10 de abr. de 2010

Dois Encontros com a Morte


NA NOITE EM QUE EU MORRI...Eu tinha apenas cinco anos de idade. Estivera doente dos pulmões desde o dia em que nasci. Nos três dias anteriores à minha morte eu estivera sofrendo de crupe. Eu dormia num berço, a um canto do quarto de meus pais, porque era muito doente e pequeno para a minha idade. Ali meus pais podiam velar por mim. Meus irmãos e irmãs caçoavam comigo, pois eles tinham seus próprios quartos.

Na noite em que morri, tinha tomado remédios e fora posto bem cedo na cama. Quase que imediatamente caí no sono. A próxima coisa de que eu me lembro foi que as luzes do quarto estavam acesas. Meu pai, de pijama, tinha meu corpinho em seus braços, enquanto eu flutuava acima dele olhando a cena.

“Meu Deus! Irene, ele está morto,” meu pai gritou. “Ele não está respirando. Eu gostaria que o Dr James viesse aqui. Ele disse que viria imediatamente.”

“Que é que vamos fazer?” exclamou minha mãe. Ela estava muito nervosa e em pratos. Meu pai suavemente colocou meu corpo na cama e voltou-se para consolá-la.

Agora eu não estava mais no quarto, nem em qualquer lugar que já tivesse estado antes. Flutuava num grande corredor ou túnel escuro. O túnel não tinha qualquer ligação com a casa ou a realidade, mas assim mesmo ainda podia ouvir meus pais chorando e falando de modo tão claro como se estivessem atrás de mim. Eu flutuava num movimento circular ou de espiral cada vez mais rápido.

“Não chore, Irene”, soluçou meu pai. “Foi melhor assim. O pequeno Billy era doente, e tinha um só pulmão quando nasceu, e era uma criança muito triste. Se não fossem os médicos ele teria morrido quando nasceu. Aconteceu o que tinha de acontecer. Ele sempre foi doentinho. Assim o nosso filhinho não vai mas sofrer. Foi bem melhor assim.”

Agora era o meu pai que chorava e minha mãe tentava consolá-lo. Eu podia ouvir o que eles estavam falando, enquanto eu ia em movimentos circulares através do túnel, em direção a uma luz na extremidade oposta.

Então tudo parou. Nada ouvi. Nada vi. Nada senti.

Meu corpo jazia na cama de meus pais. O Dr. James examinou-me e confirmou que eu estava realmente morto. Colocou meu corpo numa estranha posição sobre o travesseiro e, preocupando-se com os vivos, procurou consolar meus pais que ainda choravam. Foi então que os três ouviram um estranho gorgolejo vindo de minha garganta. O Dr. James imediatamente agarrou meu corpo pelos pés e começou a bater nas minhas costas, tentando expelir o muco.
O ar penetrou nos meus pulmões, restaurando a vida ao meu corpo. Eu me vi segurado de cabeça para baixo pelo médico, e comecei a chorar. O médico colocou-me de cabeça para cima e apertou-me em seus braços. Eu estava vivo.

O DIA EM QUE EU MORRI
Eu estava no centro de fisioterapia de um grande hospital. Agora com quarenta e seis anos de idade, estivera hospitalizado por muitos meses. Uma longa série de operações tinha sido completada em meu corpo deformado. Como conseqüência de estar com os músculos inativos por tanto tempo, eu perdera a capacidade de caminhar e de ficar ereto. Eu não podia sentar-me, caminhar ou ficar em pé. Meu abdômen estava envolvido por um tubo de gesso.

Agora eu lutava, tentando desesperadamente andar outra vez. Uma vez mais eu me encontrava em tratamento de fisioterapia. Tom, o meu terapeuta, levantou a mesa de elevação num ângulo de setenta e cinco graus. A cada dia Tom levantava a mesa alguns graus a mais. Naquele dia, Tom deixou-me ali dizendo: “Se você começar a sentir tontura, chame uma das terapeutas. Eu estarei de volta em quinze minutos”.

Com satisfação eu observava o trabalho das terapeutas, Nancy e Linda. Elas brincavam com algumas crianças, dando-lhes o tratamento de fisioterapia. Eram muito amáveis e gentis para com os pequenos. Enquanto eu observava, os minutos se passaram – dez minutos – e então senti tontura. O relógio ficou nublado. Gritei pedindo ajuda a Nancy e Linda.

Eu estava colhendo flores. Podia ver e ouvir, mas não sentia dor. Estava num estado d absoluto contentamento. Caminhava colhendo flores azuis, brancas e rosas, num jardim brilhante e belo. As flores eram perfeitas, sem o mínimo sinal de doença ou picada de insetos. Eram muito mais belas que qualquer flor da terra, e sua beleza me fez sentir júbilo.

Enquanto caminhava pelo campo, rumei para uma luz que brilhava no horizonte. A luz era esplendorosa como o Sol, mas não queimava nem incomodava meus olhos ao fitá-la. Continuei colhendo flores e caminhando em direção à luz.

Eu podia ouvir duas vozes que vinham de dentro daquela luz. Podia ouvir minha mãe chamando, “Venha Billy, venha aqui comigo. Venha aqui Billy”.

Eu tinha consciência de que a voz de minha mãe era a voz de uma mulher jovem e bela. Era a voz da mãe que eu conhecera em menino;não a da senhora que morrera havia dez anos. Mas não havia dúvidas de que era a voz de minha mãe. Numa voz jovem musical ela continuava a me chamar – “Venha Billy, venha aqui comigo.”

Oh, como eu quis ir com minha mãe, estar ao seu lado! Como eu queria ir até ela!

A outra voz que eu ouvia era a de um homem. Ninguém que eu conhecesse. A voz do homem dizia, “Colha algumas flores para sua mãe. Lembre-se de que ela gosta de flores rosas e azuis. Colha algumas flores para ela”.

Embora um homem feito, eu era então como uma criança de havia muitos anos. Eu colhia belíssimas flores para minha mãe enquanto caminhava em direção à luz e às vozes. Eu continuava repetindo para mim mesmo o que o homem continuava dizendo, “mamãe gosta de flores azuis e rosas, azuis e rosas”.

“Venha aqui comigo, Billy. Venha aqui.”

Então a voz do homem perguntou, “Você não quer ir com sua mãe?”

“Sim, eu quero ir com a minha mãe”, respondi. “Mas eles não vão me deixar ir. Eles não vão me deixar ir! Por favor, deixem-me ir com minha mãe!” implorei.

Tão rapidamente quanto um acender ou apagar de luzes, vi-me deitado no chão. Eu estava extremamente bravo. Sim, estava furioso porque eles não me deixaram ir com a minha mãe. Tentei soltar minha mão da mão da enfermeira, que checava o meu pulso. Ah, quanta raiva senti daquela gente!

Então tomei consciência da situação. Um médico suspirou:”Graças a Deus! Ele não está morto. Ele está vivo!”

A enfermeira que checava o meu pulso falou aos dois homens que seguravam os tanques de oxigênio: “Ele acaba de voltar a si”.

Naquele momento eu já não sentia mais raiva, pois perceba em que lugar me encontrava. Estava deitado no assoalho, cercado pelos médicos e enfermeiras da equipe de emergência ou de salva-vidas do hospital. Toda a equipe de fisioterapia ali estava olhando a cena com temor. Eu tinha me soltado da mesa de elevação e caíra no solo. Desde que eu gritara pedindo ajuda não sentia nada que estivesse sendo feito no meu corpo. Meus pés e mãos estavam frios. Eu tremia.

Agora Tom e a equipe de terapia falavam todos ao mesmo tempo,com vozes excitadas e aliviadas.

UM dos médicos, que parecia comandar a situação, gritou ao operador do painel de controle: “Cancele a chamada geral. Conseguimos reanimá-lo”.

Alguns dos rapazes ajudaram Tom a retirar o enorme pedaço de gesso recolocando-me no carrinho. Os terapeutas continuavam a me pergunta ao mesmo tempo:”Como você se sente? Está tudo bem?”

Tom disse: “Você nos pregou um susto. Você tinha desmaiado e nós não conseguíamos trazê-lo de volta. Sua pressão tinha baixado além do limite. Tivemos certeza de que tínhamos perdido você. Por favor não faça mais isso que você me mata de susto”.

Na verdade eu não tenho medo de morrer. Esses dois encontros com a morte mostraram-me que a vida continua depois da ‘morte’ física. O Eu interior – a alma do homem – liberta-se para vivenciar outro reino, outro plano da Existência.
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[Texto Bill James Cook]

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