6 de out. de 2009

Gestalt-Terapia_Teoria da Reconstrução Humana


[Uma nova abordagem psicológica para o encontro de si mesmo]

A compreensão da mente humana foi buscada inicialmente, na história da Psicologia, por meio da análise isolada das sensações e eventos, através de um tratamento basicamente experimental. Com este objetivo, utilizava-se o método introspectivo, que consistia basicamente de uma meticulosa exploração interna conduzida em si mesmo pelo próprio experimentador. Esta postura, bastante limitada em sua própria concepção, não proporcionou muitos resultados.

Alguns anos mais tarde, Sigmund Freud, criador da Psicanálise, vem alterar esse método ao introduzir o conceito de Inconsciente, postulando que o comportamento e as atitudes humanas não decorrem apenas de ações e reações das quais possui consciência, mas que também possuímos motivações inconscientes totalmente fora de nosso controle.

Durante a década de 60, o Dr Fritz Perls, após uma bem-sucedida carreira como psicanalista, desenvolveu não uma teoria, mas uma nova abordagem para a compreensão da mente humana – a Gestalt-terapia. Inicialmente discípulo de Freud, Perls discordou dele e baseou-se na corrente humanista da Psicologia que surgia, postulando o homem como ente autônomo, livre para tomar suas decisões e imprimir à sua vida o rumo que deseja, como ser plenamente responsável por seus atos.

Perls adotou na base de sua abordagem princípios da psicologia da Gestalt clássica. Estes princípios entendem a percepção humana com base nos conceitos de ‘ figura e fundo ‘. A figura se define como o que percebemos como mais importante num quadro de referencia, apelidado de fundo, composto pelos elementos circundantes e adjacentes a ela.

A Gestalt-terapia considera processos mentais do individuo em função da focalização da figura emergente, buscando seu entendimento e posicionamento em relação ao fundo que se apresenta. Acredita que, na historia da vida do individuo, suas percepções das figuras podem estar prejudicadas e também a forma de suas relações com o fundo. É importante a fluidez das “Gestalten“ (nome dado ao conjunto figura-fundo) na relação figura-fundo, sem uma cristalização, um imobilismo, que seria o grande responsável pela doença. O Inconsciente de Freud, para Perls, não é um fato, mas apenas a não focalização da figura em um fundo indiferenciado.

A abordagem gestáltica valoriza a relação entre as partes, a relação entre a figura e o fundo, e vice-versa, entendendo também que são as relações entre a parte e o todo, e o todo e a parte, que indicarão o caminho a seguir. Por exemplo, num choro de uma pessoa pela morte de seu pai, não importa apenas a qualidade do choro, se é em si boa ou má, mas, além do significado do próprio choro, o da relação entre ele e a realidade total.

O fechamento de um fenômeno clássico da psicologia da Gestalt, segundo o qual ao percebermos figuras abertas, incompletas, as contemplamos de nossa própria forma, de maneira a obtermos percepções completas das mesmas. A abordagem gestáltica busca trabalhar, entre outros, estes tipos de fenômenos em nossa existência, preocupando-nos em fechar as situações que mantemos inacabadas, que nos causam angustia e ansiedade.

O homem é entendido como um projeto, como um ser se fazendo. Sua essência, o que o define e caracteriza como homem, é vista como algo que ele conquista, rejeita e incorpora no dia-a-dia. O homem é um ser existindo permanentemente à procura de seu projeto,do seu completar-se. O homem nasce ‘nada’ e vai se acrescentando indefinidamente. Ele nada mais é do que aquilo que ele decide ser, do que aquilo que ele projeta ser;sua existência surge como uma resultante de seus atos. Assim, a Gestalt-terapia coloca o homem como centro, como valor positivo capaz de se autogerir e regular-se.

Na relação terapêutica, o gestalt-terapeuta torna-se um consultor deste projeto:respeita e participa das ações e decisões do cliente como individuo, sem influenciá-las ou entendê-las como resultado inexorável de causas passadas. Cada cliente é considerado como um ser diferente e especifico em sua individualidade.

Comparando a vida com a construção de uma casa, a pessoa é vista como seu próprio arquiteto e seu próprio calculista, com plena liberdade de mudar seu projeto quando e como achar conveniente. Na verdade, o homem vive entre duas posições:o que almeja, o que projeta, seu eu ideal, e a realidade. A psicoterapia seria a tentativa de fazer a ponte entre os dois momentos existenciais, um permanente processo de busca, de compreensão e aceitação dinâmica da própria realidade.

O gestalt-terapeuta não é um interpretador, não é o “ dono da verdade.“ Trabalha como um facilitador que presta ajuda a seu cliente para que este conheça melhor seu próprio funcionamento e entenda suas situações inacabadas, de modo a completá-las, obtendo a perspectiva da figura completa. Desenvolvida esta capacidade, estará habilitado para a formação e percepção livre de novas figuras.

Para a Gestalt-terapia, da realidade em si pouco ou nada sabemos e também da realidade como chega à nossa mente, ou como m nós ela é representada. O modo de nossa existência depende de como nossa consciência apreende a realidade, de como a encontra, de como lhe dá sentido. É a vivencia das coisas, a interação do homem com elas, que gera um sentido delas para ele. O ser humano é significado, que se forma a partir de informações, além de emoções, sentimentos, raciocínio, lógica, etc. Este entendimento é que lhe permite posicionar-se e deslocar-se na vida da forma como ele próprio determina, a partir de sua percepção global [“gestalt”] individual.

O Dr. Perls afirmava que só o presente existe e mesmo ele é extremamente contingente. O passado não existe mais e o futuro só existe no presente. Não há modo de falar de um ou de outro, a não ser no presente. Daí, o passado do individuo ser compreendido como um dado a compor o fundo, de onde se destaca a figura apresentada. O importante é o presente, o aqui e agora, incluindo a forma como o passado aparece no quadro. Não há uma relação linear entre causa e efeito, um determinismo psicológico. O pressuposto é que o individuo determina seu próprio futuro neste momento, no presente, o único que tem existência real. Suas experiências passadas são enfocadas sem considerá-las como determinantes inflexíveis do agora, numa relação direta de causa e efeito. As emoções sempre são vividas no presente e o encontro fenomenológico no presente é que vai determinar as conformações do comportamento do individuo.

Ao considerar a pessoa como um todo, a Gestalt não valoriza apenas seu discurso verbal, mas sua atitude global: fisionômica, corporal, atitudes externas e emoções demonstradas. O todo formado será sempre único, diferente da mera soma das partes. O terapeuta entra em contato intimo com a realidade, a existência do cliente, vivenciando junto com ele cada particular de seu momento presente, à medida que se desenvolve o contato entre eles. A verdadeira emoção vivida é considerada mais importante que as racionalizações, e o tratamento intelectual ou meramente verbal dado aos sentimentos, permitido acesso vivo, real, imediato, à conformação figura-fundo da pessoa.

A abordagem gestáltica possibilita à pessoa um encontro real consigo mesmo através do outro. Na relação e no contato com esta relação poderá ocorrer o crescimento, proporcionando-lhe a oportunidade de determinar sua existência com base numa visão mais clara de suas situações inacabadas. Na medida em que estas situações forem se completando, novas figuras passarão a ter destaque em novos quadros-fundo de referencia, acompanhando a evolução do ser.

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[Paulo de Tarso Costa, Psicologo]


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