus. Também deste ponto de vista não poderia haver liberdade na Natureza, porque isto anteciparia a teoria da necessidade. Todas as coisas, em essência, são de Deus e devem seguir a ordem de Deus; conseqüentemente, não podem se desviar dessa ordem e, assim, não são livres.

Todavia, muito se realiza pela volição do homem, por sua autodeterminação: Ele pode dizer ‘sim’, com respeito a algumas coisas, e ‘não’, acerca de outras. Afirmamos, também, que o homem não pode se furtar a fazer essas opções. Elas constituem a própria necessidade de seu Ser. Se obedecermos aos aspectos positivos de nossa natureza seremos mais saudáveis, harmoniosos e viveremos mais; se escolhermos o negativo passaremos não apenas por sofrimentos, mas pela morte prematura.

O homem age continuamente por suas emoções, seus instintos e impulsos psíquicos, e pelos poderes e forças do mundo físico. Não pode deles se isolar, portanto, é compelido a fazer escolhas à medida que a elas reage. Estas escolhas constituem parte integrante de nossa natureza, assim como o comer e respirar são aspectos de nossa natureza física. Cada um de nós escolhe aquilo que agrada à sua natureza. Não se pode deixar de fazê-lo. Por conseguinte, a vontade não é livre. Entretanto, podemos escolher sempre em conformidade com o que há de melhor em nossa natureza, de acordo com a nossa parte mais sublime. Essas escolhas nos aproximam de Deus. Quanto mais próximos estivermos do nosso Eu total, da natureza integrada do nosso ser, mais próximos estaremos do Absoluto, de Deus.

3_AUTODISCIPLINA_
O terceiro degrau para a consecução da felicidade perfeita na vida é a ‘autodisciplina’. Em sua manifestação, o ser humano é composto de três partes. A primeira é a Alma, a parte mais elevada, porque é a mais complexa, isto é, a mais universal, todo-abrangente. Contém mais da Essência de todas as coisas e é limitada. A segunda parte do ser humano é a mente, a parte racional, consciente. E a terceira parte é o corpo, a manifestação divina inferior.

No homem, estas três partes seguem uma relação ou ordem de um, dois, e três. Em todos os momentos a direção, o comando, deve provir da alma, como número ‘UM’, para mente como o número ‘DOIS’ e, finalmente, para o corpo, como o número ‘TRÊS’. Há desejos que às vezes surgem na vida, provocando um distúrbio, uma ruptura nessa ordem, o que resulta em sofrimento, no oposto da felicidade que desejamos alcançar.

Gautama Buda, séculos antes de Cristo, foi o primeiro a elaborar um sistema prático de autodisciplina. Buda foi o primeiro a dar ao mundo um sistema de psicologia prática. A essência deste sistema está expressa nas ‘quatro grandes verdades’ do budismo. Para sintetizar estas verdades, toda existência provê alguma espécie de sofrimento e, todo sofrimento é provocado por desejos não saciados, desejos que não podem ser completamente satisfeitos ou serenados. O sofrimento cessará quando aprendermos a suprimir esses desejos, quando tivermos aprendido a obedecer aos componentes trinos de nossa natureza e a relação entre as suas três partes.

4_MORALIDADE_
O quarto degrau para essa consecução, para essa escolha fundamental que devemos fazer na vida, é a ‘moralidade’. De todos os passos que devemos dar, este que talvez o mais obscuro. O degrau da moralidade se relaciona ao bem e ao mal. São reais o ‘bem’ e o ‘mal’? Existe um padrão, um bem definido e fixo, como dogma ou credo divino que todos os homens devem reconhecer, e será esse padrão tão real quanto nós mesmos? Se existe, então os homens devem ser simplesmente obrigados a aceitar esse bem único de natureza Divina, ou rejeitá-lo inteiramente. No entanto, persiste o fato, e a experiência humana o confirma, que os homens estão continuamente lutando por bens divergentes. Um grupo de homens está lutando por aquilo que sustenta ser o bem, enquanto outro está lutando, como a mesma sinceridade, por bens que entram em conflito com o primeiro. Se os homens desejam sinceramente o bem, por que são desviados pela natureza do mesmo? Por que caminham em diferentes direções?
É de se acreditar que uma compassiva inteligência Divina, ou Deus, não confundiria intencionalmente os homens que buscassem o bem. Mas, se o bem foi divinamente estabelecido, se é um bem definido, fixo, e se Deus é criador de todas as coisas, de onde provém o mal? Qual é a sua fonte? Assim, se existe um ‘bem’ positivo e Deus é o seu Criador, bem como tudo o mais, o ‘mal’ não pode ter qualquer natureza positiva, não pode ser real; só pode ser um estado negativo, isto é, a ausência do bem.

Admitamos que o bem tenha existência definida, que exista um Divino e fixo padrão. Surge então a questão: por que iriam os homens aspirar ao bem? Por que deveriam os homens ser bons? Contrariamente à opinião geral, não há homens verdadeiramente altruístas, mesmo aqueles que se dedicam às grandes obras de caridade. Os que são benevolentes ou que se servem mais a outrem do que a si mesmos, o fazem porque isto traz satisfação à sua dilatada autoconsciência. Há pessoas cuja consciência do Eu se expandiu a tal ponto de que esse EU inclui muitas outras pessoas e coisas, além do seu Ser imediato. Portanto, traz-lhes satisfação o servir às pessoas ou coisas que integram a si mesmas. Assim sendo, se os homens devem buscar o bem, esse bem deve satisfazer a algum aspecto de sua natureza, de seu ego, ou a ele não aspirariam.

O bem espiritual, tal como é definido pela teologia e pela religião, promete uma recompensa de salvação e imortalidade. Mas, esse bem espiritual só pode ser apreciado por aqueles que desejam a imortalidade. Se uma pessoa não deseja a imortalidade, não buscará o bem espiritual que a oferece como recompensa. Os homens não são iguais. Cada um tem um aspecto de sua natureza que predomina em todos os momentos, alguns mais físicos, outros intelectuais, outros ainda mais espirituais. Cada um sente o bem de acordo com a predominância de sua natureza. Cada natureza manifesta seus próprios ‘bens’ e tem suas próprias recompensas, de modo que devemos primeiro compreender uma, depois, a outra. É assim que escalonamos o eu. As maiores recompensas do corpo são a saúde e o vigor. Estes são os bens que advêm da obediência à nossa parte física. Existem ainda bens, ou recompensas, de natureza intelectual. O exercício de nossa razão, o desenvolvimento das várias faculdades de nossa mente provoca o seu bem, como, por exemplo, amor-próprio, confiança e equilíbrio. Antes que tenhamos a experiência do Eu espiritual, antes que permitamos que a alma predomine, não poderemos saber quais são os bens melhores, nem poderemos ser compelidos a buscá-los. Assim, devemos ascender de um bem para outro.

5_COMPREENSÃO_
O quinto degrau para a consecução da felicidade é a ‘compreensão’.Sem compreensão, o homem não passa de viajante em trevas. Meister Eckhart, o grande místico medieval alemão, disse que compreensão ‘é a visão clara das coisas, em sua devida luz’. Sabemos que a percepção consiste em ver, ouvir e sentir as coisas. Indo além da simples percepção, a compreensão dá significado às coisas que chegam a nossa mente. As faculdades receptoras com que somos dotados, visão, tato, e olfato, assemelham-se ao esôfago e à boca; não passam de canais de entrada para a recepção de numerosas impressões oriundas do exterior. Por seu turno, a razão, as várias faculdades da mente, funcionam analogamente ao estomago, uma vez que digerem o que é recebido.

Nenhum conhecimento é tão inútil como aquele que não foi digerido; ou seja, que não corresponde a alguma idéia ou conclusão pessoal a que tenhamos chegado. Nossa mente está repleta de expressões, frases que herdamos ou ouvimos e lemos. Para a maioria de nós, são apenas expressões sem qualquer serventia para nossa compreensão, porque não são palavras que adaptamos ou ajustamos às nossas idéias originais. Podemos dizer que o conhecimento é aquilo de que temos consciência. O entendimento é a natureza e o propósito daquilo que passamos a conhecer. A sabedoria é a aquisição da experiência e a aplicação daquilo que compreendemos, quando e como usá-lo. Cada minuto de nossa existência consciente nos traz conhecimento, percepção de alguma coisa. Todavia, somente a meditação e a reflexão sobre aquilo que sabemos pode nos trazer compreensão. Só o exercício da compreensão pode nos trazer sabedoria. Na compreensão há poder, porque em uma mente compreensiva as idéias estão devidamente ordenadas; foram corretamente rotuladas e classificadas. Portanto, podem ser usadas como peças mecânicas, para consertar, reconstruir, ou atender às demandas emergenciais.

6_APLICAÇÃO DOS DONS_
O sexto degrau para essa consecução é a aplicação. Marcus Aurelius, Imperador romano e filósofo estóico, fez uma declaração bastante expressiva com referência a aplicação na vida. Disse que os figos são considerados mais gostosos e maduros depois que começam a minguar, e que as uvas são melhores, depois de terem crescido em proporção e peso a ponto de dobrar a parreira. Assim, também, a beleza e plenitude da velhice devem ser encontradas no máximo desenvolvimento e na máxima aplicação dos poderes da mente e dos atributos da alma. A morte não pode surpreender o indivíduo que usou seus poderes plena e inteligentemente. Ele não pode ser como o ator ante o qual se fecham as cortinas antes que tenha terminado sua representação, porque aquele que usou seus poderes plenamente está sempre preparado para a eventualidade da morte. Uma pessoa assim, que viveu plenamente, não tem remorsos. Nada pode afligir sua consciência quando a morte advém. O esforço mental, o esforço físico e o grande emprego da consciência são reconhecidamente fatigantes; porém, aquele que evita o esforço por ser exaustivo, nunca chega a experimentar o intenso estímulo que se segue ao repouso e a recuperação. A alegria do rejuvenescimento, a consciência de ter renovado poder e força, ocorrem somente àqueles que envidaram esforços.

A vida consiste em viver. Não nos iludamos. Todo o significado e propósito da vida estão em sua utilização. Ela não tem outro valor, senão o de ser um meio pelo qual alguma coisa pode ser realizada. Restringirmos nossas funções naturais, isolá-las ou negá-las, constitui uma restrição à vida. Cada uma de nossas três naturezas produz algum bem. Assim sendo, o maior mal, o mais diabólico pecado que o homem pode cometer, é recusar exercer os poderes de sua natureza, com os quais foi dotado. Uma vez que o homem deve dormir e comer para manter a saúde, deve também pensar, raciocinar, e criar mentalmente, todos os dias. Se não o fizer, regredirá. O homem se distingue dos seres viventes inferiores pelo uso de seus poderes. Existem outros seres viventes que podem caminhar, falar e imitar muitas de nossas atividades objetivas; todavia, nós possuímos poderes próprios de nossa natureza trina que eles não possuem ou não são capazes de usar. E, senão usarmos esses poderes, teremos desvalorizado a nós mesmos, teremos nos submetido voluntariamente à degradação.

7_ASPIRAÇÃO_
O sétimo e último degrau para a consecução da felicidade perfeita e completa, e que deveria ser nossa principal escolha na vida, é a ‘aspiração’. É fenômeno observável na natureza, a mutação constante de todas as coisas. As estações se sucedem e várias outras coisas cujas qualidades podemos perceber estão passando por uma espécie de transição. Esta mudança consiste de um movimento, interno e externo. Não se trata apenas de mudança de movimento no espaço, mas, de mudança que ocorre na essência das coisas. Este principio de mutação ou movimento, era conhecido já muito pelos gregos, que o ensinavam. Foi conhecido e compreendido muito antes de ser exposto na filosofia de Heráclito. Foi privativamente ensinado nas antigas escolas de mistério do Egito, particularmente na escola secreta da antiga Mênfis, a Cidade da Muralha Branca, como era chamada. Esta doutrina de movimento e mutação foi representada por um instrumento musical conhecido como sistro, e tinha a forma de um “Y”. Sete barras transversais eram dispostas horizontalmente na parte aberta do “Y”. Essas barras eram frouxamente fixadas ao suporte em forma de “Y, de modo que podiam ser sacudidas com um chocalho. Os sacerdotes e hierofantes dos templos dessas escolas agitavam o sistro durante certos rituais e cerimônias, para simbolizar, enfaticamente, o movimento Cósmico que eles proclamavam, já naquela época, como a causa de todo o Ser, de todas as formas.

Uma vez que o universo é uno, sabemos, por observação, que as coisas evoluem umas das outras, ou são geradas e desenvolvidas de certas fontes comuns. O corpo humano, por exemplo, é fruto da evolução, do movimento, da combinação de dois fatores: matéria e força vital. Mas, qual será o movimento, a mudança que provém do homem, esse ser completo, composto de corpo, mente e alma? Qual é o seu produto? Sem dúvida, a mente e a essência espiritual do homem devem ser capazes de produzir alguma coisa. Podemos dizer que o homem só está plenamente coerente com a lei cósmica do movimento quando aspira, depois de ter concebido um ideal pelo qual possa se elevar, quando busca transcender seu próprio meio-ambiente e o mundo como o conhece. Aquele que não é capaz, em algum grau, ou não se determina a visualizar algo melhor ao bem-estar da humanidade, ou capaz de trazer compreensão, felicidade, ou maior poder, para a sua família ou sua comunidade é inerte, como ser humano. Está em repouso e, portanto, em oposição à lei Cósmica do movimento. A aspiração exercita ou recorre às funções especiais da mente humana. Compele o homem a usar suas faculdades intuitivas. Estimula sua imaginação. É a aspiração que mantém a mente do homem em um plano elevado; que a faz transcender ao habitual e a conserva como o mestre absoluto do corpo.

Em conclusão, podemos dizer que a felicidade não é uma coisa, mas um estado, e pode ser alcançada pela unidade dos degraus que apresentamos.

Felicidade é uma aura que se irradia da combinação da compreensão da essência, da libertação, da autodisciplina, da moralidade, da compreensão e da aplicação da aspiração.
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[Texto de Ralph M. Lewis]




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