A GRANDE BOLA AZUL-TURQUESA esfriou e coalesceu numa massa vibrante de rocha e água. O fogo do Sol reaqueceu o planeta Terra e uma temperatura agradável, após sua criação [purificadora e como numa forja], transformando o mundo numa transbordante e agitada panela de cozido. Talvez todos os elementos de um cozido vivo já estivessem na panela quando foram alcançadas as temperaturas indutoras de vida.
Impérios oceânicos floresceram e caíram. Algas, esponjas, lesmas, trilobites e corais, reinaram e morreram, sedimentando no piso oceânico e formando o solo fértil de que a futura vida seria extraída pela face cálida do Sol.
Vieram então as samambaias, árvores, insetos e peixes. E surgiram dinossauros daquela rica lama da Terra irrequieta. Qualquer pessoa que tivesse parado para procurar um elo perdido seria prontamente consumida por uma criatura mais ambiciosa. A mãe-Terra inchou e se contraiu, elevando seus solos, cuspindo suas águas, e se contraiu e se espremeu – quantas vezes, não podemos saber.
Solos oceânicos ricos e fertilizados pelos dejetos de trilhões de mortos, elevaram-se à luz do Sol, cheios da rica lama da vida, empurrando novamente para cima os resíduos de tudo o que já existia antes. Não havia nada chamado homem,mas todos os seus processos estavam sendo ali tentados e refinados, preparados para a associação final. De certo modo, percebendo através dos sentidos mais primitivos, ele já estava ali.
A BUSCA_QUAL FOI O ELO PERDIDO? Haveria um macaco em transformação – um macaco menos cabeludo, menos enfadonho, mais genial, mais intrépido e criativo? Como sabemos mais sobre o fim do que sobre o começo, tentamos remontar ao passado para extrapolar a partir do que conhecemos hoje. O macaco morre, o homem morre. Ambos retornam a um denominador comum: o pó, o barro primordial, ou, mais poeticamente, a carne de Deus.
O fato de que houvesse um elo, um elo tangível, entre todos os níveis da Criação, desde o mais baixo até o mais alto, pareceria um modo ordenado de fazer um mundo. Como a mente do homem é ordenada, ele deseja comprovar que a criação do mundo funciona dessa maneira. E admite também, com magnanimidade, que sua mente é um reflexo de Deus, a mente do Criador. Por conseguinte, suas idéias mais sublimes devem ser verdadeiras; o caso deve se encerrar em ordem. Mas há um detalhe incômodo. Onde está a prova? Onde estão os elos perdidos?
Naturalmente, o mundo é um lugar muito grande, de modo que alguns indivíduos podem ter ainda a esperança de encontrar esses elos, mas não é intrigante que nenhum tenha sido encontrado após tantos anos de sondagem nas profundezas da Terra?
Ás vezes, se não se consegue encontrar nenhuma resposta, talvez tenha sido feita a pergunta errada. Haverá um elo perdido entre gelo e água? Ou entre água e vapor? Em ambos os casos, as diversas formas de água, que para uma mente desinformada não seriam reconhecidas como o mesmo material, na realidade são o mesmo material, porém, em diferentes níveis ou taxas de intensidade. Será então um macaco do mesmo material de um homem, diferindo apenas em nível ou taxa de intensidade? Mais grandiosamente, será tudo feito do mesmo material, diferindo apenas desse modo?
A EVIDÊNCIA_A evidência não é suspeita. Nós a temos por toda parte ao nosso redor, e toda evidência é boa evidência, assim como todos os assuntos de fotografia são bons assuntos. O que precisa ser objeto de sua suspeita e inspecionado regularmente são a máquina fotográfica e o filme. O homem nunca olha para nada diretamente;antes, apercebe-se de tudo através de uma série de filtros chamados crença, preconceito, e conhecimento estereotipado. O aspecto do homem que se vê tipicamente é o do intelecto,racional, curiosamente misturado com o sentimental e emocional. Uma forma mais límpida de conhecimento é apreendida quando o racional e o emocional são apagados. Mas essa maneira secreta de obter novo conhecimento só é conhecida dos místicos.
Em seus primeiros bilhão e meio de anos a Terra era um irrequieto caldeirão de mares quentes, rocha fundida, e fenômenos violentos. Depois, em meados da sua juventude, ela produziu suas primeiras e grosseiras criaturas. Há cerca de 500 milhões de anos ela vem enchendo pastéis dos mais diversos tipos com um único e homogêneo recheio, que contém todos os sabores do universo. Nessa analogia, os pastéis são os corpos ou as formas vibratórias que existem na Terra, e o recheio é a alma, a mente universal de Deus. É essa alma que é, não um elo perdido, mas um elo oculto, entre todas as coisas criadas.
Quando o investigador ou explorador racional busca elos perdidos em sua vida, ele se dirige para fora, como todos nós fizemos. Vemos cinzas, pó, e as camadas de eras profundamente longas. Isto é um símbolo, como um imenso monumento, um mausoléu de terríveis maravilhas para o pequeno homem que teme a morte encerre tudo. Um dia, após muita busca exaustiva, ele tem de enfrentar a si mesmo e descobrir, espantado, que dentro de si mesmo está o universo vivo, a fonte da juventude, a pérola sem preço, o oráculo.
Um elo perdido? Isto se torna uma questão supérflua, errônea [como a busca de gelo no deserto], baseada numa compreensão fragmentada da vida. Serão as espécies separadas de modo que precisem de um elo, quando na realidade estão ligadas espiritualmente? Estarão as criaturas sobre a Terra, ou serão elas parte da Terra? Talvez esta seja uma questão mais genuína e importante.
A GRANDE DENOMINAÇÃO_Adão deu nome aos animais e às coisas da Terra. Todos os dias esse pobre e caluniado homenzinho se levantava e ia trabalhar. Havia um mundo inteiro para denominar! Separação, diferenciação, fragmentação, estavam apenas começando, seguidas de rápida confusão. Sem dúvida essa foi uma tarefa prodigiosa para um só homem.
Depois disso, a ciência esteve sempre exageradamente impressionada com esse feito e determinou-se a aumentar a confusão enfatizando diferenças entre as criaturas. Aristóteles foi um perito nisso, e como catalogar é uma coisa que o homem de qualquer forma adora fazer, Aristóteles foi prontamente enaltecido.
Não tenhamos a menor duvida, o velho Adão foi o primeiro cientista. Aristóteles popularizou a técnica, um grupo encarregado de denominar foi mantido para a época seguinte, e isto se tornou bastante intenso em nossos dias. Os cientistas provavelmente nunca vão desistir de catalogar, embora hoje percebam que as divisões e os relatórios são infinitos. Naturalmente, o trabalho de catalogar é útil, mas o empenho neste sentido não deve ser confundido com a busca da Verdade – ainda que o primeiro seja preliminar a esta última, assim como exercícios são louváveis, desde que a pessoa não os confunda com o verdadeiro trabalho.
Esta velha espécie adâmica, ainda viva e bem hoje em dia, vê elos perdidos em algo que nunca esteve separado, a não ser o seu ego de Deus, quando foi expulso do Paraíso. Mas há um tempo para separação e um tempo para reunião. É essa reunião da vida e, portanto, do homem com Deus, que o místico procura realizar em seu próprio âmago. E isso é uma questão de o homem se lembrar daquilo que esqueceu: que ele nunca está fora de contato com Deus, a Consciência Cósmica, porque está criado como parte Dela.
UMA NOVA VISÃO_Na realidade há um novo Adão, que conhece o espectro ou a escala do Ser como uma faixa de existência que começa em Deus e termina em deus [e terminar é apenas um novo começo], na qual uma pedra, uma folha, uma porta e, analogamente, um dinossauro, um macaco e um homem são realmente evoluções e revoluções de uma única idéia, que é VIDA – a expressão de deus, o corpo do Cristo em múltiplas formas. E, sendo esse espectro perfeito, não contém separações, elos ou lapsos dando solavancos. Lapsos existem somente na capacidade do homem para compreender, certamente não na cósmica criação e ordem das coisas.
Mas a incômoda questão não parece desaparecer. Em alguma época do passado geológico, o homem, tal como o conhecemos, não existia. Que criatura deu origem a ele? Como somos muito associados aos macacos, fisiologicamente, esta é a escolha dos cientistas. Os defensores da Criação afirmam que veio de Deus e, do barro ou pó da terra, moldou a forma do homem e nela soprou vida divina - produzindo assim um nascimento imaculado e miraculoso.
Como quer que tenha ocorrido, o nascimento do primeiro ser humano da Terra teoricamente elevou o nível de inteligência deste planeta.
UM CATALISADOR DE CONSCIÊNCIA _ Arthur Clarke, em sua obra de ficção, 2001, Uma Odisséia do Espaço, faz com que um estranho monólito, a Anomalia, sônica e misticamente eleve o nível de inteligência de alguns macacos. Não conhecemos monólitos assim, nem é provável que os encontremos. Mas na literatura sagrada encontramos nascimentos imaculados e miraculosos, como de Zoroastro, Jesus e mais alguns, cada um dos quais, por seu nascimento, e por sua presença, elevou em muitos graus a consciência da humanidade como um todo.
Poderia essa mesma condição miraculosa ter ocorrido à mais alta forma de vida da Terra antes do homem? Pode ser uma idéia abominável para alguns que um macaco possa ter produzido o proto-homem da Terra. Não obstante, a natureza não despreza a si mesma e sim segue o caminho mais fácil para seu meio de reproduzir a si própria em níveis superiores, mais inteligentes. Seria então o nascimento imaculado e miraculoso o alto mecanismo da evolução neste planeta?
Não podemos saber ao certo; antes, ficamos entregues a nossas melhores conjeturas. A Terra é pó e água, misturados com luz solar, e sobre tudo isso é aplicado o encantamento místico que mal estamos começando a aprender.
O homem, que foi feito do mesmo pó dos dinossauros e de miríades de outras criaturas há muito extintas, hoje toma o lugar delas. Ele ainda é bruto, porém, mais sofisticado [ainda em transformação]. O pó eterno é uma espécie de elo;literalmente, um solo comum de toda a vida. E não é um fim. Por que haveria de ser, quando a época mais excitante ainda está para vir? O novo Adão está emergindo - o Adão reunido a Deus, que cuidará para sempre do jardim perfeito, realizando o Reino do Céu. Não estará o seu próprio corpo agora mesmo se formando a partir dos nosso corpos, dos bilhões de corpos que já passaram?
E o ser desse tipo [o novo Adão], será que pensa em si mesmo como o ápice da Criação, muito superior às algas e esponjas de que seu pó, durante aqueles 500 milhões de anos, vem provindo, crescendo e caindo? Será que ele se considera tão superior à Terra que possa usá-la como um solo inconstante e eterno?
Não. Esse novo ser é diferente, porque se lembrou do esquecido Deus.
Somos as próprias criaturas que precisam deixar a velha natureza se tornar extinta para fazer o pó para a forma superior, o novo homem que está vindo.
E o novo Adão realmente surge. De todo o pó, e todo o conhecimento e todas as experiências, surge ele. E está unificado com a Terra [e, portanto, unificado com Deus] e não vê elos perdidos; ele é do pó, da luz solar, formado imaculadamente, miraculosamente, de Deus.
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[Texto de Philip A. Clausen]
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