A vencedora da competição escolar levantou-se e inclinou-se para a platéia. Uma mulher cochichou para sua amiga: “Eu quisera ter uma filha esperta assim!” Na cadeira de metal ao seu lado uma garotinha se mexeu nervosamente e olhou para sua mãe com tristeza no olhar.
Numa casa de convalescença, uma senhora idosa, apoiando-se em seus cotovelos, levantou-se para se despedir do seu visitante:”Venha outra vez no próximo fim de semana!” Suplicou-lhe ela. “Se eu não tiver mais nada a fazer, eu virei!”, respondeu-lhe o homem enquanto saiu.
Um artista retira o véu de uma escultura, e o ouve alguém da turba à sua frente exclamar: “Como ela é feia!”
Cenas semelhantes ocorrem com freqüência, simplesmente porque algumas pessoas nunca aprenderam a ser discretas. Dizem impulsivamente qualquer coisa que lhes vem à mente, e chamam isto de ‘franqueza’, inconscientes da infelicidade que provocam. Isto poderia ser evitado se, em vez disso, tais pessoas desenvolvessem a capacidade de inverter mentalmente os papéis – imaginando com se sentiriam no lugar da outra pessoa.
Ter ‘tato’ é a arte de permanecer polido, firme, e, não obstante, ser sincero diante de uma situação embaraçosa, e, com um pouco de sensibilidade, isto pode ser aprendido para o proveito de todos. Rakph Waldo Emerson escreveu: “ A imperfeição nas maneiras é normalmente imperfeição de discernimento” - - e a percepção do sentimento das outras pessoas é, de igual modo, a chave para se ter mais tato no trato com os outros.
Alguns podem atribuir pouca importância ao efeito de suas desconsiderações, pensando que a mágoa que eles causam é apenas temporária. A verdade, porém, é que essa mágoa pode arruinar sem necessidade o dia de alguém, ou pode vir a ser lembrada muito tempo depois, como aconteceu no caso de Sara.
Sara, uma mulher de fala branda, torna-se amarga quando recorda o funeral de seu filho, que foi acompanhado por uma grande multidão de pessoas. Ela enxuga as lágrimas que lhe vêm toda vez que faz menção a Lenny, o filho mongolóide de cinco anos de idade que ela perdeu. Sara esclarece: “Supõe-se que condolências sejam um meio de se compartilhar da dor; no entanto, elas nos trouxeram mais angústia, porque ouvimos muitas vezes: “Ainda bem que não foi o seu outro filho!” Eles deveriam saber que nós amávamos Lenny tanto quanto ao seu irmão”.
Constantemente damos as nossas opiniões, tomamos decisões, assumimos posições; e revisamos o modo como nos comunicamos - e tais ações nem sempre condizem com a nossa personalidade, nem sequer com aquilo que queríamos comunicar. Descobrimos que parecemos muito ásperos ou muito submissos, porque falamos ou agimos mais rápido do que pensamos. Como podemos, então, melhorar a nossa auto-estima e o nosso relacionamento para com os outros?
É importante sabermos o que queremos e nisso sermos positivos. Contudo, ao expressarmos o nosso ponto de vista, devemos também considerar o sentimento dos outros. O critério correto talvez esteja contido num ditado de carpinteiro: “A melhor regra para o falar é a mesma que para a carpintaria – medir duas vezes e serrar uma só”.
Isto é tudo o que o tato é – um meio de se comunicar sentimentos, mesmo a ira ou uma indiferença de opinião, de modo civilizado. E os diplomatas reconhecem o tato como um instrumento poderoso para se chegar a acordos satisfatórios em tempos de crise. Não é tanto o que é dito, e sim como é dito, que conta. A escolha adequada das palavras pode fazer uma grande diferença.
Quando eu era ainda garoto, minha família e eu costumávamos visitar uma professora aposentada, que vivia numa bela casa. Eu achava que ela era a mais amável anfitriã, porque ela sempre nos levava ao lugar mais confortável da casa. ‘Vamos para o terraço, onde está mais fresco!’ dizia ela no verão – mudando, no inverno, para: “Vamos para perto do fogo, onde é mais aconchegante’.. mais tarde, quando minhas pernas eram compridas o suficiente para que eu me sentasse em seu sofá de veludo branco, sem que meus pés nele tocassem, compreendi que a professora assim nos mantivera, a nós crianças, com jeito, fora de sua sala de estar.
Todos os dias, a vida nos coloca numa variedade de situações incomodas. Algumas dessas situações são de menor importância, enquanto outras são muito aborrecidas. Queremos saber, por exemplo, como informar ao fumante que está junto da gente, que a sua poluição do ar que ambos respiramos é incomoda para nós? Ou, como dizer ‘não’ ao amigo que está sempre pedindo emprestado tudo o que possuímos, como se vivêssemos numa comuna? Como confessar a uma criança que sua pintura está bem colorida, mas não é nenhuma obra-prima? A lista é infindável.
Usualmente reagimos a estas situações de maneira dócil, agressivamente, ou com tato.
As pessoas dóceis deixam-se levar facilmente pelos caprichos de todos, convencidas de que esta é a melhor solução para continuarem em segurança. Assim agindo, apenas se condenam a enfrentar novamente os mesmos problemas e, eventualmente ressentem-se por serem tratadas como fantoches.
Ron se enquadrava nesta categoria. Ele não sabia dizer ‘não’ diplomaticamente e, em vez disso, acabava dizendo ‘sim’. Por isto, prometera ele o seu apoio a muitas instituições de caridade, ainda que não tivesse possibilidade de cumprir todos esses compromissos.
Falando s obre a sua mudança de atitude, Ron explica: “Um dia, percebi que eu não ajudava muito a nenhuma daquelas organizações e que estava decepcionando pessoas que contavam comigo. Então escolhi as duas causas favoritas, abrindo mão das outras, e ainda estou espantado de como foi fácil resolver o problema com tato. Nunca estive antes tão envolvido com as duas obras de caridade que retive”.
Em contraste, as pessoas agressivas são despóticas. Impõem suas idéias aos outros, criando animosidade aonde quer que vão, porque lançam mão de insultos, zombaria ou berros, para que prevaleçam sobre os demais. Elas desanimam todo mundo.
Brenda, uma estudante universitária, é uma vitima destas condições. Seus pais divorciados casaram-se ambos outra vez, de modo que agora ela tem duas famílias. ‘Dupla dor de cabeça!’ diz Brenda. “Eu supliquei ao meu pai e a minha mãe para não fazerem comentários difamatórios um acerca do outro quando eu estivesse por perto, mas eles persistem em fazer isto. Eu sou parte de ambos, e me sinto pessoalmente atingida quando um ou o outro é ferido em sua dignidade, de modo que cheguei ao ponto de não sentir mais prazer em visitar qualquer um deles.”
Entre os dois extremos – dóceis e agressivos – as pessoas de fino trato saem vencedoras. Não se deixam intimidar; sabem onde pisam e dizem o que pensam de modo construtivo, cuidando para não ofender ninguém deliberadamente. Seu elogio ou sua critica, são genuínos, desfazendo qualquer mal-entendido, e eles fazem amigos fiéis.
Usar de tato para com as pessoas, positivamente, é um bem para o proveito de todos.
E um bom local para se começar é em casa, porque, como Eugene Kennedy escreveu; “É no seio de nossas famílias e através delas que nos tornamos mais humanos”.
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[Texto de Annick O. Shinn].
Numa casa de convalescença, uma senhora idosa, apoiando-se em seus cotovelos, levantou-se para se despedir do seu visitante:”Venha outra vez no próximo fim de semana!” Suplicou-lhe ela. “Se eu não tiver mais nada a fazer, eu virei!”, respondeu-lhe o homem enquanto saiu.
Um artista retira o véu de uma escultura, e o ouve alguém da turba à sua frente exclamar: “Como ela é feia!”
Cenas semelhantes ocorrem com freqüência, simplesmente porque algumas pessoas nunca aprenderam a ser discretas. Dizem impulsivamente qualquer coisa que lhes vem à mente, e chamam isto de ‘franqueza’, inconscientes da infelicidade que provocam. Isto poderia ser evitado se, em vez disso, tais pessoas desenvolvessem a capacidade de inverter mentalmente os papéis – imaginando com se sentiriam no lugar da outra pessoa.
Ter ‘tato’ é a arte de permanecer polido, firme, e, não obstante, ser sincero diante de uma situação embaraçosa, e, com um pouco de sensibilidade, isto pode ser aprendido para o proveito de todos. Rakph Waldo Emerson escreveu: “ A imperfeição nas maneiras é normalmente imperfeição de discernimento” - - e a percepção do sentimento das outras pessoas é, de igual modo, a chave para se ter mais tato no trato com os outros.
Alguns podem atribuir pouca importância ao efeito de suas desconsiderações, pensando que a mágoa que eles causam é apenas temporária. A verdade, porém, é que essa mágoa pode arruinar sem necessidade o dia de alguém, ou pode vir a ser lembrada muito tempo depois, como aconteceu no caso de Sara.
Sara, uma mulher de fala branda, torna-se amarga quando recorda o funeral de seu filho, que foi acompanhado por uma grande multidão de pessoas. Ela enxuga as lágrimas que lhe vêm toda vez que faz menção a Lenny, o filho mongolóide de cinco anos de idade que ela perdeu. Sara esclarece: “Supõe-se que condolências sejam um meio de se compartilhar da dor; no entanto, elas nos trouxeram mais angústia, porque ouvimos muitas vezes: “Ainda bem que não foi o seu outro filho!” Eles deveriam saber que nós amávamos Lenny tanto quanto ao seu irmão”.
Constantemente damos as nossas opiniões, tomamos decisões, assumimos posições; e revisamos o modo como nos comunicamos - e tais ações nem sempre condizem com a nossa personalidade, nem sequer com aquilo que queríamos comunicar. Descobrimos que parecemos muito ásperos ou muito submissos, porque falamos ou agimos mais rápido do que pensamos. Como podemos, então, melhorar a nossa auto-estima e o nosso relacionamento para com os outros?
É importante sabermos o que queremos e nisso sermos positivos. Contudo, ao expressarmos o nosso ponto de vista, devemos também considerar o sentimento dos outros. O critério correto talvez esteja contido num ditado de carpinteiro: “A melhor regra para o falar é a mesma que para a carpintaria – medir duas vezes e serrar uma só”.
Isto é tudo o que o tato é – um meio de se comunicar sentimentos, mesmo a ira ou uma indiferença de opinião, de modo civilizado. E os diplomatas reconhecem o tato como um instrumento poderoso para se chegar a acordos satisfatórios em tempos de crise. Não é tanto o que é dito, e sim como é dito, que conta. A escolha adequada das palavras pode fazer uma grande diferença.
Quando eu era ainda garoto, minha família e eu costumávamos visitar uma professora aposentada, que vivia numa bela casa. Eu achava que ela era a mais amável anfitriã, porque ela sempre nos levava ao lugar mais confortável da casa. ‘Vamos para o terraço, onde está mais fresco!’ dizia ela no verão – mudando, no inverno, para: “Vamos para perto do fogo, onde é mais aconchegante’.. mais tarde, quando minhas pernas eram compridas o suficiente para que eu me sentasse em seu sofá de veludo branco, sem que meus pés nele tocassem, compreendi que a professora assim nos mantivera, a nós crianças, com jeito, fora de sua sala de estar.
Todos os dias, a vida nos coloca numa variedade de situações incomodas. Algumas dessas situações são de menor importância, enquanto outras são muito aborrecidas. Queremos saber, por exemplo, como informar ao fumante que está junto da gente, que a sua poluição do ar que ambos respiramos é incomoda para nós? Ou, como dizer ‘não’ ao amigo que está sempre pedindo emprestado tudo o que possuímos, como se vivêssemos numa comuna? Como confessar a uma criança que sua pintura está bem colorida, mas não é nenhuma obra-prima? A lista é infindável.
Usualmente reagimos a estas situações de maneira dócil, agressivamente, ou com tato.
As pessoas dóceis deixam-se levar facilmente pelos caprichos de todos, convencidas de que esta é a melhor solução para continuarem em segurança. Assim agindo, apenas se condenam a enfrentar novamente os mesmos problemas e, eventualmente ressentem-se por serem tratadas como fantoches.
Ron se enquadrava nesta categoria. Ele não sabia dizer ‘não’ diplomaticamente e, em vez disso, acabava dizendo ‘sim’. Por isto, prometera ele o seu apoio a muitas instituições de caridade, ainda que não tivesse possibilidade de cumprir todos esses compromissos.
Falando s obre a sua mudança de atitude, Ron explica: “Um dia, percebi que eu não ajudava muito a nenhuma daquelas organizações e que estava decepcionando pessoas que contavam comigo. Então escolhi as duas causas favoritas, abrindo mão das outras, e ainda estou espantado de como foi fácil resolver o problema com tato. Nunca estive antes tão envolvido com as duas obras de caridade que retive”.
Em contraste, as pessoas agressivas são despóticas. Impõem suas idéias aos outros, criando animosidade aonde quer que vão, porque lançam mão de insultos, zombaria ou berros, para que prevaleçam sobre os demais. Elas desanimam todo mundo.
Brenda, uma estudante universitária, é uma vitima destas condições. Seus pais divorciados casaram-se ambos outra vez, de modo que agora ela tem duas famílias. ‘Dupla dor de cabeça!’ diz Brenda. “Eu supliquei ao meu pai e a minha mãe para não fazerem comentários difamatórios um acerca do outro quando eu estivesse por perto, mas eles persistem em fazer isto. Eu sou parte de ambos, e me sinto pessoalmente atingida quando um ou o outro é ferido em sua dignidade, de modo que cheguei ao ponto de não sentir mais prazer em visitar qualquer um deles.”
Entre os dois extremos – dóceis e agressivos – as pessoas de fino trato saem vencedoras. Não se deixam intimidar; sabem onde pisam e dizem o que pensam de modo construtivo, cuidando para não ofender ninguém deliberadamente. Seu elogio ou sua critica, são genuínos, desfazendo qualquer mal-entendido, e eles fazem amigos fiéis.
Usar de tato para com as pessoas, positivamente, é um bem para o proveito de todos.
E um bom local para se começar é em casa, porque, como Eugene Kennedy escreveu; “É no seio de nossas famílias e através delas que nos tornamos mais humanos”.
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[Texto de Annick O. Shinn].
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