Pierre Teilhard de Chardin[1881-1955], o geólogo, paleontólogo, filósofo e teólogo mundialmente famoso foi um dos pensadores místicos mais originais do século XX. Ele nasceu em Sarcenat, no Sul da França, o quarto dentre os onze filhos duma família abastada. Ingressou na Ordem Jesuíta aos dezoito anos e, devido ao eterno fascínio que tinha por rochas, combinou o estudo de teologia com a paixão por geologia. Após completar seus estudos, que foram entremeados de inúmeras viagens a sítios arqueológicos, ordenou-se sacerdote em 1912. Depois de servir como padioleiro na Primeira Guerra Mundial [recebendo a Legião de Honra por sua coragem], completou os estudos do doutorado em Geologia.
_
Em 1923, Teilhard fez a primeira de suas muitas expedições paleontológicas à China. Ele esteve envolvido na famosa descoberta do crânio do homem de Pequim, e ampliou muito o nosso conhecimento das culturas paleolíticas da China. Durante esse período, o treinamento científico e sua perspicácia mística dos processos de evolução combinaram-se para produzir sua obra magna. “ O Fenômeno do Homem”, em que ele revela uma nova ‘hiperfísica’, que faz a ligação entre a evolução física e a evolução espiritual.
O estudo que fez da evolução convencera-o de que inerente ao processo havia um mecanismo destinado a intensificar e captar a energia psíquica do universo. Em seu livro, afirma que a evolução ‘não’ é um processo ‘físico aleatório’ decorrente dum grande número de probabilidades, mas ao contrário, um processo ‘físico’ intencional que está convergindo para uma eventual apoteose cósmica. A meta da evolução, conforme Teilhard, é gerar formas de consciência cada vez mais complexas que acabarão convergindo a um “Ponto Ômega” que as fundirá e as consumirá dentro de si. O Ponto Ômega representa a unidade para a qual todos os níveis de existência convergem através do desígnio de “um Centro distinto que se irradia do centro de um sistema de centros”. A consciência humana é vista como “gravitando em direção dum foco mental divino que a atrai para a frente... Assim algo no cosmos foge cada vez mais à entropia”.
EVOLUÇÃO CÓSMICA
No conceito de Teilhard sobre a evolução cósmica não nos defrontamos simplesmente com a mudança nomundo, mas com a “gênese”, que é algo bem diferente. Desse ponto em diante, afirma ele, o processo evolutivo continua seu desenvolvimento não tanto na esfera da vida, a “biosfera”, mas na esfera da mente e do espírito, a “noosfera” ou “camada do pensamento”, que, desde sua germinação no Período Terciário, espalhou-se pelo mundo e acima deste. A humanidade, continua ele, está agora no período “psicozóico”. Para seres extraterrestres “capazes de analisar radiações siderais psiquicamente, do mesmo modo que fisicamente, a primeira característica do nosso planeta não seria o azul do céu nem o verde das florestas, mas a fosforecência do pensamento”.
De acordo com Teilhard, a evolução a esse ponto é essencialmente uma ascensão até ao homem e à consciência reflexiva. A formação da “noosfera” continua esse avanço em direção do Ômega, a manifestação derradeira da tendência que a Mente Divina tem de absorver consciência Nela Mesma. Mas, alerta Teilhard, esse processo de evolução cósmica não é determinista. A elevação da consciência também cria a liberdade de escolher-se a convergência ou a divergência do fluxo de energia psíquica que se move rumo ao Ômega.
O PODER DO AMOR
Para Teilhard, o amor é a única forma de energia psíquica capaz de conduzir a humanidade à convergência com a Consciência Suprema. Só o amor une os seres humanos de modo a completá-los, pois só o amor os une àquilo que há de mais profundo neles mesmo. Portanto, para que o homem continue a evoluir em direção daquela unidade psíquica que é o destino supremo, o poder do amor deve desenvolver-se gradualmente até abranger toda a humanidade.
Uma objeção comum a essa idéia é a de que a capacidade humana de amar não ultrapassa a esfera de uns poucos preferidos, de que o amor é contraditório, uma atitude falsa que acaba levando a não amar-se a ninguém. “A isto eu responderia”, replica Teilhard, “que se, conforme alegam, é impossível um amor universal, de que modo podemos explicar aquele instinto irresistível de nosso coração que nos leva à harmonia sempre e em qualquer sentido que nossas paixões sejam despertadas? Uma apreensão do universo, um sentimento do ‘todo’...parece uma expectativa de uma Grande Presença. O amor universal não é apenas psicologicamente possível: é o único, completo e derradeiro modo pelo qual somos capazes de amar.”
O amor, afirma Teilhard, é portanto a chave de toda a natureza cósmica; é a energia fundamental que unifica o universo. Num universo que passa pela evolução espiritual, a lei suprema da moralidade é que o mal consiste numa limitação dessa energia do amor.”O amor, em todas as suas sutilezas, não é nada mais e nada menos que...o sinal impresso diretamente no coração do ser pela convergência psíquica que faz o universo em sua própria direção.”
Quanto Teilhard fala da “maturação planetária da humanidade”, denota o crescimento psíquico resultante da pressão que a aglomeração do homem exerce sobre a face da Terra. O que o pessimista entende como uma crescente tensão internacional e uma aproximação do apocalipse, Teilhard vê como a necessária crise de crescimento na evolução da humanidade. As experiências por que estamos passando, sem que disso tenhamos consciência, é na realidade o começo duma nova fase de “noogênese”, a fase de contração em que os homens ascendem em espirais a um único grupo de pensamento homogêneo, em que eles tanto transcender-se-ão a si mesmo como requererão uma nova designação. A interdependência física é o primeiro passo necessário à interpenetração psíquica.
Pela tecnologia somos impelidos a uma organização exterior mais complexa da humanidade, uma espécie de “mega-síntese”, ao mesmo tempo em que produzimos uma intensificação correlata da temperatura psíquica da noosfera. “Não estaremos porventura vivenciando os primeiros sintomas duma agregação de ordem ainda mais elevada, o nascimento de algum centro único decorrente dos raios convergentes de milhões de centros elementares dispersos sobre a superfície da terra pensante?”
A asseveração de Teilhard ao homem moderno consiste em apontar para o padrão que ele revelou através de sua física de evolução generalizada. Tempo, espaço, mente e matéria, só são aterradores se considerados aleatórios e cegos; tornam-se compreensíveis tão logo surge um movimento definido que demonstra serem parte dum todo que se desenvolve. “O homem não é o centro do universo, como pensávamos em nossa simplicidade, mas algo muito mais maravilhoso - a flecha que aponta o caminho da unificação final do mundo em termos de vida.” Toda a ascensão rumo à vida, da vida em direção do espírito e do espírito rumo ao Ômega, todo esse movimento não se deve a algum impulso mecânico irracional que parte de baixo, mas a uma atração que parte do alto. É, de acordo com Teilhard, uma forma de gravitação inversa.
Para Teilhard portanto, a explicação final de evolução é que o universo está convergindo a um centro cósmico preexistente. A Mente Divina, então, deve encontrar-se tanto no começo como no fim do universo, bem como interpenetrada em tudo o que existe entre os dois extremos. Mas cada homem deve ainda exercer sua liberdade de harmonizar-se com a Mente Divina. “O amor universal só vivificaria e separaria finalmente uma fração da noosfera para consumá-la – a parte que decidisse ‘cruzar o umbral’, para sair de si mesma e penetrar na outra parte.”
Em última instância, portanto, o fim do mundo não ocorrerá através de algum cataclismo no plano físico, mas através de dum paroxismo de júbilo no reino psíquico. No fim, conclui Teilhard, o SER engolfará os seres. Em meio a um oceano acalmado, em que toda gota de consciência terá tanto percepção de si como do Outro Infinito, a extraordinária aventura do mundo terá chegado ao seu clímax. O sonho de todos os místicos ter-se-á tornado uma suprema realidade.
[Texto de Joseph Parko]
_
1 de fev. de 2010
TEILHARD DE CHARDIN _ Cientista e Místico
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário