Existem diversas definições para o termo Amor, e em todas as filosofias lhe é dado significado tão amplo e abstrato que, após toda uma análise, não conseguimos compreendê-lo completamente.
O Budismo considera o Amor como uma das Viharas ou Condições Sublimes, sendo as demais a compaixão, a alegria e a equanimidade.
Na doutrina Cristã, encontramos o Amor interpretado como uma das noções centrais sobre as quais se assenta a boa conduta, sendo a outra a Fé. Do Amor depende o ‘cumprimento da Lei’ e o único valor moral do dever cristão, isto é, ‘Amar a Deus, em primeiro lugar, e em segundo, a toda a humanidade.
No cartesianismo encontramos uma definição mais concreta – uma definição que, em clareza, quase se aproxima da definição rosacruz. A ânsia pelo bem em geral, diz a doutrina cartesiana, pela satisfação absoluta, é um Amor Divino natural, comum a todos. Desse Amor Divino nasce o amor que sentimos por nós mesmos e aqueles que sentimos pelos outros, os quais representam as inclinações naturais que pertencem a todos os espíritos criados. Pois essas inclinações são os elementos do Amor que está em Deus e que Ele, portanto, inspira em todas as Suas criaturas. É neste sentido que as doutrinas de Descartes, Malebranche e Spinoza revelam o Amor.
O rosacrucianismo, entretanto, tem uma definição bastante concreta e concisa do Amor.:
“O Amor é a conscientização da idealidade”.
Analisemos esta afirmação. Em primeiro lugar, afirma-se que o Amor é uma conscientização. O Amor foi grosseira, mas corretamente, denominado uma emoção. É uma emoção porque é sentido; é uma emoção no sentido fisiológico porque estimula certos centros nervosos e produz certas condições fisiológicas, tanto quanto condições psicológicas.
No processo que vai da realidade mental para a realidade fisiológica está envolvida, essencialmente a diferença entre atualidade e realidade. Assim, em alguns casos, o Amor pode ser uma conscientização sem que resulte num estimulo verdadeiro. Sabemos que amamos; em si mesmo, o amor pressupõe a conscientização de algo; sem essa tomada de conscientização ele não é possível. O ato de amar requer a apreciação da conscientização – mas conscientização do que?
Fisiologicamente, a única condição na verdade que se faz consciente é, até certo ponto, proporcional ao grau de conscientização do elemento responsável pelo amor. Portanto, o amor pode apresentar graus de intensidade, profundidade e expressão. Quando a conscientização do amor é extrema, plena, satisfatória, ela produz o máximo de estimulação nos centros nervosos, do mesmo modo que a alegria, a tristeza, o medo, a raiva e outros elementos emocionais. Mas enquanto todas as outras emoções provocam um efeito de animação, excitamento ou agitação, o Amor produz calma, paz, aquietamento dos nervos, uma harmonização que não é produzida por nenhuma outra emoção.
Então, o rosacrucianismo afirma que o Amor é uma conscientização da ...IDEALIDADE!
Eis a chave secreta – idealidade. Nesta palavra vemos aquilo que a doutrina cartesiana quer dizer quando afirma que o Amor é uma ânsia pelo bem, pela satisfação absoluta.
Cada um de nós possui certos ideais que podem estar em estado adormecido em nossa consciência ou consciência subnormal. Esses ideais, esses padrões, modelos absolutamente perfeitos, podem ser de nossa própria autoria, construídos através de estudos, análises, experiências e inspirações divinas, ao longo de semanas, meses, anos ou encarnações. Consciente ou inconscientemente, podemos aumentar,remodelar, aperfeiçoar e tornar mais maravilhosos esses ideais que acreditamos infinitos, supremos.
Os ideais que temos podem também se referir a um número infinito de coisas, condições, experiências, sons, visões, sensações, etc. Na música, nosso ideal consciente ou inconsciente pode ser um certo grupo ou acorde de notas, um ou dois compassos, uma passagem ou uma ária completa. Na arte, nosso ideal pode ser uma certa combinação de cores, ou uma determinada cor em seus diversos tons, ou de certas linhas e curvas em determinada justaposição. No caráter, nosso ideal pode ter certas características, hábitos ou maneirismos, e qualidades bem desenvolvidas, enquanto outras são eliminadas ou estão ausentes. Na beleza física, nosso ideal pode ter certos traços, cor de pelo, olhos e cabelo, certa altura, peso, elegância, etc.
É quando entramos em contato, ou nos tornamos conscientes de um dos nossos ideais, que temos a tomada de consciência de nosso ideal e esta conscientização faz surgir ou estimula a ‘emoção’ e que chamamos AMOR, e esta emoção dirige-se ao ideal e dizemos que o amamos.
O AMOR de um homem por uma mulher deve-se à sua conscientização de certos ideais nela ou acerca dela, e ele a ama não por ela mesma mas por aquelas coisas, nela ou acerca dela, as quais ele ama. Seu desejo de possuí-la é devido ao seu desejo de possuir, de manter constantemente em seu poder a realização, a MATERIALIZAÇÃO, de seus ideais. O crescimento do amor de um homem por uma mulher depende, igualmente, de conscientizações novas ou continuadas dos ideais conscientizados, ou da descoberta de novos ideais, inversamente, a diminuição do amor entre um homem e uma mulher é proporcional à eliminação ou modificação daqueles ideais, antes presentes.
Da mesma maneira a mulher ama o homem, e os pais a seus filhos e os filhos aos pais. Também da mesma maneira – tornando-se súbita ou gradualmente conscientes dos nossos ideais em uma coisa ou de uma coisa – amamos certos tipos de música, arte, literatura, alimentos, confortos, etc.
Portanto, existe o AMOR vindo de DEUS, nosso amor pela humanidade e, o maior de todos, o Amor de Deus por nós.
“No principio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus e o Verbo era Deus”.
Contemplando a criação do mundo, concluímos que primeiro Deus concebeu toda a criação como uma idealidade e, tendo concebido uma criação ideal, Deus pronunciou o Verbo - o comando – em sua consciência; e foi formado, como parte da criação, o mundo que conhecemos.
Na concepção de uma criação ideal deve haver uma mistura harmoniosa, associação uniforme unidades matematicamente corretas de muitos ideais. Cada um desses ideais baseou-se em elementos a que Deus amaria quando tornados conscientes, e quando a criação se completou, Ele materializou, em unidade, todos os ideais, do maior ao menor. Assim, o universo foi concebido essencialmente do Amor, pois em Amor Deus criou o mundo e com Amor, ou seja, com consciência do ideal, contemplou Deus toda a criação, desde cada célula polarizada dos oceanos até o corpo humano, criado à sua semelhança, isto é, formado segundo o IDEAL na consciência de Deus, aquele ideal a que Deus mais amava.
Assim foram o homem e toda a criação concebidos em e do Amor, e Deus expressou seu Amor em todas as coisas criadas.
O Amor, muito naturalmente, precede toda criação, uma vez que essa criação é a materialização de ideais. Isso acontece porque o Amor ao Ideal leva a uma busca e à realização desse ideal, ou à criação de uma materialização do mesmo.
Assim, um artista é ‘inspirado’ a pintar e pôr numa tela uma maravilhosa imagem. Esta foi concebida em Amor, pois constitui uma expressão dos ideais que ele ama; e quando está pronta, torna-se a materialização desses ideais, e é por isso um resultado do Amor.
O mesmo se aplica à musica, ao artesanato, a tudo que é bom. Um escritor que, subitamente, sob um impulso ou estimulo a que ele chama ‘inspiração’, escreve um belo sentimento ou um pensamento nobre, assim o faz porque de repente toma consciência, em palavras, de um ideal presente em sua mente ou subconsciência, e rapidamente expressa no papel a materialização das palavras então conscientizadas.
A chamada ‘inspiração’ pode ser atribuída, em qualquer caso, a um estimulo mental resultante da conscientização de um ideal e, uma vez que todos os ideais têm sua origem nos ideais primordiais do Amor de Deus, a ‘inspiração’ é, em si mesma, uma expressão do Amor de Deus.
Portanto, podemos dizer filosoficamente que o Amor é o grande incentivo, o grande poder, a maior energia inspiradora do mundo; e uma vez que o Amor deve ter ideais como seus elementos de expressão, o Amor é essencialmente bom. Dessa forma podemos filosofar: O’O Amor é o Bem, o Bem é Deus, Deus é Amor, Amor é Deus; ou... Deus é Amor, Deus é a Fonte de todo Bem, logo o Amor é a fonte de toda bondade, o maior poder em todo o universo.’
Encontramos essas idéias muito bem expressas no quarto capítulo de João, I: ”Meus bem-amados, amemos uns aos outros, pois o Amor é de Deus; e todo aquele que ama é nascido de Deus e conhece a Deus. Aquele que não ama, não conhece a Deus, pois Deus é Amor. Se nos amamos uns aos outros Deus habita em nós, e seu Amor é perfeito em nós. Amamos a Deus, porque Ele nos amou primeiro. Se um homem diz que ama a Deus e odeia seu irmão, é um mentiroso; pois quem não ama seu irmão a quem pode ver [conscientizar-se], como pode amar a Deus a quem não pode ver? Que todo aquele que ama a Deus ame também a seu irmão”.
E este mandamento, e a precedente explanação, é a Lei sobre a qual a Ordem Rosae Crucis se fundamenta.
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[Texto de H.Spencer Lewis.]
6 de mai. de 2010
O AMOR _Sua Natureza e Realização
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