O mundo está no limiar de uma mudança profunda, abrangente e irreversível que ocorre em todos os níveis e sistemas, ou seja, de uma mudança de paradigmas. Olhando à nossa volta, não é difícil constatar que estamos vivendo uma grande crise. Por outro lado, sabemos também que as crises respresentam novas oportunidades.
Estamos vivendo num período de transição acelerada, em que há um verdadeiro desequilíbrio entre a biosfera, a tecnosfera e a psicosfera do planeta. A integração entre estas três instâncias é dinâmica, porém frágil.
Sabemos que a biosfera, conjunto de todos os ecossistemas da Terra, está em grave crise. O nosso planeta está doente e com tendências ao agravamento da situação em poucas décadas. O aquecimento global, que já derrete as calotas polares e as neves das montanhas, pode elevar o nível dos mares, aumentar os ciclones, causar grandes inundações, ondas de calor e secas. Os problemas gerados pelo aquecimento (efeito estufa)só estão começando, mas as previsões são catastróficas. Os problemas vão da desertificação, escassez de alimentos e de água, migrações em massa, perda da biodiversidade até possíveis novas guerras. A causa principal de tudo isso está na ação do homem, na emissão do CO2 e de outros poluentes. Ou seja, a crise da biosfera vem dos outros dois subsistemas: da tecnosfera e da psicosfera mundiais.
A tecnosfera é fruto da indústria humana. Livra o homem dos trabalhos penosos, aumenta a expectativa de vida, melhora o conforto e o bem estar; mas, por outro lado, cria um ambiente artificial, apartado da natureza. As cidades se expandem sob pressão da explosão populacional, tornando necessárias mais habitações, estradas, aeroportos, carros e aviões, além de mais serviços de saúde, educação, alimentação, etc. O desmatamento aumenta para dar lugar a mais pastagens e mais áreas cultiva das, indústrias, hidroelétricas etc. E tudo isso vai gerando um desequilíbrio com as outras esferas da vida planetária. A tecnologia avança rapidamente, mas demanda sempre mais recursos naturais, gera mais lixo e mais poluição. A produção não atende às necessidades básicas da maioria e sim, cada vez mais, satisfaz desejos criados para apenas uma pequena parcela da população, daqueles que podem pagar pelos luxos supérfluos. Excludente, ela está a serviço do mercado, da lógica do lucro, da ambição sem limites.
O desequilíbrio da psicosfera, por sua vez, se reflete na crise moral e social, representada pelo individualismo e pelo egoísmo humanos em detrimento dos valores humanos como a solidariedade e a justiça. A competitividade é exacerbada em todos os níveis: na luta pelo poder, na exploração do homem sobre o homem e na exploração exaustiva dos recursos naturais. O mundo está mais uma vez se dividindo em dois: o mundo dos “mais ricos” e o mundo dos “mais pobres”, independentemente das fronteiras nacionais, pois o único referencial moderno é apenas o poder de consumo. Perpetua-se assim, de uma nova forma, a dualidade dos últimos séculos: senhores feudais e servos, colonizadores e colonizados, capitalismo e comunismo, e hoje, incluídos e excluídos. Ao lado da concentração da riqueza crescem a pobreza, a fome, o desemprego e o não-emprego, a violência, a corrupção, as drogas, a falta de significado na vida e tantos outros males sociais. Esses problemas afetam de alguma maneira a todos os habitantes do planeta. Há um sentimento de falência das lideranças, das teorias e dos modelos econômicos. Esta é uma crise do próprio homem, é uma crise interna de valores, de ética e de moral, de espiritualidade ampla, de compreensão da vida de uma forma maior e mais profunda.
A partir de tais reflexões, podemos então nos perguntar: quais são as causas dessa grande crise, do desequilíbrio entre as diversas esferas da vida no planeta? Quais são as oportunidades embutidas nessa crise que poderiam ser aproveitadas pela inteligência humana?
Se analisarmos as relações entre as três instâncias supracitadas, é intuitivo que a causa principal da crise sistêmica está na psicosfera: no conjunto das energias liberadas pelos pensamentos e sentimentos, desejos e ambições humanas, presente nos valores e princípios do paradigma dominante. Mas, como mudar esses paradigmas? Podemos esperar um novo mundo possível?
Felizmente, a resposta é sim. A psicosfera do planeta tem suas forças negativas, mas, por outro lado, também as têm positivas.
Diante da ameaça crítica que atinge a todos, há uma extraordinária oportunidade: pela primeira vez na História, há uma percepção mundialda necessidade inadiável de reinventar o mundo em novas bases.
Por toda parte há uma agitada sede de mudanças, de renovação, de reconstrução dos valores e dos costumes. O problema é que essa mudança tem que ocorrer em nível mundial, e em pouco tempo. Se antes os povos e as sociedades podiam levar várias gerações para criar a cultura de suporte às mudanças, hoje precisamos fazer isso durante umas poucas décadas como condição para sobreviver e prosperar no mundo.
A macromudança do todo não é possível apenas por meio de mudanças nas áreas política e econômica. Ela é, principalmente, conseqüência das micromudanças, das mudanças de atitudes, valores e comportamentos de cada pessoa e de cada cidadão do mundo. Para isso, é fundamental um fator que está ao alcance de cada ser humano e que faz toda a diferença: a consciência humana. O caminho para enfrentar os desafios do presente e do futuro são: Autoconsciência e Autotransformação.
A Autoconsciência requer que cada pessoa faça uma reflexão profunda sobre sua filosofia de vida, seus princípios e valores. Precisamos de uma nova maneira de perceber, pensar, sentir e agir, e de uma noção muito clara da responsabilidade individual. Cada um deve se conscientizar de que somos solidariamente responsáveis pelas condições de vida no planeta, pelo nosso destino comum e pelo das futuras gerações. A maneira como pensamos, sentimos e agimos tem impactos ambientais e sociais. A forma como consumimos e fazemos uso da tecnologia pode ser adequada ou não. Isso depende de cada um de nós, da nossa disposição de nos conhecermos e desenvolvermos nossa consciência, de nos educarmos na espiritualidade, de revermos nossos conceitos de certo e de errado. Em síntese, de fazermos uma profunda revisão pessoal de nossa vida.
A Autotransformação é um esforço persistente e corajoso de mudança dos hábitos, atitudes e comportamentos, e de agir de forma consistente com sua nova filosofia de vida. É assumir a responsabilidade de enfrentar, no plano pessoal, os desafios básicos de nosso tempo.
É atuar com a Consciência Planetária de que todos nós estamos ligados uns aos outros, independentemente de fronteiras, de diferenças políticas, econômicas, culturais, étnicas e religiosas. A renovação do planeta vai, principalmente, do individual para o coletivo. O mundo somos nós e, juntos, nós podemos mudar o mundo. Esse é o caminho da autoconsciência e da autotransformação do ser humano, como pessoa e como cidadão planetário.
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Escrito por Eber Bacelar
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